Esquerda precisa de renovação, e Lula tem que acertar mais, diz presidente do PSB


Carlos Siqueira defende Alckmin como vice em 2026 e afirma que campo progressista precisa mudar para se conectar com eleitorado evangélico

Por Bianca Gomes
Atualização:
Foto: Aaron Phillipe/PSB/Divulgação
Entrevista comCarlos SiqueiraEstadão

Há 10 anos na presidência do PSB e a poucos meses de passar o bastão para um sucessor — que, ao que tudo indica, será o prefeito do Recife, João Campos —, Carlos Siqueira defende a manutenção da dobradinha Lula-Alckmin em 2026. Para ele, trocar o vice não seria uma atitude de “bom senso” por parte do petista. “Nenhum presidente poderia desejar um vice melhor do que ele”, afirmou Siqueira em entrevista ao Estadão.

O dirigente partidário, que é contra antecipar as discussões eleitorais, avalia que 2025 será um ano em que o governo precisará “acertar mais do que tem acertado”. Siqueira também fez críticas à esquerda, afirmando que há insatisfação com os governos progressistas no Brasil e no mundo, o que, segundo ele, impõe a necessidade de uma autorrenovação. Para o presidente do PSB, o identitarismo com que a esquerda se apresenta precisa ser “repensado” para que o campo consiga se reconectar com o eleitorado evangélico.

Em 2026, Lula deve manter Alckmin como vice em uma eventual chapa à reeleição ou seria o momento de buscar uma renovação?

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Se o presidente decidir concorrer à reeleição— e eu espero que seja o caso — não manter o Alckmin como vice não seria uma atitude de bom senso. E eu sempre considerei o presidente Lula alguém de bom senso e com a capacidade de reconhecer que um vice melhor do que o Alckmin ele não encontraria no Brasil. Alckmin é um homem que tem uma história bonita, longa, correta, além de ser um vice trabalhador e leal. O que mais se pode esperar de um vice?

Dentro do PSB, há outro nome que poderia substituir Alckmin?

Não. Nós achamos que ele é um vice ideal. Aliás, nenhum presidente poderia desejar um vice melhor do que ele. Se depender do PSB, ele continuará dando sua grande contribuição ao próximo governo.

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Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB Foto: Aaron Phillipe/PSB/Divulgação

O que o senhor pensa sobre a ideia, já ventilada, de Lula ceder o espaço da vice para um partido mais ao centro, como o MDB?

As experiências com o MDB na vice nunca foram das melhores, haja vista o (José) Sarney, depois o (Michel) Temer. Mas as escolhas são feitas por quem tem o direito de escolher. Vamos aguardar. É muito cedo.

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O apoio do PSB ao presidente Lula em 2026 está vinculado ao espaço da vice?

Temos que esperar o ano da eleição para discutir isso com mais profundidade. Quem determina as decisões públicas é a realidade, não a nossa cabeça ou apenas o nosso desejo.

Há quem questione as condições do presidente Lula para disputar a reeleição, devido à idade e à saúde. Como o senhor vê esse debate?

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Tudo isso é importante de ser observado, mas, no momento, o foco de quem compõe o governo deve ser fazer com que ele melhore sua situação frente ao eleitorado, e não discutir a eleição. Não podemos fazer futurologia, pois não sabemos como estará o presidente Lula daqui a dois anos — espero que esteja bem e possa disputar a reeleição, mas isso será algo para observar mais à frente. Teremos um ano não eleitoral em 2025, e esse será um momento importante para o governo acertar mais do que tem acertado, melhorar as condições de vida dos brasileiros em diferentes setores e não ficar tratando especificamente de eleição. No Brasil, termina uma eleição e já se começa a falar da próxima, como se o País não tivesse problemas. Precisamos focar em resolver os problemas e deixar para tratar das eleições no momento certo.

Mas o senhor está entre os que defendem que Lula é, sem dúvida, o candidato à reeleição e ponto final, ou o senhor acredita que é importante considerar a construção de um outro nome, já que essa não é uma discussão simples?

