Boulos busca reverter desvantagem com estratégias inspiradas em Lula na reta final da campanha


Candidato do PSOL planeja lançar ‘carta aos empreendedores’, reeditar frente ampla e intensificar corpo a corpo nas ruas

Por Zeca Ferreira

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) entra na última semana antes da eleição para a Prefeitura de São Paulo com o desafio de reverter a desvantagem de mais de dez pontos percentuais em relação ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Para isso, foram planejadas ações destinadas a grupos específicos do eleitorado, como empreendedores, evangélicos e nordestinos. Também estão previstas caminhadas pelas cinco regiões da cidade, com ênfase em bairros periféricos.

A pesquisa mais recente da Quaest, divulgada na quarta-feira, 16, aponta Boulos com 33% das intenções de voto em cenário estimulado, enquanto Nunes registra 45%. Da mesma forma, o último levantamento do Datafolha, publicado na quinta-feira, 17, mostra o prefeito na liderança, com 51% das menções contra 33% do psolista. A margem de erro de ambas as pesquisas é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

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Boulos durante caminhada na região da Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul de SP, logo depois do 1º turno  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as ações planejadas, a campanha do PSOL pretende reeditar o discurso de “frente ampla” utilizado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) na última eleição presidencial. Um evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), marcado para esta terça-feira, 22, em um teatro na Avenida Paulista, será a peça central dessa estratégia, com o objetivo de demonstrar o apoio de um conjunto de partidos à candidatura do ex-líder dos sem-teto.

Na semana passada, o PSB liberou seus filiados para votarem livremente, porém sugeriu voto em Guilherme Boulos. Além disso, o vice-presidente do Diretório Estadual da sigla, Fernando Guimarães, se juntou à equipe de coordenação da campanha psolista. A deputada federal Tabata Amaral (PSB) também expressou apoio a Boulos, mas não deve participar de eventos ao lado do parlamentar.

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Outra ação planejada pela equipe de Boulos para esta reta final é a divulgação de uma “Carta à Cidade de São Paulo”, direcionada à população empreendedora, especialmente àqueles que vivem em regiões periféricas. Essa estratégia repete gestos de Lula em eleições passadas. Em 2002, o petista lançou a “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se comprometeu com a estabilidade econômica. Vinte anos depois, em 2022, ele divulgou a “Carta Pública ao Povo Evangélico”, na qual assumiu compromissos com esse segmento.

Na prática, o documento elaborado pela campanha de Boulos representa mais uma tentativa de angariar votos entre os eleitores de Pablo Marçal (PRTB) e Tabata, que ocupam a terceira e a quarta posição na disputa, respectivamente. O deputado já vinha fazendo acenos a essa parcela do eleitorado ao incorporar propostas tanto do ex-coach quanto da pessebista em seu programa de governo.

De olho no eleitorado evangélico, Boulos agendou um novo encontro com líderes religiosos para a noite desta segunda-feira, 21. O evento ocorrerá em um hotel no bairro da Consolação, na região central, e contará com a presença da candidata a vice na chapa do PSOL, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Antes do primeiro turno, a dupla já havia reunido dezenas de lideranças evangélicas em outro encontro similar.

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Boulos intensifica corpo a corpo em reta final

Sob pressão para reverter a diferença de votos em relação a Nunes, Boulos planeja percorrer todas as regiões da cidade na última semana antes do pleito. Chamada nos bastidores da campanha de “caravana da virada”, a estratégia envolve realizar caminhadas em um número máximo de distritos, com o objetivo de fazer pelo menos um evento em cada região de São Paulo. O foco será nas áreas onde o candidato do PSOL possa disputar votos com Nunes ou conquistar o eleitorado de Marçal.

Com essa estratégia, Boulos busca retomar redutos tradicionais da esquerda que, no primeiro turno, favoreceram Nunes ou Marçal. O emedebista venceu em 17 das 57 zonas eleitorais da capital paulista, sendo que em nove delas Lula obteve a maioria dos votos em 2022. Áreas conquistadas pelo emedebista, como Grajaú, na zona sul, e Brasilândia, na zona norte, são redutos históricos do PT, onde Fernando Haddad saiu vitorioso na eleição municipal de 2012.

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O deputado federal do PSOL durante evento de campanha na frente do Theatro Municipal, na última sexta, 18 Foto: Werther Santana/Estadão

Nas últimas duas semanas, Boulos participou de cinco eventos em bairros onde Nunes liderou no primeiro turno. No fim de semana passado, a campanha havia programado um evento com Lula em Parelheiros — onde Nunes saiu vitorioso —, mas a caminhada foi cancelada devido ao mau tempo, e Boulos e Lula participaram de uma live. No entanto, a presença do presidente ainda é esperada para um evento no dia 26, véspera do segundo turno.

Na campanha do PSOL, a avaliação é que o voto em Nunes nas periferias não é ideológico, mas orientado pela influência da máquina municipal nessas regiões. Acredita-se que o atual prefeito soube investir nesses territórios para neutralizar a transferência de votos de Lula para Boulos. A entrega de ações específicas nessas áreas, além do apoio de vereadores e lideranças comunitárias como cabos eleitorais de Nunes, são citados como fatores que impulsionaram a votação do prefeito.

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Dois integrantes da coordenação de campanha acreditam que o voto nessas regiões ainda está em disputa e veem possibilidades reais de reconquistar essas áreas e diminuir a diferença entre Nunes e Boulos. No Grajaú, por exemplo, a diferença entre os dois candidatos foi de apenas 0,7 ponto percentual, enquanto na Pedreira a margem foi de 10,34 pontos.

