No Pantanal, boiadeiro pró-Lula é boicotado por fazendeiros: ‘cortamos o sustento dele’; ouça áudios


Após boiadeiro eleitor de Lula enviar áudio de brincadeira para amigo bolsonarista, mensagem foi disseminada em grupos de fazendeiros do Mato Grosso do Sul: “Não é pra atender ele mais, não, de jeito nenhum. Esse aí, acho que nós já cortamos o sustento dele, é deixar pra ele depender do PT agora”.

Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - No dia 3 de outubro, um dia após o primeiro turno, o boiadeiro Edson José Ferreira, o “Zangão”, enviou uma mensagem de áudio a um amigo próximo. Eleitor de Lula e morador do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, Zangão brincava com o colega, em uma mensagem enviada pelo Whatsapp.

“Bom dia. Dia 30 nós vamos levar, hein. Cadê os Bolsonaro? Tacaram muito tiro aí essa noite? Parece que tá todo mundo quieto, não falam mais nada... Quero ver se o PT não vai voltar pra lá. Quero ver se não vai melhorar as coisas, tirar esse Bolsonaro roubando do outros aí”, disse Zangão.

Um conhecido que estava ao lado, porém, pediu para receber a mensagem e, ato contínuo, disparou o áudio para grupos de fazendeiros e funcionários de propriedades rurais que atuam em Camapuã e Rio Verde, municípios rurais da região nordeste do Mato Grosso do Sul.

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Zangão, que tem 46 anos de idade e trabalha como boiadeiro desde os 15 anos, não tinha ideia em que a brincadeira com o colega se transformaria. Imediatamente, fazendeiros e administradores de fazendas começaram a disparar áudios pedindo o boicote ao trabalhador, por ser eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva. Zangão, que é dono de uma tropa de burros e se reúne com mais homens para fazer o transporte de gado no Estado, é conhecido em toda a região e sempre viveu de levar e trazer bois entre as fazendas.

Edson José Ferreira, o “Zangão”, boiadeiro no Mato Grosso do Sul desde os 15 anos de idade Foto: divul
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Um dos áudios que pedem boicote e ofendem o boiadeiro foi disparado em grupos por uma pessoa que se identifica como Silvio Flores, administrador de fazendas na região. “Imediatamente, liguei para a (Fazenda) Marcela e expus o ocorrido. Liguei para o capataz da (Fazenda) Divino e falei que, lá, água pra ele, só do curixo”, afirma Flores, conforme áudio obtido pela reportagem. A expressão regional “água de corixo” geralmente é usada para se referir a pessoas banidas socialmente pelos pantaneiros, às quais nem água se oferece.

“Não é pra atender ele mais, não, de jeito nenhum. Muitos outros já mandaram ele sumir de lá. Aí eu falei pra ele que, agora, é pra ele pedir pro PT fazer mangueiro na estrada pra ele pousar. Esse aí, acho que nós já cortamos o sustento dele, é deixar pra ele depender do PT agora. Sou 22, sou 28, e estamos juntos na batalha”, disse Flores.

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Outros fazendeiros também se manifestaram contra o boiadeiro, apesar de conhecê-lo há muitos anos e manterem boa relação com o peão. Ao Estadão, Zangão confirmou os fatos e disse que jamais imaginava que seria vítima de perseguição.

“Eu voto em Lula. Enviei uma mensagem a um amigo que vota em Bolsonaro, fazendo uma brincadeira com ele. Um colega dele que estava do lado pediu a mensagem e enviou pra todos, e foi isso que aconteceu, a coisa espalhou pelo pantanal inteiro”, diz Zangão.

Um dia depois do áudio, Zangão foi até uma fazenda para a qual sempre trabalhou. Chegando lá, recebeu conselhos do dono. “Ele disse pra mim que era pra por a bandeira do Brasil no meu carro, pra colar os adesivos do Bolsonaro, senão eu ia ser ainda mais prejudicado”, comenta.

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A base ruralista é hoje o principal grupo apoiador de Jair Bolsonaro, ao lado da bancada evangélica e da bancada da bala, que defende o armamento da população. Havia a expectativa desses grupos de que o presidente Bolsonaro, embora estivesse atrás em todas as pesquisas de intenção de voto, fosse eleito no primeiro turno, como o próprio presidente chegou a dizer que seria, com 60% das intenções de voto. A confirmação do segundo turno, portanto, frustrou as previsões.

