Rio - No último dia de governo, Sérgio Cabral (PMDB), faltou ao único compromisso que estava em sua agenda nesta quinta-feira, 3, e frustrou cerca de cem pessoas que o aguardavam para a solenidade de início das obras de construção do edifício-sede do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), no bairro de Campo Grande. A assessoria de imprensa do governo não informou o motivo da ausência. Sem o governador, a cerimônia foi realizada em um terreno que se tornou um grande lamaçal por causa da forte chuva que atingiu a região nesta manhã.
Cabral assina nesta quinta a carta de renúncia para disputar uma vaga no Congresso, provavelmente ao Senado. À tarde, o governador encaminhará ao presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo (PMDB), que lerá o documento em plenário. O Diário Oficial do Estado do Rio desta quinta publicou decretos nos quais Cabral exonera auxiliares que eram secretários estaduais. Muitos serão candidatos nas eleições de 2014 e, por lei, precisam deixar seus postos seis meses antes da disputa, para não se tornarem inelegíveis. Há ainda na lista parceiros muito próximos de Cabral, como o ex-secretário da Casa Civil Régis Fichtner e o ex-secretário de Governo Wilson Carlos Carvalho.
O ainda governador deixa o cargo em meio a uma crise de popularidade que o acompanha desde as manifestações de junho de 2013. Mesmo após os protestos perderem força no País, Cabral continuou a ser fustigado pelo movimento "Fora, Cabral", promotor de atos que terminaram em confronto com a Polícia Militar perto do Palácio Guanabara, sede do governo estadual, e em outros pontos da cidade, e um acampamento perto da residência do chefe do Executivo estadual, no Leblon, zona sul, conhecido como "Ocupa Cabral". O governador vê motivação eleitoral nessas iniciativas.
Também contribuiu para perenizar a impopularidade de Cabral a atuação da PM nas manifestações, acusada de abusar da força e de cometer arbitrariedades para conter ativistas. Há ainda a crise do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), instaladas em comunidades pobres antes dominadas por traficantes. Aparentemente por ordem que partiu de presídios, criminosos que atuam nessas regiões atacaram policiais das UPPs. Houve também manifestações de moradores, em protesto contra ações policiais que acusam de serem arbitrárias e violentas.
O peemedebista deixa o governo pouco antes da intervenção das Forças Armadas no Complexo da Maré, a seu pedido. Em 2007, o governador tomara posse havia menos de um mês quando, em 19 de janeiro, 500 homens da Força Nacional de Segurança chegaram ao Rio, por determinação do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para enfrentar ações do crime organizado. A intervenção aconteceu a pedido de Cabral, que se aproximara de Lula no segundo turno da eleição de 2006.
Nesta sexta-feira, 4, às 9 horas, o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) toma posse na Assembleia. Em seguida, haverá solenidade em que Cabral transmitirá o cargo a Pezão no Palácio Guanabara. O novo governador será candidato à reeleição em outubro, com apoio de Cabral e discurso de continuidade da administração. Ele é próximo da presidente Dilma Rousseff, que também apoiará no Rio de Janeiro a candidatura do senador petista Lindbergh Farias a governador. Apesar da insistência de Cabral, o PT rompeu a aliança que mantinha com o PMDB e lançou Lindbergh como candidato próprio.