O 8 de Janeiro na visão de um repórter; veja vídeo com bastidores da cobertura dos atos golpistas


Repórter do Estadão narra bastidores da cobertura do 8 de Janeiro e percurso realizado no dia da invasão aos prédios dos Três Poderes

Por Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - O dia 8 de janeiro de 2023 amanheceu como qualquer outro de início de ano na capital federal: nublado e calmo. As notícias de que atos golpistas tinham sido convocados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro para contestar a eleição do então recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva não causavam furor nas autoridades públicas. As forças de segurança sabiam das ameaças com teor golpistas, mas não haviam tomado medidas compatíveis, como revelado pelo Estadão. Àquela altura, os acampamentos golpistas montados em frente aos batalhões militares minguavam. Boletins de inteligência contabilizavam cerca de 200 pessoas em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, no dia que antecedeu a invasão. Mas tudo mudou.

Dezenas de ônibus vindos de outros Estados chegaram à capital federal às vésperas do dia 8, conforme antecipou o Estadão. Esses veículos trouxeram a Brasília gente disposta a ocupar violentamente os principais prédios públicos do País, na esperança de que a desordem provocasse a insurreição das Forças Armadas contra as instituições constituídas. Um movimento que foi chamado nas redes bolsonaristas de a “festa da Selma”. A sanha golpista foi posta em prática por volta das 14h, quando teve início um dos episódios mais trágicos da história recente do Brasil, com a invasão do Congresso.

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Quando os vídeos de golpistas inflamados, sob orações e gritos de morte de autoridades, começaram a ser publicados nas redes sociais, a redação do Estadão deu início a uma força tarefa. O objetivo era cobrir com excelência jornalística a tentativa de golpe em curso. Todos os repórteres e editores baseados em Brasília foram mobilizados para trabalhar naquele dia. A mim foi confiada a missão de reportar presencialmente o desenrolar do vandalismo autoritário na Praça dos Três Poderes.

Lembro do choque que senti ao transitar livremente pela Esplanada dos Ministérios naquele dia, sem que nenhum policial me abordasse. Eu cheguei ao local da intentona por volta das 15h40 da tarde, mais de uma hora depois do início dos ataques. Apesar da crise instalada, o que se testemunhava eram cenas de inação das forças de segurança pública do Distrito Federal, a exemplo da reunião de policiais para beber água de coco enquanto o centro do Poder era sitiado por pessoas que pregavam um golpe de Estado.

Policiais militares comprar água de coco enquanto manifestantes invadem Congresso, STF e Planalto Foto: Weslley Galzo
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O Congresso Nacional, tido como a casa do povo, foi assolado pela ira daqueles que não toleravam a vontade da maioria, manifestada no resultado das eleições presidenciais de 2022. Testemunhei furtos de objetos e até um “piquenique” de golpistas no restaurante da Câmara. Um grupo de cinco homens abriu as geladeiras da cozinha da Casa e, como se estivessem em suas próprias residências, tomaram suco, água e comeram o que estava armazenado para ser servido na próxima segunda-feira de trabalho. Logo ao lado do restaurante fica o gabinete da liderança do PT, onde tudo foi quebrado.

Porém, o local ao qual dediquei mais tempo na cobertura daquele 8 de janeiro foi o Supremo Tribunal Federal (STF). Lembro de ter acessado o plenário da Corte pelos buracos feitos na vidraçaria que cobre todo o prédio. O cheiro de gás de pimenta no local era forte e tive que cobrir meu rosto para conseguir respirar. Tropas da Polícia Judiciária tentaram conter a invasão, mas em desvantagem numérica. O tribunal foi alvo da mais devastadora fúria golpista naquele dia. Nada saiu ileso, nem mesmo o teto. Fiquei atônito ao ver um homem com uma estaca de madeira fazendo furos no andar superior, enquanto um outro ordenava: “É pra quebrar tudo”.

Os corredores do STF estavam inundados. Homens usaram mangueiras de alta pressão para molhar os móveis do tribunal. Outros tentaram atear fogo em objetos, o que acionou os alarmes de incêndio. Naquele mesmo prédio, no dia 6 de janeiro, a então presidente do STF, Rosa Weber, reuniu um grupo de jornalistas em sua sala, no terceiro andar. O local ocupado pela mais importante autoridade do Poder Judiciário, onde estive dois dias antes, ficou irreconhecível depois que a horda golpista passou por lá.

