Labirintos da Política

Opinião|Lula e Janja poderiam ter ido ver as famílias do RS mas preferiram dançar


Presidente troca empatia por pragmatismo ao deixar de visitar região atingida por tragédia

Por Monica Gugliano
Atualização:

Na semana em que chuvas torrenciais e enchentes causadas por um ciclone arrastaram um pedaço do Rio Grande do Sul para um mar de lama, revelando o lado mais cruel da natureza e, por que não, das mudanças climáticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trocou a empatia pelo pragmatismo. Empenhado em concluir a troca de ministros e em jogar cascas de banana para ele mesmo pisar – como foi a opinião de que deveriam ser secretos os votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – , Lula não visitou a região atingida pela tragédia no Sul para levar sua solidariedade às famílias que perderam mais de 40 pessoas, tudo o que tinham e ainda buscam por mais de 40 desaparecidos, enquanto as chuvas não param.

Podemos justificar o presidente dizendo que a tal da “reforma ministerial” já se arrastava há três meses e que ele não podia mais esperar pelos votos do Centrão, quando o Senado se prepara para debater a reforma tributária. É possível dizer que ele não foi ao Sul, mas mandou seu ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), o gaúcho Paulo Pimenta, e o ministro da Integração Regional, Waldez Góes. Ao mesmo tempo, em uma rede social, Lula anunciou que o vice-presidente Geraldo Alckmin, e o ministro da Defesa, José Múcio, estariam de prontidão para ir ao Estado, caso fosse necessário.

Lula e Janja foram juntos para a Índia, enquanto tragédia assolou o Rio Grande do Sul, deixando dezenas de mortos  Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Tornou-se tão premente que, no domingo, 10, desembarcou lá uma comitiva com Alckmin, Múcio, Marina Silva, (Meio Ambiente) e outros. Anunciaram a liberação de R$ 741 milhões. Talvez Lula não contasse com o agravamento da situação que já era uma calamidade quando ele partiu para Nova Délhi, onde participou da reunião do G-20. O Brasil assumiu a presidência do grupo e, em seus discursos, o presidente, mais de uma vez citou a tragédia. Lula viajou acompanhado da primeira dama, Janja da Silva, que, em uma rede social, comentou – e apagou depois – que sairia dançando tão logo chegasse à Índia.

Talvez Janja pudesse ter ido ver as famílias, se não estivesse tão preocupada com as danças indianas. Talvez Lula pudesse concluir a pífia mudança nos ministérios, mesmo no Rio Grande do Sul. Afinal, tratou-se somente de tirar a ministra dos Esportes, a medalhista olímpica, Ana Moser, para dar lugar ao Centrão. E de criar mais um ministério, o de Micro e Pequenas Empresas, para acomodar Márcio França, tirado dos Portos e Aeroportos, cedendo seu lugar ao Centrão.

O pragmatismo e a frieza em momentos de tragédias que comovem uma nação não combinam com a imagem de Lula. Estão, sim, incorporados à imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro, que durante um período de férias no fim de ano de 2021, ignorou uma tragédia semelhante na Bahia que deixou mais de 20 mortos e milhares de desabrigados. Enquanto os baianos contavam suas perdas humanas e o pouco que lhes sobrara depois das enchentes, Bolsonaro se refestelava em um jet ski da Marinha do Brasil, passeando às custas do contribuinte.

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Em dezembro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro foi duramente criticado por manter a viagem de folga do fim de ano para Santa Catarina e andar de jet ski em meio a dezenas de mortes e milhares de desabrigados pela chuva na Bahia Foto: Vilmar Bannach/Photopress

Em um documentário da Netflix, “Líderes que inspiram”, grandes nomes do mundo inteiro contam suas histórias e como inspiraram seus países e o planeta. Estão ali, Nelson Mandela (1918-2013); a então juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos Ruth Bader Ginsburg (1933-2020), incansável na luta contra as desigualdades, Greta Thunberg e Jacinda Arden, entre outros

A importância da presença dos grandes líderes ao lado da população em momentos como este que vive o Rio Grande do Sul tem muitos exemplos. Um deles foi Rainha Elizabeth II (1926-2022) que mais do que uma vez se referiu ao arrependimento que sentiu pelo resto de sua vida por ter postergado a visita às vítimas e sobreviventes de uma escola que fora soterrada pela lama (116 crianças e 28 adultos), na vila de Aberfan, no País de Gales. Quando ela foi, já se passara uma semana do desastre.

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Em fevereiro deste ano, no carnaval, o presidente Lula não deixou de visitar e promover reuniões com autoridades locais – entre elas o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas – depois que a região do litoral norte de São Paulo foi também atingida por fortes chuvas que deixaram centenas de desabrigados e 65 mortos. Não é do estilo de Lula substituir a empatia e o contato direto com a população por mensagens e recados, terceirizando o “olho no olho” que ele diz tanto gostar. Talvez, desta vez, tenha sido só mais um escorregão nessas cascas de banana que ele mesmo tem jogado à sua frente.

