Labirintos da Política

Opinião|Organizadores de debates não sabem como acabar com baixaria após barracos no ar e nos bastidores


Regras mais duras não conseguiram controlar os candidatos e, em especial a postura de Pablo Marçal (PRTB)

Por Monica Gugliano

As organizações dos próximos cinco debates na televisão entre os candidatos a prefeito estão apreensivas diante do desafio de promover eventos minimamente normais, nos quais se discutam propostas para a cidade de São Paulo dentro das normas da civilidade e da boa educação. Depois do barraco em que se transformou o encontro na noite de domingo, organizado pela TV Gazeta e My News, os organizadores não sabem mais que tipo de regras impor para controlar os postulantes. Embora suas campanhas, nas reuniões preparatórias, assumam o compromisso de seguir as normas, mal começa o embate e eles, tal qual crianças malcriadas, passam agir como bem entendem.

O sinal vermelho foi justamente aceso após o debate da Gazeta. De todos os confrontos realizados até agora (TV Bandeirantes, Estadão/Terra e Veja), esse, sem dúvida, foi o que propôs diretrizes mais rígidas que contemplavam desde o número de pessoas que poderiam permanecer no estúdio até a proibição do uso de palavras de baixo calão. Funcionou? Não.

TQ SÃO PAULO 01.09.2024 DEBATE GAZETA PREFEITURA ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2024 Saída dos candidatos após debate (fotojornalistas foram impedidos de entrar no debate). Confirmada a presença Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB). O debate é promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews e é o terceiro que reúne os cinco candidatos. Foto Tiago Queiroz/Estadão  Foto: Tiago Queiroz/Estad
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O candidato Pablo Marçal (PRTB) que transforma os estúdios das emissoras em picadeiros para suas diatribes é a maior preocupação. Alguns organizadores chegam a compará-lo ao aluno malcriado e mal educado que senta na última fila da sala com o único objetivo de “tocar o terror” nos colegas e professores. Veja como exemplo, o que ele fez no domingo. Foi estabelecido que os candidatos não poderiam usar bonés ou outros adereços. O que fez Marçal? Foi com o boné. Irritados, os demais candidatos correram e colaram em suas roupas adesivos com os respectivos números dos seus partidos.

Prevenidos pelo que viram em debates anteriores, os organizadores se esforçaram para deixar o mínimo de brechas no regulamento. Era proibido sair do lugar, usar palavras de baixo calão, levar mais de dois assessores ao estúdio, interromper quem estava com a palavra etc. O que fez Marçal? Entrou com cinco assessores, três dos quais tiveram que ser retirados à força pelos seguranças porque se recusavam a sair. Nos intervalos, deixava o estúdio para ir ao banheiro, criando um enorme tumulto de jornalistas e assessores na parte externa da emissora.

Também disse palavrões, não parava de falar e atacar os outros. Quando algum dos demais estava falando e a tela estava dividida, fazia gestos e debochava dos adversários e os chamava usando apelidos que ele mesmo inventou. A confusão foi tão grande que exigiu nervos de aço da mediadora, a jornalista Denise Campos de Toledo. Houve 21 pedidos de direito de resposta. A organização concedeu oito.

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Marçal se referia e chamava o candidato Guilherme Boulos (PSOL), como “Boules”, numa referência ao Hino Nacional cantado em linguagem neutra em um comício. Boulos não levou o desaforo para casa. Chamou Marçal de “bandido condenado” e disse que não conversava com criminosos.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) só se dirigia a Boulos como “o invasor”. Boulos respondia chamando-o de “ladrãozinho de creche”. Indignado, Nunes não deixou por menos e disse a Boulos: “Bandidinho é você, seu invasor, sem vergonha e sem caráter”.

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José Luiz Datena (PSDB) tampouco perdeu a oportunidade de entrar nas baixarias. Chamou o adversário de “bandido”, disse que ele fugiu da polícia e anda de “braços dados com o PCC”. Nunes aumentou o tom dos insultos; “Pablito, você foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que entrava na conta das pessoas e tirava recursos dos mais humildes. Você é tchutchuca do PCC”.

E assim os candidatos foram subindo o tom, até que Datena, num rompante, saiu de trás do seu púlpito e se dirigiu em direção a Marçal com jeito de quem estava disposto a resolver a questão na base da pancadaria. A mediadora gritava: Segurança! Segurança!. Não foi preciso. Por vontade própria, Datena retrocedeu e voltou para seu lugar. Mas foi advertido, assim como Marçal, que perdeu um direito de resposta.

