Labirintos da Política

Opinião|A Argentina, o efeito Orloff e as chances de os hermanos evitarem a ressaca eleitoral


Espero que o país onde eu nasci não seja o Brasil de ontem e não precise passar pelo experimento trágico que nós passamos durante os quatro anos do governo Bolsonaro

Por Monica Gugliano

Se você tem 30 anos ou menos, certamente não conheceu o “eu sou você amanhã” que deu origem à expressão “efeito Orloff”. Então, vamos começar recapitulando: nos anos 90, uma propaganda da vodka Orloff que queria desestimular os consumidores a beberem os produtos da concorrência criou uma filmete em que mostrava o protagonista passando mal. Ele estava assim porque não bebera Orloff. As outras marcas, de baixa qualidade, lhe dariam ressaca e o comercial encerrava: “Eu sou você amanhã”.

Na época de hiperinflação na Argentina – tal qual agora – e por aqui também, dizia-se que o “Brasil seria a Argentina de amanhã”. Isto é, repetíamos aqui o que já não dera certo por lá e vivíamos com uma imensa ressaca de programas que não davam certo. Felizmente, apesar da previsão, seguimos nossa própria cabeça. A equipe econômica fez o Plano Real que acabou com a hiperinflação no País. Bebemos a vodka certa.

Com plataforma radical, que inclui até o fechamento do Banco Central, Javier Milei terminou em segundo na disputa do primeiro turno e disputará a Casa Rosada com Sergio Massa. Foto: Natacha Pisarenko/AP
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Dito isso, será que é possível traçar algum cenário para o segundo turno da disputa por lá que deve ocorrer em 19 de novembro? “Será uma guerra de rejeições”, diz o diretor presidente do Instituto Atlas, Andrei Roman. Ele fala com a credencial de seu instituto ter sido o único a projetar a virada do peronista Sergio Massa, depois das primárias que haviam garantido o favoritismo de Javier Milei.

Argentinos devem repetir neste segundo turno o filme que nós vimos em 2022. Polarizada, a sociedade terá que decidir entre dois extremos, sendo que escolher um deles não significa estar de acordo com suas ideias. Apenas demonstra que, no entender do eleitor, elas são menos ruins que as do outro.

Nasci em Buenos Aires, a magnífica capital argentina onde passei minha infância. Hoje, quando vejo tantas diferenças e tantas similaridades entre nossos dois povos, penso como seria um presidente argentino que, simplesmente, rompesse relações com o Brasil. Não apenas porque o vizinho é nosso terceiro maior parceiro comercial e principal sócio no Mercosul. Mas pelos laços históricos que nos unem. Até nossas rivalidades, viraram muito menores do que já foram e nos fazem parceiros. Na última Copa do Mundo, foi com um misto de emoção e surpresa que vi, aqui na Avenida Paulista, camelôs venderem camisetas de nossa arquirrival a seleção argentina. Com o Brasil fora do torneio e Lionel Messi dando show nos gramados, não teríamos como escolher outro time.

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Na geopolítica da região, que o Brasil lidera, a escolha de um nome como o do populista de direita Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, seria um desastre. Que estabilidade haveria no continente com um governante que anuncia querer dolarizar a economia de um país onde a moeda americana escasseia, acabar com o Banco Central e outras maluquices mais?

Até compreendo as razões que levam tanta gente a querer votar em Milei. Se nós aqui achamos que a política brasileira carece de renovação, a de nossos Hermanos ainda está na idade da pedra. O peronismo continua sendo uma das grandes forças, e os partidários da União Cívica Radical, a outra. É assim desde o tempo dos meus avós. Sem falar no culto aos mortos, Juan Domingo Perón e Evita, que paira como uma sombra lúgubre sempre que são citados, como se vivos estivessem.

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Tamanha carência de novas ideias fez com que a Argentina trilhasse um caminho inverso ao do Brasil. Nós, aqui, melhoramos. Eles pioraram e muito. Hoje, quatro de cada dez argentinos vive abaixo da linha da pobreza. Todos os indicadores sociais, como educação – orgulho argentino – e saúde, pioraram. A economia está destroçada com uma inflação que pode chegar ao fim do ano com uma taxa de 200%. Em Buenos Aires, nunca se viu tanta miséria.

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, é declarado apoiador de Javier Milei, mas seu apoio pode custar caro ao argentino, segundo analista. Foto: Wilton Junior/Estadão

Não quero nem pensar no que pode acontecer se Milei ganhar. E, para que isso não aconteça, conto até com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com Andrei Roman, ele tira votos de Milei. Os argentinos não esquecem dos desaforos que fez ao vizinho quando presidiu o Brasil e, além disso, seria difícil um candidato derrotado convencer eleitores de outro país a votarem em quem ele indica.

