Labirintos da Política

Opinião|Lula faz mudança na Secom seguindo bordão de Chacrinha: ‘Quem não se comunica se trumbica’


A Secretaria de Comunicação funcionava na base de “ninguém é de ninguém”. Uns assessores prestavam contas à primeira-dama Janja, outros diretamente ao presidente Lula e alguns poucos ao ex-ministro Paulo Pimenta

Por Monica Gugliano
Atualização:

José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha (1917-1988), criou ao longo de sua carreira de comunicador de rádio e TV e de apresentador de programas de auditório bordões repetidos pela população. Sem distinção de classe, escolaridade ou outros medidores do público que o assistia, vestindo roupas escrachadas e espalhafatosas, ele ensinava, ainda nas décadas de 60 e 70, que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. E mais: “quem não se comunica se trumbica”.

Trumbicar, uma palavra pouco usada hoje e que significa se dar mal, foi a sensação que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou na sexta-feira, 6 de dezembro, durante um seminário do PT, falando por videoconferência. “Há um erro na questão de comunicação e sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame que não está se comunicando bem”.

O presidente Lula e o novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República Foto: Ricardo Stuckert/Presidv™ncia da Repv?blica
continua após a publicidade

As correções são parte da crença em Brasília de que todas as vezes que um governo não vai tão bem quanto gostaria, ou quanto acha que mereceria, o problema está na comunicação. De certa forma, neste caso estava certo. Como se costuma dizer coloquialmente, a Secretaria de Comunicação (Secom) funcionava na base de “ninguém é de ninguém”. Uns assessores prestavam contas à primeira-dama Janja, outros diretamente ao presidente Lula e alguns poucos ao ex-ministro Paulo Pimenta – esses em minoria. E praticamente todos divergiam sobre as ideias e projetos e convergiam sobre a necessidade de manter os jornalistas (à exceção dos considerados “amigos”) à distância.

Isso tudo num ambiente insalubre por si só, onde a disputa de poder ou de sinais de poder pode chegar ao ponto de servidores compararem se um tem um telefone ou uma cadeira melhor que a do outro. Onde uma janela com vista pode significar um imenso status e, por fim, onde todos competem com unhas e dentes por um sinal de simpatia vindo do presidente e, nesta gestão, também de Janja.

A enchente no Rio Grande do Sul, que deslocou Pimenta para Porto Alegre, deixando em seu lugar o jornalista pernambucano Laércio Portela, piorou o clima. Portela levou de volta um método de trabalho que já havia executado em outras passagens pela Secom. Consiste em marcar entrevistas em emissoras de rádio das cidades do interior que são visitadas por Lula. Geralmente, os âncoras desses programas não estão interessados nas futricas brasilienses. Querem saber de projetos, programas. Resultado: Lula se sai bem, a emissora fica contente e Portela ganha pontos com o chefe.

continua após a publicidade

Entretanto, tudo isso – a exceção das puxadas de tapete internas – parece, e é, estratégia do século passado. Dessa forma, uma das primeiras tarefas do novo ministro, o baiano Sidônio Palmeira que toma posse nesta terça-feira, 14, no Palácio do Planalto, será se livrar daqueles que ainda não entenderam que comunicação de campanha é uma coisa. Comunicação de governo, outra bem diferente. Não é tão difícil embalar promessas de campanha. Mas é complicado mostrar à população o que esse mesmo governo está fazendo para que a vida de todos melhore. E é preciso agilidade nas redes sociais para desmentir fake news, ainda mais agora, que os donos das grandes empresas de tecnologia avisam que não farão mediação dos conteúdos publicados.

Há poucos dias, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o próprio Lula apareceram em vídeos negando que transações feitas por meio de Pix serão taxadas. A fake news correu e continua correndo, alimentada pelas redes bolsonaristas. Sidônio Palmeira quer, entre outras metas, dar agilidade – menos discussão e mais ação – a essas respostas. Condições não vão lhe faltar. Lula lhe deu carta branca, Palmeira já está montando sua equipe. E, com larga experiência em marketing político, é tido como um profissional com a rapidez e a articulação necessárias para atender as demandas da comunicação atual. Os tempos são outros mas a polarização, a desregulação da internet e a desinformação desafiam os comunicadores e dão atualidade ao bordão de Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica”.