Em outro áudio, um dos integrantes do grupo de fazendeiros sentencia. “Ouve esse áudio aí. O cara que não tem o que fazer, faz política no lugar errado, na hora errada, no dia errado. Pisou no lugar errado, onde foi estava errado, se lascou no lugar errado.”

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Outro participante do grupo ri da situação, ao dizer que Zangão “tomou no c..” e que um fazendeiro da região, ao saber que seus funcionários votariam em Lula, mandou todos embora. “É aquele Zangão de Camapuã, ele faz umas viagens aqui para um patrão dele em Rio Verde. O povo até gostava dele, ele tomou no c... esse Zangão. Um (inaudível, fazendo referência a um fazendeiro) mandou os peões tudo embora, que estavam carteando o PT. Mandou tudo embora, falou que tá tudo demitido. Falou que, se o Lula ganhar, ele arrenda a fazenda para quem quiser, mas peão do PT, ele não vai querer lá, não.”

O boiadeiro Zangão confirmou a veracidade das mensagens dos fazendeiros e administradores e disse que vai procurar um advogado nesta quinta-feira, 6, para ver que atitudes poderia tomar a respeito.

BRASÍLIA - No dia 3 de outubro, um dia após o primeiro turno, o boiadeiro Edson José Ferreira, o “Zangão”, enviou uma mensagem de áudio a um amigo próximo. Eleitor de Lula e morador do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, Zangão brincava com o colega, em uma mensagem enviada pelo Whatsapp.

“Bom dia. Dia 30 nós vamos levar, hein. Cadê os Bolsonaro? Tacaram muito tiro aí essa noite? Parece que tá todo mundo quieto, não falam mais nada... Quero ver se o PT não vai voltar pra lá. Quero ver se não vai melhorar as coisas, tirar esse Bolsonaro roubando do outros aí”, disse Zangão.

Um conhecido que estava ao lado, porém, pediu para receber a mensagem e, ato contínuo, disparou o áudio para grupos de fazendeiros e funcionários de propriedades rurais que atuam em Camapuã e Rio Verde, municípios rurais da região nordeste do Mato Grosso do Sul.

Zangão, que tem 46 anos de idade e trabalha como boiadeiro desde os 15 anos, não tinha ideia em que a brincadeira com o colega se transformaria. Imediatamente, fazendeiros e administradores de fazendas começaram a disparar áudios pedindo o boicote ao trabalhador, por ser eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva. Zangão, que é dono de uma tropa de burros e se reúne com mais homens para fazer o transporte de gado no Estado, é conhecido em toda a região e sempre viveu de levar e trazer bois entre as fazendas.

Edson José Ferreira, o “Zangão”, boiadeiro no Mato Grosso do Sul desde os 15 anos de idade Foto: divul

Um dos áudios que pedem boicote e ofendem o boiadeiro foi disparado em grupos por uma pessoa que se identifica como Silvio Flores, administrador de fazendas na região. “Imediatamente, liguei para a (Fazenda) Marcela e expus o ocorrido. Liguei para o capataz da (Fazenda) Divino e falei que, lá, água pra ele, só do curixo”, afirma Flores, conforme áudio obtido pela reportagem. A expressão regional “água de corixo” geralmente é usada para se referir a pessoas banidas socialmente pelos pantaneiros, às quais nem água se oferece.

“Não é pra atender ele mais, não, de jeito nenhum. Muitos outros já mandaram ele sumir de lá. Aí eu falei pra ele que, agora, é pra ele pedir pro PT fazer mangueiro na estrada pra ele pousar. Esse aí, acho que nós já cortamos o sustento dele, é deixar pra ele depender do PT agora. Sou 22, sou 28, e estamos juntos na batalha”, disse Flores.

Outros fazendeiros também se manifestaram contra o boiadeiro, apesar de conhecê-lo há muitos anos e manterem boa relação com o peão. Ao Estadão, Zangão confirmou os fatos e disse que jamais imaginava que seria vítima de perseguição.

“Eu voto em Lula. Enviei uma mensagem a um amigo que vota em Bolsonaro, fazendo uma brincadeira com ele. Um colega dele que estava do lado pediu a mensagem e enviou pra todos, e foi isso que aconteceu, a coisa espalhou pelo pantanal inteiro”, diz Zangão.

