O que acontece no STF enquanto Lula não indica um ministro ou nome não é aprovado


Composta por 11 magistrados, Corte evita pautar casos de grande repercussão quando não está completa; presidente não tem prazo para indicar um substituto

Por Ana Luiza Antunes

ESPECIAL PARA O ESTADÃO – A aposentadoria de Ricardo Lewandowski anunciada para a próxima terça-feira,11, vai provocar uma situação incomum, porém não inédita no Supremo Tribunal Federal (STF): a Corte trabalhará com dez ministros, e não 11 como prevê a Constituição. Isso porque, no mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca para o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, e não indicará imediatamente o substituto. Além disso, o nome ainda precisará ser sabatinado pelo Senado Federal.

Lewandowski antecipou em um mês data prevista para o magistrado deixar a toga – em 11 de maio, ele completará 75 anos, idade em que a aposentadoria de um ministro do Supremo é compulsória. “Eu saio com a convicção de que cumpri a minha missão. Estou com gabinete praticamente zerado em termos de processos”, afirmou o ministro na semana passada. Segundo ele, a saída antecipada se deve a compromissos acadêmicos e profissionais.

O ministro Ricardo Lewandowski durante sessão da 2ª turma do STF; magistrado se aposenta dia 11 Foto: Nelson Jr./SCO/STF - 8/3/2022
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Durante a campanha, Lula disse que nunca havia indicado ‘um amigo’ para o Supremo. No entanto, o nome que desponta nos bastidores de Brasília para ficar com a vaga de Lewandowski é o de Cristiano Zanin, 47 anos, advogado pessoal do presidente.

Abaixo, entenda como ficam as votações no STF na ausência de um ministro.

1. A Constituição permite dez ministros na Corte?

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Sim. Em geral, o Supremo evita pautar casos de grande repercussão quando há um ministro a menos. “(Nestes casos), eles podem suspender o julgamento e esperar o tribunal ser recomposto para ter os 11 votos”, explica Rubens Glezer, professor de Direito da FGV e coordenador do centro Supremo em Pauta. Desfalcada, a Corte acaba operando sob constante risco de empate nos julgamentos.

2. Em caso de empate em um julgamento, quem decide?

Em matérias penais, quando há um processo ou uma investigação, o empate sempre beneficia o acusado. Glezer esclarece que, neste casos, existe o princípio de que, na dúvida, o julgamento tem que favorecer o réu. Já nos casos em que há uma interpretação da Constituição, os ministros podem começar a votação, mas deverão aguardar a chegada do 11º integrante para concluir a análise. No entanto, o professor pontua que o empate nesta situação é muito raro acontecer.

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3. Em quanto tempo o presidente pode fazer a indicação?

Lula poderá indicar dois ministros para o Supremo neste ano devido às aposentadorias compulsórias de Ricardo Lewandowski e de Rosa Weber, prevista para acontecer em outubro. Segundo a Constituição, o STF precisa ser composto por 11 ministros.

Porém, não há regimento que estabeleça um prazo para que a indicação seja feita. Portanto, Lula teria uma margem maior para decidir a sua indicação. “A Constituição não estabelece um prazo para que a indicação seja feita para suprir uma vaga. É uma percepção política do presidente que faz ele tomar uma decisão rápida ou devagar”, avalia Glezer.

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Rosa Weber e o presidente Lula; ministra se aposenta em outubro Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

4. Como ficam os trabalhos com um ministro a menos?

Segundo o professor, a ausência de um ministro pode atrapalhar os trabalhos do tribunal. “Tem todo um acervo do ministro que fica a espera do seu sucessor. A não ser que tenha uma urgência muito notória, (os trabalhos) vão ficar parados”, diz.

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Glezer explica que, além do plenário, o STF possui duas turmas. Tais colegiados são formados por cinco ministros cada, e visa “desafogar” o Plenário. “Pode ter uma série de problemas de deliberação e fica disfuncional o tribunal com uma indicação a menos.”

