Morre o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho


Deputado e promotor Justiça, comandou o Estado entre 1991 e 1994; sua gestão foi marcada pelo massacre do Carandiru

Por Marcelo Godoy e Pedro Prata
Atualização:

Morreu aos 73 anos o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho. Deputado, promotor de Justiça e professor, ele comandou o Estado pelo antigo PMDB (atual MDB) entre 1991 e 1994.

Ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho.  Foto: Foto: Wilson Pedrosa/Estadão

A morte foi confirmada pelo presidente do MDB, Baleia Rossi, no Twitter. Ele prestou condolências aos amigos e familiares e lembrou que Fleury Filho foi membro da Comitiva Estadual do partido. A causa da morte não foi divulgada.

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Fleury formou-se em 1968 na Academia do Barro Branco, da Polícia Militar, na mesma turma do futuro comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Antonio Chiari e do procurador de Justiça Antonio Ferreira Pinto. Ele e Ferreira deixariam a PM em momentos distintos – Fleury ainda tenente e Ferreira já capitão – depois de passaram no concurso para o Ministério Público Estadual. No MPE, Fleury atuava na Associação Paulista do Ministério Público quando foi escolhido pelo governador Orestes Quércia para ser seu secretário da Segurança Pública. Na sua gestão foi criado o rádio patrulhamento padrão.

A decisão de fazê-lo governador era uma aposta de Quércia para manter o governo do Estado nas mãos do MDB e enfrentar seu principal adversário, o ex-governador Paulo Maluf (PP), cujo discurso era fortemente vinculado à segurança pública. O MDB governava São Paulo desde 1983. Mas sofrera uma dissidência dois anos antes, com a saída de parte de suas lideranças, que fundaram o PSDB, o que abriu caminho para Fleury.

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Tudo começou em 1986, quando seus principais líderes entraram em choque. Quércia era então vice-governador e conseguiu se impor como candidato do partido ao governo do Estado por meio da rede de prefeitos que ele atraiu para a legenda. O domínio da máquina emparedou Franco Montoro, então titular do Palácio dos Bandeirantes. O padrinho de Fleury acabaria eleito assim como os candidatos ao senador da legenda: Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Os dois e Montoro se haviam mudado para o PSDB. Covas seria adversário de Fleury na disputa e terminaria em terceiro.

Luis Antonio Fleury Filho e Orestes Quércia .  Foto: Vidal Cavalcante/Estadão - 28/09/1990

Na esteira da popularidade de Quércia no interior e no anti-malufismo, Fleury foi disputar o segundo turno da eleição com Maluf. Ganhou ainda o apoio do recém-eleito senador Eduardo Suplicy (PT). A frente montada contra Maluf conseguiu o que parecia improvável: virar uma eleição em que seu adversário havia recebido 43,5%% dos votos no primeiro turno e ele, 28% – o segundo turno terminaria com 51% dos votos para Fleury. Seu vice era Aloysio Nunes Ferreira. Foi a última vez que o MDB ganhou uma eleição em São Paulo.

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Fleury buscou manter a mesma fórmula que levara à sua eleição. Escolheu para o cargo de secretário da Segurança o amigo e também promotor de Justiça Pedro Franco de Campos. Nomeou ainda outros promotores para cargos no governo, criando a chamada República dos Promotores. Já governador, repetia que a “Rota iria para a rua”, apropriando-se, assim, da frase repetida pelo seu adversário, Paulo Maluf.

Em 1991, comprou uma centena de viaturas para a Rota e discursou no pátio da unidade, pedindo uma ação dura contra o crime. O resultado foi imediato. Em 1990, a PM matou 580 pessoas em tiroteios no estado. Em 1991, esse número subiu para 1.056 e em 1992, o total de mortos chegaria ao recorde de todos os tempos: 1.421.

Foi nesse ano que ocorreu o evento que marcou Fleury até o fim: o massacre da Casa de Detenção. Era 2 de outubro de 1992, véspera do primeiro turno da eleição para prefeitos, quando uma briga de presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção iniciou uma rebelião no lugar. A Tropa de Choque da PM foi chamada, mas em vez de escudeiros e policiais com armas não letais, o comandante da operação, coronel Ubiratan Guimarães determinou que homens de unidades de elite, armados com submetralhadoras e fuzis, retomassem o pavilhão. A operação policial matou 111 presos, segundo a perícia, sem que houvesse prova de que os detentos atiraram nos policiais.

