O que esperar do 7 de Setembro? Veja o que dizem analistas ouvidos pelo ‘Estadão’


Brasil comemora 200 anos de Independência em meio a uma das eleições presidenciais mais polarizadas de sua história

Por Marcela Villar e João Scheller
Atualização:

O Brasil comemora neste 7 de setembro o bicentenário da Independência em meio a uma das eleições presidenciais mais polarizadas de sua história. Para analistas ouvidos pelo Estadão, a data histórica parece ter ficado em segundo plano diante da disputa pelo Planalto e do uso político das Forças Armadas.

“Esse ano, está acontecendo um sequestro da pauta nacionalista e patriótica em torno de uma campanha e projeto político. Isso é muito perigoso, porque tira desse momento a discussão de pensarmos nos nossos projetos nacionais a um único governo que quer se manter”, afirma a historiadora Wlamyra Albuquerque, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

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No domingo, o Estadão mostrou que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) utilizará ações militares para reforçar ato eleitoral na praia de Copacabana, no Rio.

Manifestante com boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lua da Silva (PT) em protesto contra o governo durante desfile de 7 de setembro, em 2018 Foto: Fernando Bezerra JR/EFE

Afinal, o que esperar desse 7 de setembro?

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No Distrito Federal, são esperadas 500 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, somando o ato político e o público presente no desfile cívico-militar. O desfile, que volta a ocorrer após dois anos cancelado devido à pandemia da covid-19, está marcado para 8h.

Depois do evento, no mesmo local, haverá atos em defesa do presidente Bolsonaro previstos para começar por volta das 13h, com carros de som distribuídos pela via. Ele convidou chefes de Estado para comparecerem, como os presidentes de Moçambique e Guiné-Bissau. Em outras capitais, também são esperadas manifestações, como em São Paulo, na Avenida Paulista, que terá trios elétricos.

Um fato inédito neste ano será a presença do coração do primeiro imperador do Brasil, dom Pedro I, transportado ao Brasil em agosto e exposto no Palácio do Itamaraty até esta quinta-feira, 8, quando volta para Portugal. Para Wlamyra, isso remete ao modo como a Independência aconteceu. “Essa sacralidade que o 7 de setembro tem fala mais sobre o modo como a República reinventou o passado monárquico do que o processo de independência”, constata.

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Bolsonaro tenta dar uma demonstração de sua força política no 7 de Setembro e de que conta com o apoio de grande parte da sociedade. “É uma forma de manter o eleitorado dele engajado pela reeleição. Isso foi feito com frequência ao longo do governo, mesmo durante os períodos mais críticos da pandemia de covid-19″, explica o cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Caio Marcondes Barbosa.

Para Rodrigo Lentz, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Bolsonaro se utiliza de uma data militar para realizar um movimento de campanha. “É uma mobilização da própria base de apoio dele, onde ele faz uso do Estado e de uma tradição de 7 de setembro ser um ato militar e não um ato civil. Ele joga com uma tradição de autonomia da instituição militar”, explica.

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O que se comemora no 7 de setembro?

Para o professor Ricardo Moreno, secretário especial de Articulação Interinstitucional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o 7 de Setembro representa “a ruptura formal” entre Brasil e Portugal. “Em 1815, o Brasil deixa essa condição de colônia quando o Estado português rompe e o Brasil vira reino. Esse marco de liberdade comercial que a burguesia em construção no Brasil experimentou fez com que ela não quisesse mais retornar ao pacto colonial, que estabelecia uma exclusividade da metrópole”, explica Moreno.

Por isso, 1822 foi uma “manutenção da independência comercial que já vinha sido obtida”, além de registrar uma mudança geopolítica. “O Brasil deixa de ser um pedaço de Portugal do outro lado do Atlântico e se constitui uma nação independente. Então, temos muito a comemorar”, afirma o professor da Uneb.

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Ele também adiciona que a independência foi um processo que não começou e não acabou naquele ano, porque havia resistência portuguesa no País, principalmente, no Nordeste. “Não teve episódio de guerra no Rio de Janeiro ou São Paulo. Teve na Bahia, Maranhão e Pernambuco, em províncias no litoral, onde estava a economia e a grande produção açucareira que era o grande carro-chefe da política de exportação. Os portugueses não queriam abrir mão”, diz Moreno.