5. Quem está cotado para assumir a vaga no STF?

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Lewandowski disse que não discutiu nomes de seu sucessor com Lula, porque se trata de uma decisão exclusiva do presidente. Para Lewandowski, além dos requisitos constitucionais para ocupar o cargo (no mínimo 35 anos, notável saber jurídico e reputação ilibada), o novo ministro deve ter coragem. “Penso que meu sucessor deverá ser fiel à Constituição, aos direitos e às garantias fundamentais, mas precisa ser, antes de mais nada, corajoso para enfrentar as enormes pressões que um ministro do Supremo Tribunal Federal tem de enfrentar no seu cotidiano”.

Lula ainda não confirmou o nome de quem será o próximo a ocupar a cadeira de Lewandowski. Entretanto, nos bastidores, o nome de Cristiano Zanin é apontado como o principal favorito para ocupar o cargo do magistrado. Em recente declaração, Lula disse que o advogado foi “uma revelação extraordinária no campo jurídico”.

Advogado de Lula, Cristiano Zanin é apontado como favorito para ocupar cadeira no STF Foto: NACHO DOCE/REUTERS

O ex-secretário-geral do TSE e do STF nas gestões de Lewandowski, o advogado Manoel Carlos de Almeida Neto também é um dos citados para ficar com a vaga. Zanin e Manoel Carlos seriam os dois ‘finalistas’ para a vaga – como mostrou o Estadão, Lula já recebeu mais de 15 sugestões de nomes para ocupar cadeiras do STF.

Lula, porém, vem sendo cobrado por grupos sociais para que o cargo seja ocupado por uma mulher negra. O presidente, no entanto, tem dito a aliados que o gênero do candidato não será determinante para a escolha.

6. Após a indicação, qual é o trâmite para o novo ministro assumir o cargo no STF?

Para ser nomeado, o escolhido precisará dos votos de 41 dos 81 senadores. A votação é secreta.

7. Já ocorreram casos de o STF operar por muito tempo com dez ministros?

Em 2021, o então presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre, “segurou” por mais de quatro meses a sabatina de André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal depois da aposentadoria de Marco Aurélio Mello. Em uma disputa política com Bolsonaro, o presidente da CCJ segurou a indicação o quanto pôde. Decidiu fazer um recuo estratégico somente após perder apoio até mesmo entre aliados e sofrer críticas e ver o atraso ser classificado como abuso de poder.

8. A formação do STF pode mudar?

Em 2022, durante a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro não descartou a possibilidade de, caso fosse reeleito, aumentar o número de ministros do STF. Essa medida não seria inédita no cenário político brasileiro. Durante a ditadura militar (1964-1985), por meio do Ato Institucional nº 02 (AI-2), de 27 de outubro de 1965, a quantidade de ministros da Corte passou de 11 para 16, acréscimo mantido pela Constituição de 24 de janeiro de 1967.

Já o presidente Lula afirmou no mês passado que pretende discutir uma mudança na Constituição para determinar um período de mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal. Hoje, para ser indicado pelo presidente e aprovado pelo Senado, um ministro do STF precisa ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada. A aposentadoria compulsória se dá aos 75 anos.

Em debate no Congresso e no Executivo, a adoção de mandato para os magistrados é vista com reticências por juristas e ex-integrantes da Corte máxima do País. O temor é que isso gere maior rotatividade e acentue a politização no tribunal.

ESPECIAL PARA O ESTADÃO – A aposentadoria de Ricardo Lewandowski anunciada para a próxima terça-feira,11, vai provocar uma situação incomum, porém não inédita no Supremo Tribunal Federal (STF): a Corte trabalhará com dez ministros, e não 11 como prevê a Constituição. Isso porque, no mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca para o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, e não indicará imediatamente o substituto. Além disso, o nome ainda precisará ser sabatinado pelo Senado Federal.

Lewandowski antecipou em um mês data prevista para o magistrado deixar a toga – em 11 de maio, ele completará 75 anos, idade em que a aposentadoria de um ministro do Supremo é compulsória. “Eu saio com a convicção de que cumpri a minha missão. Estou com gabinete praticamente zerado em termos de processos”, afirmou o ministro na semana passada. Segundo ele, a saída antecipada se deve a compromissos acadêmicos e profissionais.