Tabata Amaral (PSB), chamada de “garota” por Marçal, tentava manter alguma compostura e falar de suas propostas, sem muito sucesso. Boulos também, em alguns momentos, tentou falar sobre alguma coisa que tivesse a ver com a administração da cidade. Mas foram apenas alguns instantes num lodaçal de insultos.

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O debate acabou e os candidatos falariam aos repórteres sobre suas impressões do evento. Parecia que o pior já tinha passado. Mas não. O candidato a vice na chapa de Datena, José Aníbal gritou bandido para um grupo em que estava Marçal. Mais uma vez a segurança teve que entrar em ação para evitar uma pancadaria.

Foi um festival de horrores. “O que fazer para que isso não se repita? Quais regras, mais rígidas do que as já adotadas poderemos usar”, disse na condição de anonimato um organizador de debate em uma das emissoras, a TV Cultura, que já tem o evento marcado para o dia 15. Ainda há um tempinho até lá. Mas encontrar uma fórmula de civilidade não será fácil.

As organizações dos próximos cinco debates na televisão entre os candidatos a prefeito estão apreensivas diante do desafio de promover eventos minimamente normais, nos quais se discutam propostas para a cidade de São Paulo dentro das normas da civilidade e da boa educação. Depois do barraco em que se transformou o encontro na noite de domingo, organizado pela TV Gazeta e My News, os organizadores não sabem mais que tipo de regras impor para controlar os postulantes. Embora suas campanhas, nas reuniões preparatórias, assumam o compromisso de seguir as normas, mal começa o embate e eles, tal qual crianças malcriadas, passam agir como bem entendem.

O sinal vermelho foi justamente aceso após o debate da Gazeta. De todos os confrontos realizados até agora (TV Bandeirantes, Estadão/Terra e Veja), esse, sem dúvida, foi o que propôs diretrizes mais rígidas que contemplavam desde o número de pessoas que poderiam permanecer no estúdio até a proibição do uso de palavras de baixo calão. Funcionou? Não.

TQ SÃO PAULO 01.09.2024 DEBATE GAZETA PREFEITURA ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2024 Saída dos candidatos após debate (fotojornalistas foram impedidos de entrar no debate). Confirmada a presença Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB). O debate é promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews e é o terceiro que reúne os cinco candidatos. Foto Tiago Queiroz/Estadão  Foto: Tiago Queiroz/Estad

O candidato Pablo Marçal (PRTB) que transforma os estúdios das emissoras em picadeiros para suas diatribes é a maior preocupação. Alguns organizadores chegam a compará-lo ao aluno malcriado e mal educado que senta na última fila da sala com o único objetivo de “tocar o terror” nos colegas e professores. Veja como exemplo, o que ele fez no domingo. Foi estabelecido que os candidatos não poderiam usar bonés ou outros adereços. O que fez Marçal? Foi com o boné. Irritados, os demais candidatos correram e colaram em suas roupas adesivos com os respectivos números dos seus partidos.

Prevenidos pelo que viram em debates anteriores, os organizadores se esforçaram para deixar o mínimo de brechas no regulamento. Era proibido sair do lugar, usar palavras de baixo calão, levar mais de dois assessores ao estúdio, interromper quem estava com a palavra etc. O que fez Marçal? Entrou com cinco assessores, três dos quais tiveram que ser retirados à força pelos seguranças porque se recusavam a sair. Nos intervalos, deixava o estúdio para ir ao banheiro, criando um enorme tumulto de jornalistas e assessores na parte externa da emissora.

Também disse palavrões, não parava de falar e atacar os outros. Quando algum dos demais estava falando e a tela estava dividida, fazia gestos e debochava dos adversários e os chamava usando apelidos que ele mesmo inventou. A confusão foi tão grande que exigiu nervos de aço da mediadora, a jornalista Denise Campos de Toledo. Houve 21 pedidos de direito de resposta. A organização concedeu oito.

Marçal se referia e chamava o candidato Guilherme Boulos (PSOL), como “Boules”, numa referência ao Hino Nacional cantado em linguagem neutra em um comício. Boulos não levou o desaforo para casa. Chamou Marçal de “bandido condenado” e disse que não conversava com criminosos.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) só se dirigia a Boulos como “o invasor”. Boulos respondia chamando-o de “ladrãozinho de creche”. Indignado, Nunes não deixou por menos e disse a Boulos: “Bandidinho é você, seu invasor, sem vergonha e sem caráter”.