Na semana em que chuvas torrenciais e enchentes causadas por um ciclone arrastaram um pedaço do Rio Grande do Sul para um mar de lama, revelando o lado mais cruel da natureza e, por que não, das mudanças climáticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trocou a empatia pelo pragmatismo. Empenhado em concluir a troca de ministros e em jogar cascas de banana para ele mesmo pisar – como foi a opinião de que deveriam ser secretos os votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – , Lula não visitou a região atingida pela tragédia no Sul para levar sua solidariedade às famílias que perderam mais de 40 pessoas, tudo o que tinham e ainda buscam por mais de 40 desaparecidos, enquanto as chuvas não param.

Podemos justificar o presidente dizendo que a tal da “reforma ministerial” já se arrastava há três meses e que ele não podia mais esperar pelos votos do Centrão, quando o Senado se prepara para debater a reforma tributária. É possível dizer que ele não foi ao Sul, mas mandou seu ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), o gaúcho Paulo Pimenta, e o ministro da Integração Regional, Waldez Góes. Ao mesmo tempo, em uma rede social, Lula anunciou que o vice-presidente Geraldo Alckmin, e o ministro da Defesa, José Múcio, estariam de prontidão para ir ao Estado, caso fosse necessário.

Lula e Janja foram juntos para a Índia, enquanto tragédia assolou o Rio Grande do Sul, deixando dezenas de mortos  Foto: Ricardo Stuckert/PR

Tornou-se tão premente que, no domingo, 10, desembarcou lá uma comitiva com Alckmin, Múcio, Marina Silva, (Meio Ambiente) e outros. Anunciaram a liberação de R$ 741 milhões. Talvez Lula não contasse com o agravamento da situação que já era uma calamidade quando ele partiu para Nova Délhi, onde participou da reunião do G-20. O Brasil assumiu a presidência do grupo e, em seus discursos, o presidente, mais de uma vez citou a tragédia. Lula viajou acompanhado da primeira dama, Janja da Silva, que, em uma rede social, comentou – e apagou depois – que sairia dançando tão logo chegasse à Índia.

Talvez Janja pudesse ter ido ver as famílias, se não estivesse tão preocupada com as danças indianas. Talvez Lula pudesse concluir a pífia mudança nos ministérios, mesmo no Rio Grande do Sul. Afinal, tratou-se somente de tirar a ministra dos Esportes, a medalhista olímpica, Ana Moser, para dar lugar ao Centrão. E de criar mais um ministério, o de Micro e Pequenas Empresas, para acomodar Márcio França, tirado dos Portos e Aeroportos, cedendo seu lugar ao Centrão.

O pragmatismo e a frieza em momentos de tragédias que comovem uma nação não combinam com a imagem de Lula. Estão, sim, incorporados à imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro, que durante um período de férias no fim de ano de 2021, ignorou uma tragédia semelhante na Bahia que deixou mais de 20 mortos e milhares de desabrigados. Enquanto os baianos contavam suas perdas humanas e o pouco que lhes sobrara depois das enchentes, Bolsonaro se refestelava em um jet ski da Marinha do Brasil, passeando às custas do contribuinte.

Em dezembro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro foi duramente criticado por manter a viagem de folga do fim de ano para Santa Catarina e andar de jet ski em meio a dezenas de mortes e milhares de desabrigados pela chuva na Bahia Foto: Vilmar Bannach/Photopress

Em um documentário da Netflix, “Líderes que inspiram”, grandes nomes do mundo inteiro contam suas histórias e como inspiraram seus países e o planeta. Estão ali, Nelson Mandela (1918-2013); a então juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos Ruth Bader Ginsburg (1933-2020), incansável na luta contra as desigualdades, Greta Thunberg e Jacinda Arden, entre outros

A importância da presença dos grandes líderes ao lado da população em momentos como este que vive o Rio Grande do Sul tem muitos exemplos. Um deles foi Rainha Elizabeth II (1926-2022) que mais do que uma vez se referiu ao arrependimento que sentiu pelo resto de sua vida por ter postergado a visita às vítimas e sobreviventes de uma escola que fora soterrada pela lama (116 crianças e 28 adultos), na vila de Aberfan, no País de Gales. Quando ela foi, já se passara uma semana do desastre.

Em fevereiro deste ano, no carnaval, o presidente Lula não deixou de visitar e promover reuniões com autoridades locais – entre elas o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas – depois que a região do litoral norte de São Paulo foi também atingida por fortes chuvas que deixaram centenas de desabrigados e 65 mortos. Não é do estilo de Lula substituir a empatia e o contato direto com a população por mensagens e recados, terceirizando o “olho no olho” que ele diz tanto gostar. Talvez, desta vez, tenha sido só mais um escorregão nessas cascas de banana que ele mesmo tem jogado à sua frente.

