SÃO PAULO - Uma nova rodada da pesquisa Datafolha para presidente deve ser divulgada na noite desta sexta-feira, 9. O levantamento mais recente, do dia 1º de setembro, mostrou estabilidade após o começo do horário eleitoral e do primeiro debate entre presidenciáveis. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se manteve na liderança, com 45%, seguido pelo atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), com 32% das intenções de voto.
A pesquisa começou a ser feita nesta quinta, 8, e será finalizada na sexta. O levantamento será o primeiro a medir a intenção de voto e a avaliação da gestão Bolsonaro após o 7 de Setembro, data em que foi comemorado o Bicentenário da Independência.
Em meio às celebrações cívico-militares, Bolsonaro discursou para pedir votos, mas também fez críticas a adversários, como Lula, e a instituições que considera “inimigas”, como o Supremo Tribunal Federal (STF).
“A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós, vamos convencê-lo do que é melhor para o nosso Brasil”, falou, em Brasília, para apoiadores reunidos na Alameda das Bandeiras, nas proximidades do Congresso Nacional.
Cientistas políticos ouvidos pelo Estadão divergem quanto à possibilidade de os atos causarem oscilação na intenção de voto e de tirar a pesquisa da tendência de estabilidade. No entanto, concordam que as falas e atitudes de Bolsonaro focaram principalmente em um eleitorado já “convertido”.
O cientista político e professor da FGV-SP Marco Antonio Carvalho Teixeira acredita que o 7 de setembro teve “um potencial enorme para provocar oscilações até fora da margem de erro” na pesquisa, pois foi marcado por “situações inusitadas”.
“Tivemos a comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil, com eventos oficiais, pagos com dinheiro público, com desfile das Forças Armadas, e, neste evento, o presidente da República fez um discurso eleitoral, o que é absolutamente incompatível com o espírito que norteia o evento”, avaliou. “Isso vai causar muito burburinho. Vai ter uma enxurrada de ações no TSE pedindo inclusive a cassação da candidatura dele, pedindo punição.”
Campanhas de outros presidenciáveis começaram a acionar a Justiça Eleitoral apontando suposto uso político, pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), durante os atos em comemoração ao Bicentenário. Especialistas consideram que o presidente pode responder por abuso de poder econômico e político.
Outra questão importante, na visão dele, é o presidente ter voltado a falar em “ruptura” democrática, quando citou períodos autoritários e disse que a “história pode se repetir”. “Isso tem um efeito muito grande, sobretudo aos eleitores mais moderados, que podem até ser antipetistas, votam no Bolsonaro, mas não topam uma aventura dessa.” No entanto, pondera que “tanto os eleitores de Lula como de Jair Bolsonaro têm quase 80% de certeza do voto”.
Levando em conta que algumas características deste 7 de Setembro remetem às do ano passado, como faixas pedindo intervenção militar e atacando o Supremo Tribunal Federal (STF), Rodrigo Prando, cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita não deve haver “variação substancial” por causa deles. Ele aposta em uma “tendência de estabilidade”.
“Se houver uma variação, seria bem menos por conta dos atos e muito mais por algum elemento ligado à economia como, por exemplo, a questão do Auxílio Brasil impactando positivamente a avaliação do governo”, avaliou. “Há uma relação muito direta entre aprovação e reprovação e o índice de votos que as pessoas pretendem dar ao governante”, explicou.
A cientista política Graziella Testa, da FGV-SP, afirma que seria uma “surpresa” se houvesse uma descontinuidade no cenário de estabilidade em razão dos atos. “Sobretudo porque não houve um movimento do Jair Bolsonaro de buscar um eleitorado que não é o dele.”
Nesse sentido, Teixeira avalia que os discursos feitos pelo presidente afastam ainda mais minorias sociais, como mulheres. “Ele não vence se não consolidar moderados e mulheres.” Prando pondera que o uso de termos como “imbrochável” pode pegar mal com o segmento femenino, que “já o reprova bastante”.
Graziella acredita que Bolsonaro “tentou fazer um aceno à mulher conservadora”, principalmente quando coloca a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em destaque. “Resta saber se essa mulher conservadora que se tem a ideia é de uma família tradicional, que não trabalha.”
“A sensação que a gente tem de pesquisas é que não é isso. É de que a mulher conservadora pode ser também - e frequentemente é - de uma família uniparental, que às vezes exerce todo o trabalho doméstico e também é a única responsável por prover para seus filhos - às vezes sem filhos”, completou.