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Carros da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) entram na Casa de Detenção do Carandiru (02/10/1992).  Foto: Mônica Zarattini/Estadão

A crise que se seguiu levou ao afastamento de Ubiratan e de todos os coronéis envolvidos no caso – cinco. Entre eles, Chiari, seu colega de turma. Além de um capitão. A medida não foi suficiente e, cinco dias depois do massacre, Pedro Franco de Campos, o pupilo de Fleury, foi afastado da secretaria.

Fleury sempre negou ter dado a ordem para a PM invadir. Assumiu a responsabilidade política, enquanto a criminal ficou com os policiais – 74 deles foram condenados e aguardam o julgamento de um último recurso no Superior Tribunal de Justiça. Com a queda de Campos, Fleury não conseguiu ninguém que pudesse sucedê-lo. Seu vice, Aloysio Nunes Ferreira, havia sido derrotado na eleição para prefeito de São Paulo.

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Fleury deixou o governo do Estado e viu boa parte de seus antigos aliados – como Aloysio e o futuro governador Alberto Goldman – deixarem o MDB em direção ao PSDB. Ele mesmo deixaria o partido e passaria pelo PPS e pelo PTB antes de retornar ao MDB.

Vinte anos depois do massacre, ele falou ao Estadão sobre o caso: “Logo depois que o coronel Ubiratan (Guimarães) entra e controla o térreo, explode uma tela de televisão na cabeça dele. Ele perde os sentidos, desmaia e aí deixa de haver comando.” E lembrou que no pavilhão estavam mais de 2 mil presos. “Quem não resistiu está vivo.”

Fleury afirmou acreditar que o episódio não afetou sua popularidade. “Mas politicamente me atingiu. Esqueceram todo o meu passado e eu passei a ser considerado como alguém que não tem outras qualidades e tivesse adotado atitudes quase de genocídio, o que não é verdade. Eu recebo ameaças até hoje.”

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Desde o ano passado, os amigos relatavam a piora de seu estado de saúde – ele sofria com um câncer.

Autoridades lamentam a morte

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) deu destaque para o fato de os dois serem da região de São José do Rio Preto, no interior paulista. “Da região de Rio Preto, assim como eu, sempre valorizou a força do interior.”

O governador eleito Tarcísio de Freitas prestou condolências à família.

O ex-governador de São Paulo João Doria lamentou a morte de Fleury Filho. “Tivemos sempre uma relação respeitosa e republicana.”

Edinho Araújo, prefeito de São José do Rio Preto, cidade onde nasceu o ex-governador, decretou luto oficial de três dias. “Fui deputado estadual quando ele governou SP (91-94) e vi seu trabalho e dedicação a região de Rio Preto, sua terra natal, como a luta pela estadualização da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto).”

Ciro Gomes, governador do Ceará na mesma época em que ele comandava São Paulo, lembrou de uma cooperação entre os dois Estados. “No episódio do sequestro de Dom Aloísio Lorscheider, Fleury nos ajudou enviando uma equipe da polícia de SP especializada em libertação de reféns .”

Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, destacou realizações de infraestrutura na gestão do ex-governador. “Fleury teve um mandato marcado pela consolidação de obras importantes que ajudaram a desenvolver ainda mais o nosso Estado de São Paulo.”

Morreu aos 73 anos o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho. Deputado, promotor de Justiça e professor, ele comandou o Estado pelo antigo PMDB (atual MDB) entre 1991 e 1994.

Ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho.  Foto: Foto: Wilson Pedrosa/Estadão

A morte foi confirmada pelo presidente do MDB, Baleia Rossi, no Twitter. Ele prestou condolências aos amigos e familiares e lembrou que Fleury Filho foi membro da Comitiva Estadual do partido. A causa da morte não foi divulgada.

Fleury formou-se em 1968 na Academia do Barro Branco, da Polícia Militar, na mesma turma do futuro comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Antonio Chiari e do procurador de Justiça Antonio Ferreira Pinto. Ele e Ferreira deixariam a PM em momentos distintos – Fleury ainda tenente e Ferreira já capitão – depois de passaram no concurso para o Ministério Público Estadual. No MPE, Fleury atuava na Associação Paulista do Ministério Público quando foi escolhido pelo governador Orestes Quércia para ser seu secretário da Segurança Pública. Na sua gestão foi criado o rádio patrulhamento padrão.

