BRASÍLIA - Após um temporal causar inundações na noite desta terça-feira, 23, em Belo Horizonte, internautas resgataram um voto contrário do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) a um projeto que buscava conter as enchentes na cidade. A proposta foi encaminhada em 2021 para a Câmara Municipal da capital mineira e Nikolas, que então era vereador, celebrou a derrubada.
De acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais, 26% do volume de chuva esperado para o mês de janeiro caiu na capital mineira em apenas três horas da noite desta terça. Avenidas foram tomadas pelas inundações e um homem precisou ser resgatado após ficar ilhado. Moradores também registraram quedas de árvores na região. Segundo o governo mineiro, há previsão de temporais intensos até o próximo domingo, 28.
Em março de 2021, o então prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) pediu para que os vereadores aprovassem um empréstimo para o Programa de Redução de Riscos de Inundações e Melhorias Urbanas na Bacia do Ribeirão Isidoro, que fica localizado na zona norte de BH. A proposta incluía a utilização de uma verba de U$$ 160 milhões (cerca de R$ 780 milhões em quantias atuais) para a urbanização de áreas de risco localizadas na região.
Para ser aprovado, o empréstimo deveria ter 28 votos dos vereadores mineiros, mas obteve 27. No dia da votação, Nikolas, que foi um dos 12 vereadores que votaram contra, celebrou a derrubada do projeto e chamou Kalil de “Gargamel”, uma referência ao antagonista do desenho infantil “Smurfs”.
“Derrubamos o empréstimo de 1 bilhão que a prefeitura solicitou pra câmara. Jamais entregaria esse dinheiro nas mãos de um irresponsável como você. A cidade não é sua, Gargamel. Durma bem”, afirmou Nikolas em março de 2021.
Rival político de Nikolas, o deputado federal André Janones (Avante-MG) disse em suas redes sociais que a cidade estaria sofrendo com as enchentes por causa do bolsonarista. “Belo Horizonte está acabando debaixo d’água por causa de um único voto que impediu obras pra conter enchentes na capital mineira e adivinha de quem foi esse voto quando era vereador por BH? Sim dele mesmo, Nikolas Ferreira”, disse Janones.
Em outra publicação, Janones mostrou um vídeo de uma casa que foi atingida pela enchente na noite desta terça, também associando o aliado de Bolsonaro aos efeitos do temporal: “Essa é a consequência da imaturidade política do Nikolas Ferreira, ele é culpado por esse sofrimento”.
Outros perfis também resgataram o voto dado pelo bolsonarista após as fortes chuvas. “Quem mora em Belo Horizonte e votou no Nikolas lembre-se que ele ajudou a cortar verbas de combate a enchentes”, escreveu um internauta.
“Belo Horizonte enfrenta graves enchentes devido a um voto que bloqueou obras cruciais para conter as inundações. Não surpreendentemente esse voto veio de Nikolas Ferreira, ex-vereador da cidade. Seu histórico de inatividade e foco em ‘mitadas’ em vídeos prejudica a população”, disse outro perfil.
Nikolas diz que críticas são ‘uso político de tragédia’
Também pelas redes, Nikolas publicou um vídeo para se defender das críticas nesta quarta-feira, 24. O deputado afirmou que o projeto de Kalil não iria mitigar as enchentes na cidade e criticou os opositores, afirmando que eles querem “usar politicamente uma tragédia”. “Se pedir empréstimo fosse solução para Belo Horizonte, BH seria Dubai”, disse.
“Assim como quase todos nós, eu me sinto impotente diante de tudo isso, e a gente ainda tem que ficar aguentando pessoas nos atacando e pedindo para a gente virar um super herói. Caso contrário, você é uma pessoa que não tem empatia pelo o que está acontecendo. Eu sei que é uma tática muito baixa, mas os nossos opositores têm esse nível mesmo”, afirmou Nikolas.
Em nota enviada ao Estadão, o deputado do PL disse que o projeto proposto pelo ex-prefeito não tinha um estudo de impacto ou viabilidade econômica. “Considerando a falta de transparência, eu e diversos vereadores entendemos que daquela forma não teria como aprovar o projeto. O pagador de impostos de Belo Horizonte deveria, no mínimo, saber o impacto do empréstimo nas contas públicas e como ele seria pago”. disse.
“Dessa forma, os votos contrários ao projeto estavam em consonância com o que ditam as boas práticas da gestão pública e finanças públicas, sobretudo respeitando os princípios da transparência e eficiência administrativa”, completou Nikolas.