O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está exasperado. Por mais reuniões que faça, por mais conversas que tenha, o governo parece empacado. Atolado, como se fosse um carro que não consegue sair do lugar. Cansado de tanta pasmaceira, Lula deu um puxão de orelhas em duas das figuras mais importantes do governo. Dirigindo-se ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recomendou que ele lesse menos livros e falasse mais com o Congresso. A mesma cobrança foi feita ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, de quem exigiu mais agilidade e que também fale mais com o Congresso.
Os interlocutores que tem conversado com Lula acreditam que dois fatores têm perturbado o humor presidencial: o primeiro deles é a constante queda na popularidade. A segunda é a de quem se sente sobrecarregado com tarefas que caberiam aos seus ministros e auxiliares. “O governo está disfuncional”, disse um integrante do primeiro escalão que pediu para não ser identificado.
Um dos problemas é que os ministros decisivos nessa articulação não se entendem e não têm uma meta comum para a administração. Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Fernando Haddad (Fazenda) raramente concordam, a não ser quando fingem que estão pensando o mesmo. Antes de ser incluído no carão de Lula, o ministro Padilha marcou conversas com líderes da base aliada.
O clima contamina o resto do Palácio, chamado em Brasília. por muitos de “ninho de cobras”. Ali, a canelada rola solta e até as secretárias e os garçons brigam por alguma influência junto às autoridades.
Lula tem procurado conversar com parlamentares, com os presidentes da Câmara e do Senado. Só que, nos dias de hoje, tirando a influência desses personagens e com exceções, é claro, o Parlamento funciona como se fosse uma MEI, cada um tem seus próprios interesses e briga por eles. Isso dificulta ainda mais qualquer negociação.
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Além disso, Lula, segundo esse mesmo articulador, acha que está fazendo o seu trabalho e o dos seu ministros que deveriam dar prioridade às agendas com parlamentares a ouvir as reivindicações. Lula mostra os números da economia, positivos, e crê que se a população fosse bem informada sobre eles, a situação seria diferente.
Mas Lula acha que seu primeiro escalão não fala nem com o Congresso nem com o povo. Para tentar mudar esse cenário, a Secretaria de Comunicação investirá uma dinheirama em ações nas redes sociais.
Pode ser que as conversas e as propagandas do governo funcionem. Entretanto, se ambas não derem certo e o governo não conseguir ministros para mostrar suas realizações e melhorias propiciadas - que não foram poucas -, Lula deve mandar esse pessoal para a feira. Só a laranja aumentou 40%.