A decisão de fazê-lo governador era uma aposta de Quércia para manter o governo do Estado nas mãos do MDB e enfrentar seu principal adversário, o ex-governador Paulo Maluf (PP), cujo discurso era fortemente vinculado à segurança pública. O MDB governava São Paulo desde 1983. Mas sofrera uma dissidência dois anos antes, com a saída de parte de suas lideranças, que fundaram o PSDB, o que abriu caminho para Fleury.

Tudo começou em 1986, quando seus principais líderes entraram em choque. Quércia era então vice-governador e conseguiu se impor como candidato do partido ao governo do Estado por meio da rede de prefeitos que ele atraiu para a legenda. O domínio da máquina emparedou Franco Montoro, então titular do Palácio dos Bandeirantes. O padrinho de Fleury acabaria eleito assim como os candidatos ao senador da legenda: Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Os dois e Montoro se haviam mudado para o PSDB. Covas seria adversário de Fleury na disputa e terminaria em terceiro.

Luis Antonio Fleury Filho e Orestes Quércia .  Foto: Vidal Cavalcante/Estadão - 28/09/1990

Na esteira da popularidade de Quércia no interior e no anti-malufismo, Fleury foi disputar o segundo turno da eleição com Maluf. Ganhou ainda o apoio do recém-eleito senador Eduardo Suplicy (PT). A frente montada contra Maluf conseguiu o que parecia improvável: virar uma eleição em que seu adversário havia recebido 43,5%% dos votos no primeiro turno e ele, 28% – o segundo turno terminaria com 51% dos votos para Fleury. Seu vice era Aloysio Nunes Ferreira. Foi a última vez que o MDB ganhou uma eleição em São Paulo.

Fleury buscou manter a mesma fórmula que levara à sua eleição. Escolheu para o cargo de secretário da Segurança o amigo e também promotor de Justiça Pedro Franco de Campos. Nomeou ainda outros promotores para cargos no governo, criando a chamada República dos Promotores. Já governador, repetia que a “Rota iria para a rua”, apropriando-se, assim, da frase repetida pelo seu adversário, Paulo Maluf.

Em 1991, comprou uma centena de viaturas para a Rota e discursou no pátio da unidade, pedindo uma ação dura contra o crime. O resultado foi imediato. Em 1990, a PM matou 580 pessoas em tiroteios no estado. Em 1991, esse número subiu para 1.056 e em 1992, o total de mortos chegaria ao recorde de todos os tempos: 1.421.

Foi nesse ano que ocorreu o evento que marcou Fleury até o fim: o massacre da Casa de Detenção. Era 2 de outubro de 1992, véspera do primeiro turno da eleição para prefeitos, quando uma briga de presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção iniciou uma rebelião no lugar. A Tropa de Choque da PM foi chamada, mas em vez de escudeiros e policiais com armas não letais, o comandante da operação, coronel Ubiratan Guimarães determinou que homens de unidades de elite, armados com submetralhadoras e fuzis, retomassem o pavilhão. A operação policial matou 111 presos, segundo a perícia, sem que houvesse prova de que os detentos atiraram nos policiais.

Carros da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) entram na Casa de Detenção do Carandiru (02/10/1992).  Foto: Mônica Zarattini/Estadão

A crise que se seguiu levou ao afastamento de Ubiratan e de todos os coronéis envolvidos no caso – cinco. Entre eles, Chiari, seu colega de turma. Além de um capitão. A medida não foi suficiente e, cinco dias depois do massacre, Pedro Franco de Campos, o pupilo de Fleury, foi afastado da secretaria.

Fleury sempre negou ter dado a ordem para a PM invadir. Assumiu a responsabilidade política, enquanto a criminal ficou com os policiais – 74 deles foram condenados e aguardam o julgamento de um último recurso no Superior Tribunal de Justiça. Com a queda de Campos, Fleury não conseguiu ninguém que pudesse sucedê-lo. Seu vice, Aloysio Nunes Ferreira, havia sido derrotado na eleição para prefeito de São Paulo.