Um dia depois do áudio, Zangão foi até uma fazenda para a qual sempre trabalhou. Chegando lá, recebeu conselhos do dono. “Ele disse pra mim que era pra por a bandeira do Brasil no meu carro, pra colar os adesivos do Bolsonaro, senão eu ia ser ainda mais prejudicado”, comenta.

A base ruralista é hoje o principal grupo apoiador de Jair Bolsonaro, ao lado da bancada evangélica e da bancada da bala, que defende o armamento da população. Havia a expectativa desses grupos de que o presidente Bolsonaro, embora estivesse atrás em todas as pesquisas de intenção de voto, fosse eleito no primeiro turno, como o próprio presidente chegou a dizer que seria, com 60% das intenções de voto. A confirmação do segundo turno, portanto, frustrou as previsões.

Em outro áudio, um dos integrantes do grupo de fazendeiros sentencia. “Ouve esse áudio aí. O cara que não tem o que fazer, faz política no lugar errado, na hora errada, no dia errado. Pisou no lugar errado, onde foi estava errado, se lascou no lugar errado.”

Outro participante do grupo ri da situação, ao dizer que Zangão “tomou no c..” e que um fazendeiro da região, ao saber que seus funcionários votariam em Lula, mandou todos embora. “É aquele Zangão de Camapuã, ele faz umas viagens aqui para um patrão dele em Rio Verde. O povo até gostava dele, ele tomou no c... esse Zangão. Um (inaudível, fazendo referência a um fazendeiro) mandou os peões tudo embora, que estavam carteando o PT. Mandou tudo embora, falou que tá tudo demitido. Falou que, se o Lula ganhar, ele arrenda a fazenda para quem quiser, mas peão do PT, ele não vai querer lá, não.”

O boiadeiro Zangão confirmou a veracidade das mensagens dos fazendeiros e administradores e disse que vai procurar um advogado nesta quinta-feira, 6, para ver que atitudes poderia tomar a respeito.

BRASÍLIA - No dia 3 de outubro, um dia após o primeiro turno, o boiadeiro Edson José Ferreira, o “Zangão”, enviou uma mensagem de áudio a um amigo próximo. Eleitor de Lula e morador do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, Zangão brincava com o colega, em uma mensagem enviada pelo Whatsapp.

“Bom dia. Dia 30 nós vamos levar, hein. Cadê os Bolsonaro? Tacaram muito tiro aí essa noite? Parece que tá todo mundo quieto, não falam mais nada... Quero ver se o PT não vai voltar pra lá. Quero ver se não vai melhorar as coisas, tirar esse Bolsonaro roubando do outros aí”, disse Zangão.

Um conhecido que estava ao lado, porém, pediu para receber a mensagem e, ato contínuo, disparou o áudio para grupos de fazendeiros e funcionários de propriedades rurais que atuam em Camapuã e Rio Verde, municípios rurais da região nordeste do Mato Grosso do Sul.

Zangão, que tem 46 anos de idade e trabalha como boiadeiro desde os 15 anos, não tinha ideia em que a brincadeira com o colega se transformaria. Imediatamente, fazendeiros e administradores de fazendas começaram a disparar áudios pedindo o boicote ao trabalhador, por ser eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva. Zangão, que é dono de uma tropa de burros e se reúne com mais homens para fazer o transporte de gado no Estado, é conhecido em toda a região e sempre viveu de levar e trazer bois entre as fazendas.

Edson José Ferreira, o “Zangão”, boiadeiro no Mato Grosso do Sul desde os 15 anos de idade Foto: divul

Um dos áudios que pedem boicote e ofendem o boiadeiro foi disparado em grupos por uma pessoa que se identifica como Silvio Flores, administrador de fazendas na região. “Imediatamente, liguei para a (Fazenda) Marcela e expus o ocorrido. Liguei para o capataz da (Fazenda) Divino e falei que, lá, água pra ele, só do curixo”, afirma Flores, conforme áudio obtido pela reportagem. A expressão regional “água de corixo” geralmente é usada para se referir a pessoas banidas socialmente pelos pantaneiros, às quais nem água se oferece.