Eu espero que ele esteja bem, desejo que se recupere dessa cirurgia que fez, volte bem e possa ser candidato. Acredito que Lula é o nome mais forte para ganhar a eleição de 2026. Não podemos antecipar essa discussão. Não se pode condenar ninguém à impossibilidade de disputa com tanta antecedência. Sem Lula, acredito que tudo precisará ser rediscutido, não tem uma solução fácil para o nosso campo político. É por isso que torço para que as coisas caminhem de forma positiva e que ele possa ser candidato. Vamos aguardar, porque antecipar essa discussão pode gerar muita insegurança, o que não é bom para o governo nem para a economia.

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Quais lições a esquerda pode extrair das eleições municipais e o que é necessário fazer para evitar uma derrota em 2026?

As eleições municipais foram um recado muito duro do eleitor, porque ficou evidente uma vitória ampla das forças de centro-direita e até da extrema-direita. O partido do Bolsonaro foi o que mais teve candidatos disputando o segundo turno, enquanto a esquerda está no poder há praticamente dois anos. Isso evidencia que há necessidade de uma autorrenovação da esquerda brasileira e, de forma geral, da esquerda mundial. Há um grau de insatisfação com os governos progressistas que precisamos não apenas constatar, mas assumir essa necessidade de autorrenovação. No caso brasileiro, temos desafios ainda mais graves, pois houve um crescimento, nas últimas décadas, das religiões evangélicas neopentecostais, o que traz implicações políticas bastante significativas. Precisamos compreender como pessoas de classes sociais que seriam alvo de políticas públicas podem se reconectar com os partidos de esquerda, porque, em essência, nós temos mais possibilidade de ajudar essas pessoas a sair da situação de pobreza do que os partidos conservadores, que na verdade têm políticas que certamente agravariam essas situações. O identitarismo com que a esquerda se apresenta precisa ser repensado, exatamente para se conectar com essa parte significativa do eleitorado brasileiro, que é esse eleitor evangélico. E não só ele, porque outras religiões, como a católica, também têm setores mais conservadores. Nós temos também outros desafios. Eu acho que a esquerda brasileira hoje deve à sociedade brasileira um sonho, um sonho que esteja conectado com a realidade do País.

Nesse sentido, a esquerda precisa deixar esse debate das pautas identitárias de lado para se reconectar com esse público mais conservador?

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Eu não sei se a esquerda toda fará isso, eu tenho certeza que não só PSB fará, como já tem feito. O PSB já não é tão identificado com essas pautas. Não que não se compreenda a necessidade de respeitar uma visão libertária que se pode ter da vida e do mundo, mas o PSB, não apenas agora, mas historicamente, nunca se conectou de forma excessiva e de forma exagerada a essas questões identitárias.

Há quem defenda que Lula faça um movimento ao centro e uma reforma ministerial. O senhor acha essas mudanças necessárias?

Isso já aconteceu. Eu não sei o que mais pode acontecer, porque partidos de centro o governo já tem, e são muitos.

Não vê espaço para ampliar mais?

Eu acho que não. A minha dúvida é se ampliando esses partidos que estão hoje no governo estarão juntos na chapa de 2026.

Mas há necessidade de mudança?

Sempre é importante, a cada ano e a cada biênio, fazer uma avaliação, mas essa tarefa cabe ao próprio governo. Nós não vamos opinar, a menos que sejamos chamados a fazê-lo. Agora, se a intenção é garantir que este ou aquele partido esteja na chapa em 2026, dependendo do partido, seguramente o governo não terá essa garantia. Já vimos partidos que estavam no governo deixarem o cargo de ministro e, dois dias depois, votarem pelo impeachment de uma presidente. Ter cargo no governo não oferece garantia a ninguém de que amanhã estarão aqui ou ali. Muitos estarão onde for mais conveniente.

O senhor considera que o espaço do PSB no governo está à altura do partido?