Fleury deixou o governo do Estado e viu boa parte de seus antigos aliados – como Aloysio e o futuro governador Alberto Goldman – deixarem o MDB em direção ao PSDB. Ele mesmo deixaria o partido e passaria pelo PPS e pelo PTB antes de retornar ao MDB.

Vinte anos depois do massacre, ele falou ao Estadão sobre o caso: “Logo depois que o coronel Ubiratan (Guimarães) entra e controla o térreo, explode uma tela de televisão na cabeça dele. Ele perde os sentidos, desmaia e aí deixa de haver comando.” E lembrou que no pavilhão estavam mais de 2 mil presos. “Quem não resistiu está vivo.”

Fleury afirmou acreditar que o episódio não afetou sua popularidade. “Mas politicamente me atingiu. Esqueceram todo o meu passado e eu passei a ser considerado como alguém que não tem outras qualidades e tivesse adotado atitudes quase de genocídio, o que não é verdade. Eu recebo ameaças até hoje.”

Desde o ano passado, os amigos relatavam a piora de seu estado de saúde – ele sofria com um câncer.

Autoridades lamentam a morte

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) deu destaque para o fato de os dois serem da região de São José do Rio Preto, no interior paulista. “Da região de Rio Preto, assim como eu, sempre valorizou a força do interior.”

O governador eleito Tarcísio de Freitas prestou condolências à família.

O ex-governador de São Paulo João Doria lamentou a morte de Fleury Filho. “Tivemos sempre uma relação respeitosa e republicana.”

Edinho Araújo, prefeito de São José do Rio Preto, cidade onde nasceu o ex-governador, decretou luto oficial de três dias. “Fui deputado estadual quando ele governou SP (91-94) e vi seu trabalho e dedicação a região de Rio Preto, sua terra natal, como a luta pela estadualização da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto).”

Ciro Gomes, governador do Ceará na mesma época em que ele comandava São Paulo, lembrou de uma cooperação entre os dois Estados. “No episódio do sequestro de Dom Aloísio Lorscheider, Fleury nos ajudou enviando uma equipe da polícia de SP especializada em libertação de reféns .”

Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, destacou realizações de infraestrutura na gestão do ex-governador. “Fleury teve um mandato marcado pela consolidação de obras importantes que ajudaram a desenvolver ainda mais o nosso Estado de São Paulo.”

Morreu aos 73 anos o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho. Deputado, promotor de Justiça e professor, ele comandou o Estado pelo antigo PMDB (atual MDB) entre 1991 e 1994.

Ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho.  Foto: Foto: Wilson Pedrosa/Estadão

A morte foi confirmada pelo presidente do MDB, Baleia Rossi, no Twitter. Ele prestou condolências aos amigos e familiares e lembrou que Fleury Filho foi membro da Comitiva Estadual do partido. A causa da morte não foi divulgada.

Fleury formou-se em 1968 na Academia do Barro Branco, da Polícia Militar, na mesma turma do futuro comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Antonio Chiari e do procurador de Justiça Antonio Ferreira Pinto. Ele e Ferreira deixariam a PM em momentos distintos – Fleury ainda tenente e Ferreira já capitão – depois de passaram no concurso para o Ministério Público Estadual. No MPE, Fleury atuava na Associação Paulista do Ministério Público quando foi escolhido pelo governador Orestes Quércia para ser seu secretário da Segurança Pública. Na sua gestão foi criado o rádio patrulhamento padrão.

A decisão de fazê-lo governador era uma aposta de Quércia para manter o governo do Estado nas mãos do MDB e enfrentar seu principal adversário, o ex-governador Paulo Maluf (PP), cujo discurso era fortemente vinculado à segurança pública. O MDB governava São Paulo desde 1983. Mas sofrera uma dissidência dois anos antes, com a saída de parte de suas lideranças, que fundaram o PSDB, o que abriu caminho para Fleury.

Tudo começou em 1986, quando seus principais líderes entraram em choque. Quércia era então vice-governador e conseguiu se impor como candidato do partido ao governo do Estado por meio da rede de prefeitos que ele atraiu para a legenda. O domínio da máquina emparedou Franco Montoro, então titular do Palácio dos Bandeirantes. O padrinho de Fleury acabaria eleito assim como os candidatos ao senador da legenda: Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Os dois e Montoro se haviam mudado para o PSDB. Covas seria adversário de Fleury na disputa e terminaria em terceiro.

