O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou na manhã desta quarta-feira, 14, que vai conversar com a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo sobre o desfile da escola de samba Vai-Vai neste ano. A agremiação gerou grande polêmica ao retratar em seu desfile a Tropa de Choque da Polícia Militar com asas e chifres vermelhos, em referência a personagens diabólicas.
“Vamos conversar com a Liga, dar direito ao contraditório. Enfim, escutar a todos. Nesse momento, não temos como saber se haverá punição e, se houver, qual será”, afirmou ao canal CNN Brasil.
Parlamentares da direita ligados à pauta da segurança pública estão entre os que reclamaram da performance da escola no sambódromo do Anhembi. Para eles, a agremiação teria “demonizado” a PM ao retratar policiais como demônios em uma das alas. O deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) e a deputada estadual Dani Alonso, do mesmo partido, enviaram ofícios ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e a Nunes cobrando que os dois adotem medidas para que a escola seja impedida de receber recursos públicos tanto da prefeitura como do Estado no próximo ano.
“Proponho que a escola de samba Vai-Vai seja proibida de receber qualquer forma de recurso público no próximo ano fiscal, como forma de sanção pela conduta irresponsável e ofensiva demonstrada. Tal medida não apenas servirá de punição apropriada, mas também como um claro sinal de que ofensas contra as instituições e profissionais de segurança não serão toleradas em nosso Estado”, diz ofício de Capitão Augusto e Dani Alonso para Tarcísio de Freitas. O mesmo pedido foi enviado a Nunes.
Já o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) também reclamou do desfile, dizendo que a escola “tratou com escárnio a figura de agentes da lei”.
‘Dar voz a artistas excluídos’
Em nota, divulgada na segunda-feira, 12, a agremiação disse que a ala homenageia o álbum “Sobrevivendo no Inferno” e ao grupo Racionais Mcs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação. Segundo a agremiação, o desfile “tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs. Além disso, o desfile buscou homenagear e dar vez e voz aos muitos artistas excluídos que nunca tiveram seu talento e sua trajetória notadamente reconhecidos”, diz a nota da escola.
“Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”.
Sob o enredo “Capitulo 4, Versículo 3 – Da rua e do povo, o Hip Hop – Um manifesto paulistano”, a tradicional agremiação do bairro da Bela Vista, região central da capital, foi a primeira escola a desfilar no sábado, 10.