Nós nunca vinculamos o apoio ao governo a ter mais ou menos espaço. É claro que todo partido tem como objetivo chegar ao poder, seja no âmbito central, local ou compondo. Obviamente, acredito que, se pudéssemos ter um espaço um pouco maior, seria melhor, sem dúvida.

O partido pretende pleitear espaço nessa possível reforma?

Não.

Por que o presidente Lula tem enfrentado dificuldades para melhorar sua aprovação?

Essa é uma questão central. Se compararmos o governo anterior, de Jair Bolsonaro, com o governo do presidente Lula, todos os indicadores deste governo são muito melhores. Então, fica a pergunta: por que continuamos com uma aprovação que é, digamos, mais ou menos meio a meio? A razão é, exclusivamente, política. Nós temos uma sociedade dividida ao meio, literalmente. E isso se reflete em uma certa irracionalidade, na qual o governo não é avaliado por suas realizações concretas e acertos programáticos, mas por razões políticas e ideológicas. Quando eu falei que precisamos nos conectar com certos setores da sociedade, cujos valores não são exatamente os nossos, mas precisamos respeitar, é exatamente por isso. É necessário agir politicamente para que esses índices possam melhorar. Fazer uma leitura correta e, se preciso, até uma autocrítica, para acertarmos na conexão com esses valores e com essas pessoas que pensam diferente da esquerda ou da centro-esquerda brasileira. A direita, e sobretudo a extrema direita, pode ser acusada de tudo, menos de incoerência. Eles são muito claros sobre os temas que defendem.

Em São Paulo, se o governador Tarcísio de Freitas não disputar a presidência, as pesquisas mostram que a reeleição dele está bem encaminhada. O senhor enxerga algum nome no campo progressista que poderia mudar esse quadro de favoritismo?

Eu não sei se isso mudará. O que sei é que as forças progressistas precisam ter um nome. No nosso caso, se tivermos uma candidatura, certamente será a do ministro Márcio França, que já disputou e quase venceu.

O senhor está no último mandato à frente do partido. Quem vai apoiar para a sua sucessão?

O nome que eu gostaria, e acredito que terei, é o do prefeito João Campos, do Recife. Acho que este é um momento importante, não só por representar uma mudança geracional, mas também por trazer experiência. Ele tem sido muito bem-sucedido, possui talento, muita capacidade e, apesar de jovem, já demonstrou muita maturidade. É uma espécie de lufada de juventude que o Brasil precisa. Se olharmos para o campo da direita e da extrema direita, vemos muitos jovens hoje na política com votações expressivas. No nosso campo, isso nos falta. Ter um jovem na presidência nacional, bem-sucedido, que se comunica muito bem e conseguiu dominar essa forma de comunicação direta com a população, pode ser uma oportunidade para atrair mais pessoas e renovar nossas lideranças. Com uma juventude dessa, um programa moderno que conseguimos construir na autorreforma do PSB, acredito que isso poderá nos projetar para futuras disputas.

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Há 10 anos na presidência do PSB e a poucos meses de passar o bastão para um sucessor — que, ao que tudo indica, será o prefeito do Recife, João Campos —, Carlos Siqueira defende a manutenção da dobradinha Lula-Alckmin em 2026. Para ele, trocar o vice não seria uma atitude de “bom senso” por parte do petista. “Nenhum presidente poderia desejar um vice melhor do que ele”, afirmou Siqueira em entrevista ao Estadão.

O dirigente partidário, que é contra antecipar as discussões eleitorais, avalia que 2025 será um ano em que o governo precisará “acertar mais do que tem acertado”. Siqueira também fez críticas à esquerda, afirmando que há insatisfação com os governos progressistas no Brasil e no mundo, o que, segundo ele, impõe a necessidade de uma autorrenovação. Para o presidente do PSB, o identitarismo com que a esquerda se apresenta precisa ser “repensado” para que o campo consiga se reconectar com o eleitorado evangélico.

Em 2026, Lula deve manter Alckmin como vice em uma eventual chapa à reeleição ou seria o momento de buscar uma renovação?