José Luiz Datena (PSDB) tampouco perdeu a oportunidade de entrar nas baixarias. Chamou o adversário de “bandido”, disse que ele fugiu da polícia e anda de “braços dados com o PCC”. Nunes aumentou o tom dos insultos; “Pablito, você foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que entrava na conta das pessoas e tirava recursos dos mais humildes. Você é tchutchuca do PCC”.

E assim os candidatos foram subindo o tom, até que Datena, num rompante, saiu de trás do seu púlpito e se dirigiu em direção a Marçal com jeito de quem estava disposto a resolver a questão na base da pancadaria. A mediadora gritava: Segurança! Segurança!. Não foi preciso. Por vontade própria, Datena retrocedeu e voltou para seu lugar. Mas foi advertido, assim como Marçal, que perdeu um direito de resposta.

Tabata Amaral (PSB), chamada de “garota” por Marçal, tentava manter alguma compostura e falar de suas propostas, sem muito sucesso. Boulos também, em alguns momentos, tentou falar sobre alguma coisa que tivesse a ver com a administração da cidade. Mas foram apenas alguns instantes num lodaçal de insultos.

O debate acabou e os candidatos falariam aos repórteres sobre suas impressões do evento. Parecia que o pior já tinha passado. Mas não. O candidato a vice na chapa de Datena, José Aníbal gritou bandido para um grupo em que estava Marçal. Mais uma vez a segurança teve que entrar em ação para evitar uma pancadaria.

Foi um festival de horrores. “O que fazer para que isso não se repita? Quais regras, mais rígidas do que as já adotadas poderemos usar”, disse na condição de anonimato um organizador de debate em uma das emissoras, a TV Cultura, que já tem o evento marcado para o dia 15. Ainda há um tempinho até lá. Mas encontrar uma fórmula de civilidade não será fácil.

As organizações dos próximos cinco debates na televisão entre os candidatos a prefeito estão apreensivas diante do desafio de promover eventos minimamente normais, nos quais se discutam propostas para a cidade de São Paulo dentro das normas da civilidade e da boa educação. Depois do barraco em que se transformou o encontro na noite de domingo, organizado pela TV Gazeta e My News, os organizadores não sabem mais que tipo de regras impor para controlar os postulantes. Embora suas campanhas, nas reuniões preparatórias, assumam o compromisso de seguir as normas, mal começa o embate e eles, tal qual crianças malcriadas, passam agir como bem entendem.

O sinal vermelho foi justamente aceso após o debate da Gazeta. De todos os confrontos realizados até agora (TV Bandeirantes, Estadão/Terra e Veja), esse, sem dúvida, foi o que propôs diretrizes mais rígidas que contemplavam desde o número de pessoas que poderiam permanecer no estúdio até a proibição do uso de palavras de baixo calão. Funcionou? Não.

TQ SÃO PAULO 01.09.2024 DEBATE GAZETA PREFEITURA ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2024 Saída dos candidatos após debate (fotojornalistas foram impedidos de entrar no debate). Confirmada a presença Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB). O debate é promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews e é o terceiro que reúne os cinco candidatos. Foto Tiago Queiroz/Estadão  Foto: Tiago Queiroz/Estad

O candidato Pablo Marçal (PRTB) que transforma os estúdios das emissoras em picadeiros para suas diatribes é a maior preocupação. Alguns organizadores chegam a compará-lo ao aluno malcriado e mal educado que senta na última fila da sala com o único objetivo de “tocar o terror” nos colegas e professores. Veja como exemplo, o que ele fez no domingo. Foi estabelecido que os candidatos não poderiam usar bonés ou outros adereços. O que fez Marçal? Foi com o boné. Irritados, os demais candidatos correram e colaram em suas roupas adesivos com os respectivos números dos seus partidos.

Prevenidos pelo que viram em debates anteriores, os organizadores se esforçaram para deixar o mínimo de brechas no regulamento. Era proibido sair do lugar, usar palavras de baixo calão, levar mais de dois assessores ao estúdio, interromper quem estava com a palavra etc. O que fez Marçal? Entrou com cinco assessores, três dos quais tiveram que ser retirados à força pelos seguranças porque se recusavam a sair. Nos intervalos, deixava o estúdio para ir ao banheiro, criando um enorme tumulto de jornalistas e assessores na parte externa da emissora.