Luis Antonio Fleury Filho e Orestes Quércia .  Foto: Vidal Cavalcante/Estadão - 28/09/1990

Na esteira da popularidade de Quércia no interior e no anti-malufismo, Fleury foi disputar o segundo turno da eleição com Maluf. Ganhou ainda o apoio do recém-eleito senador Eduardo Suplicy (PT). A frente montada contra Maluf conseguiu o que parecia improvável: virar uma eleição em que seu adversário havia recebido 43,5%% dos votos no primeiro turno e ele, 28% – o segundo turno terminaria com 51% dos votos para Fleury. Seu vice era Aloysio Nunes Ferreira. Foi a última vez que o MDB ganhou uma eleição em São Paulo.

Fleury buscou manter a mesma fórmula que levara à sua eleição. Escolheu para o cargo de secretário da Segurança o amigo e também promotor de Justiça Pedro Franco de Campos. Nomeou ainda outros promotores para cargos no governo, criando a chamada República dos Promotores. Já governador, repetia que a “Rota iria para a rua”, apropriando-se, assim, da frase repetida pelo seu adversário, Paulo Maluf.

Em 1991, comprou uma centena de viaturas para a Rota e discursou no pátio da unidade, pedindo uma ação dura contra o crime. O resultado foi imediato. Em 1990, a PM matou 580 pessoas em tiroteios no estado. Em 1991, esse número subiu para 1.056 e em 1992, o total de mortos chegaria ao recorde de todos os tempos: 1.421.

Foi nesse ano que ocorreu o evento que marcou Fleury até o fim: o massacre da Casa de Detenção. Era 2 de outubro de 1992, véspera do primeiro turno da eleição para prefeitos, quando uma briga de presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção iniciou uma rebelião no lugar. A Tropa de Choque da PM foi chamada, mas em vez de escudeiros e policiais com armas não letais, o comandante da operação, coronel Ubiratan Guimarães determinou que homens de unidades de elite, armados com submetralhadoras e fuzis, retomassem o pavilhão. A operação policial matou 111 presos, segundo a perícia, sem que houvesse prova de que os detentos atiraram nos policiais.

Carros da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) entram na Casa de Detenção do Carandiru (02/10/1992).  Foto: Mônica Zarattini/Estadão

A crise que se seguiu levou ao afastamento de Ubiratan e de todos os coronéis envolvidos no caso – cinco. Entre eles, Chiari, seu colega de turma. Além de um capitão. A medida não foi suficiente e, cinco dias depois do massacre, Pedro Franco de Campos, o pupilo de Fleury, foi afastado da secretaria.

Fleury sempre negou ter dado a ordem para a PM invadir. Assumiu a responsabilidade política, enquanto a criminal ficou com os policiais – 74 deles foram condenados e aguardam o julgamento de um último recurso no Superior Tribunal de Justiça. Com a queda de Campos, Fleury não conseguiu ninguém que pudesse sucedê-lo. Seu vice, Aloysio Nunes Ferreira, havia sido derrotado na eleição para prefeito de São Paulo.

Fleury deixou o governo do Estado e viu boa parte de seus antigos aliados – como Aloysio e o futuro governador Alberto Goldman – deixarem o MDB em direção ao PSDB. Ele mesmo deixaria o partido e passaria pelo PPS e pelo PTB antes de retornar ao MDB.

Vinte anos depois do massacre, ele falou ao Estadão sobre o caso: “Logo depois que o coronel Ubiratan (Guimarães) entra e controla o térreo, explode uma tela de televisão na cabeça dele. Ele perde os sentidos, desmaia e aí deixa de haver comando.” E lembrou que no pavilhão estavam mais de 2 mil presos. “Quem não resistiu está vivo.”

Fleury afirmou acreditar que o episódio não afetou sua popularidade. “Mas politicamente me atingiu. Esqueceram todo o meu passado e eu passei a ser considerado como alguém que não tem outras qualidades e tivesse adotado atitudes quase de genocídio, o que não é verdade. Eu recebo ameaças até hoje.”

Desde o ano passado, os amigos relatavam a piora de seu estado de saúde – ele sofria com um câncer.

Autoridades lamentam a morte

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) deu destaque para o fato de os dois serem da região de São José do Rio Preto, no interior paulista. “Da região de Rio Preto, assim como eu, sempre valorizou a força do interior.”

