O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concede entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, nesta quinta-feira, 25, a partir das 20h30. O candidato é o terceiro da série de entrevistas, que recebe os principais presidenciáveis ao longo da semana, marcada ainda pelo início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, dia 26. Já no domingo, 28, os eleitores poderão acompanhar o primeiro debate entre os principais concorrentes ao Palácio do Planalto.
Para cientistas políticos ouvidos pelo Estadão, Lula tem a oportunidade de resgatar a memória de seu antigo governo como um contraponto à gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), e, caso consiga se afastar de temas polêmicos que envolvem gestões petistas como a corrupção, poderá também atrair um eleitorado que ainda mantém seu voto ligado a Ciro Gomes (PDT) ou a Simone Tebet (MDB).
Para o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ex-presidente deve se apresentar de forma mais moderada. “Ele deverá ponderar palavras, não vai falar que vai revogar reforma trabalhista para provocar atritos com o empresariado e certamente vai dizer que no governo dele vai conversar com todo mundo. O que de certa maneira ele tem como se diferenciar de Bolsonaro”, afirmou.
Na segunda-feira, 22, o petista se manifestou contrário ao teto de gastos e disse que o mecanismo já é uma “ficção” na atual gestão. Ele ainda não deu mais detalhes sobre seu plano para a economia brasileira. No dia seguinte, ele fez um aceno a empresários da área da construção civil e disse que “não tem medo do endividamento do Estado”.
Teixeira destacou possíveis elementos que poderiam trazer um resultado positivo ao petista. “Há três questões importantes: a memória da renda e do emprego em suas gestões, quando havia números melhores aos atuais, a questão da segurança alimentar, com o retorno do Brasil ao mapa da fome da ONU e o seu o perfil da liderança, amplo, que envolveram diferentes bases do empresariado brasileiro”, disse.
Confira também:
Professor de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia, Cloves Oliveira destaca que se o ex-presidente quiser atrair o eleitor de Ciro ou de Tebet, precisará se afastar dos temas polêmicos. Os principais estão ligados aos escândalos de corrupção revelados no governo do PT, como o mensalão e a Operação Lava Jato.
“Existe uma situação difícil para ele a partir do momento que a proposta é fazer com que o entrevistado saia de sua zona de conforto”, diz o acadêmico. “Mas neste momento, diferentemente de 2018, a corrupção não está na agenda principal do debate público. Se ele afastar os temas polêmicos, pode atrair os indecisos se irão votar em Ciro ou Tebet.”
Cláudio André de Souza, cientista político da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) disse que pode ser um momento para Lula se posicionar sobre o legado negativo de gestões. “Talvez haja uma posição dele sobre o desastre econômico do governo Dilma Rousseff (PT) e sobre a falta de governabilidade que o partido viveu” afirmou. Para ele, o ex-presidente tem a vantagem em falar depois do chefe do Executivo em poder tocar em temas impopulares do atual governo, como a fome, a dificuldade na geração de emprego e a economia.
Os cientistas ouvidos concordam que temas mais ligados à economia deverão ter mais impacto no eleitorado brasileiro. Por isso, o recurso usado por Bolsonaro de anotar o nome de países governados pela esquerda na América Latina na palma da mão ao longo da sabatina ao Jornal Nacional não deve surtir muito efeito para Lula. “É uma jogada interessante de Bolsonaro escrever aquilo na mão para todo mundo ver. Mas este não deve ser um tema prioritário”, afirma o cientista político George Avelino, da Fundação Getulio Vargas. “É uma questão que não pega muito. Ela tem um caráter mais ideológico do que propositivo. E Lula deve partir para um confronto mais propositivo contra Bolsonaro”, adiciona Marco Antônio Carvalho Teixeira.
Já foram sabatinados pelo jornal o presidente Jair Bolsonaro, na segunda-feira, e o ex-governador Ciro Gomes (PDT), na terça-feira. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) será a última ouvida, na sexta-feira.
Na entrevista com o chefe do Executivo, a audiência do Jornal Nacional foi a maior registrada no Painel Nacional de Televisão (PNT) desde o dia 25 de março de 2020. O noticiário registrou 33 pontos de audiência e 50% de participação na noite da segunda, o que significa que a metade dos domicílios brasileiros com televisores ligados estava sintonizada na TV Globo. Os dados foram divulgados pela própria emissora na terça-feira, 23. No total, o JN de 22 de agosto foi assistido por 48,9 milhões de pessoas.