“Não é pra atender ele mais, não, de jeito nenhum. Muitos outros já mandaram ele sumir de lá. Aí eu falei pra ele que, agora, é pra ele pedir pro PT fazer mangueiro na estrada pra ele pousar. Esse aí, acho que nós já cortamos o sustento dele, é deixar pra ele depender do PT agora. Sou 22, sou 28, e estamos juntos na batalha”, disse Flores.

Outros fazendeiros também se manifestaram contra o boiadeiro, apesar de conhecê-lo há muitos anos e manterem boa relação com o peão. Ao Estadão, Zangão confirmou os fatos e disse que jamais imaginava que seria vítima de perseguição.

“Eu voto em Lula. Enviei uma mensagem a um amigo que vota em Bolsonaro, fazendo uma brincadeira com ele. Um colega dele que estava do lado pediu a mensagem e enviou pra todos, e foi isso que aconteceu, a coisa espalhou pelo pantanal inteiro”, diz Zangão.

Um dia depois do áudio, Zangão foi até uma fazenda para a qual sempre trabalhou. Chegando lá, recebeu conselhos do dono. “Ele disse pra mim que era pra por a bandeira do Brasil no meu carro, pra colar os adesivos do Bolsonaro, senão eu ia ser ainda mais prejudicado”, comenta.

A base ruralista é hoje o principal grupo apoiador de Jair Bolsonaro, ao lado da bancada evangélica e da bancada da bala, que defende o armamento da população. Havia a expectativa desses grupos de que o presidente Bolsonaro, embora estivesse atrás em todas as pesquisas de intenção de voto, fosse eleito no primeiro turno, como o próprio presidente chegou a dizer que seria, com 60% das intenções de voto. A confirmação do segundo turno, portanto, frustrou as previsões.

Em outro áudio, um dos integrantes do grupo de fazendeiros sentencia. “Ouve esse áudio aí. O cara que não tem o que fazer, faz política no lugar errado, na hora errada, no dia errado. Pisou no lugar errado, onde foi estava errado, se lascou no lugar errado.”

Outro participante do grupo ri da situação, ao dizer que Zangão “tomou no c..” e que um fazendeiro da região, ao saber que seus funcionários votariam em Lula, mandou todos embora. “É aquele Zangão de Camapuã, ele faz umas viagens aqui para um patrão dele em Rio Verde. O povo até gostava dele, ele tomou no c... esse Zangão. Um (inaudível, fazendo referência a um fazendeiro) mandou os peões tudo embora, que estavam carteando o PT. Mandou tudo embora, falou que tá tudo demitido. Falou que, se o Lula ganhar, ele arrenda a fazenda para quem quiser, mas peão do PT, ele não vai querer lá, não.”

O boiadeiro Zangão confirmou a veracidade das mensagens dos fazendeiros e administradores e disse que vai procurar um advogado nesta quinta-feira, 6, para ver que atitudes poderia tomar a respeito.

BRASÍLIA - No dia 3 de outubro, um dia após o primeiro turno, o boiadeiro Edson José Ferreira, o “Zangão”, enviou uma mensagem de áudio a um amigo próximo. Eleitor de Lula e morador do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, Zangão brincava com o colega, em uma mensagem enviada pelo Whatsapp.

“Bom dia. Dia 30 nós vamos levar, hein. Cadê os Bolsonaro? Tacaram muito tiro aí essa noite? Parece que tá todo mundo quieto, não falam mais nada... Quero ver se o PT não vai voltar pra lá. Quero ver se não vai melhorar as coisas, tirar esse Bolsonaro roubando do outros aí”, disse Zangão.

Um conhecido que estava ao lado, porém, pediu para receber a mensagem e, ato contínuo, disparou o áudio para grupos de fazendeiros e funcionários de propriedades rurais que atuam em Camapuã e Rio Verde, municípios rurais da região nordeste do Mato Grosso do Sul.

Zangão, que tem 46 anos de idade e trabalha como boiadeiro desde os 15 anos, não tinha ideia em que a brincadeira com o colega se transformaria. Imediatamente, fazendeiros e administradores de fazendas começaram a disparar áudios pedindo o boicote ao trabalhador, por ser eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva. Zangão, que é dono de uma tropa de burros e se reúne com mais homens para fazer o transporte de gado no Estado, é conhecido em toda a região e sempre viveu de levar e trazer bois entre as fazendas.

