Jair Bolsonaro (PL), atual presidente do Brasil e candidato à reeleição, será entrevistado nesta sexta-feira, 21, às 21h30, no estúdio do SBT. A sabatina, promovida pelo Estadão, Rádio Eldorado e um pool de empresas de comunicação (SBT, CNN, Veja, Terra e Rádio Nova Brasil), substituí o debate que ocorreria entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Líder das pesquisas de intenção de voto, a campanha do petista informou que ele não participará do debate do Estadão no segundo turno.
Lula já havia faltado no primeiro debate, realizado no primeiro turno, organizado pelas mesmas empresas. A Coligação Brasil da Esperança alegou “incompatibilidade de agendas” para justificar a ausência de Lula no debate desta sexta. No primeiro turno, Lula obteve 57,2 milhões de votos válidos, ou 48,43% do contabilizado pela Justiça Eleitoral. Bolsonaro, candidato à reeleição, recebeu 51 milhões de votos, ou 43,20% do total.
De acordo com analistas ouvidos pelo Estadão, a tendência é de que o clima da entrevista seja mais tranquilo do que o apresentado no primeiro debate do segundo turno na Band. Sem um adversário e sem a possibilidade de um confronto direto com Lula, Bolsonaro deve maneirar no tom. Isso não significa, no entanto, que ele poupará o ex-presidente.
“Bolsonaro acusará Lula de corrupção e vai explorar o fato do petista ter recusado participar do debate”, afirma o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para Marco Antônio, no entanto, o presidente vai evitar que o tema da corrupção se conecte ao atual governo e fugirá de perguntas sobre as rachadinhas, o escândalo do MEC, o orçamento secreto, entre outras polêmicas envolvendo sua administração.
“A estratégia de Bolsonaro tem sido mostrar que Lula é corrupto e ladrão, mas eu tenho dúvidas se isso virará mais votos”, diz Glauco Peres da Silva, professor associado do departamento de Ciência Política da USP. Silva entende que os votos mobilizados por esses argumentos já estão com Bolsonaro, mas que o presidente precisa de mais adesões para ganhar a eleição. “Ele precisa ser mais propositivo se quiser vencer. Não basta focar nos indecisos e naqueles que votaram nulo. No segundo turno, Bolsonaro precisa convencer eleitores a abandonar Lula”, reitera o professor.
Apesar de estar sozinho no evento, é improvável que o presidente tenha vida fácil. Para Silva, são muitos os assuntos que podem complicar a vida de Bolsonaro durante a entrevista.
Os rompantes autoritários, com as falas sobre a confiabilidade da urna, a decisão de aceitar ou não o resultado das eleições e o aumento artificial da corte do Supremo Tribunal Federal (STF), não devem ser explorados pelo presidente, que busca vender uma imagem de estadista nos últimos dias do pleito.
“Pode ser que, como um fio desencapado, dê um curto circuito e ele seja agressivo, mas a tendência é que ele se mantenha calmo para fazer uma boa sinalização ao eleitorado”, relata o cientista político Rodrigo Prando, professor do Mackenzie.
Bolsonaro também deve explorar a melhoria econômica do País, dando enfoque especial ao Auxílio Brasil. “Ele deve enfatizar que a melhora no cenário econômico foi por conta do benefício que seu governo criou. Sempre que tiver a oportunidade, ele atacará o Bolsa Família de Lula”, diz Prando.
Para o professor, é comum que a melhoria da avaliação de um governo seja convertida em um aumento da intenção de votos. “Isso já está acontecendo. Lula queria que a eleição acabasse no primeiro turno, como uma corrida de 100 metros. Já Bolsonaro, estava disputando uma meia maratona, onde sabia que ia chegar no segundo turno com uma economia mais fortalecida.” A pauta moral pode conduzir boa parte da entrevista, em um aceno ao público evangélico. Mas Bolsonaro também deve conversar com o segmento mais pobre do eleitorado, onde a rejeição dele vem caindo, e com os eleitores do Nordeste.