Também disse palavrões, não parava de falar e atacar os outros. Quando algum dos demais estava falando e a tela estava dividida, fazia gestos e debochava dos adversários e os chamava usando apelidos que ele mesmo inventou. A confusão foi tão grande que exigiu nervos de aço da mediadora, a jornalista Denise Campos de Toledo. Houve 21 pedidos de direito de resposta. A organização concedeu oito.

Marçal se referia e chamava o candidato Guilherme Boulos (PSOL), como “Boules”, numa referência ao Hino Nacional cantado em linguagem neutra em um comício. Boulos não levou o desaforo para casa. Chamou Marçal de “bandido condenado” e disse que não conversava com criminosos.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) só se dirigia a Boulos como “o invasor”. Boulos respondia chamando-o de “ladrãozinho de creche”. Indignado, Nunes não deixou por menos e disse a Boulos: “Bandidinho é você, seu invasor, sem vergonha e sem caráter”.

José Luiz Datena (PSDB) tampouco perdeu a oportunidade de entrar nas baixarias. Chamou o adversário de “bandido”, disse que ele fugiu da polícia e anda de “braços dados com o PCC”. Nunes aumentou o tom dos insultos; “Pablito, você foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que entrava na conta das pessoas e tirava recursos dos mais humildes. Você é tchutchuca do PCC”.

E assim os candidatos foram subindo o tom, até que Datena, num rompante, saiu de trás do seu púlpito e se dirigiu em direção a Marçal com jeito de quem estava disposto a resolver a questão na base da pancadaria. A mediadora gritava: Segurança! Segurança!. Não foi preciso. Por vontade própria, Datena retrocedeu e voltou para seu lugar. Mas foi advertido, assim como Marçal, que perdeu um direito de resposta.

Tabata Amaral (PSB), chamada de “garota” por Marçal, tentava manter alguma compostura e falar de suas propostas, sem muito sucesso. Boulos também, em alguns momentos, tentou falar sobre alguma coisa que tivesse a ver com a administração da cidade. Mas foram apenas alguns instantes num lodaçal de insultos.

O debate acabou e os candidatos falariam aos repórteres sobre suas impressões do evento. Parecia que o pior já tinha passado. Mas não. O candidato a vice na chapa de Datena, José Aníbal gritou bandido para um grupo em que estava Marçal. Mais uma vez a segurança teve que entrar em ação para evitar uma pancadaria.

Foi um festival de horrores. “O que fazer para que isso não se repita? Quais regras, mais rígidas do que as já adotadas poderemos usar”, disse na condição de anonimato um organizador de debate em uma das emissoras, a TV Cultura, que já tem o evento marcado para o dia 15. Ainda há um tempinho até lá. Mas encontrar uma fórmula de civilidade não será fácil.

As organizações dos próximos cinco debates na televisão entre os candidatos a prefeito estão apreensivas diante do desafio de promover eventos minimamente normais, nos quais se discutam propostas para a cidade de São Paulo dentro das normas da civilidade e da boa educação. Depois do barraco em que se transformou o encontro na noite de domingo, organizado pela TV Gazeta e My News, os organizadores não sabem mais que tipo de regras impor para controlar os postulantes. Embora suas campanhas, nas reuniões preparatórias, assumam o compromisso de seguir as normas, mal começa o embate e eles, tal qual crianças malcriadas, passam agir como bem entendem.

O sinal vermelho foi justamente aceso após o debate da Gazeta. De todos os confrontos realizados até agora (TV Bandeirantes, Estadão/Terra e Veja), esse, sem dúvida, foi o que propôs diretrizes mais rígidas que contemplavam desde o número de pessoas que poderiam permanecer no estúdio até a proibição do uso de palavras de baixo calão. Funcionou? Não.

TQ SÃO PAULO 01.09.2024 DEBATE GAZETA PREFEITURA ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2024 Saída dos candidatos após debate (fotojornalistas foram impedidos de entrar no debate). Confirmada a presença Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB). O debate é promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews e é o terceiro que reúne os cinco candidatos. Foto Tiago Queiroz/Estadão  Foto: Tiago Queiroz/Estad

O candidato Pablo Marçal (PRTB) que transforma os estúdios das emissoras em picadeiros para suas diatribes é a maior preocupação. Alguns organizadores chegam a compará-lo ao aluno malcriado e mal educado que senta na última fila da sala com o único objetivo de “tocar o terror” nos colegas e professores. Veja como exemplo, o que ele fez no domingo. Foi estabelecido que os candidatos não poderiam usar bonés ou outros adereços. O que fez Marçal? Foi com o boné. Irritados, os demais candidatos correram e colaram em suas roupas adesivos com os respectivos números dos seus partidos.