O ministro Ricardo Lewandowski durante sessão da 2ª turma do STF; magistrado se aposenta dia 11 Foto: Nelson Jr./SCO/STF - 8/3/2022

Durante a campanha, Lula disse que nunca havia indicado ‘um amigo’ para o Supremo. No entanto, o nome que desponta nos bastidores de Brasília para ficar com a vaga de Lewandowski é o de Cristiano Zanin, 47 anos, advogado pessoal do presidente.

Abaixo, entenda como ficam as votações no STF na ausência de um ministro.

1. A Constituição permite dez ministros na Corte?

Sim. Em geral, o Supremo evita pautar casos de grande repercussão quando há um ministro a menos. “(Nestes casos), eles podem suspender o julgamento e esperar o tribunal ser recomposto para ter os 11 votos”, explica Rubens Glezer, professor de Direito da FGV e coordenador do centro Supremo em Pauta. Desfalcada, a Corte acaba operando sob constante risco de empate nos julgamentos.

2. Em caso de empate em um julgamento, quem decide?

Em matérias penais, quando há um processo ou uma investigação, o empate sempre beneficia o acusado. Glezer esclarece que, neste casos, existe o princípio de que, na dúvida, o julgamento tem que favorecer o réu. Já nos casos em que há uma interpretação da Constituição, os ministros podem começar a votação, mas deverão aguardar a chegada do 11º integrante para concluir a análise. No entanto, o professor pontua que o empate nesta situação é muito raro acontecer.

3. Em quanto tempo o presidente pode fazer a indicação?

Lula poderá indicar dois ministros para o Supremo neste ano devido às aposentadorias compulsórias de Ricardo Lewandowski e de Rosa Weber, prevista para acontecer em outubro. Segundo a Constituição, o STF precisa ser composto por 11 ministros.

Porém, não há regimento que estabeleça um prazo para que a indicação seja feita. Portanto, Lula teria uma margem maior para decidir a sua indicação. “A Constituição não estabelece um prazo para que a indicação seja feita para suprir uma vaga. É uma percepção política do presidente que faz ele tomar uma decisão rápida ou devagar”, avalia Glezer.

Rosa Weber e o presidente Lula; ministra se aposenta em outubro Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

4. Como ficam os trabalhos com um ministro a menos?

Segundo o professor, a ausência de um ministro pode atrapalhar os trabalhos do tribunal. “Tem todo um acervo do ministro que fica a espera do seu sucessor. A não ser que tenha uma urgência muito notória, (os trabalhos) vão ficar parados”, diz.

Glezer explica que, além do plenário, o STF possui duas turmas. Tais colegiados são formados por cinco ministros cada, e visa “desafogar” o Plenário. “Pode ter uma série de problemas de deliberação e fica disfuncional o tribunal com uma indicação a menos.”

5. Quem está cotado para assumir a vaga no STF?

Lewandowski disse que não discutiu nomes de seu sucessor com Lula, porque se trata de uma decisão exclusiva do presidente. Para Lewandowski, além dos requisitos constitucionais para ocupar o cargo (no mínimo 35 anos, notável saber jurídico e reputação ilibada), o novo ministro deve ter coragem. “Penso que meu sucessor deverá ser fiel à Constituição, aos direitos e às garantias fundamentais, mas precisa ser, antes de mais nada, corajoso para enfrentar as enormes pressões que um ministro do Supremo Tribunal Federal tem de enfrentar no seu cotidiano”.

Lula ainda não confirmou o nome de quem será o próximo a ocupar a cadeira de Lewandowski. Entretanto, nos bastidores, o nome de Cristiano Zanin é apontado como o principal favorito para ocupar o cargo do magistrado. Em recente declaração, Lula disse que o advogado foi “uma revelação extraordinária no campo jurídico”.