A estratégia de intensificar o corpo a corpo nos bairros é acompanhada por publicações segmentadas nas redes sociais. Boulos tem divulgado conteúdo direcionado a regiões específicas da capital, frequentemente focando em questões de zeladoria local. Além disso, a campanha produz materiais voltados para segmentos específicos, como os nordestinos. O objetivo é mobilizar essa comunidade, lembrando o papel decisivo que o Nordeste desempenhou nas eleições de 2022, quando garantiu a vitória de Lula sobre Bolsonaro, e incentivar os nordestinos de São Paulo a seguirem o mesmo caminho.

No domingo, 20, Boulos também participou de um almoço com a comunidade nordestina em Guaianases, na zona leste.

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Transferência de voto de Lula para Boulos não é automática, diz especialista

O analista de risco político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza, corrobora a leitura de que Nunes soube utilizar bem a máquina da Prefeitura, o que o beneficiou na disputa. No entanto, Souza destaca que algumas ações da própria campanha de Boulos podem ter prejudicado o candidato do PSOL.

“No primeiro turno, a campanha usou pouco a imagem de Marta e do próprio Lula, figuras que ainda têm um peso eleitoral nessas regiões. Além disso, a campanha não definiu claramente contra quem estava competindo. Falar de cidade? Atacar Marçal, Nunes ou Bolsonaro? Ficou vago. Em eleições municipais, o eleitor busca soluções práticas, e essa falta de clareza pode ter afastado votos”, avalia o especialista.

Souza também aponta outro fator que pode ter prejudicado Boulos: a suposição de que o voto em Lula seria ideológico e garantiria uma transferência automática para candidatos de esquerda. Ele rejeita essa ideia, afirmando: “É importante lembrar que o voto em Lula não é necessariamente ideológico, mas carismático. Lula tem uma conexão afetiva com muitos eleitores, o que não significa que esses eleitores votarão automaticamente em candidatos de esquerda”.

Campanha do PSOL mira indecisos

Além de tentar captar os votos de eleitores de Pablo Marçal, a campanha de Boulos aposta nos indecisos como uma estratégia para reverter a vantagem de Nunes. Na semana passada, o comitê comemorou o fato de que 26% dos eleitores se declararam indecisos na pesquisa Quaest, no cenário espontâneo, em que os nomes dos candidatos não são apresentados. Na sexta-feira, 18, Boulos fez um apelo à militância, pedindo que intensifiquem os esforços para conquistar esses eleitores que ainda não definiram seu voto.

“Tem muito eleitor que está indeciso. Se você olhar as últimas eleições, vai ver isso. Se olhar o primeiro turno, vai ver isso. Uma parte importante das pessoas decide seu voto nas últimas 48 horas (...) Tenho muita confiança de que, nas últimas 48 horas, que são decisivas em toda eleição, vamos conseguir uma virada de jogo. Vamos criar uma surpresa que eles nem vão ver de onde veio”, afirmou Boulos.

As novas estratégias da campanha do deputado para a reta final reforçam ações já em andamento. A equipe do candidato afirma que ele manterá um tom combativo contra Nunes. Parte dessa estratégia inclui a construção da ideia de que o emedebista é um prefeito fraco, enquanto Boulos seria alguém com a “força” necessária para enfrentar os problemas de São Paulo. Um integrante da campanha do psolista afirmou que, para conquistar o eleitor de Marçal, é preciso ter “testosterona”, o que justificaria o tom agressivo adotado por Boulos contra Nunes.

Além disso, o apagão causado pela tempestade que atingiu São Paulo na sexta-feira, 11, deixando milhões sem luz, continuará sendo abordado por Boulos. A campanha avalia que esse foi o grande fato do segundo turno. No entanto, as pesquisas mais recentes indicam que o blecaute não teve impacto significativo nas intenções de voto do atual prefeito.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) entra na última semana antes da eleição para a Prefeitura de São Paulo com o desafio de reverter a desvantagem de mais de dez pontos percentuais em relação ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Para isso, foram planejadas ações destinadas a grupos específicos do eleitorado, como empreendedores, evangélicos e nordestinos. Também estão previstas caminhadas pelas cinco regiões da cidade, com ênfase em bairros periféricos.

A pesquisa mais recente da Quaest, divulgada na quarta-feira, 16, aponta Boulos com 33% das intenções de voto em cenário estimulado, enquanto Nunes registra 45%. Da mesma forma, o último levantamento do Datafolha, publicado na quinta-feira, 17, mostra o prefeito na liderança, com 51% das menções contra 33% do psolista. A margem de erro de ambas as pesquisas é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Boulos durante caminhada na região da Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul de SP, logo depois do 1º turno  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as ações planejadas, a campanha do PSOL pretende reeditar o discurso de “frente ampla” utilizado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) na última eleição presidencial. Um evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), marcado para esta terça-feira, 22, em um teatro na Avenida Paulista, será a peça central dessa estratégia, com o objetivo de demonstrar o apoio de um conjunto de partidos à candidatura do ex-líder dos sem-teto.

Na semana passada, o PSB liberou seus filiados para votarem livremente, porém sugeriu voto em Guilherme Boulos. Além disso, o vice-presidente do Diretório Estadual da sigla, Fernando Guimarães, se juntou à equipe de coordenação da campanha psolista. A deputada federal Tabata Amaral (PSB) também expressou apoio a Boulos, mas não deve participar de eventos ao lado do parlamentar.

Outra ação planejada pela equipe de Boulos para esta reta final é a divulgação de uma “Carta à Cidade de São Paulo”, direcionada à população empreendedora, especialmente àqueles que vivem em regiões periféricas. Essa estratégia repete gestos de Lula em eleições passadas. Em 2002, o petista lançou a “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se comprometeu com a estabilidade econômica. Vinte anos depois, em 2022, ele divulgou a “Carta Pública ao Povo Evangélico”, na qual assumiu compromissos com esse segmento.