O governador eleito Tarcísio de Freitas prestou condolências à família.

O ex-governador de São Paulo João Doria lamentou a morte de Fleury Filho. “Tivemos sempre uma relação respeitosa e republicana.”

Edinho Araújo, prefeito de São José do Rio Preto, cidade onde nasceu o ex-governador, decretou luto oficial de três dias. “Fui deputado estadual quando ele governou SP (91-94) e vi seu trabalho e dedicação a região de Rio Preto, sua terra natal, como a luta pela estadualização da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto).”

Ciro Gomes, governador do Ceará na mesma época em que ele comandava São Paulo, lembrou de uma cooperação entre os dois Estados. “No episódio do sequestro de Dom Aloísio Lorscheider, Fleury nos ajudou enviando uma equipe da polícia de SP especializada em libertação de reféns .”

Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, destacou realizações de infraestrutura na gestão do ex-governador. “Fleury teve um mandato marcado pela consolidação de obras importantes que ajudaram a desenvolver ainda mais o nosso Estado de São Paulo.”

Morreu aos 73 anos o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho. Deputado, promotor de Justiça e professor, ele comandou o Estado pelo antigo PMDB (atual MDB) entre 1991 e 1994.

Ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho.  Foto: Foto: Wilson Pedrosa/Estadão

A morte foi confirmada pelo presidente do MDB, Baleia Rossi, no Twitter. Ele prestou condolências aos amigos e familiares e lembrou que Fleury Filho foi membro da Comitiva Estadual do partido. A causa da morte não foi divulgada.

Fleury formou-se em 1968 na Academia do Barro Branco, da Polícia Militar, na mesma turma do futuro comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Antonio Chiari e do procurador de Justiça Antonio Ferreira Pinto. Ele e Ferreira deixariam a PM em momentos distintos – Fleury ainda tenente e Ferreira já capitão – depois de passaram no concurso para o Ministério Público Estadual. No MPE, Fleury atuava na Associação Paulista do Ministério Público quando foi escolhido pelo governador Orestes Quércia para ser seu secretário da Segurança Pública. Na sua gestão foi criado o rádio patrulhamento padrão.

A decisão de fazê-lo governador era uma aposta de Quércia para manter o governo do Estado nas mãos do MDB e enfrentar seu principal adversário, o ex-governador Paulo Maluf (PP), cujo discurso era fortemente vinculado à segurança pública. O MDB governava São Paulo desde 1983. Mas sofrera uma dissidência dois anos antes, com a saída de parte de suas lideranças, que fundaram o PSDB, o que abriu caminho para Fleury.

Tudo começou em 1986, quando seus principais líderes entraram em choque. Quércia era então vice-governador e conseguiu se impor como candidato do partido ao governo do Estado por meio da rede de prefeitos que ele atraiu para a legenda. O domínio da máquina emparedou Franco Montoro, então titular do Palácio dos Bandeirantes. O padrinho de Fleury acabaria eleito assim como os candidatos ao senador da legenda: Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Os dois e Montoro se haviam mudado para o PSDB. Covas seria adversário de Fleury na disputa e terminaria em terceiro.

Luis Antonio Fleury Filho e Orestes Quércia .  Foto: Vidal Cavalcante/Estadão - 28/09/1990

Na esteira da popularidade de Quércia no interior e no anti-malufismo, Fleury foi disputar o segundo turno da eleição com Maluf. Ganhou ainda o apoio do recém-eleito senador Eduardo Suplicy (PT). A frente montada contra Maluf conseguiu o que parecia improvável: virar uma eleição em que seu adversário havia recebido 43,5%% dos votos no primeiro turno e ele, 28% – o segundo turno terminaria com 51% dos votos para Fleury. Seu vice era Aloysio Nunes Ferreira. Foi a última vez que o MDB ganhou uma eleição em São Paulo.

Fleury buscou manter a mesma fórmula que levara à sua eleição. Escolheu para o cargo de secretário da Segurança o amigo e também promotor de Justiça Pedro Franco de Campos. Nomeou ainda outros promotores para cargos no governo, criando a chamada República dos Promotores. Já governador, repetia que a “Rota iria para a rua”, apropriando-se, assim, da frase repetida pelo seu adversário, Paulo Maluf.