José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha (1917-1988), criou ao longo de sua carreira de comunicador de rádio e TV e de apresentador de programas de auditório bordões repetidos pela população. Sem distinção de classe, escolaridade ou outros medidores do público que o assistia, vestindo roupas escrachadas e espalhafatosas, ele ensinava, ainda nas décadas de 60 e 70, que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. E mais: “quem não se comunica se trumbica”.

Trumbicar, uma palavra pouco usada hoje e que significa se dar mal, foi a sensação que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou na sexta-feira, 6 de dezembro, durante um seminário do PT, falando por videoconferência. “Há um erro na questão de comunicação e sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame que não está se comunicando bem”.

O presidente Lula e o novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República Foto: Ricardo Stuckert/Presidv™ncia da Repv?blica

As correções são parte da crença em Brasília de que todas as vezes que um governo não vai tão bem quanto gostaria, ou quanto acha que mereceria, o problema está na comunicação. De certa forma, neste caso estava certo. Como se costuma dizer coloquialmente, a Secretaria de Comunicação (Secom) funcionava na base de “ninguém é de ninguém”. Uns assessores prestavam contas à primeira-dama Janja, outros diretamente ao presidente Lula e alguns poucos ao ex-ministro Paulo Pimenta – esses em minoria. E praticamente todos divergiam sobre as ideias e projetos e convergiam sobre a necessidade de manter os jornalistas (à exceção dos considerados “amigos”) à distância.

Isso tudo num ambiente insalubre por si só, onde a disputa de poder ou de sinais de poder pode chegar ao ponto de servidores compararem se um tem um telefone ou uma cadeira melhor que a do outro. Onde uma janela com vista pode significar um imenso status e, por fim, onde todos competem com unhas e dentes por um sinal de simpatia vindo do presidente e, nesta gestão, também de Janja.

A enchente no Rio Grande do Sul, que deslocou Pimenta para Porto Alegre, deixando em seu lugar o jornalista pernambucano Laércio Portela, piorou o clima. Portela levou de volta um método de trabalho que já havia executado em outras passagens pela Secom. Consiste em marcar entrevistas em emissoras de rádio das cidades do interior que são visitadas por Lula. Geralmente, os âncoras desses programas não estão interessados nas futricas brasilienses. Querem saber de projetos, programas. Resultado: Lula se sai bem, a emissora fica contente e Portela ganha pontos com o chefe.

Entretanto, tudo isso – a exceção das puxadas de tapete internas – parece, e é, estratégia do século passado. Dessa forma, uma das primeiras tarefas do novo ministro, o baiano Sidônio Palmeira que toma posse nesta terça-feira, 14, no Palácio do Planalto, será se livrar daqueles que ainda não entenderam que comunicação de campanha é uma coisa. Comunicação de governo, outra bem diferente. Não é tão difícil embalar promessas de campanha. Mas é complicado mostrar à população o que esse mesmo governo está fazendo para que a vida de todos melhore. E é preciso agilidade nas redes sociais para desmentir fake news, ainda mais agora, que os donos das grandes empresas de tecnologia avisam que não farão mediação dos conteúdos publicados.

Há poucos dias, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o próprio Lula apareceram em vídeos negando que transações feitas por meio de Pix serão taxadas. A fake news correu e continua correndo, alimentada pelas redes bolsonaristas. Sidônio Palmeira quer, entre outras metas, dar agilidade – menos discussão e mais ação – a essas respostas. Condições não vão lhe faltar. Lula lhe deu carta branca, Palmeira já está montando sua equipe. E, com larga experiência em marketing político, é tido como um profissional com a rapidez e a articulação necessárias para atender as demandas da comunicação atual. Os tempos são outros mas a polarização, a desregulação da internet e a desinformação desafiam os comunicadores e dão atualidade ao bordão de Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica”.