Na prática, o documento elaborado pela campanha de Boulos representa mais uma tentativa de angariar votos entre os eleitores de Pablo Marçal (PRTB) e Tabata, que ocupam a terceira e a quarta posição na disputa, respectivamente. O deputado já vinha fazendo acenos a essa parcela do eleitorado ao incorporar propostas tanto do ex-coach quanto da pessebista em seu programa de governo.

De olho no eleitorado evangélico, Boulos agendou um novo encontro com líderes religiosos para a noite desta segunda-feira, 21. O evento ocorrerá em um hotel no bairro da Consolação, na região central, e contará com a presença da candidata a vice na chapa do PSOL, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Antes do primeiro turno, a dupla já havia reunido dezenas de lideranças evangélicas em outro encontro similar.

Boulos intensifica corpo a corpo em reta final

Sob pressão para reverter a diferença de votos em relação a Nunes, Boulos planeja percorrer todas as regiões da cidade na última semana antes do pleito. Chamada nos bastidores da campanha de “caravana da virada”, a estratégia envolve realizar caminhadas em um número máximo de distritos, com o objetivo de fazer pelo menos um evento em cada região de São Paulo. O foco será nas áreas onde o candidato do PSOL possa disputar votos com Nunes ou conquistar o eleitorado de Marçal.

Com essa estratégia, Boulos busca retomar redutos tradicionais da esquerda que, no primeiro turno, favoreceram Nunes ou Marçal. O emedebista venceu em 17 das 57 zonas eleitorais da capital paulista, sendo que em nove delas Lula obteve a maioria dos votos em 2022. Áreas conquistadas pelo emedebista, como Grajaú, na zona sul, e Brasilândia, na zona norte, são redutos históricos do PT, onde Fernando Haddad saiu vitorioso na eleição municipal de 2012.

O deputado federal do PSOL durante evento de campanha na frente do Theatro Municipal, na última sexta, 18 Foto: Werther Santana/Estadão

Nas últimas duas semanas, Boulos participou de cinco eventos em bairros onde Nunes liderou no primeiro turno. No fim de semana passado, a campanha havia programado um evento com Lula em Parelheiros — onde Nunes saiu vitorioso —, mas a caminhada foi cancelada devido ao mau tempo, e Boulos e Lula participaram de uma live. No entanto, a presença do presidente ainda é esperada para um evento no dia 26, véspera do segundo turno.

Na campanha do PSOL, a avaliação é que o voto em Nunes nas periferias não é ideológico, mas orientado pela influência da máquina municipal nessas regiões. Acredita-se que o atual prefeito soube investir nesses territórios para neutralizar a transferência de votos de Lula para Boulos. A entrega de ações específicas nessas áreas, além do apoio de vereadores e lideranças comunitárias como cabos eleitorais de Nunes, são citados como fatores que impulsionaram a votação do prefeito.

Dois integrantes da coordenação de campanha acreditam que o voto nessas regiões ainda está em disputa e veem possibilidades reais de reconquistar essas áreas e diminuir a diferença entre Nunes e Boulos. No Grajaú, por exemplo, a diferença entre os dois candidatos foi de apenas 0,7 ponto percentual, enquanto na Pedreira a margem foi de 10,34 pontos.

A estratégia de intensificar o corpo a corpo nos bairros é acompanhada por publicações segmentadas nas redes sociais. Boulos tem divulgado conteúdo direcionado a regiões específicas da capital, frequentemente focando em questões de zeladoria local. Além disso, a campanha produz materiais voltados para segmentos específicos, como os nordestinos. O objetivo é mobilizar essa comunidade, lembrando o papel decisivo que o Nordeste desempenhou nas eleições de 2022, quando garantiu a vitória de Lula sobre Bolsonaro, e incentivar os nordestinos de São Paulo a seguirem o mesmo caminho.

No domingo, 20, Boulos também participou de um almoço com a comunidade nordestina em Guaianases, na zona leste.

Transferência de voto de Lula para Boulos não é automática, diz especialista

O analista de risco político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza, corrobora a leitura de que Nunes soube utilizar bem a máquina da Prefeitura, o que o beneficiou na disputa. No entanto, Souza destaca que algumas ações da própria campanha de Boulos podem ter prejudicado o candidato do PSOL.

“No primeiro turno, a campanha usou pouco a imagem de Marta e do próprio Lula, figuras que ainda têm um peso eleitoral nessas regiões. Além disso, a campanha não definiu claramente contra quem estava competindo. Falar de cidade? Atacar Marçal, Nunes ou Bolsonaro? Ficou vago. Em eleições municipais, o eleitor busca soluções práticas, e essa falta de clareza pode ter afastado votos”, avalia o especialista.

Souza também aponta outro fator que pode ter prejudicado Boulos: a suposição de que o voto em Lula seria ideológico e garantiria uma transferência automática para candidatos de esquerda. Ele rejeita essa ideia, afirmando: “É importante lembrar que o voto em Lula não é necessariamente ideológico, mas carismático. Lula tem uma conexão afetiva com muitos eleitores, o que não significa que esses eleitores votarão automaticamente em candidatos de esquerda”.

Campanha do PSOL mira indecisos

Além de tentar captar os votos de eleitores de Pablo Marçal, a campanha de Boulos aposta nos indecisos como uma estratégia para reverter a vantagem de Nunes. Na semana passada, o comitê comemorou o fato de que 26% dos eleitores se declararam indecisos na pesquisa Quaest, no cenário espontâneo, em que os nomes dos candidatos não são apresentados. Na sexta-feira, 18, Boulos fez um apelo à militância, pedindo que intensifiquem os esforços para conquistar esses eleitores que ainda não definiram seu voto.