Se o presidente decidir concorrer à reeleição— e eu espero que seja o caso — não manter o Alckmin como vice não seria uma atitude de bom senso. E eu sempre considerei o presidente Lula alguém de bom senso e com a capacidade de reconhecer que um vice melhor do que o Alckmin ele não encontraria no Brasil. Alckmin é um homem que tem uma história bonita, longa, correta, além de ser um vice trabalhador e leal. O que mais se pode esperar de um vice?

Dentro do PSB, há outro nome que poderia substituir Alckmin?

Não. Nós achamos que ele é um vice ideal. Aliás, nenhum presidente poderia desejar um vice melhor do que ele. Se depender do PSB, ele continuará dando sua grande contribuição ao próximo governo.

Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB Foto: Aaron Phillipe/PSB/Divulgação

O que o senhor pensa sobre a ideia, já ventilada, de Lula ceder o espaço da vice para um partido mais ao centro, como o MDB?

As experiências com o MDB na vice nunca foram das melhores, haja vista o (José) Sarney, depois o (Michel) Temer. Mas as escolhas são feitas por quem tem o direito de escolher. Vamos aguardar. É muito cedo.

O apoio do PSB ao presidente Lula em 2026 está vinculado ao espaço da vice?

Temos que esperar o ano da eleição para discutir isso com mais profundidade. Quem determina as decisões públicas é a realidade, não a nossa cabeça ou apenas o nosso desejo.

Há quem questione as condições do presidente Lula para disputar a reeleição, devido à idade e à saúde. Como o senhor vê esse debate?

Tudo isso é importante de ser observado, mas, no momento, o foco de quem compõe o governo deve ser fazer com que ele melhore sua situação frente ao eleitorado, e não discutir a eleição. Não podemos fazer futurologia, pois não sabemos como estará o presidente Lula daqui a dois anos — espero que esteja bem e possa disputar a reeleição, mas isso será algo para observar mais à frente. Teremos um ano não eleitoral em 2025, e esse será um momento importante para o governo acertar mais do que tem acertado, melhorar as condições de vida dos brasileiros em diferentes setores e não ficar tratando especificamente de eleição. No Brasil, termina uma eleição e já se começa a falar da próxima, como se o País não tivesse problemas. Precisamos focar em resolver os problemas e deixar para tratar das eleições no momento certo.

Mas o senhor está entre os que defendem que Lula é, sem dúvida, o candidato à reeleição e ponto final, ou o senhor acredita que é importante considerar a construção de um outro nome, já que essa não é uma discussão simples?

Eu espero que ele esteja bem, desejo que se recupere dessa cirurgia que fez, volte bem e possa ser candidato. Acredito que Lula é o nome mais forte para ganhar a eleição de 2026. Não podemos antecipar essa discussão. Não se pode condenar ninguém à impossibilidade de disputa com tanta antecedência. Sem Lula, acredito que tudo precisará ser rediscutido, não tem uma solução fácil para o nosso campo político. É por isso que torço para que as coisas caminhem de forma positiva e que ele possa ser candidato. Vamos aguardar, porque antecipar essa discussão pode gerar muita insegurança, o que não é bom para o governo nem para a economia.

Quais lições a esquerda pode extrair das eleições municipais e o que é necessário fazer para evitar uma derrota em 2026?

As eleições municipais foram um recado muito duro do eleitor, porque ficou evidente uma vitória ampla das forças de centro-direita e até da extrema-direita. O partido do Bolsonaro foi o que mais teve candidatos disputando o segundo turno, enquanto a esquerda está no poder há praticamente dois anos. Isso evidencia que há necessidade de uma autorrenovação da esquerda brasileira e, de forma geral, da esquerda mundial. Há um grau de insatisfação com os governos progressistas que precisamos não apenas constatar, mas assumir essa necessidade de autorrenovação. No caso brasileiro, temos desafios ainda mais graves, pois houve um crescimento, nas últimas décadas, das religiões evangélicas neopentecostais, o que traz implicações políticas bastante significativas. Precisamos compreender como pessoas de classes sociais que seriam alvo de políticas públicas podem se reconectar com os partidos de esquerda, porque, em essência, nós temos mais possibilidade de ajudar essas pessoas a sair da situação de pobreza do que os partidos conservadores, que na verdade têm políticas que certamente agravariam essas situações. O identitarismo com que a esquerda se apresenta precisa ser repensado, exatamente para se conectar com essa parte significativa do eleitorado brasileiro, que é esse eleitor evangélico. E não só ele, porque outras religiões, como a católica, também têm setores mais conservadores. Nós temos também outros desafios. Eu acho que a esquerda brasileira hoje deve à sociedade brasileira um sonho, um sonho que esteja conectado com a realidade do País.