Prevenidos pelo que viram em debates anteriores, os organizadores se esforçaram para deixar o mínimo de brechas no regulamento. Era proibido sair do lugar, usar palavras de baixo calão, levar mais de dois assessores ao estúdio, interromper quem estava com a palavra etc. O que fez Marçal? Entrou com cinco assessores, três dos quais tiveram que ser retirados à força pelos seguranças porque se recusavam a sair. Nos intervalos, deixava o estúdio para ir ao banheiro, criando um enorme tumulto de jornalistas e assessores na parte externa da emissora.

Também disse palavrões, não parava de falar e atacar os outros. Quando algum dos demais estava falando e a tela estava dividida, fazia gestos e debochava dos adversários e os chamava usando apelidos que ele mesmo inventou. A confusão foi tão grande que exigiu nervos de aço da mediadora, a jornalista Denise Campos de Toledo. Houve 21 pedidos de direito de resposta. A organização concedeu oito.

Marçal se referia e chamava o candidato Guilherme Boulos (PSOL), como “Boules”, numa referência ao Hino Nacional cantado em linguagem neutra em um comício. Boulos não levou o desaforo para casa. Chamou Marçal de “bandido condenado” e disse que não conversava com criminosos.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) só se dirigia a Boulos como “o invasor”. Boulos respondia chamando-o de “ladrãozinho de creche”. Indignado, Nunes não deixou por menos e disse a Boulos: “Bandidinho é você, seu invasor, sem vergonha e sem caráter”.

José Luiz Datena (PSDB) tampouco perdeu a oportunidade de entrar nas baixarias. Chamou o adversário de “bandido”, disse que ele fugiu da polícia e anda de “braços dados com o PCC”. Nunes aumentou o tom dos insultos; “Pablito, você foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que entrava na conta das pessoas e tirava recursos dos mais humildes. Você é tchutchuca do PCC”.

E assim os candidatos foram subindo o tom, até que Datena, num rompante, saiu de trás do seu púlpito e se dirigiu em direção a Marçal com jeito de quem estava disposto a resolver a questão na base da pancadaria. A mediadora gritava: Segurança! Segurança!. Não foi preciso. Por vontade própria, Datena retrocedeu e voltou para seu lugar. Mas foi advertido, assim como Marçal, que perdeu um direito de resposta.

Tabata Amaral (PSB), chamada de “garota” por Marçal, tentava manter alguma compostura e falar de suas propostas, sem muito sucesso. Boulos também, em alguns momentos, tentou falar sobre alguma coisa que tivesse a ver com a administração da cidade. Mas foram apenas alguns instantes num lodaçal de insultos.

O debate acabou e os candidatos falariam aos repórteres sobre suas impressões do evento. Parecia que o pior já tinha passado. Mas não. O candidato a vice na chapa de Datena, José Aníbal gritou bandido para um grupo em que estava Marçal. Mais uma vez a segurança teve que entrar em ação para evitar uma pancadaria.

Foi um festival de horrores. “O que fazer para que isso não se repita? Quais regras, mais rígidas do que as já adotadas poderemos usar”, disse na condição de anonimato um organizador de debate em uma das emissoras, a TV Cultura, que já tem o evento marcado para o dia 15. Ainda há um tempinho até lá. Mas encontrar uma fórmula de civilidade não será fácil.

As organizações dos próximos cinco debates na televisão entre os candidatos a prefeito estão apreensivas diante do desafio de promover eventos minimamente normais, nos quais se discutam propostas para a cidade de São Paulo dentro das normas da civilidade e da boa educação. Depois do barraco em que se transformou o encontro na noite de domingo, organizado pela TV Gazeta e My News, os organizadores não sabem mais que tipo de regras impor para controlar os postulantes. Embora suas campanhas, nas reuniões preparatórias, assumam o compromisso de seguir as normas, mal começa o embate e eles, tal qual crianças malcriadas, passam agir como bem entendem.

O sinal vermelho foi justamente aceso após o debate da Gazeta. De todos os confrontos realizados até agora (TV Bandeirantes, Estadão/Terra e Veja), esse, sem dúvida, foi o que propôs diretrizes mais rígidas que contemplavam desde o número de pessoas que poderiam permanecer no estúdio até a proibição do uso de palavras de baixo calão. Funcionou? Não.