“Tem muito eleitor que está indeciso. Se você olhar as últimas eleições, vai ver isso. Se olhar o primeiro turno, vai ver isso. Uma parte importante das pessoas decide seu voto nas últimas 48 horas (...) Tenho muita confiança de que, nas últimas 48 horas, que são decisivas em toda eleição, vamos conseguir uma virada de jogo. Vamos criar uma surpresa que eles nem vão ver de onde veio”, afirmou Boulos.

As novas estratégias da campanha do deputado para a reta final reforçam ações já em andamento. A equipe do candidato afirma que ele manterá um tom combativo contra Nunes. Parte dessa estratégia inclui a construção da ideia de que o emedebista é um prefeito fraco, enquanto Boulos seria alguém com a “força” necessária para enfrentar os problemas de São Paulo. Um integrante da campanha do psolista afirmou que, para conquistar o eleitor de Marçal, é preciso ter “testosterona”, o que justificaria o tom agressivo adotado por Boulos contra Nunes.

Além disso, o apagão causado pela tempestade que atingiu São Paulo na sexta-feira, 11, deixando milhões sem luz, continuará sendo abordado por Boulos. A campanha avalia que esse foi o grande fato do segundo turno. No entanto, as pesquisas mais recentes indicam que o blecaute não teve impacto significativo nas intenções de voto do atual prefeito.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) entra na última semana antes da eleição para a Prefeitura de São Paulo com o desafio de reverter a desvantagem de mais de dez pontos percentuais em relação ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Para isso, foram planejadas ações destinadas a grupos específicos do eleitorado, como empreendedores, evangélicos e nordestinos. Também estão previstas caminhadas pelas cinco regiões da cidade, com ênfase em bairros periféricos.

A pesquisa mais recente da Quaest, divulgada na quarta-feira, 16, aponta Boulos com 33% das intenções de voto em cenário estimulado, enquanto Nunes registra 45%. Da mesma forma, o último levantamento do Datafolha, publicado na quinta-feira, 17, mostra o prefeito na liderança, com 51% das menções contra 33% do psolista. A margem de erro de ambas as pesquisas é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Boulos durante caminhada na região da Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul de SP, logo depois do 1º turno  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as ações planejadas, a campanha do PSOL pretende reeditar o discurso de “frente ampla” utilizado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) na última eleição presidencial. Um evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), marcado para esta terça-feira, 22, em um teatro na Avenida Paulista, será a peça central dessa estratégia, com o objetivo de demonstrar o apoio de um conjunto de partidos à candidatura do ex-líder dos sem-teto.

Na semana passada, o PSB liberou seus filiados para votarem livremente, porém sugeriu voto em Guilherme Boulos. Além disso, o vice-presidente do Diretório Estadual da sigla, Fernando Guimarães, se juntou à equipe de coordenação da campanha psolista. A deputada federal Tabata Amaral (PSB) também expressou apoio a Boulos, mas não deve participar de eventos ao lado do parlamentar.

Outra ação planejada pela equipe de Boulos para esta reta final é a divulgação de uma “Carta à Cidade de São Paulo”, direcionada à população empreendedora, especialmente àqueles que vivem em regiões periféricas. Essa estratégia repete gestos de Lula em eleições passadas. Em 2002, o petista lançou a “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se comprometeu com a estabilidade econômica. Vinte anos depois, em 2022, ele divulgou a “Carta Pública ao Povo Evangélico”, na qual assumiu compromissos com esse segmento.

Na prática, o documento elaborado pela campanha de Boulos representa mais uma tentativa de angariar votos entre os eleitores de Pablo Marçal (PRTB) e Tabata, que ocupam a terceira e a quarta posição na disputa, respectivamente. O deputado já vinha fazendo acenos a essa parcela do eleitorado ao incorporar propostas tanto do ex-coach quanto da pessebista em seu programa de governo.

De olho no eleitorado evangélico, Boulos agendou um novo encontro com líderes religiosos para a noite desta segunda-feira, 21. O evento ocorrerá em um hotel no bairro da Consolação, na região central, e contará com a presença da candidata a vice na chapa do PSOL, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Antes do primeiro turno, a dupla já havia reunido dezenas de lideranças evangélicas em outro encontro similar.

Boulos intensifica corpo a corpo em reta final

Sob pressão para reverter a diferença de votos em relação a Nunes, Boulos planeja percorrer todas as regiões da cidade na última semana antes do pleito. Chamada nos bastidores da campanha de “caravana da virada”, a estratégia envolve realizar caminhadas em um número máximo de distritos, com o objetivo de fazer pelo menos um evento em cada região de São Paulo. O foco será nas áreas onde o candidato do PSOL possa disputar votos com Nunes ou conquistar o eleitorado de Marçal.

Com essa estratégia, Boulos busca retomar redutos tradicionais da esquerda que, no primeiro turno, favoreceram Nunes ou Marçal. O emedebista venceu em 17 das 57 zonas eleitorais da capital paulista, sendo que em nove delas Lula obteve a maioria dos votos em 2022. Áreas conquistadas pelo emedebista, como Grajaú, na zona sul, e Brasilândia, na zona norte, são redutos históricos do PT, onde Fernando Haddad saiu vitorioso na eleição municipal de 2012.

O deputado federal do PSOL durante evento de campanha na frente do Theatro Municipal, na última sexta, 18 Foto: Werther Santana/Estadão

Nas últimas duas semanas, Boulos participou de cinco eventos em bairros onde Nunes liderou no primeiro turno. No fim de semana passado, a campanha havia programado um evento com Lula em Parelheiros — onde Nunes saiu vitorioso —, mas a caminhada foi cancelada devido ao mau tempo, e Boulos e Lula participaram de uma live. No entanto, a presença do presidente ainda é esperada para um evento no dia 26, véspera do segundo turno.