Advogado de Lula, Cristiano Zanin é apontado como favorito para ocupar cadeira no STF Foto: NACHO DOCE/REUTERS

O ex-secretário-geral do TSE e do STF nas gestões de Lewandowski, o advogado Manoel Carlos de Almeida Neto também é um dos citados para ficar com a vaga. Zanin e Manoel Carlos seriam os dois ‘finalistas’ para a vaga – como mostrou o Estadão, Lula já recebeu mais de 15 sugestões de nomes para ocupar cadeiras do STF.

Lula, porém, vem sendo cobrado por grupos sociais para que o cargo seja ocupado por uma mulher negra. O presidente, no entanto, tem dito a aliados que o gênero do candidato não será determinante para a escolha.

6. Após a indicação, qual é o trâmite para o novo ministro assumir o cargo no STF?

Para ser nomeado, o escolhido precisará dos votos de 41 dos 81 senadores. A votação é secreta.

7. Já ocorreram casos de o STF operar por muito tempo com dez ministros?

Em 2021, o então presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre, “segurou” por mais de quatro meses a sabatina de André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal depois da aposentadoria de Marco Aurélio Mello. Em uma disputa política com Bolsonaro, o presidente da CCJ segurou a indicação o quanto pôde. Decidiu fazer um recuo estratégico somente após perder apoio até mesmo entre aliados e sofrer críticas e ver o atraso ser classificado como abuso de poder.

8. A formação do STF pode mudar?

Em 2022, durante a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro não descartou a possibilidade de, caso fosse reeleito, aumentar o número de ministros do STF. Essa medida não seria inédita no cenário político brasileiro. Durante a ditadura militar (1964-1985), por meio do Ato Institucional nº 02 (AI-2), de 27 de outubro de 1965, a quantidade de ministros da Corte passou de 11 para 16, acréscimo mantido pela Constituição de 24 de janeiro de 1967.

Já o presidente Lula afirmou no mês passado que pretende discutir uma mudança na Constituição para determinar um período de mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal. Hoje, para ser indicado pelo presidente e aprovado pelo Senado, um ministro do STF precisa ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada. A aposentadoria compulsória se dá aos 75 anos.

Em debate no Congresso e no Executivo, a adoção de mandato para os magistrados é vista com reticências por juristas e ex-integrantes da Corte máxima do País. O temor é que isso gere maior rotatividade e acentue a politização no tribunal.

ESPECIAL PARA O ESTADÃO – A aposentadoria de Ricardo Lewandowski anunciada para a próxima terça-feira,11, vai provocar uma situação incomum, porém não inédita no Supremo Tribunal Federal (STF): a Corte trabalhará com dez ministros, e não 11 como prevê a Constituição. Isso porque, no mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca para o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, e não indicará imediatamente o substituto. Além disso, o nome ainda precisará ser sabatinado pelo Senado Federal.

Lewandowski antecipou em um mês data prevista para o magistrado deixar a toga – em 11 de maio, ele completará 75 anos, idade em que a aposentadoria de um ministro do Supremo é compulsória. “Eu saio com a convicção de que cumpri a minha missão. Estou com gabinete praticamente zerado em termos de processos”, afirmou o ministro na semana passada. Segundo ele, a saída antecipada se deve a compromissos acadêmicos e profissionais.

O ministro Ricardo Lewandowski durante sessão da 2ª turma do STF; magistrado se aposenta dia 11 Foto: Nelson Jr./SCO/STF - 8/3/2022

Durante a campanha, Lula disse que nunca havia indicado ‘um amigo’ para o Supremo. No entanto, o nome que desponta nos bastidores de Brasília para ficar com a vaga de Lewandowski é o de Cristiano Zanin, 47 anos, advogado pessoal do presidente.

Abaixo, entenda como ficam as votações no STF na ausência de um ministro.

1. A Constituição permite dez ministros na Corte?

Sim. Em geral, o Supremo evita pautar casos de grande repercussão quando há um ministro a menos. “(Nestes casos), eles podem suspender o julgamento e esperar o tribunal ser recomposto para ter os 11 votos”, explica Rubens Glezer, professor de Direito da FGV e coordenador do centro Supremo em Pauta. Desfalcada, a Corte acaba operando sob constante risco de empate nos julgamentos.