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Radicais atacaram Supremo, Planalto e Congresso no dia 8 de Janeiro Foto: Wilton Júnior/Estadão

O frenesi de violência só teve fim depois das 18h, quando o presidente Lula decretou intervenção na segurança pública do DF. As tropas sob comando do governo federal redobraram o uso de gás de pimenta, o que tornou impossível permanecer na Esplanada sem se ser asfixiado pelos produtos. Empurrado pela nuvem de fumaça, fui embora do local pelas vias de acesso ao lado dos Ministérios. Assim como eu, milhares de golpistas voltaram para as suas casas livremente, sem nenhum tipo de abordagem policial.

Um ano depois do 8 de Janeiro, 1354 golpistas foram processados criminalmente. A maioria foi presa em flagrante na Esplanada ou no acampamento golpista em frente ao QG do Exército. Apenas uma pessoa apontada como financiadora dos atos foi denunciada pelo Ministério Público até o momento. Nenhum político ou oficial militar foi denunciado por envolvimento na insurreição. O STF condenou 30 pessoas, com penas que variam de 12 a 17 anos de prisão, e 66 continuam presas preventivamente.

BRASÍLIA - O dia 8 de janeiro de 2023 amanheceu como qualquer outro de início de ano na capital federal: nublado e calmo. As notícias de que atos golpistas tinham sido convocados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro para contestar a eleição do então recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva não causavam furor nas autoridades públicas. As forças de segurança sabiam das ameaças com teor golpistas, mas não haviam tomado medidas compatíveis, como revelado pelo Estadão. Àquela altura, os acampamentos golpistas montados em frente aos batalhões militares minguavam. Boletins de inteligência contabilizavam cerca de 200 pessoas em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, no dia que antecedeu a invasão. Mas tudo mudou.

Dezenas de ônibus vindos de outros Estados chegaram à capital federal às vésperas do dia 8, conforme antecipou o Estadão. Esses veículos trouxeram a Brasília gente disposta a ocupar violentamente os principais prédios públicos do País, na esperança de que a desordem provocasse a insurreição das Forças Armadas contra as instituições constituídas. Um movimento que foi chamado nas redes bolsonaristas de a “festa da Selma”. A sanha golpista foi posta em prática por volta das 14h, quando teve início um dos episódios mais trágicos da história recente do Brasil, com a invasão do Congresso.

Quando os vídeos de golpistas inflamados, sob orações e gritos de morte de autoridades, começaram a ser publicados nas redes sociais, a redação do Estadão deu início a uma força tarefa. O objetivo era cobrir com excelência jornalística a tentativa de golpe em curso. Todos os repórteres e editores baseados em Brasília foram mobilizados para trabalhar naquele dia. A mim foi confiada a missão de reportar presencialmente o desenrolar do vandalismo autoritário na Praça dos Três Poderes.

Lembro do choque que senti ao transitar livremente pela Esplanada dos Ministérios naquele dia, sem que nenhum policial me abordasse. Eu cheguei ao local da intentona por volta das 15h40 da tarde, mais de uma hora depois do início dos ataques. Apesar da crise instalada, o que se testemunhava eram cenas de inação das forças de segurança pública do Distrito Federal, a exemplo da reunião de policiais para beber água de coco enquanto o centro do Poder era sitiado por pessoas que pregavam um golpe de Estado.

Policiais militares comprar água de coco enquanto manifestantes invadem Congresso, STF e Planalto Foto: Weslley Galzo

O Congresso Nacional, tido como a casa do povo, foi assolado pela ira daqueles que não toleravam a vontade da maioria, manifestada no resultado das eleições presidenciais de 2022. Testemunhei furtos de objetos e até um “piquenique” de golpistas no restaurante da Câmara. Um grupo de cinco homens abriu as geladeiras da cozinha da Casa e, como se estivessem em suas próprias residências, tomaram suco, água e comeram o que estava armazenado para ser servido na próxima segunda-feira de trabalho. Logo ao lado do restaurante fica o gabinete da liderança do PT, onde tudo foi quebrado.

Porém, o local ao qual dediquei mais tempo na cobertura daquele 8 de janeiro foi o Supremo Tribunal Federal (STF). Lembro de ter acessado o plenário da Corte pelos buracos feitos na vidraçaria que cobre todo o prédio. O cheiro de gás de pimenta no local era forte e tive que cobrir meu rosto para conseguir respirar. Tropas da Polícia Judiciária tentaram conter a invasão, mas em desvantagem numérica. O tribunal foi alvo da mais devastadora fúria golpista naquele dia. Nada saiu ileso, nem mesmo o teto. Fiquei atônito ao ver um homem com uma estaca de madeira fazendo furos no andar superior, enquanto um outro ordenava: “É pra quebrar tudo”.