Em 1991, comprou uma centena de viaturas para a Rota e discursou no pátio da unidade, pedindo uma ação dura contra o crime. O resultado foi imediato. Em 1990, a PM matou 580 pessoas em tiroteios no estado. Em 1991, esse número subiu para 1.056 e em 1992, o total de mortos chegaria ao recorde de todos os tempos: 1.421.

Foi nesse ano que ocorreu o evento que marcou Fleury até o fim: o massacre da Casa de Detenção. Era 2 de outubro de 1992, véspera do primeiro turno da eleição para prefeitos, quando uma briga de presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção iniciou uma rebelião no lugar. A Tropa de Choque da PM foi chamada, mas em vez de escudeiros e policiais com armas não letais, o comandante da operação, coronel Ubiratan Guimarães determinou que homens de unidades de elite, armados com submetralhadoras e fuzis, retomassem o pavilhão. A operação policial matou 111 presos, segundo a perícia, sem que houvesse prova de que os detentos atiraram nos policiais.

Carros da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) entram na Casa de Detenção do Carandiru (02/10/1992).  Foto: Mônica Zarattini/Estadão

A crise que se seguiu levou ao afastamento de Ubiratan e de todos os coronéis envolvidos no caso – cinco. Entre eles, Chiari, seu colega de turma. Além de um capitão. A medida não foi suficiente e, cinco dias depois do massacre, Pedro Franco de Campos, o pupilo de Fleury, foi afastado da secretaria.

Fleury sempre negou ter dado a ordem para a PM invadir. Assumiu a responsabilidade política, enquanto a criminal ficou com os policiais – 74 deles foram condenados e aguardam o julgamento de um último recurso no Superior Tribunal de Justiça. Com a queda de Campos, Fleury não conseguiu ninguém que pudesse sucedê-lo. Seu vice, Aloysio Nunes Ferreira, havia sido derrotado na eleição para prefeito de São Paulo.

Fleury deixou o governo do Estado e viu boa parte de seus antigos aliados – como Aloysio e o futuro governador Alberto Goldman – deixarem o MDB em direção ao PSDB. Ele mesmo deixaria o partido e passaria pelo PPS e pelo PTB antes de retornar ao MDB.

Vinte anos depois do massacre, ele falou ao Estadão sobre o caso: “Logo depois que o coronel Ubiratan (Guimarães) entra e controla o térreo, explode uma tela de televisão na cabeça dele. Ele perde os sentidos, desmaia e aí deixa de haver comando.” E lembrou que no pavilhão estavam mais de 2 mil presos. “Quem não resistiu está vivo.”

Fleury afirmou acreditar que o episódio não afetou sua popularidade. “Mas politicamente me atingiu. Esqueceram todo o meu passado e eu passei a ser considerado como alguém que não tem outras qualidades e tivesse adotado atitudes quase de genocídio, o que não é verdade. Eu recebo ameaças até hoje.”

Desde o ano passado, os amigos relatavam a piora de seu estado de saúde – ele sofria com um câncer.

Autoridades lamentam a morte

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) deu destaque para o fato de os dois serem da região de São José do Rio Preto, no interior paulista. “Da região de Rio Preto, assim como eu, sempre valorizou a força do interior.”

O governador eleito Tarcísio de Freitas prestou condolências à família.

O ex-governador de São Paulo João Doria lamentou a morte de Fleury Filho. “Tivemos sempre uma relação respeitosa e republicana.”

Edinho Araújo, prefeito de São José do Rio Preto, cidade onde nasceu o ex-governador, decretou luto oficial de três dias. “Fui deputado estadual quando ele governou SP (91-94) e vi seu trabalho e dedicação a região de Rio Preto, sua terra natal, como a luta pela estadualização da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto).”

Ciro Gomes, governador do Ceará na mesma época em que ele comandava São Paulo, lembrou de uma cooperação entre os dois Estados. “No episódio do sequestro de Dom Aloísio Lorscheider, Fleury nos ajudou enviando uma equipe da polícia de SP especializada em libertação de reféns .”

Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, destacou realizações de infraestrutura na gestão do ex-governador. “Fleury teve um mandato marcado pela consolidação de obras importantes que ajudaram a desenvolver ainda mais o nosso Estado de São Paulo.”

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