2. Em caso de empate em um julgamento, quem decide?

Em matérias penais, quando há um processo ou uma investigação, o empate sempre beneficia o acusado. Glezer esclarece que, neste casos, existe o princípio de que, na dúvida, o julgamento tem que favorecer o réu. Já nos casos em que há uma interpretação da Constituição, os ministros podem começar a votação, mas deverão aguardar a chegada do 11º integrante para concluir a análise. No entanto, o professor pontua que o empate nesta situação é muito raro acontecer.

3. Em quanto tempo o presidente pode fazer a indicação?

Lula poderá indicar dois ministros para o Supremo neste ano devido às aposentadorias compulsórias de Ricardo Lewandowski e de Rosa Weber, prevista para acontecer em outubro. Segundo a Constituição, o STF precisa ser composto por 11 ministros.

Porém, não há regimento que estabeleça um prazo para que a indicação seja feita. Portanto, Lula teria uma margem maior para decidir a sua indicação. “A Constituição não estabelece um prazo para que a indicação seja feita para suprir uma vaga. É uma percepção política do presidente que faz ele tomar uma decisão rápida ou devagar”, avalia Glezer.

Rosa Weber e o presidente Lula; ministra se aposenta em outubro Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

4. Como ficam os trabalhos com um ministro a menos?

Segundo o professor, a ausência de um ministro pode atrapalhar os trabalhos do tribunal. “Tem todo um acervo do ministro que fica a espera do seu sucessor. A não ser que tenha uma urgência muito notória, (os trabalhos) vão ficar parados”, diz.

Glezer explica que, além do plenário, o STF possui duas turmas. Tais colegiados são formados por cinco ministros cada, e visa “desafogar” o Plenário. “Pode ter uma série de problemas de deliberação e fica disfuncional o tribunal com uma indicação a menos.”

5. Quem está cotado para assumir a vaga no STF?

Lewandowski disse que não discutiu nomes de seu sucessor com Lula, porque se trata de uma decisão exclusiva do presidente. Para Lewandowski, além dos requisitos constitucionais para ocupar o cargo (no mínimo 35 anos, notável saber jurídico e reputação ilibada), o novo ministro deve ter coragem. “Penso que meu sucessor deverá ser fiel à Constituição, aos direitos e às garantias fundamentais, mas precisa ser, antes de mais nada, corajoso para enfrentar as enormes pressões que um ministro do Supremo Tribunal Federal tem de enfrentar no seu cotidiano”.

Lula ainda não confirmou o nome de quem será o próximo a ocupar a cadeira de Lewandowski. Entretanto, nos bastidores, o nome de Cristiano Zanin é apontado como o principal favorito para ocupar o cargo do magistrado. Em recente declaração, Lula disse que o advogado foi “uma revelação extraordinária no campo jurídico”.

Advogado de Lula, Cristiano Zanin é apontado como favorito para ocupar cadeira no STF Foto: NACHO DOCE/REUTERS

O ex-secretário-geral do TSE e do STF nas gestões de Lewandowski, o advogado Manoel Carlos de Almeida Neto também é um dos citados para ficar com a vaga. Zanin e Manoel Carlos seriam os dois ‘finalistas’ para a vaga – como mostrou o Estadão, Lula já recebeu mais de 15 sugestões de nomes para ocupar cadeiras do STF.

Lula, porém, vem sendo cobrado por grupos sociais para que o cargo seja ocupado por uma mulher negra. O presidente, no entanto, tem dito a aliados que o gênero do candidato não será determinante para a escolha.

6. Após a indicação, qual é o trâmite para o novo ministro assumir o cargo no STF?

Para ser nomeado, o escolhido precisará dos votos de 41 dos 81 senadores. A votação é secreta.

7. Já ocorreram casos de o STF operar por muito tempo com dez ministros?

Em 2021, o então presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre, “segurou” por mais de quatro meses a sabatina de André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal depois da aposentadoria de Marco Aurélio Mello. Em uma disputa política com Bolsonaro, o presidente da CCJ segurou a indicação o quanto pôde. Decidiu fazer um recuo estratégico somente após perder apoio até mesmo entre aliados e sofrer críticas e ver o atraso ser classificado como abuso de poder.

