Na disputa eleitoral mais disputada e mais eletrizante de São Paulo nas últimas décadas, o prefeito Ricardo Nunes fez valer o peso da máquina e, mesmo passando para o segundo turno por um triz, chega a essa nova eleição com uma ínfima vantagem conquistada com muito suor, inaugurações de obras e o maior tempo na propaganda eleitoral gratuita.
E não se pode creditar o avanço ao segundo turno ao apadrinhamento de Jair Bolsonaro, que além de ter conseguido o fato único de perder uma eleição estando no comando do Palácio do Planalto, com o passar do tempo e a inelegibilidade, foi perdendo sua capacidade de transferir votos.
Nunes não deve nada ao ex-presidente que chegou a desprezá-lo no começo da campanha quando achava que o emedebista tinha poucas chances de se eleger. Mas o prefeito, deve sim, e muito, ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e às articulações de bastidores feitas pelo secretário Gilberto Kassab. O governador é o grande vencedor deste pleito. Consagrou-se como um político à altura de voos mais altos em 2026 - quiçá até a Presidência da República - e mostrou seu descolamento do ex-presidente que até hoje se gaba de ter sido fundamental em sua eleição.
O líder nacional da direita, que se pensava poderia ser Pablo Marçal se vitorioso fosse, virou Tarcísio, um político obstinado que pôs Nunes debaixo do braço e saiu com ele pela cidade, inaugurando obras, dando entrevistas e aparecendo permanentemente na propaganda gratuita de segunda a segunda. Enquanto isso, Marçal fazia bravatas e criava confusão por onde passasse. Não deu certo.
Não se sabe se por que os eleitores cansaram das suas gaiatices, agressões e malcriações incompatíveis com a dignidade e a liturgia exigidos do prefeito da maior cidade da América Latina. Mas foi um por triz que o outsider Pablo Marçal (PRTB) não foi para o segundo turno. Desde o começo da campanha, marqueteiros de todas as ideologias repetiam que a rejeição ao coach tornava impraticável sua eleição. Nos últimos dias, ele chegou a ter 50% de eleitores que se recusavam a votar nele.
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Entretanto, o golpe de misericórdia deve ter sido dado pelo atestado falso, apresentado por Marçal, apontando que o candidato Guilherme Boulos (PSOL) teria sido internado por consumo de drogas. A mentira foi mortal para o influenciador. Quem poderia acreditar num prefeito que falsificava atestados médicos?
O candidato do PSOL deu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um dos maiores presentes desta eleição. Amanhã começa, como se costuma dizer sobre o segundo turno, uma nova eleição. Certamente sem o picadeiro. Mas com seriedade para discutir os problemas e as soluções para uma cidade complexa como São Paulo.