Na semana em que chuvas torrenciais e enchentes causadas por um ciclone arrastaram um pedaço do Rio Grande do Sul para um mar de lama, revelando o lado mais cruel da natureza e, por que não, das mudanças climáticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trocou a empatia pelo pragmatismo. Empenhado em concluir a troca de ministros e em jogar cascas de banana para ele mesmo pisar – como foi a opinião de que deveriam ser secretos os votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – , Lula não visitou a região atingida pela tragédia no Sul para levar sua solidariedade às famílias que perderam mais de 40 pessoas, tudo o que tinham e ainda buscam por mais de 40 desaparecidos, enquanto as chuvas não param.

Podemos justificar o presidente dizendo que a tal da “reforma ministerial” já se arrastava há três meses e que ele não podia mais esperar pelos votos do Centrão, quando o Senado se prepara para debater a reforma tributária. É possível dizer que ele não foi ao Sul, mas mandou seu ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), o gaúcho Paulo Pimenta, e o ministro da Integração Regional, Waldez Góes. Ao mesmo tempo, em uma rede social, Lula anunciou que o vice-presidente Geraldo Alckmin, e o ministro da Defesa, José Múcio, estariam de prontidão para ir ao Estado, caso fosse necessário.

Lula e Janja foram juntos para a Índia, enquanto tragédia assolou o Rio Grande do Sul, deixando dezenas de mortos  Foto: Ricardo Stuckert/PR

Tornou-se tão premente que, no domingo, 10, desembarcou lá uma comitiva com Alckmin, Múcio, Marina Silva, (Meio Ambiente) e outros. Anunciaram a liberação de R$ 741 milhões. Talvez Lula não contasse com o agravamento da situação que já era uma calamidade quando ele partiu para Nova Délhi, onde participou da reunião do G-20. O Brasil assumiu a presidência do grupo e, em seus discursos, o presidente, mais de uma vez citou a tragédia. Lula viajou acompanhado da primeira dama, Janja da Silva, que, em uma rede social, comentou – e apagou depois – que sairia dançando tão logo chegasse à Índia.

Talvez Janja pudesse ter ido ver as famílias, se não estivesse tão preocupada com as danças indianas. Talvez Lula pudesse concluir a pífia mudança nos ministérios, mesmo no Rio Grande do Sul. Afinal, tratou-se somente de tirar a ministra dos Esportes, a medalhista olímpica, Ana Moser, para dar lugar ao Centrão. E de criar mais um ministério, o de Micro e Pequenas Empresas, para acomodar Márcio França, tirado dos Portos e Aeroportos, cedendo seu lugar ao Centrão.

O pragmatismo e a frieza em momentos de tragédias que comovem uma nação não combinam com a imagem de Lula. Estão, sim, incorporados à imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro, que durante um período de férias no fim de ano de 2021, ignorou uma tragédia semelhante na Bahia que deixou mais de 20 mortos e milhares de desabrigados. Enquanto os baianos contavam suas perdas humanas e o pouco que lhes sobrara depois das enchentes, Bolsonaro se refestelava em um jet ski da Marinha do Brasil, passeando às custas do contribuinte.

Em dezembro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro foi duramente criticado por manter a viagem de folga do fim de ano para Santa Catarina e andar de jet ski em meio a dezenas de mortes e milhares de desabrigados pela chuva na Bahia Foto: Vilmar Bannach/Photopress

Em um documentário da Netflix, “Líderes que inspiram”, grandes nomes do mundo inteiro contam suas histórias e como inspiraram seus países e o planeta. Estão ali, Nelson Mandela (1918-2013); a então juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos Ruth Bader Ginsburg (1933-2020), incansável na luta contra as desigualdades, Greta Thunberg e Jacinda Arden, entre outros

A importância da presença dos grandes líderes ao lado da população em momentos como este que vive o Rio Grande do Sul tem muitos exemplos. Um deles foi Rainha Elizabeth II (1926-2022) que mais do que uma vez se referiu ao arrependimento que sentiu pelo resto de sua vida por ter postergado a visita às vítimas e sobreviventes de uma escola que fora soterrada pela lama (116 crianças e 28 adultos), na vila de Aberfan, no País de Gales. Quando ela foi, já se passara uma semana do desastre.

Em fevereiro deste ano, no carnaval, o presidente Lula não deixou de visitar e promover reuniões com autoridades locais – entre elas o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas – depois que a região do litoral norte de São Paulo foi também atingida por fortes chuvas que deixaram centenas de desabrigados e 65 mortos. Não é do estilo de Lula substituir a empatia e o contato direto com a população por mensagens e recados, terceirizando o “olho no olho” que ele diz tanto gostar. Talvez, desta vez, tenha sido só mais um escorregão nessas cascas de banana que ele mesmo tem jogado à sua frente.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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