Na campanha do PSOL, a avaliação é que o voto em Nunes nas periferias não é ideológico, mas orientado pela influência da máquina municipal nessas regiões. Acredita-se que o atual prefeito soube investir nesses territórios para neutralizar a transferência de votos de Lula para Boulos. A entrega de ações específicas nessas áreas, além do apoio de vereadores e lideranças comunitárias como cabos eleitorais de Nunes, são citados como fatores que impulsionaram a votação do prefeito.

Dois integrantes da coordenação de campanha acreditam que o voto nessas regiões ainda está em disputa e veem possibilidades reais de reconquistar essas áreas e diminuir a diferença entre Nunes e Boulos. No Grajaú, por exemplo, a diferença entre os dois candidatos foi de apenas 0,7 ponto percentual, enquanto na Pedreira a margem foi de 10,34 pontos.

A estratégia de intensificar o corpo a corpo nos bairros é acompanhada por publicações segmentadas nas redes sociais. Boulos tem divulgado conteúdo direcionado a regiões específicas da capital, frequentemente focando em questões de zeladoria local. Além disso, a campanha produz materiais voltados para segmentos específicos, como os nordestinos. O objetivo é mobilizar essa comunidade, lembrando o papel decisivo que o Nordeste desempenhou nas eleições de 2022, quando garantiu a vitória de Lula sobre Bolsonaro, e incentivar os nordestinos de São Paulo a seguirem o mesmo caminho.

No domingo, 20, Boulos também participou de um almoço com a comunidade nordestina em Guaianases, na zona leste.

Transferência de voto de Lula para Boulos não é automática, diz especialista

O analista de risco político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza, corrobora a leitura de que Nunes soube utilizar bem a máquina da Prefeitura, o que o beneficiou na disputa. No entanto, Souza destaca que algumas ações da própria campanha de Boulos podem ter prejudicado o candidato do PSOL.

“No primeiro turno, a campanha usou pouco a imagem de Marta e do próprio Lula, figuras que ainda têm um peso eleitoral nessas regiões. Além disso, a campanha não definiu claramente contra quem estava competindo. Falar de cidade? Atacar Marçal, Nunes ou Bolsonaro? Ficou vago. Em eleições municipais, o eleitor busca soluções práticas, e essa falta de clareza pode ter afastado votos”, avalia o especialista.

Souza também aponta outro fator que pode ter prejudicado Boulos: a suposição de que o voto em Lula seria ideológico e garantiria uma transferência automática para candidatos de esquerda. Ele rejeita essa ideia, afirmando: “É importante lembrar que o voto em Lula não é necessariamente ideológico, mas carismático. Lula tem uma conexão afetiva com muitos eleitores, o que não significa que esses eleitores votarão automaticamente em candidatos de esquerda”.

Campanha do PSOL mira indecisos

Além de tentar captar os votos de eleitores de Pablo Marçal, a campanha de Boulos aposta nos indecisos como uma estratégia para reverter a vantagem de Nunes. Na semana passada, o comitê comemorou o fato de que 26% dos eleitores se declararam indecisos na pesquisa Quaest, no cenário espontâneo, em que os nomes dos candidatos não são apresentados. Na sexta-feira, 18, Boulos fez um apelo à militância, pedindo que intensifiquem os esforços para conquistar esses eleitores que ainda não definiram seu voto.

“Tem muito eleitor que está indeciso. Se você olhar as últimas eleições, vai ver isso. Se olhar o primeiro turno, vai ver isso. Uma parte importante das pessoas decide seu voto nas últimas 48 horas (...) Tenho muita confiança de que, nas últimas 48 horas, que são decisivas em toda eleição, vamos conseguir uma virada de jogo. Vamos criar uma surpresa que eles nem vão ver de onde veio”, afirmou Boulos.

As novas estratégias da campanha do deputado para a reta final reforçam ações já em andamento. A equipe do candidato afirma que ele manterá um tom combativo contra Nunes. Parte dessa estratégia inclui a construção da ideia de que o emedebista é um prefeito fraco, enquanto Boulos seria alguém com a “força” necessária para enfrentar os problemas de São Paulo. Um integrante da campanha do psolista afirmou que, para conquistar o eleitor de Marçal, é preciso ter “testosterona”, o que justificaria o tom agressivo adotado por Boulos contra Nunes.

Além disso, o apagão causado pela tempestade que atingiu São Paulo na sexta-feira, 11, deixando milhões sem luz, continuará sendo abordado por Boulos. A campanha avalia que esse foi o grande fato do segundo turno. No entanto, as pesquisas mais recentes indicam que o blecaute não teve impacto significativo nas intenções de voto do atual prefeito.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) entra na última semana antes da eleição para a Prefeitura de São Paulo com o desafio de reverter a desvantagem de mais de dez pontos percentuais em relação ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Para isso, foram planejadas ações destinadas a grupos específicos do eleitorado, como empreendedores, evangélicos e nordestinos. Também estão previstas caminhadas pelas cinco regiões da cidade, com ênfase em bairros periféricos.

A pesquisa mais recente da Quaest, divulgada na quarta-feira, 16, aponta Boulos com 33% das intenções de voto em cenário estimulado, enquanto Nunes registra 45%. Da mesma forma, o último levantamento do Datafolha, publicado na quinta-feira, 17, mostra o prefeito na liderança, com 51% das menções contra 33% do psolista. A margem de erro de ambas as pesquisas é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Boulos durante caminhada na região da Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul de SP, logo depois do 1º turno  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as ações planejadas, a campanha do PSOL pretende reeditar o discurso de “frente ampla” utilizado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) na última eleição presidencial. Um evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), marcado para esta terça-feira, 22, em um teatro na Avenida Paulista, será a peça central dessa estratégia, com o objetivo de demonstrar o apoio de um conjunto de partidos à candidatura do ex-líder dos sem-teto.