Nesse sentido, a esquerda precisa deixar esse debate das pautas identitárias de lado para se reconectar com esse público mais conservador?

Eu não sei se a esquerda toda fará isso, eu tenho certeza que não só PSB fará, como já tem feito. O PSB já não é tão identificado com essas pautas. Não que não se compreenda a necessidade de respeitar uma visão libertária que se pode ter da vida e do mundo, mas o PSB, não apenas agora, mas historicamente, nunca se conectou de forma excessiva e de forma exagerada a essas questões identitárias.

Há quem defenda que Lula faça um movimento ao centro e uma reforma ministerial. O senhor acha essas mudanças necessárias?

Isso já aconteceu. Eu não sei o que mais pode acontecer, porque partidos de centro o governo já tem, e são muitos.

Não vê espaço para ampliar mais?

Eu acho que não. A minha dúvida é se ampliando esses partidos que estão hoje no governo estarão juntos na chapa de 2026.

Mas há necessidade de mudança?

Sempre é importante, a cada ano e a cada biênio, fazer uma avaliação, mas essa tarefa cabe ao próprio governo. Nós não vamos opinar, a menos que sejamos chamados a fazê-lo. Agora, se a intenção é garantir que este ou aquele partido esteja na chapa em 2026, dependendo do partido, seguramente o governo não terá essa garantia. Já vimos partidos que estavam no governo deixarem o cargo de ministro e, dois dias depois, votarem pelo impeachment de uma presidente. Ter cargo no governo não oferece garantia a ninguém de que amanhã estarão aqui ou ali. Muitos estarão onde for mais conveniente.

O senhor considera que o espaço do PSB no governo está à altura do partido?

Nós nunca vinculamos o apoio ao governo a ter mais ou menos espaço. É claro que todo partido tem como objetivo chegar ao poder, seja no âmbito central, local ou compondo. Obviamente, acredito que, se pudéssemos ter um espaço um pouco maior, seria melhor, sem dúvida.

O partido pretende pleitear espaço nessa possível reforma?

Não.

Por que o presidente Lula tem enfrentado dificuldades para melhorar sua aprovação?

Essa é uma questão central. Se compararmos o governo anterior, de Jair Bolsonaro, com o governo do presidente Lula, todos os indicadores deste governo são muito melhores. Então, fica a pergunta: por que continuamos com uma aprovação que é, digamos, mais ou menos meio a meio? A razão é, exclusivamente, política. Nós temos uma sociedade dividida ao meio, literalmente. E isso se reflete em uma certa irracionalidade, na qual o governo não é avaliado por suas realizações concretas e acertos programáticos, mas por razões políticas e ideológicas. Quando eu falei que precisamos nos conectar com certos setores da sociedade, cujos valores não são exatamente os nossos, mas precisamos respeitar, é exatamente por isso. É necessário agir politicamente para que esses índices possam melhorar. Fazer uma leitura correta e, se preciso, até uma autocrítica, para acertarmos na conexão com esses valores e com essas pessoas que pensam diferente da esquerda ou da centro-esquerda brasileira. A direita, e sobretudo a extrema direita, pode ser acusada de tudo, menos de incoerência. Eles são muito claros sobre os temas que defendem.

Em São Paulo, se o governador Tarcísio de Freitas não disputar a presidência, as pesquisas mostram que a reeleição dele está bem encaminhada. O senhor enxerga algum nome no campo progressista que poderia mudar esse quadro de favoritismo?

