Sei que um dia depois do primeiro turno das eleições municipais, estamos tão envolvidos em análises, contas, projeções, vitoriosos e perdedores que eu deveria seguir por essa mesma trilha aqui nesta coluna, cujo tema principal é tratar de política. Acontece que passando pelas capas dos jornais online, vi uma foto no jornal espanhol El País que me deixou quase hipnotizada: é Natal em Caracas. A imagem mostra coqueiros e outras árvores enfeitadas com luzes coloridas. O texto narra que as festividades começaram em outubro e, com elas, os prédios públicos estão com as fachadas decoradas, há pinheirinhos montados, guirlandas, tudo.
Não é a primeira vez que o presidente Nicolás Maduro antecipa a data do Natal. O nascimento do menino Jesus sob uma manjedoura, celebrado no dia 25 de dezembro, como aprendemos na religião católica, é absolutamente flexível na Venezuela. Muda ao sabor do problemas e das crises, numa prática que se sucede desde 2018. Neste ano, os festejos estão previstos para durarem até meados de janeiro.
A Venezuela mergulhou em um violento colapso que já matou mais de 20 cidadãos e levou centenas às prisões após a eleição presidencial de 28 de julho, foi validada menos de um mês depois pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), órgão que carece de qualquer independência de Maduro e da cúpula do governo. Após esse reconhecimento, o país se envolveu numa convulsão social alimentada pelos cidadãos e autoridades que não reconheceram a vitória de Maduro, denunciaram que as atas com os votos foram fraudadas e proclamaram que o eleito teria sido Edmundo Gonzáles Urrutia, o representante da líder da oposição María Corina Machado.
A comunidade internacional condenou o regime de Maduro, não aceita sua vitória, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não reconhecia a “vitória nem de Maduro nem da oposição” e Urrutia está asilado na Espanha. Indiferente a tudo isso, Maduro tem se apresentado alegre e feliz cantando canções natalinas e comendo doces típicos da época.
Segundo jornais locais e internacionais, Maduro dá claros sinais de que pretende prolongar essa situação. Provavelmente até que os descontentes continuem deixando o país, pedido asilo em massa – como acontece no Brasil na fronteira com Roraima – ou que a comunidade internacional com tantos novos problemas, crises, guerras todos os dias esqueça da Venezuela e, os cidadãos, no limite da normalidade ,tentem seguir com sua vida.
Aqui no Brasil, neste domingo, tivemos eleições municipais. Uns dizem que a esquerda venceu, outros que foi a direita. Surgiram, como sempre, os nomes que teriam saído consagrados das urnas, os padrinhos vitoriosos. Entre os vereadores eleitos há de tudo, famosos, anônimos, a filha do traficante Fernandinho Beira-Mar, Fernanda Costa, e muitos outros. Houve debates apáticos e outros como aquele em que um candidato jogou uma cadeira em outro. Ou aquele em que um assessor tomou um soco de outro.
Ainda na noite deste domingo, quase todos os resultados – totalizados nas urnas eletrônicas - eram conhecidos e públicos. Apesar de muitas divergências, seguimos, nós os brasileiros, esperando e tendo certeza que o Natal só chegará em dezembro e que nossa democracia continua inconteste.