José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha (1917-1988), criou ao longo de sua carreira de comunicador de rádio e TV e de apresentador de programas de auditório bordões repetidos pela população. Sem distinção de classe, escolaridade ou outros medidores do público que o assistia, vestindo roupas escrachadas e espalhafatosas, ele ensinava, ainda nas décadas de 60 e 70, que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. E mais: “quem não se comunica se trumbica”.

Trumbicar, uma palavra pouco usada hoje e que significa se dar mal, foi a sensação que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou na sexta-feira, 6 de dezembro, durante um seminário do PT, falando por videoconferência. “Há um erro na questão de comunicação e sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame que não está se comunicando bem”.

O presidente Lula e o novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República Foto: Ricardo Stuckert/Presidv™ncia da Repv?blica

As correções são parte da crença em Brasília de que todas as vezes que um governo não vai tão bem quanto gostaria, ou quanto acha que mereceria, o problema está na comunicação. De certa forma, neste caso estava certo. Como se costuma dizer coloquialmente, a Secretaria de Comunicação (Secom) funcionava na base de “ninguém é de ninguém”. Uns assessores prestavam contas à primeira-dama Janja, outros diretamente ao presidente Lula e alguns poucos ao ex-ministro Paulo Pimenta – esses em minoria. E praticamente todos divergiam sobre as ideias e projetos e convergiam sobre a necessidade de manter os jornalistas (à exceção dos considerados “amigos”) à distância.

Isso tudo num ambiente insalubre por si só, onde a disputa de poder ou de sinais de poder pode chegar ao ponto de servidores compararem se um tem um telefone ou uma cadeira melhor que a do outro. Onde uma janela com vista pode significar um imenso status e, por fim, onde todos competem com unhas e dentes por um sinal de simpatia vindo do presidente e, nesta gestão, também de Janja.

A enchente no Rio Grande do Sul, que deslocou Pimenta para Porto Alegre, deixando em seu lugar o jornalista pernambucano Laércio Portela, piorou o clima. Portela levou de volta um método de trabalho que já havia executado em outras passagens pela Secom. Consiste em marcar entrevistas em emissoras de rádio das cidades do interior que são visitadas por Lula. Geralmente, os âncoras desses programas não estão interessados nas futricas brasilienses. Querem saber de projetos, programas. Resultado: Lula se sai bem, a emissora fica contente e Portela ganha pontos com o chefe.

Entretanto, tudo isso – a exceção das puxadas de tapete internas – parece, e é, estratégia do século passado. Dessa forma, uma das primeiras tarefas do novo ministro, o baiano Sidônio Palmeira que toma posse nesta terça-feira, 14, no Palácio do Planalto, será se livrar daqueles que ainda não entenderam que comunicação de campanha é uma coisa. Comunicação de governo, outra bem diferente. Não é tão difícil embalar promessas de campanha. Mas é complicado mostrar à população o que esse mesmo governo está fazendo para que a vida de todos melhore. E é preciso agilidade nas redes sociais para desmentir fake news, ainda mais agora, que os donos das grandes empresas de tecnologia avisam que não farão mediação dos conteúdos publicados.

Há poucos dias, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o próprio Lula apareceram em vídeos negando que transações feitas por meio de Pix serão taxadas. A fake news correu e continua correndo, alimentada pelas redes bolsonaristas. Sidônio Palmeira quer, entre outras metas, dar agilidade – menos discussão e mais ação – a essas respostas. Condições não vão lhe faltar. Lula lhe deu carta branca, Palmeira já está montando sua equipe. E, com larga experiência em marketing político, é tido como um profissional com a rapidez e a articulação necessárias para atender as demandas da comunicação atual. Os tempos são outros mas a polarização, a desregulação da internet e a desinformação desafiam os comunicadores e dão atualidade ao bordão de Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica”.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.