Os corredores do STF estavam inundados. Homens usaram mangueiras de alta pressão para molhar os móveis do tribunal. Outros tentaram atear fogo em objetos, o que acionou os alarmes de incêndio. Naquele mesmo prédio, no dia 6 de janeiro, a então presidente do STF, Rosa Weber, reuniu um grupo de jornalistas em sua sala, no terceiro andar. O local ocupado pela mais importante autoridade do Poder Judiciário, onde estive dois dias antes, ficou irreconhecível depois que a horda golpista passou por lá.

Radicais atacaram Supremo, Planalto e Congresso no dia 8 de Janeiro Foto: Wilton Júnior/Estadão

O frenesi de violência só teve fim depois das 18h, quando o presidente Lula decretou intervenção na segurança pública do DF. As tropas sob comando do governo federal redobraram o uso de gás de pimenta, o que tornou impossível permanecer na Esplanada sem se ser asfixiado pelos produtos. Empurrado pela nuvem de fumaça, fui embora do local pelas vias de acesso ao lado dos Ministérios. Assim como eu, milhares de golpistas voltaram para as suas casas livremente, sem nenhum tipo de abordagem policial.

Um ano depois do 8 de Janeiro, 1354 golpistas foram processados criminalmente. A maioria foi presa em flagrante na Esplanada ou no acampamento golpista em frente ao QG do Exército. Apenas uma pessoa apontada como financiadora dos atos foi denunciada pelo Ministério Público até o momento. Nenhum político ou oficial militar foi denunciado por envolvimento na insurreição. O STF condenou 30 pessoas, com penas que variam de 12 a 17 anos de prisão, e 66 continuam presas preventivamente.

BRASÍLIA - O dia 8 de janeiro de 2023 amanheceu como qualquer outro de início de ano na capital federal: nublado e calmo. As notícias de que atos golpistas tinham sido convocados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro para contestar a eleição do então recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva não causavam furor nas autoridades públicas. As forças de segurança sabiam das ameaças com teor golpistas, mas não haviam tomado medidas compatíveis, como revelado pelo Estadão. Àquela altura, os acampamentos golpistas montados em frente aos batalhões militares minguavam. Boletins de inteligência contabilizavam cerca de 200 pessoas em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, no dia que antecedeu a invasão. Mas tudo mudou.

Dezenas de ônibus vindos de outros Estados chegaram à capital federal às vésperas do dia 8, conforme antecipou o Estadão. Esses veículos trouxeram a Brasília gente disposta a ocupar violentamente os principais prédios públicos do País, na esperança de que a desordem provocasse a insurreição das Forças Armadas contra as instituições constituídas. Um movimento que foi chamado nas redes bolsonaristas de a “festa da Selma”. A sanha golpista foi posta em prática por volta das 14h, quando teve início um dos episódios mais trágicos da história recente do Brasil, com a invasão do Congresso.

Quando os vídeos de golpistas inflamados, sob orações e gritos de morte de autoridades, começaram a ser publicados nas redes sociais, a redação do Estadão deu início a uma força tarefa. O objetivo era cobrir com excelência jornalística a tentativa de golpe em curso. Todos os repórteres e editores baseados em Brasília foram mobilizados para trabalhar naquele dia. A mim foi confiada a missão de reportar presencialmente o desenrolar do vandalismo autoritário na Praça dos Três Poderes.

Lembro do choque que senti ao transitar livremente pela Esplanada dos Ministérios naquele dia, sem que nenhum policial me abordasse. Eu cheguei ao local da intentona por volta das 15h40 da tarde, mais de uma hora depois do início dos ataques. Apesar da crise instalada, o que se testemunhava eram cenas de inação das forças de segurança pública do Distrito Federal, a exemplo da reunião de policiais para beber água de coco enquanto o centro do Poder era sitiado por pessoas que pregavam um golpe de Estado.