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Espero que a Argentina não seja o Brasil de ontem e não precise passar pelo experimento trágico que nós passamos durante os quatro anos do governo Bolsonaro. Espero que esqueçamos de vez o efeito Orloff e que, nem nós e nem eles, sigamos o que um e outro temos de pior. Ressaca, nunca mais.

Se você tem 30 anos ou menos, certamente não conheceu o “eu sou você amanhã” que deu origem à expressão “efeito Orloff”. Então, vamos começar recapitulando: nos anos 90, uma propaganda da vodka Orloff que queria desestimular os consumidores a beberem os produtos da concorrência criou uma filmete em que mostrava o protagonista passando mal. Ele estava assim porque não bebera Orloff. As outras marcas, de baixa qualidade, lhe dariam ressaca e o comercial encerrava: “Eu sou você amanhã”.

Na época de hiperinflação na Argentina – tal qual agora – e por aqui também, dizia-se que o “Brasil seria a Argentina de amanhã”. Isto é, repetíamos aqui o que já não dera certo por lá e vivíamos com uma imensa ressaca de programas que não davam certo. Felizmente, apesar da previsão, seguimos nossa própria cabeça. A equipe econômica fez o Plano Real que acabou com a hiperinflação no País. Bebemos a vodka certa.

Com plataforma radical, que inclui até o fechamento do Banco Central, Javier Milei terminou em segundo na disputa do primeiro turno e disputará a Casa Rosada com Sergio Massa. Foto: Natacha Pisarenko/AP

Dito isso, será que é possível traçar algum cenário para o segundo turno da disputa por lá que deve ocorrer em 19 de novembro? “Será uma guerra de rejeições”, diz o diretor presidente do Instituto Atlas, Andrei Roman. Ele fala com a credencial de seu instituto ter sido o único a projetar a virada do peronista Sergio Massa, depois das primárias que haviam garantido o favoritismo de Javier Milei.

Argentinos devem repetir neste segundo turno o filme que nós vimos em 2022. Polarizada, a sociedade terá que decidir entre dois extremos, sendo que escolher um deles não significa estar de acordo com suas ideias. Apenas demonstra que, no entender do eleitor, elas são menos ruins que as do outro.

Nasci em Buenos Aires, a magnífica capital argentina onde passei minha infância. Hoje, quando vejo tantas diferenças e tantas similaridades entre nossos dois povos, penso como seria um presidente argentino que, simplesmente, rompesse relações com o Brasil. Não apenas porque o vizinho é nosso terceiro maior parceiro comercial e principal sócio no Mercosul. Mas pelos laços históricos que nos unem. Até nossas rivalidades, viraram muito menores do que já foram e nos fazem parceiros. Na última Copa do Mundo, foi com um misto de emoção e surpresa que vi, aqui na Avenida Paulista, camelôs venderem camisetas de nossa arquirrival a seleção argentina. Com o Brasil fora do torneio e Lionel Messi dando show nos gramados, não teríamos como escolher outro time.

Na geopolítica da região, que o Brasil lidera, a escolha de um nome como o do populista de direita Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, seria um desastre. Que estabilidade haveria no continente com um governante que anuncia querer dolarizar a economia de um país onde a moeda americana escasseia, acabar com o Banco Central e outras maluquices mais?

Até compreendo as razões que levam tanta gente a querer votar em Milei. Se nós aqui achamos que a política brasileira carece de renovação, a de nossos Hermanos ainda está na idade da pedra. O peronismo continua sendo uma das grandes forças, e os partidários da União Cívica Radical, a outra. É assim desde o tempo dos meus avós. Sem falar no culto aos mortos, Juan Domingo Perón e Evita, que paira como uma sombra lúgubre sempre que são citados, como se vivos estivessem.

Tamanha carência de novas ideias fez com que a Argentina trilhasse um caminho inverso ao do Brasil. Nós, aqui, melhoramos. Eles pioraram e muito. Hoje, quatro de cada dez argentinos vive abaixo da linha da pobreza. Todos os indicadores sociais, como educação – orgulho argentino – e saúde, pioraram. A economia está destroçada com uma inflação que pode chegar ao fim do ano com uma taxa de 200%. Em Buenos Aires, nunca se viu tanta miséria.

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, é declarado apoiador de Javier Milei, mas seu apoio pode custar caro ao argentino, segundo analista. Foto: Wilton Junior/Estadão

Não quero nem pensar no que pode acontecer se Milei ganhar. E, para que isso não aconteça, conto até com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com Andrei Roman, ele tira votos de Milei. Os argentinos não esquecem dos desaforos que fez ao vizinho quando presidiu o Brasil e, além disso, seria difícil um candidato derrotado convencer eleitores de outro país a votarem em quem ele indica.

Espero que a Argentina não seja o Brasil de ontem e não precise passar pelo experimento trágico que nós passamos durante os quatro anos do governo Bolsonaro. Espero que esqueçamos de vez o efeito Orloff e que, nem nós e nem eles, sigamos o que um e outro temos de pior. Ressaca, nunca mais.