8. A formação do STF pode mudar?

Em 2022, durante a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro não descartou a possibilidade de, caso fosse reeleito, aumentar o número de ministros do STF. Essa medida não seria inédita no cenário político brasileiro. Durante a ditadura militar (1964-1985), por meio do Ato Institucional nº 02 (AI-2), de 27 de outubro de 1965, a quantidade de ministros da Corte passou de 11 para 16, acréscimo mantido pela Constituição de 24 de janeiro de 1967.

Já o presidente Lula afirmou no mês passado que pretende discutir uma mudança na Constituição para determinar um período de mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal. Hoje, para ser indicado pelo presidente e aprovado pelo Senado, um ministro do STF precisa ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada. A aposentadoria compulsória se dá aos 75 anos.

Em debate no Congresso e no Executivo, a adoção de mandato para os magistrados é vista com reticências por juristas e ex-integrantes da Corte máxima do País. O temor é que isso gere maior rotatividade e acentue a politização no tribunal.

ESPECIAL PARA O ESTADÃO – A aposentadoria de Ricardo Lewandowski anunciada para a próxima terça-feira,11, vai provocar uma situação incomum, porém não inédita no Supremo Tribunal Federal (STF): a Corte trabalhará com dez ministros, e não 11 como prevê a Constituição. Isso porque, no mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca para o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, e não indicará imediatamente o substituto. Além disso, o nome ainda precisará ser sabatinado pelo Senado Federal.

Lewandowski antecipou em um mês data prevista para o magistrado deixar a toga – em 11 de maio, ele completará 75 anos, idade em que a aposentadoria de um ministro do Supremo é compulsória. “Eu saio com a convicção de que cumpri a minha missão. Estou com gabinete praticamente zerado em termos de processos”, afirmou o ministro na semana passada. Segundo ele, a saída antecipada se deve a compromissos acadêmicos e profissionais.

O ministro Ricardo Lewandowski durante sessão da 2ª turma do STF; magistrado se aposenta dia 11 Foto: Nelson Jr./SCO/STF - 8/3/2022

Durante a campanha, Lula disse que nunca havia indicado ‘um amigo’ para o Supremo. No entanto, o nome que desponta nos bastidores de Brasília para ficar com a vaga de Lewandowski é o de Cristiano Zanin, 47 anos, advogado pessoal do presidente.

Abaixo, entenda como ficam as votações no STF na ausência de um ministro.

1. A Constituição permite dez ministros na Corte?

Sim. Em geral, o Supremo evita pautar casos de grande repercussão quando há um ministro a menos. “(Nestes casos), eles podem suspender o julgamento e esperar o tribunal ser recomposto para ter os 11 votos”, explica Rubens Glezer, professor de Direito da FGV e coordenador do centro Supremo em Pauta. Desfalcada, a Corte acaba operando sob constante risco de empate nos julgamentos.

2. Em caso de empate em um julgamento, quem decide?

Em matérias penais, quando há um processo ou uma investigação, o empate sempre beneficia o acusado. Glezer esclarece que, neste casos, existe o princípio de que, na dúvida, o julgamento tem que favorecer o réu. Já nos casos em que há uma interpretação da Constituição, os ministros podem começar a votação, mas deverão aguardar a chegada do 11º integrante para concluir a análise. No entanto, o professor pontua que o empate nesta situação é muito raro acontecer.

3. Em quanto tempo o presidente pode fazer a indicação?

Lula poderá indicar dois ministros para o Supremo neste ano devido às aposentadorias compulsórias de Ricardo Lewandowski e de Rosa Weber, prevista para acontecer em outubro. Segundo a Constituição, o STF precisa ser composto por 11 ministros.

Porém, não há regimento que estabeleça um prazo para que a indicação seja feita. Portanto, Lula teria uma margem maior para decidir a sua indicação. “A Constituição não estabelece um prazo para que a indicação seja feita para suprir uma vaga. É uma percepção política do presidente que faz ele tomar uma decisão rápida ou devagar”, avalia Glezer.