Eu não sei se isso mudará. O que sei é que as forças progressistas precisam ter um nome. No nosso caso, se tivermos uma candidatura, certamente será a do ministro Márcio França, que já disputou e quase venceu.

O senhor está no último mandato à frente do partido. Quem vai apoiar para a sua sucessão?

O nome que eu gostaria, e acredito que terei, é o do prefeito João Campos, do Recife. Acho que este é um momento importante, não só por representar uma mudança geracional, mas também por trazer experiência. Ele tem sido muito bem-sucedido, possui talento, muita capacidade e, apesar de jovem, já demonstrou muita maturidade. É uma espécie de lufada de juventude que o Brasil precisa. Se olharmos para o campo da direita e da extrema direita, vemos muitos jovens hoje na política com votações expressivas. No nosso campo, isso nos falta. Ter um jovem na presidência nacional, bem-sucedido, que se comunica muito bem e conseguiu dominar essa forma de comunicação direta com a população, pode ser uma oportunidade para atrair mais pessoas e renovar nossas lideranças. Com uma juventude dessa, um programa moderno que conseguimos construir na autorreforma do PSB, acredito que isso poderá nos projetar para futuras disputas.

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Há 10 anos na presidência do PSB e a poucos meses de passar o bastão para um sucessor — que, ao que tudo indica, será o prefeito do Recife, João Campos —, Carlos Siqueira defende a manutenção da dobradinha Lula-Alckmin em 2026. Para ele, trocar o vice não seria uma atitude de “bom senso” por parte do petista. “Nenhum presidente poderia desejar um vice melhor do que ele”, afirmou Siqueira em entrevista ao Estadão.

O dirigente partidário, que é contra antecipar as discussões eleitorais, avalia que 2025 será um ano em que o governo precisará “acertar mais do que tem acertado”. Siqueira também fez críticas à esquerda, afirmando que há insatisfação com os governos progressistas no Brasil e no mundo, o que, segundo ele, impõe a necessidade de uma autorrenovação. Para o presidente do PSB, o identitarismo com que a esquerda se apresenta precisa ser “repensado” para que o campo consiga se reconectar com o eleitorado evangélico.

Em 2026, Lula deve manter Alckmin como vice em uma eventual chapa à reeleição ou seria o momento de buscar uma renovação?

Se o presidente decidir concorrer à reeleição— e eu espero que seja o caso — não manter o Alckmin como vice não seria uma atitude de bom senso. E eu sempre considerei o presidente Lula alguém de bom senso e com a capacidade de reconhecer que um vice melhor do que o Alckmin ele não encontraria no Brasil. Alckmin é um homem que tem uma história bonita, longa, correta, além de ser um vice trabalhador e leal. O que mais se pode esperar de um vice?

Dentro do PSB, há outro nome que poderia substituir Alckmin?

Não. Nós achamos que ele é um vice ideal. Aliás, nenhum presidente poderia desejar um vice melhor do que ele. Se depender do PSB, ele continuará dando sua grande contribuição ao próximo governo.

Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB Foto: Aaron Phillipe/PSB/Divulgação

O que o senhor pensa sobre a ideia, já ventilada, de Lula ceder o espaço da vice para um partido mais ao centro, como o MDB?

As experiências com o MDB na vice nunca foram das melhores, haja vista o (José) Sarney, depois o (Michel) Temer. Mas as escolhas são feitas por quem tem o direito de escolher. Vamos aguardar. É muito cedo.

O apoio do PSB ao presidente Lula em 2026 está vinculado ao espaço da vice?

Temos que esperar o ano da eleição para discutir isso com mais profundidade. Quem determina as decisões públicas é a realidade, não a nossa cabeça ou apenas o nosso desejo.

Há quem questione as condições do presidente Lula para disputar a reeleição, devido à idade e à saúde. Como o senhor vê esse debate?