Na semana passada, o PSB liberou seus filiados para votarem livremente, porém sugeriu voto em Guilherme Boulos. Além disso, o vice-presidente do Diretório Estadual da sigla, Fernando Guimarães, se juntou à equipe de coordenação da campanha psolista. A deputada federal Tabata Amaral (PSB) também expressou apoio a Boulos, mas não deve participar de eventos ao lado do parlamentar.

Outra ação planejada pela equipe de Boulos para esta reta final é a divulgação de uma “Carta à Cidade de São Paulo”, direcionada à população empreendedora, especialmente àqueles que vivem em regiões periféricas. Essa estratégia repete gestos de Lula em eleições passadas. Em 2002, o petista lançou a “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se comprometeu com a estabilidade econômica. Vinte anos depois, em 2022, ele divulgou a “Carta Pública ao Povo Evangélico”, na qual assumiu compromissos com esse segmento.

Na prática, o documento elaborado pela campanha de Boulos representa mais uma tentativa de angariar votos entre os eleitores de Pablo Marçal (PRTB) e Tabata, que ocupam a terceira e a quarta posição na disputa, respectivamente. O deputado já vinha fazendo acenos a essa parcela do eleitorado ao incorporar propostas tanto do ex-coach quanto da pessebista em seu programa de governo.

De olho no eleitorado evangélico, Boulos agendou um novo encontro com líderes religiosos para a noite desta segunda-feira, 21. O evento ocorrerá em um hotel no bairro da Consolação, na região central, e contará com a presença da candidata a vice na chapa do PSOL, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Antes do primeiro turno, a dupla já havia reunido dezenas de lideranças evangélicas em outro encontro similar.

Boulos intensifica corpo a corpo em reta final

Sob pressão para reverter a diferença de votos em relação a Nunes, Boulos planeja percorrer todas as regiões da cidade na última semana antes do pleito. Chamada nos bastidores da campanha de “caravana da virada”, a estratégia envolve realizar caminhadas em um número máximo de distritos, com o objetivo de fazer pelo menos um evento em cada região de São Paulo. O foco será nas áreas onde o candidato do PSOL possa disputar votos com Nunes ou conquistar o eleitorado de Marçal.

Com essa estratégia, Boulos busca retomar redutos tradicionais da esquerda que, no primeiro turno, favoreceram Nunes ou Marçal. O emedebista venceu em 17 das 57 zonas eleitorais da capital paulista, sendo que em nove delas Lula obteve a maioria dos votos em 2022. Áreas conquistadas pelo emedebista, como Grajaú, na zona sul, e Brasilândia, na zona norte, são redutos históricos do PT, onde Fernando Haddad saiu vitorioso na eleição municipal de 2012.

O deputado federal do PSOL durante evento de campanha na frente do Theatro Municipal, na última sexta, 18 Foto: Werther Santana/Estadão

Nas últimas duas semanas, Boulos participou de cinco eventos em bairros onde Nunes liderou no primeiro turno. No fim de semana passado, a campanha havia programado um evento com Lula em Parelheiros — onde Nunes saiu vitorioso —, mas a caminhada foi cancelada devido ao mau tempo, e Boulos e Lula participaram de uma live. No entanto, a presença do presidente ainda é esperada para um evento no dia 26, véspera do segundo turno.

Na campanha do PSOL, a avaliação é que o voto em Nunes nas periferias não é ideológico, mas orientado pela influência da máquina municipal nessas regiões. Acredita-se que o atual prefeito soube investir nesses territórios para neutralizar a transferência de votos de Lula para Boulos. A entrega de ações específicas nessas áreas, além do apoio de vereadores e lideranças comunitárias como cabos eleitorais de Nunes, são citados como fatores que impulsionaram a votação do prefeito.

Dois integrantes da coordenação de campanha acreditam que o voto nessas regiões ainda está em disputa e veem possibilidades reais de reconquistar essas áreas e diminuir a diferença entre Nunes e Boulos. No Grajaú, por exemplo, a diferença entre os dois candidatos foi de apenas 0,7 ponto percentual, enquanto na Pedreira a margem foi de 10,34 pontos.

A estratégia de intensificar o corpo a corpo nos bairros é acompanhada por publicações segmentadas nas redes sociais. Boulos tem divulgado conteúdo direcionado a regiões específicas da capital, frequentemente focando em questões de zeladoria local. Além disso, a campanha produz materiais voltados para segmentos específicos, como os nordestinos. O objetivo é mobilizar essa comunidade, lembrando o papel decisivo que o Nordeste desempenhou nas eleições de 2022, quando garantiu a vitória de Lula sobre Bolsonaro, e incentivar os nordestinos de São Paulo a seguirem o mesmo caminho.

No domingo, 20, Boulos também participou de um almoço com a comunidade nordestina em Guaianases, na zona leste.

Transferência de voto de Lula para Boulos não é automática, diz especialista

O analista de risco político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza, corrobora a leitura de que Nunes soube utilizar bem a máquina da Prefeitura, o que o beneficiou na disputa. No entanto, Souza destaca que algumas ações da própria campanha de Boulos podem ter prejudicado o candidato do PSOL.

“No primeiro turno, a campanha usou pouco a imagem de Marta e do próprio Lula, figuras que ainda têm um peso eleitoral nessas regiões. Além disso, a campanha não definiu claramente contra quem estava competindo. Falar de cidade? Atacar Marçal, Nunes ou Bolsonaro? Ficou vago. Em eleições municipais, o eleitor busca soluções práticas, e essa falta de clareza pode ter afastado votos”, avalia o especialista.

