Atualizado às 06h41 de 17 de agosto de 2015
BRASÍLIA - As manifestações contra o governo, em 26 Estados e no Distrito Federal, acenderam o sinal amarelo no Palácio do Planalto. A avaliação foi a de que os protestos conseguiram "colar" a imagem da presidente Dilma Rousseff e de seu padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, ao escândalo de corrupção da Petrobrás, principalmente na classe média. O governo acredita, ainda, que o PSDB "partidarizou" os movimentos, na tentativa de fazer avançar a tese do impeachment.
Em reunião com ministros que compõem a coordenação política, à noite, Dilma disse considerar que a população, embora insatisfeita, não vai apoiar iniciativas "golpistas". Mesmo assim, o diagnóstico foi o de que o governo enfrenta muitas dificuldades para vencer a batalha da comunicação e precisa tomar medidas de impacto para mostrar que entende o recado das ruas. Uma reforma administrativa, com corte de ministérios, está em estudo, mas Dilma ainda não bateu o martelo sobre o novo desenho da equipe.
Chamaram a atenção de ministros, nas manifestações de ontem, os bonecos de Dilma vestida de "irmã metralha" e do ex-presidente Lula com roupa de presidiário e a inscrição 13-171. Todos ali ficaram convencidos de que o desgaste do PT grudou não só em Lula como também em Dilma. Um auxiliar da presidente lembrou que o boneco de Lula custou caro (cerca de R$ 12 mil) e pode ter sido pago pela oposição.
A percepção do núcleo político foi a de que Dilma não conseguiu, até agora, transmitir a ideia de que a Operação Lava Jato, da Polícia Federal - responsável por desvendar o esquema de corrupção na Petrobrás - vai passar o País a limpo. Ao contrário: os protestos mostraram que a operação da Polícia Federal nocauteou o governo, Lula e o PT.
O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB e candidato derrotado na disputa de 2014, foi muito criticado na reunião do Palácio da Alvorada. Ministros disseram que Aécio e os senadores tucanos Aloizio Nunes Ferreira (SP) e José Serra (SP) tentaram "faturar" em cima das manifestações.
Para evitar "panelaços" e esvaziar a repercussão dos protestos, todos foram orientados a não dar entrevistas após o encontro com Dilma, que durou quase três horas. Coube ao titular de Comunicação Social, Edinho Silva, emitir um curto comentário sobre os atos.
"As manifestações de hoje (ontem) atestam a normalidade democrática no Brasil", disse Silva. "O governo mantém sua agenda de trabalho para, em breve, o País voltar a crescer, gerando emprego e distribuindo renda."
No início da reunião, ministros avaliaram que os protestos deste domingo foram menores do que os ocorridos em abril. A Polícia Militar, porém, divulgou números indicando que o movimento foi maior.
Dilma reunirá nesta segunda-feira o vice Michel Temer e a coordenação política ampliada de governo para analisar o cenário no "day after" das manifestações. A ordem no Planalto é bater na tecla de que o governo tem "humildade" para admitir os erros. No diagnóstico de ministros ouvidos pelo Estado, a crise arrefeceu, mas está longe de acabar e o governo precisa tomar cuidado para não demonstrar soberba num momento em que os problemas na política prejudicam ainda mais a economia. Desta vez, porém, as manifestações deixaram de lado o ajuste fiscal.
Para o núcleo político do Planalto, Dilma acertou, nos últimos dias, ao sair do gabinete para defender sua gestão, apontando os riscos de uma ruptura nas regras do jogo. Com a popularidade em queda livre, Dilma só ganhou fôlego nos últimos dias após fazer acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que divulgou a "Agenda País" e desviou o foco da turbulência e do ajuste fiscal. De quebra, isolou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ao cumprir a estratégia para se reaproximar dos eleitores perdidos, Dilma esteve no Maranhão e na Bahia, na semana passada, para inaugurar obras. Não foi só: tomou café da manhã com empresários, jantou com senadores aliados e integrantes do Judiciário e se reuniu com movimentos sociais dois dias seguidos. Em conversas reservadas, ministros afirmam que Dilma errou no passado ao não dialogar com os vários segmentos da sociedade e também com aliados do PMDB. "Mas agora a ficha caiu", constatou um de seus auxiliares.
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