Edson José Ferreira, o “Zangão”, boiadeiro no Mato Grosso do Sul desde os 15 anos de idade Foto: divul

Um dos áudios que pedem boicote e ofendem o boiadeiro foi disparado em grupos por uma pessoa que se identifica como Silvio Flores, administrador de fazendas na região. “Imediatamente, liguei para a (Fazenda) Marcela e expus o ocorrido. Liguei para o capataz da (Fazenda) Divino e falei que, lá, água pra ele, só do curixo”, afirma Flores, conforme áudio obtido pela reportagem. A expressão regional “água de corixo” geralmente é usada para se referir a pessoas banidas socialmente pelos pantaneiros, às quais nem água se oferece.

“Não é pra atender ele mais, não, de jeito nenhum. Muitos outros já mandaram ele sumir de lá. Aí eu falei pra ele que, agora, é pra ele pedir pro PT fazer mangueiro na estrada pra ele pousar. Esse aí, acho que nós já cortamos o sustento dele, é deixar pra ele depender do PT agora. Sou 22, sou 28, e estamos juntos na batalha”, disse Flores.

Outros fazendeiros também se manifestaram contra o boiadeiro, apesar de conhecê-lo há muitos anos e manterem boa relação com o peão. Ao Estadão, Zangão confirmou os fatos e disse que jamais imaginava que seria vítima de perseguição.

“Eu voto em Lula. Enviei uma mensagem a um amigo que vota em Bolsonaro, fazendo uma brincadeira com ele. Um colega dele que estava do lado pediu a mensagem e enviou pra todos, e foi isso que aconteceu, a coisa espalhou pelo pantanal inteiro”, diz Zangão.

Um dia depois do áudio, Zangão foi até uma fazenda para a qual sempre trabalhou. Chegando lá, recebeu conselhos do dono. “Ele disse pra mim que era pra por a bandeira do Brasil no meu carro, pra colar os adesivos do Bolsonaro, senão eu ia ser ainda mais prejudicado”, comenta.

A base ruralista é hoje o principal grupo apoiador de Jair Bolsonaro, ao lado da bancada evangélica e da bancada da bala, que defende o armamento da população. Havia a expectativa desses grupos de que o presidente Bolsonaro, embora estivesse atrás em todas as pesquisas de intenção de voto, fosse eleito no primeiro turno, como o próprio presidente chegou a dizer que seria, com 60% das intenções de voto. A confirmação do segundo turno, portanto, frustrou as previsões.

Em outro áudio, um dos integrantes do grupo de fazendeiros sentencia. “Ouve esse áudio aí. O cara que não tem o que fazer, faz política no lugar errado, na hora errada, no dia errado. Pisou no lugar errado, onde foi estava errado, se lascou no lugar errado.”

Outro participante do grupo ri da situação, ao dizer que Zangão “tomou no c..” e que um fazendeiro da região, ao saber que seus funcionários votariam em Lula, mandou todos embora. “É aquele Zangão de Camapuã, ele faz umas viagens aqui para um patrão dele em Rio Verde. O povo até gostava dele, ele tomou no c... esse Zangão. Um (inaudível, fazendo referência a um fazendeiro) mandou os peões tudo embora, que estavam carteando o PT. Mandou tudo embora, falou que tá tudo demitido. Falou que, se o Lula ganhar, ele arrenda a fazenda para quem quiser, mas peão do PT, ele não vai querer lá, não.”

O boiadeiro Zangão confirmou a veracidade das mensagens dos fazendeiros e administradores e disse que vai procurar um advogado nesta quinta-feira, 6, para ver que atitudes poderia tomar a respeito.

BRASÍLIA - No dia 3 de outubro, um dia após o primeiro turno, o boiadeiro Edson José Ferreira, o “Zangão”, enviou uma mensagem de áudio a um amigo próximo. Eleitor de Lula e morador do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, Zangão brincava com o colega, em uma mensagem enviada pelo Whatsapp.

“Bom dia. Dia 30 nós vamos levar, hein. Cadê os Bolsonaro? Tacaram muito tiro aí essa noite? Parece que tá todo mundo quieto, não falam mais nada... Quero ver se o PT não vai voltar pra lá. Quero ver se não vai melhorar as coisas, tirar esse Bolsonaro roubando do outros aí”, disse Zangão.