Souza também aponta outro fator que pode ter prejudicado Boulos: a suposição de que o voto em Lula seria ideológico e garantiria uma transferência automática para candidatos de esquerda. Ele rejeita essa ideia, afirmando: “É importante lembrar que o voto em Lula não é necessariamente ideológico, mas carismático. Lula tem uma conexão afetiva com muitos eleitores, o que não significa que esses eleitores votarão automaticamente em candidatos de esquerda”.

Campanha do PSOL mira indecisos

Além de tentar captar os votos de eleitores de Pablo Marçal, a campanha de Boulos aposta nos indecisos como uma estratégia para reverter a vantagem de Nunes. Na semana passada, o comitê comemorou o fato de que 26% dos eleitores se declararam indecisos na pesquisa Quaest, no cenário espontâneo, em que os nomes dos candidatos não são apresentados. Na sexta-feira, 18, Boulos fez um apelo à militância, pedindo que intensifiquem os esforços para conquistar esses eleitores que ainda não definiram seu voto.

“Tem muito eleitor que está indeciso. Se você olhar as últimas eleições, vai ver isso. Se olhar o primeiro turno, vai ver isso. Uma parte importante das pessoas decide seu voto nas últimas 48 horas (...) Tenho muita confiança de que, nas últimas 48 horas, que são decisivas em toda eleição, vamos conseguir uma virada de jogo. Vamos criar uma surpresa que eles nem vão ver de onde veio”, afirmou Boulos.

As novas estratégias da campanha do deputado para a reta final reforçam ações já em andamento. A equipe do candidato afirma que ele manterá um tom combativo contra Nunes. Parte dessa estratégia inclui a construção da ideia de que o emedebista é um prefeito fraco, enquanto Boulos seria alguém com a “força” necessária para enfrentar os problemas de São Paulo. Um integrante da campanha do psolista afirmou que, para conquistar o eleitor de Marçal, é preciso ter “testosterona”, o que justificaria o tom agressivo adotado por Boulos contra Nunes.

Além disso, o apagão causado pela tempestade que atingiu São Paulo na sexta-feira, 11, deixando milhões sem luz, continuará sendo abordado por Boulos. A campanha avalia que esse foi o grande fato do segundo turno. No entanto, as pesquisas mais recentes indicam que o blecaute não teve impacto significativo nas intenções de voto do atual prefeito.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) entra na última semana antes da eleição para a Prefeitura de São Paulo com o desafio de reverter a desvantagem de mais de dez pontos percentuais em relação ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Para isso, foram planejadas ações destinadas a grupos específicos do eleitorado, como empreendedores, evangélicos e nordestinos. Também estão previstas caminhadas pelas cinco regiões da cidade, com ênfase em bairros periféricos.

A pesquisa mais recente da Quaest, divulgada na quarta-feira, 16, aponta Boulos com 33% das intenções de voto em cenário estimulado, enquanto Nunes registra 45%. Da mesma forma, o último levantamento do Datafolha, publicado na quinta-feira, 17, mostra o prefeito na liderança, com 51% das menções contra 33% do psolista. A margem de erro de ambas as pesquisas é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Boulos durante caminhada na região da Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul de SP, logo depois do 1º turno  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as ações planejadas, a campanha do PSOL pretende reeditar o discurso de “frente ampla” utilizado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) na última eleição presidencial. Um evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), marcado para esta terça-feira, 22, em um teatro na Avenida Paulista, será a peça central dessa estratégia, com o objetivo de demonstrar o apoio de um conjunto de partidos à candidatura do ex-líder dos sem-teto.

Na semana passada, o PSB liberou seus filiados para votarem livremente, porém sugeriu voto em Guilherme Boulos. Além disso, o vice-presidente do Diretório Estadual da sigla, Fernando Guimarães, se juntou à equipe de coordenação da campanha psolista. A deputada federal Tabata Amaral (PSB) também expressou apoio a Boulos, mas não deve participar de eventos ao lado do parlamentar.

Outra ação planejada pela equipe de Boulos para esta reta final é a divulgação de uma “Carta à Cidade de São Paulo”, direcionada à população empreendedora, especialmente àqueles que vivem em regiões periféricas. Essa estratégia repete gestos de Lula em eleições passadas. Em 2002, o petista lançou a “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se comprometeu com a estabilidade econômica. Vinte anos depois, em 2022, ele divulgou a “Carta Pública ao Povo Evangélico”, na qual assumiu compromissos com esse segmento.

Na prática, o documento elaborado pela campanha de Boulos representa mais uma tentativa de angariar votos entre os eleitores de Pablo Marçal (PRTB) e Tabata, que ocupam a terceira e a quarta posição na disputa, respectivamente. O deputado já vinha fazendo acenos a essa parcela do eleitorado ao incorporar propostas tanto do ex-coach quanto da pessebista em seu programa de governo.

De olho no eleitorado evangélico, Boulos agendou um novo encontro com líderes religiosos para a noite desta segunda-feira, 21. O evento ocorrerá em um hotel no bairro da Consolação, na região central, e contará com a presença da candidata a vice na chapa do PSOL, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Antes do primeiro turno, a dupla já havia reunido dezenas de lideranças evangélicas em outro encontro similar.

Boulos intensifica corpo a corpo em reta final

Sob pressão para reverter a diferença de votos em relação a Nunes, Boulos planeja percorrer todas as regiões da cidade na última semana antes do pleito. Chamada nos bastidores da campanha de “caravana da virada”, a estratégia envolve realizar caminhadas em um número máximo de distritos, com o objetivo de fazer pelo menos um evento em cada região de São Paulo. O foco será nas áreas onde o candidato do PSOL possa disputar votos com Nunes ou conquistar o eleitorado de Marçal.