Tudo isso é importante de ser observado, mas, no momento, o foco de quem compõe o governo deve ser fazer com que ele melhore sua situação frente ao eleitorado, e não discutir a eleição. Não podemos fazer futurologia, pois não sabemos como estará o presidente Lula daqui a dois anos — espero que esteja bem e possa disputar a reeleição, mas isso será algo para observar mais à frente. Teremos um ano não eleitoral em 2025, e esse será um momento importante para o governo acertar mais do que tem acertado, melhorar as condições de vida dos brasileiros em diferentes setores e não ficar tratando especificamente de eleição. No Brasil, termina uma eleição e já se começa a falar da próxima, como se o País não tivesse problemas. Precisamos focar em resolver os problemas e deixar para tratar das eleições no momento certo.

Mas o senhor está entre os que defendem que Lula é, sem dúvida, o candidato à reeleição e ponto final, ou o senhor acredita que é importante considerar a construção de um outro nome, já que essa não é uma discussão simples?

Eu espero que ele esteja bem, desejo que se recupere dessa cirurgia que fez, volte bem e possa ser candidato. Acredito que Lula é o nome mais forte para ganhar a eleição de 2026. Não podemos antecipar essa discussão. Não se pode condenar ninguém à impossibilidade de disputa com tanta antecedência. Sem Lula, acredito que tudo precisará ser rediscutido, não tem uma solução fácil para o nosso campo político. É por isso que torço para que as coisas caminhem de forma positiva e que ele possa ser candidato. Vamos aguardar, porque antecipar essa discussão pode gerar muita insegurança, o que não é bom para o governo nem para a economia.

Quais lições a esquerda pode extrair das eleições municipais e o que é necessário fazer para evitar uma derrota em 2026?

As eleições municipais foram um recado muito duro do eleitor, porque ficou evidente uma vitória ampla das forças de centro-direita e até da extrema-direita. O partido do Bolsonaro foi o que mais teve candidatos disputando o segundo turno, enquanto a esquerda está no poder há praticamente dois anos. Isso evidencia que há necessidade de uma autorrenovação da esquerda brasileira e, de forma geral, da esquerda mundial. Há um grau de insatisfação com os governos progressistas que precisamos não apenas constatar, mas assumir essa necessidade de autorrenovação. No caso brasileiro, temos desafios ainda mais graves, pois houve um crescimento, nas últimas décadas, das religiões evangélicas neopentecostais, o que traz implicações políticas bastante significativas. Precisamos compreender como pessoas de classes sociais que seriam alvo de políticas públicas podem se reconectar com os partidos de esquerda, porque, em essência, nós temos mais possibilidade de ajudar essas pessoas a sair da situação de pobreza do que os partidos conservadores, que na verdade têm políticas que certamente agravariam essas situações. O identitarismo com que a esquerda se apresenta precisa ser repensado, exatamente para se conectar com essa parte significativa do eleitorado brasileiro, que é esse eleitor evangélico. E não só ele, porque outras religiões, como a católica, também têm setores mais conservadores. Nós temos também outros desafios. Eu acho que a esquerda brasileira hoje deve à sociedade brasileira um sonho, um sonho que esteja conectado com a realidade do País.

Nesse sentido, a esquerda precisa deixar esse debate das pautas identitárias de lado para se reconectar com esse público mais conservador?

Eu não sei se a esquerda toda fará isso, eu tenho certeza que não só PSB fará, como já tem feito. O PSB já não é tão identificado com essas pautas. Não que não se compreenda a necessidade de respeitar uma visão libertária que se pode ter da vida e do mundo, mas o PSB, não apenas agora, mas historicamente, nunca se conectou de forma excessiva e de forma exagerada a essas questões identitárias.

Há quem defenda que Lula faça um movimento ao centro e uma reforma ministerial. O senhor acha essas mudanças necessárias?

Isso já aconteceu. Eu não sei o que mais pode acontecer, porque partidos de centro o governo já tem, e são muitos.

Não vê espaço para ampliar mais?

Eu acho que não. A minha dúvida é se ampliando esses partidos que estão hoje no governo estarão juntos na chapa de 2026.