Um conhecido que estava ao lado, porém, pediu para receber a mensagem e, ato contínuo, disparou o áudio para grupos de fazendeiros e funcionários de propriedades rurais que atuam em Camapuã e Rio Verde, municípios rurais da região nordeste do Mato Grosso do Sul.

Zangão, que tem 46 anos de idade e trabalha como boiadeiro desde os 15 anos, não tinha ideia em que a brincadeira com o colega se transformaria. Imediatamente, fazendeiros e administradores de fazendas começaram a disparar áudios pedindo o boicote ao trabalhador, por ser eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva. Zangão, que é dono de uma tropa de burros e se reúne com mais homens para fazer o transporte de gado no Estado, é conhecido em toda a região e sempre viveu de levar e trazer bois entre as fazendas.

Edson José Ferreira, o “Zangão”, boiadeiro no Mato Grosso do Sul desde os 15 anos de idade Foto: divul

Um dos áudios que pedem boicote e ofendem o boiadeiro foi disparado em grupos por uma pessoa que se identifica como Silvio Flores, administrador de fazendas na região. “Imediatamente, liguei para a (Fazenda) Marcela e expus o ocorrido. Liguei para o capataz da (Fazenda) Divino e falei que, lá, água pra ele, só do curixo”, afirma Flores, conforme áudio obtido pela reportagem. A expressão regional “água de corixo” geralmente é usada para se referir a pessoas banidas socialmente pelos pantaneiros, às quais nem água se oferece.

“Não é pra atender ele mais, não, de jeito nenhum. Muitos outros já mandaram ele sumir de lá. Aí eu falei pra ele que, agora, é pra ele pedir pro PT fazer mangueiro na estrada pra ele pousar. Esse aí, acho que nós já cortamos o sustento dele, é deixar pra ele depender do PT agora. Sou 22, sou 28, e estamos juntos na batalha”, disse Flores.

Outros fazendeiros também se manifestaram contra o boiadeiro, apesar de conhecê-lo há muitos anos e manterem boa relação com o peão. Ao Estadão, Zangão confirmou os fatos e disse que jamais imaginava que seria vítima de perseguição.

“Eu voto em Lula. Enviei uma mensagem a um amigo que vota em Bolsonaro, fazendo uma brincadeira com ele. Um colega dele que estava do lado pediu a mensagem e enviou pra todos, e foi isso que aconteceu, a coisa espalhou pelo pantanal inteiro”, diz Zangão.

Um dia depois do áudio, Zangão foi até uma fazenda para a qual sempre trabalhou. Chegando lá, recebeu conselhos do dono. “Ele disse pra mim que era pra por a bandeira do Brasil no meu carro, pra colar os adesivos do Bolsonaro, senão eu ia ser ainda mais prejudicado”, comenta.

A base ruralista é hoje o principal grupo apoiador de Jair Bolsonaro, ao lado da bancada evangélica e da bancada da bala, que defende o armamento da população. Havia a expectativa desses grupos de que o presidente Bolsonaro, embora estivesse atrás em todas as pesquisas de intenção de voto, fosse eleito no primeiro turno, como o próprio presidente chegou a dizer que seria, com 60% das intenções de voto. A confirmação do segundo turno, portanto, frustrou as previsões.

Em outro áudio, um dos integrantes do grupo de fazendeiros sentencia. “Ouve esse áudio aí. O cara que não tem o que fazer, faz política no lugar errado, na hora errada, no dia errado. Pisou no lugar errado, onde foi estava errado, se lascou no lugar errado.”

Outro participante do grupo ri da situação, ao dizer que Zangão “tomou no c..” e que um fazendeiro da região, ao saber que seus funcionários votariam em Lula, mandou todos embora. “É aquele Zangão de Camapuã, ele faz umas viagens aqui para um patrão dele em Rio Verde. O povo até gostava dele, ele tomou no c... esse Zangão. Um (inaudível, fazendo referência a um fazendeiro) mandou os peões tudo embora, que estavam carteando o PT. Mandou tudo embora, falou que tá tudo demitido. Falou que, se o Lula ganhar, ele arrenda a fazenda para quem quiser, mas peão do PT, ele não vai querer lá, não.”

O boiadeiro Zangão confirmou a veracidade das mensagens dos fazendeiros e administradores e disse que vai procurar um advogado nesta quinta-feira, 6, para ver que atitudes poderia tomar a respeito.

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