Com essa estratégia, Boulos busca retomar redutos tradicionais da esquerda que, no primeiro turno, favoreceram Nunes ou Marçal. O emedebista venceu em 17 das 57 zonas eleitorais da capital paulista, sendo que em nove delas Lula obteve a maioria dos votos em 2022. Áreas conquistadas pelo emedebista, como Grajaú, na zona sul, e Brasilândia, na zona norte, são redutos históricos do PT, onde Fernando Haddad saiu vitorioso na eleição municipal de 2012.

O deputado federal do PSOL durante evento de campanha na frente do Theatro Municipal, na última sexta, 18 Foto: Werther Santana/Estadão

Nas últimas duas semanas, Boulos participou de cinco eventos em bairros onde Nunes liderou no primeiro turno. No fim de semana passado, a campanha havia programado um evento com Lula em Parelheiros — onde Nunes saiu vitorioso —, mas a caminhada foi cancelada devido ao mau tempo, e Boulos e Lula participaram de uma live. No entanto, a presença do presidente ainda é esperada para um evento no dia 26, véspera do segundo turno.

Na campanha do PSOL, a avaliação é que o voto em Nunes nas periferias não é ideológico, mas orientado pela influência da máquina municipal nessas regiões. Acredita-se que o atual prefeito soube investir nesses territórios para neutralizar a transferência de votos de Lula para Boulos. A entrega de ações específicas nessas áreas, além do apoio de vereadores e lideranças comunitárias como cabos eleitorais de Nunes, são citados como fatores que impulsionaram a votação do prefeito.

Dois integrantes da coordenação de campanha acreditam que o voto nessas regiões ainda está em disputa e veem possibilidades reais de reconquistar essas áreas e diminuir a diferença entre Nunes e Boulos. No Grajaú, por exemplo, a diferença entre os dois candidatos foi de apenas 0,7 ponto percentual, enquanto na Pedreira a margem foi de 10,34 pontos.

A estratégia de intensificar o corpo a corpo nos bairros é acompanhada por publicações segmentadas nas redes sociais. Boulos tem divulgado conteúdo direcionado a regiões específicas da capital, frequentemente focando em questões de zeladoria local. Além disso, a campanha produz materiais voltados para segmentos específicos, como os nordestinos. O objetivo é mobilizar essa comunidade, lembrando o papel decisivo que o Nordeste desempenhou nas eleições de 2022, quando garantiu a vitória de Lula sobre Bolsonaro, e incentivar os nordestinos de São Paulo a seguirem o mesmo caminho.

No domingo, 20, Boulos também participou de um almoço com a comunidade nordestina em Guaianases, na zona leste.

Transferência de voto de Lula para Boulos não é automática, diz especialista

O analista de risco político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza, corrobora a leitura de que Nunes soube utilizar bem a máquina da Prefeitura, o que o beneficiou na disputa. No entanto, Souza destaca que algumas ações da própria campanha de Boulos podem ter prejudicado o candidato do PSOL.

“No primeiro turno, a campanha usou pouco a imagem de Marta e do próprio Lula, figuras que ainda têm um peso eleitoral nessas regiões. Além disso, a campanha não definiu claramente contra quem estava competindo. Falar de cidade? Atacar Marçal, Nunes ou Bolsonaro? Ficou vago. Em eleições municipais, o eleitor busca soluções práticas, e essa falta de clareza pode ter afastado votos”, avalia o especialista.

Souza também aponta outro fator que pode ter prejudicado Boulos: a suposição de que o voto em Lula seria ideológico e garantiria uma transferência automática para candidatos de esquerda. Ele rejeita essa ideia, afirmando: “É importante lembrar que o voto em Lula não é necessariamente ideológico, mas carismático. Lula tem uma conexão afetiva com muitos eleitores, o que não significa que esses eleitores votarão automaticamente em candidatos de esquerda”.

Campanha do PSOL mira indecisos

Além de tentar captar os votos de eleitores de Pablo Marçal, a campanha de Boulos aposta nos indecisos como uma estratégia para reverter a vantagem de Nunes. Na semana passada, o comitê comemorou o fato de que 26% dos eleitores se declararam indecisos na pesquisa Quaest, no cenário espontâneo, em que os nomes dos candidatos não são apresentados. Na sexta-feira, 18, Boulos fez um apelo à militância, pedindo que intensifiquem os esforços para conquistar esses eleitores que ainda não definiram seu voto.

“Tem muito eleitor que está indeciso. Se você olhar as últimas eleições, vai ver isso. Se olhar o primeiro turno, vai ver isso. Uma parte importante das pessoas decide seu voto nas últimas 48 horas (...) Tenho muita confiança de que, nas últimas 48 horas, que são decisivas em toda eleição, vamos conseguir uma virada de jogo. Vamos criar uma surpresa que eles nem vão ver de onde veio”, afirmou Boulos.

As novas estratégias da campanha do deputado para a reta final reforçam ações já em andamento. A equipe do candidato afirma que ele manterá um tom combativo contra Nunes. Parte dessa estratégia inclui a construção da ideia de que o emedebista é um prefeito fraco, enquanto Boulos seria alguém com a “força” necessária para enfrentar os problemas de São Paulo. Um integrante da campanha do psolista afirmou que, para conquistar o eleitor de Marçal, é preciso ter “testosterona”, o que justificaria o tom agressivo adotado por Boulos contra Nunes.

Além disso, o apagão causado pela tempestade que atingiu São Paulo na sexta-feira, 11, deixando milhões sem luz, continuará sendo abordado por Boulos. A campanha avalia que esse foi o grande fato do segundo turno. No entanto, as pesquisas mais recentes indicam que o blecaute não teve impacto significativo nas intenções de voto do atual prefeito.

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