O Ministério Público Federal irá solicitar a quebra de sigilo bancário da conta numerada do Banco Pactual no Bank of New York. O pedido será feito por meio da Justiça brasileira e do Ministério das Relações Exteriores para que acionem os mecanismos de acordo bilateral com os Estados Unidos. A conta foi apontada, em reportagem publicada pela revista Veja, como o instrumento usado para a realização de pagamento por informações privilegiadas supostamente vazadas pelo ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes. Os procuradores estão requerendo, também, a abertura de um novo inquérito na Polícia Federal para apurar o envolvimento de diretores e ex-diretores do Banco Pactual no caso. Segundo Artur Gueiros, integrante do grupo de procuradores que investiga o caso, independente da veracidade das informações veiculadas pela revista Veja, há no processo "provas testemunhais indicativas de que Francisco Lopes mantinha dinheiro no exterior" e que os indícios de vazamento de informação "remontam à época em que ele era diretor de Política Monetária do Banco Central". Francisco Lopes rebateu as acusações. "O Ministério Público está mentindo. As provas processuais apresentadas não suportam nenhuma das acusações", afirmou. Segundo Lopes, sete das oito testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Público, foram favoráveis à defesa. "À exceção de Policarpo (Junior, jornalista que assina a reportagem publicada na Veja)." O processo que apura denúncias de corrupção e peculato, em andamento na 6ª Vara Federal Criminal, está em fase de apresentação das provas de defesa, que é o final do trâmite. Provavelmente, a conclusão se dará ainda este ano. Na próxima segunda-feira irá depor, como testemunha da defesa de Lopes, o atual presidente do BC, Armínio Fraga. O procurador Bruno Caiado, que também acompanha o processo, disse que as denúncias apresentadas na reportagem não paralisam as três ações penais em curso, uma especificamente contra o ex-dono do banco Marka, Salvatore Alberto Cacciola, outra contra Francisco Lopes e a terceira contra o ex-diretor do Banco FonteCindam, Roberto Steinfeld, em processo que traz outros acusados. Os bancos Marka e FonteCindam são apontados como beneficiários de operação irregular do Banco Central em compra de dólares abaixo do preço de mercado na época da desvalorização cambial, em janeiro de 1999. Os procuradores disseram hoje que já tinham conhecimento sobre os três números de telefone celular citados na reportagem como o meio de comunicação usado entre as partes envolvidas na suposta venda de informações. "Pedimos, no início do ano, a quebra de sigilo telefônico, que foi concedido, mas a operadora (Telefônica Celular) não enviou as informações até agora", disse a procuradora Raquel Branquinho. Francisco Lopes argumenta que os fatos - segundo ele falsos - que estão sendo levantados agora, fazem parte de uma estratégia para desvirtuar o rumo do processo que, na sua opinião está comprovando sua inocência. "Já existem provas dos crimes que foram imputados a todos os réus", disse Gueiros, referindo-se a Lopes, Cacciola, Rubem Novaes e Luiz Augusto Bragança, estes dois últimos apontados como intermediários no suposto esquema de venda de informações. A reportagem de Veja informa sobre a existência de fitas, gravadas a mando de Cacciola, entre Lopes e Bragança comprovando que há a venda, mas cita apenas uma frase de uma conversa: "Aquela reunião não irá mais acontecer". Cacciola, que fugiu para a Itália, negou a existência das fitas. Lopes pede que a revista as revele. "Supõe-se que a Veja tenha as fitas, então a revista está na obrigação de mostrá-las", disse o ex-presidente do BC, alegando que estão usando contra ele a lógica da inquisição, de que todos são culpados até prova em contrário.