Policiais militares comprar água de coco enquanto manifestantes invadem Congresso, STF e Planalto Foto: Weslley Galzo

O Congresso Nacional, tido como a casa do povo, foi assolado pela ira daqueles que não toleravam a vontade da maioria, manifestada no resultado das eleições presidenciais de 2022. Testemunhei furtos de objetos e até um “piquenique” de golpistas no restaurante da Câmara. Um grupo de cinco homens abriu as geladeiras da cozinha da Casa e, como se estivessem em suas próprias residências, tomaram suco, água e comeram o que estava armazenado para ser servido na próxima segunda-feira de trabalho. Logo ao lado do restaurante fica o gabinete da liderança do PT, onde tudo foi quebrado.

Porém, o local ao qual dediquei mais tempo na cobertura daquele 8 de janeiro foi o Supremo Tribunal Federal (STF). Lembro de ter acessado o plenário da Corte pelos buracos feitos na vidraçaria que cobre todo o prédio. O cheiro de gás de pimenta no local era forte e tive que cobrir meu rosto para conseguir respirar. Tropas da Polícia Judiciária tentaram conter a invasão, mas em desvantagem numérica. O tribunal foi alvo da mais devastadora fúria golpista naquele dia. Nada saiu ileso, nem mesmo o teto. Fiquei atônito ao ver um homem com uma estaca de madeira fazendo furos no andar superior, enquanto um outro ordenava: “É pra quebrar tudo”.

Os corredores do STF estavam inundados. Homens usaram mangueiras de alta pressão para molhar os móveis do tribunal. Outros tentaram atear fogo em objetos, o que acionou os alarmes de incêndio. Naquele mesmo prédio, no dia 6 de janeiro, a então presidente do STF, Rosa Weber, reuniu um grupo de jornalistas em sua sala, no terceiro andar. O local ocupado pela mais importante autoridade do Poder Judiciário, onde estive dois dias antes, ficou irreconhecível depois que a horda golpista passou por lá.

Radicais atacaram Supremo, Planalto e Congresso no dia 8 de Janeiro Foto: Wilton Júnior/Estadão

O frenesi de violência só teve fim depois das 18h, quando o presidente Lula decretou intervenção na segurança pública do DF. As tropas sob comando do governo federal redobraram o uso de gás de pimenta, o que tornou impossível permanecer na Esplanada sem se ser asfixiado pelos produtos. Empurrado pela nuvem de fumaça, fui embora do local pelas vias de acesso ao lado dos Ministérios. Assim como eu, milhares de golpistas voltaram para as suas casas livremente, sem nenhum tipo de abordagem policial.

Um ano depois do 8 de Janeiro, 1354 golpistas foram processados criminalmente. A maioria foi presa em flagrante na Esplanada ou no acampamento golpista em frente ao QG do Exército. Apenas uma pessoa apontada como financiadora dos atos foi denunciada pelo Ministério Público até o momento. Nenhum político ou oficial militar foi denunciado por envolvimento na insurreição. O STF condenou 30 pessoas, com penas que variam de 12 a 17 anos de prisão, e 66 continuam presas preventivamente.

BRASÍLIA - O dia 8 de janeiro de 2023 amanheceu como qualquer outro de início de ano na capital federal: nublado e calmo. As notícias de que atos golpistas tinham sido convocados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro para contestar a eleição do então recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva não causavam furor nas autoridades públicas. As forças de segurança sabiam das ameaças com teor golpistas, mas não haviam tomado medidas compatíveis, como revelado pelo Estadão. Àquela altura, os acampamentos golpistas montados em frente aos batalhões militares minguavam. Boletins de inteligência contabilizavam cerca de 200 pessoas em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, no dia que antecedeu a invasão. Mas tudo mudou.

Dezenas de ônibus vindos de outros Estados chegaram à capital federal às vésperas do dia 8, conforme antecipou o Estadão. Esses veículos trouxeram a Brasília gente disposta a ocupar violentamente os principais prédios públicos do País, na esperança de que a desordem provocasse a insurreição das Forças Armadas contra as instituições constituídas. Um movimento que foi chamado nas redes bolsonaristas de a “festa da Selma”. A sanha golpista foi posta em prática por volta das 14h, quando teve início um dos episódios mais trágicos da história recente do Brasil, com a invasão do Congresso.

Quando os vídeos de golpistas inflamados, sob orações e gritos de morte de autoridades, começaram a ser publicados nas redes sociais, a redação do Estadão deu início a uma força tarefa. O objetivo era cobrir com excelência jornalística a tentativa de golpe em curso. Todos os repórteres e editores baseados em Brasília foram mobilizados para trabalhar naquele dia. A mim foi confiada a missão de reportar presencialmente o desenrolar do vandalismo autoritário na Praça dos Três Poderes.