Se você tem 30 anos ou menos, certamente não conheceu o “eu sou você amanhã” que deu origem à expressão “efeito Orloff”. Então, vamos começar recapitulando: nos anos 90, uma propaganda da vodka Orloff que queria desestimular os consumidores a beberem os produtos da concorrência criou uma filmete em que mostrava o protagonista passando mal. Ele estava assim porque não bebera Orloff. As outras marcas, de baixa qualidade, lhe dariam ressaca e o comercial encerrava: “Eu sou você amanhã”.

Na época de hiperinflação na Argentina – tal qual agora – e por aqui também, dizia-se que o “Brasil seria a Argentina de amanhã”. Isto é, repetíamos aqui o que já não dera certo por lá e vivíamos com uma imensa ressaca de programas que não davam certo. Felizmente, apesar da previsão, seguimos nossa própria cabeça. A equipe econômica fez o Plano Real que acabou com a hiperinflação no País. Bebemos a vodka certa.

Com plataforma radical, que inclui até o fechamento do Banco Central, Javier Milei terminou em segundo na disputa do primeiro turno e disputará a Casa Rosada com Sergio Massa. Foto: Natacha Pisarenko/AP

Dito isso, será que é possível traçar algum cenário para o segundo turno da disputa por lá que deve ocorrer em 19 de novembro? “Será uma guerra de rejeições”, diz o diretor presidente do Instituto Atlas, Andrei Roman. Ele fala com a credencial de seu instituto ter sido o único a projetar a virada do peronista Sergio Massa, depois das primárias que haviam garantido o favoritismo de Javier Milei.

Argentinos devem repetir neste segundo turno o filme que nós vimos em 2022. Polarizada, a sociedade terá que decidir entre dois extremos, sendo que escolher um deles não significa estar de acordo com suas ideias. Apenas demonstra que, no entender do eleitor, elas são menos ruins que as do outro.

Nasci em Buenos Aires, a magnífica capital argentina onde passei minha infância. Hoje, quando vejo tantas diferenças e tantas similaridades entre nossos dois povos, penso como seria um presidente argentino que, simplesmente, rompesse relações com o Brasil. Não apenas porque o vizinho é nosso terceiro maior parceiro comercial e principal sócio no Mercosul. Mas pelos laços históricos que nos unem. Até nossas rivalidades, viraram muito menores do que já foram e nos fazem parceiros. Na última Copa do Mundo, foi com um misto de emoção e surpresa que vi, aqui na Avenida Paulista, camelôs venderem camisetas de nossa arquirrival a seleção argentina. Com o Brasil fora do torneio e Lionel Messi dando show nos gramados, não teríamos como escolher outro time.

Na geopolítica da região, que o Brasil lidera, a escolha de um nome como o do populista de direita Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, seria um desastre. Que estabilidade haveria no continente com um governante que anuncia querer dolarizar a economia de um país onde a moeda americana escasseia, acabar com o Banco Central e outras maluquices mais?

Até compreendo as razões que levam tanta gente a querer votar em Milei. Se nós aqui achamos que a política brasileira carece de renovação, a de nossos Hermanos ainda está na idade da pedra. O peronismo continua sendo uma das grandes forças, e os partidários da União Cívica Radical, a outra. É assim desde o tempo dos meus avós. Sem falar no culto aos mortos, Juan Domingo Perón e Evita, que paira como uma sombra lúgubre sempre que são citados, como se vivos estivessem.

Tamanha carência de novas ideias fez com que a Argentina trilhasse um caminho inverso ao do Brasil. Nós, aqui, melhoramos. Eles pioraram e muito. Hoje, quatro de cada dez argentinos vive abaixo da linha da pobreza. Todos os indicadores sociais, como educação – orgulho argentino – e saúde, pioraram. A economia está destroçada com uma inflação que pode chegar ao fim do ano com uma taxa de 200%. Em Buenos Aires, nunca se viu tanta miséria.

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, é declarado apoiador de Javier Milei, mas seu apoio pode custar caro ao argentino, segundo analista. Foto: Wilton Junior/Estadão

Não quero nem pensar no que pode acontecer se Milei ganhar. E, para que isso não aconteça, conto até com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com Andrei Roman, ele tira votos de Milei. Os argentinos não esquecem dos desaforos que fez ao vizinho quando presidiu o Brasil e, além disso, seria difícil um candidato derrotado convencer eleitores de outro país a votarem em quem ele indica.

Espero que a Argentina não seja o Brasil de ontem e não precise passar pelo experimento trágico que nós passamos durante os quatro anos do governo Bolsonaro. Espero que esqueçamos de vez o efeito Orloff e que, nem nós e nem eles, sigamos o que um e outro temos de pior. Ressaca, nunca mais.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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