TQ SÃO PAULO 01.09.2024 DEBATE GAZETA PREFEITURA ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2024 Saída dos candidatos após debate (fotojornalistas foram impedidos de entrar no debate). Confirmada a presença Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB). O debate é promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews e é o terceiro que reúne os cinco candidatos. Foto Tiago Queiroz/Estadão  Foto: Tiago Queiroz/Estad

O candidato Pablo Marçal (PRTB) que transforma os estúdios das emissoras em picadeiros para suas diatribes é a maior preocupação. Alguns organizadores chegam a compará-lo ao aluno malcriado e mal educado que senta na última fila da sala com o único objetivo de “tocar o terror” nos colegas e professores. Veja como exemplo, o que ele fez no domingo. Foi estabelecido que os candidatos não poderiam usar bonés ou outros adereços. O que fez Marçal? Foi com o boné. Irritados, os demais candidatos correram e colaram em suas roupas adesivos com os respectivos números dos seus partidos.

Prevenidos pelo que viram em debates anteriores, os organizadores se esforçaram para deixar o mínimo de brechas no regulamento. Era proibido sair do lugar, usar palavras de baixo calão, levar mais de dois assessores ao estúdio, interromper quem estava com a palavra etc. O que fez Marçal? Entrou com cinco assessores, três dos quais tiveram que ser retirados à força pelos seguranças porque se recusavam a sair. Nos intervalos, deixava o estúdio para ir ao banheiro, criando um enorme tumulto de jornalistas e assessores na parte externa da emissora.

Também disse palavrões, não parava de falar e atacar os outros. Quando algum dos demais estava falando e a tela estava dividida, fazia gestos e debochava dos adversários e os chamava usando apelidos que ele mesmo inventou. A confusão foi tão grande que exigiu nervos de aço da mediadora, a jornalista Denise Campos de Toledo. Houve 21 pedidos de direito de resposta. A organização concedeu oito.

Marçal se referia e chamava o candidato Guilherme Boulos (PSOL), como “Boules”, numa referência ao Hino Nacional cantado em linguagem neutra em um comício. Boulos não levou o desaforo para casa. Chamou Marçal de “bandido condenado” e disse que não conversava com criminosos.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) só se dirigia a Boulos como “o invasor”. Boulos respondia chamando-o de “ladrãozinho de creche”. Indignado, Nunes não deixou por menos e disse a Boulos: “Bandidinho é você, seu invasor, sem vergonha e sem caráter”.

José Luiz Datena (PSDB) tampouco perdeu a oportunidade de entrar nas baixarias. Chamou o adversário de “bandido”, disse que ele fugiu da polícia e anda de “braços dados com o PCC”. Nunes aumentou o tom dos insultos; “Pablito, você foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que entrava na conta das pessoas e tirava recursos dos mais humildes. Você é tchutchuca do PCC”.

E assim os candidatos foram subindo o tom, até que Datena, num rompante, saiu de trás do seu púlpito e se dirigiu em direção a Marçal com jeito de quem estava disposto a resolver a questão na base da pancadaria. A mediadora gritava: Segurança! Segurança!. Não foi preciso. Por vontade própria, Datena retrocedeu e voltou para seu lugar. Mas foi advertido, assim como Marçal, que perdeu um direito de resposta.

Tabata Amaral (PSB), chamada de “garota” por Marçal, tentava manter alguma compostura e falar de suas propostas, sem muito sucesso. Boulos também, em alguns momentos, tentou falar sobre alguma coisa que tivesse a ver com a administração da cidade. Mas foram apenas alguns instantes num lodaçal de insultos.

O debate acabou e os candidatos falariam aos repórteres sobre suas impressões do evento. Parecia que o pior já tinha passado. Mas não. O candidato a vice na chapa de Datena, José Aníbal gritou bandido para um grupo em que estava Marçal. Mais uma vez a segurança teve que entrar em ação para evitar uma pancadaria.

Foi um festival de horrores. “O que fazer para que isso não se repita? Quais regras, mais rígidas do que as já adotadas poderemos usar”, disse na condição de anonimato um organizador de debate em uma das emissoras, a TV Cultura, que já tem o evento marcado para o dia 15. Ainda há um tempinho até lá. Mas encontrar uma fórmula de civilidade não será fácil.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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