Lembro do choque que senti ao transitar livremente pela Esplanada dos Ministérios naquele dia, sem que nenhum policial me abordasse. Eu cheguei ao local da intentona por volta das 15h40 da tarde, mais de uma hora depois do início dos ataques. Apesar da crise instalada, o que se testemunhava eram cenas de inação das forças de segurança pública do Distrito Federal, a exemplo da reunião de policiais para beber água de coco enquanto o centro do Poder era sitiado por pessoas que pregavam um golpe de Estado.

Policiais militares comprar água de coco enquanto manifestantes invadem Congresso, STF e Planalto Foto: Weslley Galzo

O Congresso Nacional, tido como a casa do povo, foi assolado pela ira daqueles que não toleravam a vontade da maioria, manifestada no resultado das eleições presidenciais de 2022. Testemunhei furtos de objetos e até um “piquenique” de golpistas no restaurante da Câmara. Um grupo de cinco homens abriu as geladeiras da cozinha da Casa e, como se estivessem em suas próprias residências, tomaram suco, água e comeram o que estava armazenado para ser servido na próxima segunda-feira de trabalho. Logo ao lado do restaurante fica o gabinete da liderança do PT, onde tudo foi quebrado.

Porém, o local ao qual dediquei mais tempo na cobertura daquele 8 de janeiro foi o Supremo Tribunal Federal (STF). Lembro de ter acessado o plenário da Corte pelos buracos feitos na vidraçaria que cobre todo o prédio. O cheiro de gás de pimenta no local era forte e tive que cobrir meu rosto para conseguir respirar. Tropas da Polícia Judiciária tentaram conter a invasão, mas em desvantagem numérica. O tribunal foi alvo da mais devastadora fúria golpista naquele dia. Nada saiu ileso, nem mesmo o teto. Fiquei atônito ao ver um homem com uma estaca de madeira fazendo furos no andar superior, enquanto um outro ordenava: “É pra quebrar tudo”.

Os corredores do STF estavam inundados. Homens usaram mangueiras de alta pressão para molhar os móveis do tribunal. Outros tentaram atear fogo em objetos, o que acionou os alarmes de incêndio. Naquele mesmo prédio, no dia 6 de janeiro, a então presidente do STF, Rosa Weber, reuniu um grupo de jornalistas em sua sala, no terceiro andar. O local ocupado pela mais importante autoridade do Poder Judiciário, onde estive dois dias antes, ficou irreconhecível depois que a horda golpista passou por lá.

Radicais atacaram Supremo, Planalto e Congresso no dia 8 de Janeiro Foto: Wilton Júnior/Estadão

O frenesi de violência só teve fim depois das 18h, quando o presidente Lula decretou intervenção na segurança pública do DF. As tropas sob comando do governo federal redobraram o uso de gás de pimenta, o que tornou impossível permanecer na Esplanada sem se ser asfixiado pelos produtos. Empurrado pela nuvem de fumaça, fui embora do local pelas vias de acesso ao lado dos Ministérios. Assim como eu, milhares de golpistas voltaram para as suas casas livremente, sem nenhum tipo de abordagem policial.

Um ano depois do 8 de Janeiro, 1354 golpistas foram processados criminalmente. A maioria foi presa em flagrante na Esplanada ou no acampamento golpista em frente ao QG do Exército. Apenas uma pessoa apontada como financiadora dos atos foi denunciada pelo Ministério Público até o momento. Nenhum político ou oficial militar foi denunciado por envolvimento na insurreição. O STF condenou 30 pessoas, com penas que variam de 12 a 17 anos de prisão, e 66 continuam presas preventivamente.

BRASÍLIA - O dia 8 de janeiro de 2023 amanheceu como qualquer outro de início de ano na capital federal: nublado e calmo. As notícias de que atos golpistas tinham sido convocados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro para contestar a eleição do então recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva não causavam furor nas autoridades públicas. As forças de segurança sabiam das ameaças com teor golpistas, mas não haviam tomado medidas compatíveis, como revelado pelo Estadão. Àquela altura, os acampamentos golpistas montados em frente aos batalhões militares minguavam. Boletins de inteligência contabilizavam cerca de 200 pessoas em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, no dia que antecedeu a invasão. Mas tudo mudou.