Mas há necessidade de mudança?

Sempre é importante, a cada ano e a cada biênio, fazer uma avaliação, mas essa tarefa cabe ao próprio governo. Nós não vamos opinar, a menos que sejamos chamados a fazê-lo. Agora, se a intenção é garantir que este ou aquele partido esteja na chapa em 2026, dependendo do partido, seguramente o governo não terá essa garantia. Já vimos partidos que estavam no governo deixarem o cargo de ministro e, dois dias depois, votarem pelo impeachment de uma presidente. Ter cargo no governo não oferece garantia a ninguém de que amanhã estarão aqui ou ali. Muitos estarão onde for mais conveniente.

O senhor considera que o espaço do PSB no governo está à altura do partido?

Nós nunca vinculamos o apoio ao governo a ter mais ou menos espaço. É claro que todo partido tem como objetivo chegar ao poder, seja no âmbito central, local ou compondo. Obviamente, acredito que, se pudéssemos ter um espaço um pouco maior, seria melhor, sem dúvida.

O partido pretende pleitear espaço nessa possível reforma?

Não.

Por que o presidente Lula tem enfrentado dificuldades para melhorar sua aprovação?

Essa é uma questão central. Se compararmos o governo anterior, de Jair Bolsonaro, com o governo do presidente Lula, todos os indicadores deste governo são muito melhores. Então, fica a pergunta: por que continuamos com uma aprovação que é, digamos, mais ou menos meio a meio? A razão é, exclusivamente, política. Nós temos uma sociedade dividida ao meio, literalmente. E isso se reflete em uma certa irracionalidade, na qual o governo não é avaliado por suas realizações concretas e acertos programáticos, mas por razões políticas e ideológicas. Quando eu falei que precisamos nos conectar com certos setores da sociedade, cujos valores não são exatamente os nossos, mas precisamos respeitar, é exatamente por isso. É necessário agir politicamente para que esses índices possam melhorar. Fazer uma leitura correta e, se preciso, até uma autocrítica, para acertarmos na conexão com esses valores e com essas pessoas que pensam diferente da esquerda ou da centro-esquerda brasileira. A direita, e sobretudo a extrema direita, pode ser acusada de tudo, menos de incoerência. Eles são muito claros sobre os temas que defendem.

Em São Paulo, se o governador Tarcísio de Freitas não disputar a presidência, as pesquisas mostram que a reeleição dele está bem encaminhada. O senhor enxerga algum nome no campo progressista que poderia mudar esse quadro de favoritismo?

Eu não sei se isso mudará. O que sei é que as forças progressistas precisam ter um nome. No nosso caso, se tivermos uma candidatura, certamente será a do ministro Márcio França, que já disputou e quase venceu.

O senhor está no último mandato à frente do partido. Quem vai apoiar para a sua sucessão?

O nome que eu gostaria, e acredito que terei, é o do prefeito João Campos, do Recife. Acho que este é um momento importante, não só por representar uma mudança geracional, mas também por trazer experiência. Ele tem sido muito bem-sucedido, possui talento, muita capacidade e, apesar de jovem, já demonstrou muita maturidade. É uma espécie de lufada de juventude que o Brasil precisa. Se olharmos para o campo da direita e da extrema direita, vemos muitos jovens hoje na política com votações expressivas. No nosso campo, isso nos falta. Ter um jovem na presidência nacional, bem-sucedido, que se comunica muito bem e conseguiu dominar essa forma de comunicação direta com a população, pode ser uma oportunidade para atrair mais pessoas e renovar nossas lideranças. Com uma juventude dessa, um programa moderno que conseguimos construir na autorreforma do PSB, acredito que isso poderá nos projetar para futuras disputas.

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Entrevista por Bianca Gomes

Repórter de Política em São Paulo. Antes, foi estagiária e trainee do Estadão e trabalhou por três anos na sucursal do Jornal O Globo em São Paulo, escrevendo sobre política e cidades. Formada pela ESPM.

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