Nos Estados Unidos, a cada eleição presidencial, os candidatos precisam redobrar os esforços nos chamados estados pêndulo. Eles mudam de pleito para pleito, alternando seu apoio entre democratas e republicanos. Nossa jovem e pluripartidária democracia está a anos luz disso. Mas também não ficamos atrás. Pois eis que, no Brasil, mal comparando, temos nesta campanha, o “apoiador pêndulo”, encarnado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Desde que começaram as conversas sobre a escolha das chapas para a disputa da eleição municipal, Bolsonaro tem oscilado ao sabor não dos ventos, mas das pesquisas eleitorais e das chances dos nomes que ora apoia, ora critica. Ainda lá no início das costuras políticas, o ex-presidente se movimentava em direção ao ex-ministro do Meio Ambiente, deputado Ricardo Salles (Novo), que tinha o apoio dos bolsonaristas. Salles, entretanto, não tinha a simpatia do governador Tarcísio de Freitas que, desde sempre, preferiu o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Com Salles descartado, Bolsonaro aceitou, mas nunca – nem ele nem os mais próximos - digeriu completamente o estilo de Nunes. E ficou nesse chove não molha durante os meses da pré-campanha e no início da campanha. O prefeito se acertou com Tarcísio, que passou a atuar ativamente na organização e a pedir votos para o aliado com o mote de que a afinidade entre ambos beneficiaria São Paulo.
O ex-presidente continuava em cima do muro. Não rejeitava o prefeito. Mas tampouco demonstrava muito empenho em ajudá-lo na campanha. Participou da convenção que escolheu o candidato, esteve por aqui algumas vezes e manteve Nunes em banho-maria. Até que apareceu o candidato Pablo Marçal, um nome que, segundo as primeiras pesquisas, surgia com chances reais de vitória e era mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro. O ex-presidente não resistiu.
À medida que, semana após semana, o influencer crescia nas pesquisas, o pêndulo Bolsonaro mais se inclinava em sua direção e menos atenção prestava a Nunes. Enviou sinais de que, após terem passado um período com a relação em crise, poderiam voltar às boas. Com uma campanha agressiva nas redes sociais, onde acumula milhares de seguidores, e nos debates em que destrata, xinga e não dá nenhum sinal de ter bons modos, Marçal foi ganhando terreno e, com ele, a simpatia da família Bolsonaro, que sempre achou Nunes acanhado demais.
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Porém, Marçal, confiante nas redes sociais, ignorou o peso que a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão poderia ter nos eleitores. Concorrendo pelo nanico PRTB, o coach não tem um mísero segundo nesses veículos convencionais cuja influência ele faz questão de desprezar. E Nunes, que tem um latifúndio de 6 minutos e 30 segundos – uma eternidade na televisão – dos 10 minutos totais da propaganda, começou lentamente a dar sinais de que pode crescer e chegar ao segundo turno.
Bolsonaro, que aposta em São Paulo o título de líder da direita brasileira, não vacilou. E o pêndulo oscilou para o lado de Nunes. No mesmo dia em que o Datafolha mostrou o prefeito oito pontos percentuais à frente de Marçal, sem o menor constrangimento, o ex-presidente que até poucos dias atrás reclamava do prefeito com os mais próximos fez uma aparição surpresa ao vivo em um telão. Até há poucos dias ele dizia que ainda era cedo para manifestar apoio ostensivo a Nunes. Mas mudou de ideia. O pêndulo, numa ligação telefônica por vídeo ao vivo, declarou seu “amor” a Nunes em um jantar com mais de mil convidados no clube Monte Líbano e afirmou:
“Torço por você, tenho certeza que haverá segundo turno. E seremos vitoriosos no segundo turno”, disse Bolsonaro a Nunes. “Como disse Tarcísio, ele está credenciado a continuar à frente da Prefeitura. É a primeira disputa majoritária que ele participa e eu tenho certeza que ele será vitorioso.” A campanha do primeiro turno ainda tem 23 dias pela frente, os cenários podem mudar e o ex-presidente pêndulo ainda terá bastante tempo para escolher onde se posicionar.