Dezenas de ônibus vindos de outros Estados chegaram à capital federal às vésperas do dia 8, conforme antecipou o Estadão. Esses veículos trouxeram a Brasília gente disposta a ocupar violentamente os principais prédios públicos do País, na esperança de que a desordem provocasse a insurreição das Forças Armadas contra as instituições constituídas. Um movimento que foi chamado nas redes bolsonaristas de a “festa da Selma”. A sanha golpista foi posta em prática por volta das 14h, quando teve início um dos episódios mais trágicos da história recente do Brasil, com a invasão do Congresso.

Quando os vídeos de golpistas inflamados, sob orações e gritos de morte de autoridades, começaram a ser publicados nas redes sociais, a redação do Estadão deu início a uma força tarefa. O objetivo era cobrir com excelência jornalística a tentativa de golpe em curso. Todos os repórteres e editores baseados em Brasília foram mobilizados para trabalhar naquele dia. A mim foi confiada a missão de reportar presencialmente o desenrolar do vandalismo autoritário na Praça dos Três Poderes.

Lembro do choque que senti ao transitar livremente pela Esplanada dos Ministérios naquele dia, sem que nenhum policial me abordasse. Eu cheguei ao local da intentona por volta das 15h40 da tarde, mais de uma hora depois do início dos ataques. Apesar da crise instalada, o que se testemunhava eram cenas de inação das forças de segurança pública do Distrito Federal, a exemplo da reunião de policiais para beber água de coco enquanto o centro do Poder era sitiado por pessoas que pregavam um golpe de Estado.

Policiais militares comprar água de coco enquanto manifestantes invadem Congresso, STF e Planalto Foto: Weslley Galzo

O Congresso Nacional, tido como a casa do povo, foi assolado pela ira daqueles que não toleravam a vontade da maioria, manifestada no resultado das eleições presidenciais de 2022. Testemunhei furtos de objetos e até um “piquenique” de golpistas no restaurante da Câmara. Um grupo de cinco homens abriu as geladeiras da cozinha da Casa e, como se estivessem em suas próprias residências, tomaram suco, água e comeram o que estava armazenado para ser servido na próxima segunda-feira de trabalho. Logo ao lado do restaurante fica o gabinete da liderança do PT, onde tudo foi quebrado.

Porém, o local ao qual dediquei mais tempo na cobertura daquele 8 de janeiro foi o Supremo Tribunal Federal (STF). Lembro de ter acessado o plenário da Corte pelos buracos feitos na vidraçaria que cobre todo o prédio. O cheiro de gás de pimenta no local era forte e tive que cobrir meu rosto para conseguir respirar. Tropas da Polícia Judiciária tentaram conter a invasão, mas em desvantagem numérica. O tribunal foi alvo da mais devastadora fúria golpista naquele dia. Nada saiu ileso, nem mesmo o teto. Fiquei atônito ao ver um homem com uma estaca de madeira fazendo furos no andar superior, enquanto um outro ordenava: “É pra quebrar tudo”.

Os corredores do STF estavam inundados. Homens usaram mangueiras de alta pressão para molhar os móveis do tribunal. Outros tentaram atear fogo em objetos, o que acionou os alarmes de incêndio. Naquele mesmo prédio, no dia 6 de janeiro, a então presidente do STF, Rosa Weber, reuniu um grupo de jornalistas em sua sala, no terceiro andar. O local ocupado pela mais importante autoridade do Poder Judiciário, onde estive dois dias antes, ficou irreconhecível depois que a horda golpista passou por lá.

Radicais atacaram Supremo, Planalto e Congresso no dia 8 de Janeiro Foto: Wilton Júnior/Estadão

O frenesi de violência só teve fim depois das 18h, quando o presidente Lula decretou intervenção na segurança pública do DF. As tropas sob comando do governo federal redobraram o uso de gás de pimenta, o que tornou impossível permanecer na Esplanada sem se ser asfixiado pelos produtos. Empurrado pela nuvem de fumaça, fui embora do local pelas vias de acesso ao lado dos Ministérios. Assim como eu, milhares de golpistas voltaram para as suas casas livremente, sem nenhum tipo de abordagem policial.

Um ano depois do 8 de Janeiro, 1354 golpistas foram processados criminalmente. A maioria foi presa em flagrante na Esplanada ou no acampamento golpista em frente ao QG do Exército. Apenas uma pessoa apontada como financiadora dos atos foi denunciada pelo Ministério Público até o momento. Nenhum político ou oficial militar foi denunciado por envolvimento na insurreição. O STF condenou 30 pessoas, com penas que variam de 12 a 17 anos de prisão, e 66 continuam presas preventivamente.

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