Rosa Weber e o presidente Lula; ministra se aposenta em outubro Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

4. Como ficam os trabalhos com um ministro a menos?

Segundo o professor, a ausência de um ministro pode atrapalhar os trabalhos do tribunal. “Tem todo um acervo do ministro que fica a espera do seu sucessor. A não ser que tenha uma urgência muito notória, (os trabalhos) vão ficar parados”, diz.

Glezer explica que, além do plenário, o STF possui duas turmas. Tais colegiados são formados por cinco ministros cada, e visa “desafogar” o Plenário. “Pode ter uma série de problemas de deliberação e fica disfuncional o tribunal com uma indicação a menos.”

5. Quem está cotado para assumir a vaga no STF?

Lewandowski disse que não discutiu nomes de seu sucessor com Lula, porque se trata de uma decisão exclusiva do presidente. Para Lewandowski, além dos requisitos constitucionais para ocupar o cargo (no mínimo 35 anos, notável saber jurídico e reputação ilibada), o novo ministro deve ter coragem. “Penso que meu sucessor deverá ser fiel à Constituição, aos direitos e às garantias fundamentais, mas precisa ser, antes de mais nada, corajoso para enfrentar as enormes pressões que um ministro do Supremo Tribunal Federal tem de enfrentar no seu cotidiano”.

Lula ainda não confirmou o nome de quem será o próximo a ocupar a cadeira de Lewandowski. Entretanto, nos bastidores, o nome de Cristiano Zanin é apontado como o principal favorito para ocupar o cargo do magistrado. Em recente declaração, Lula disse que o advogado foi “uma revelação extraordinária no campo jurídico”.

Advogado de Lula, Cristiano Zanin é apontado como favorito para ocupar cadeira no STF Foto: NACHO DOCE/REUTERS

O ex-secretário-geral do TSE e do STF nas gestões de Lewandowski, o advogado Manoel Carlos de Almeida Neto também é um dos citados para ficar com a vaga. Zanin e Manoel Carlos seriam os dois ‘finalistas’ para a vaga – como mostrou o Estadão, Lula já recebeu mais de 15 sugestões de nomes para ocupar cadeiras do STF.

Lula, porém, vem sendo cobrado por grupos sociais para que o cargo seja ocupado por uma mulher negra. O presidente, no entanto, tem dito a aliados que o gênero do candidato não será determinante para a escolha.

6. Após a indicação, qual é o trâmite para o novo ministro assumir o cargo no STF?

Para ser nomeado, o escolhido precisará dos votos de 41 dos 81 senadores. A votação é secreta.

7. Já ocorreram casos de o STF operar por muito tempo com dez ministros?

Em 2021, o então presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre, “segurou” por mais de quatro meses a sabatina de André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal depois da aposentadoria de Marco Aurélio Mello. Em uma disputa política com Bolsonaro, o presidente da CCJ segurou a indicação o quanto pôde. Decidiu fazer um recuo estratégico somente após perder apoio até mesmo entre aliados e sofrer críticas e ver o atraso ser classificado como abuso de poder.

8. A formação do STF pode mudar?

Em 2022, durante a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro não descartou a possibilidade de, caso fosse reeleito, aumentar o número de ministros do STF. Essa medida não seria inédita no cenário político brasileiro. Durante a ditadura militar (1964-1985), por meio do Ato Institucional nº 02 (AI-2), de 27 de outubro de 1965, a quantidade de ministros da Corte passou de 11 para 16, acréscimo mantido pela Constituição de 24 de janeiro de 1967.

Já o presidente Lula afirmou no mês passado que pretende discutir uma mudança na Constituição para determinar um período de mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal. Hoje, para ser indicado pelo presidente e aprovado pelo Senado, um ministro do STF precisa ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada. A aposentadoria compulsória se dá aos 75 anos.

Em debate no Congresso e no Executivo, a adoção de mandato para os magistrados é vista com reticências por juristas e ex-integrantes da Corte máxima do País. O temor é que isso gere maior rotatividade e acentue a politização no tribunal.

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