Manifestação na Avenida Paulista pró-Bolsonaro no dia 7 de setembro de 2021 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por que há manifestações no 7 de setembro?

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As manifestações oficiais de datas comemorativas começaram a surgir ainda no Império, para tornar as celebrações eventos públicos, segundo Walmyra Albuquerque. O objetivo era que “as pessoas na rua pudessem demonstrar pertencimento nacional”.

Desde a ditadura militar, os desfiles têm sido mais focados em “enfatizar as Forças Armadas”. Essa comemoração, no entanto, é diferente em outros Estados. “Na Bahia, no 2 de julho, ocorre uma festa popular com vários grupos diferentes e a participação militar não é central”, afirma a historiadora.

Para ela, a data deve ser marcada pelo festejo da liberdade, igualdade e reflexão em relação aos próximos anos de República. “Essas datas comemorativas servem para a gente fazer um diagnóstico e analisar o que construímos, em que ponto estamos, o que queremos. Tem pautas nacionais que precisam ser discutidas, como a mudança climática, saúde, educação, racismo, que precisam ser enfrentadas a médio e longo prazo. Que tipo de sociedade a gente quer daqui a 200 anos?”, questiona.

O Brasil comemora neste 7 de setembro o bicentenário da Independência em meio a uma das eleições presidenciais mais polarizadas de sua história. Para analistas ouvidos pelo Estadão, a data histórica parece ter ficado em segundo plano diante da disputa pelo Planalto e do uso político das Forças Armadas.

“Esse ano, está acontecendo um sequestro da pauta nacionalista e patriótica em torno de uma campanha e projeto político. Isso é muito perigoso, porque tira desse momento a discussão de pensarmos nos nossos projetos nacionais a um único governo que quer se manter”, afirma a historiadora Wlamyra Albuquerque, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

No domingo, o Estadão mostrou que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) utilizará ações militares para reforçar ato eleitoral na praia de Copacabana, no Rio.

Manifestante com boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lua da Silva (PT) em protesto contra o governo durante desfile de 7 de setembro, em 2018 Foto: Fernando Bezerra JR/EFE

Afinal, o que esperar desse 7 de setembro?

No Distrito Federal, são esperadas 500 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, somando o ato político e o público presente no desfile cívico-militar. O desfile, que volta a ocorrer após dois anos cancelado devido à pandemia da covid-19, está marcado para 8h.

Depois do evento, no mesmo local, haverá atos em defesa do presidente Bolsonaro previstos para começar por volta das 13h, com carros de som distribuídos pela via. Ele convidou chefes de Estado para comparecerem, como os presidentes de Moçambique e Guiné-Bissau. Em outras capitais, também são esperadas manifestações, como em São Paulo, na Avenida Paulista, que terá trios elétricos.

Um fato inédito neste ano será a presença do coração do primeiro imperador do Brasil, dom Pedro I, transportado ao Brasil em agosto e exposto no Palácio do Itamaraty até esta quinta-feira, 8, quando volta para Portugal. Para Wlamyra, isso remete ao modo como a Independência aconteceu. “Essa sacralidade que o 7 de setembro tem fala mais sobre o modo como a República reinventou o passado monárquico do que o processo de independência”, constata.

Bolsonaro tenta dar uma demonstração de sua força política no 7 de Setembro e de que conta com o apoio de grande parte da sociedade. “É uma forma de manter o eleitorado dele engajado pela reeleição. Isso foi feito com frequência ao longo do governo, mesmo durante os períodos mais críticos da pandemia de covid-19″, explica o cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Caio Marcondes Barbosa.

Para Rodrigo Lentz, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Bolsonaro se utiliza de uma data militar para realizar um movimento de campanha. “É uma mobilização da própria base de apoio dele, onde ele faz uso do Estado e de uma tradição de 7 de setembro ser um ato militar e não um ato civil. Ele joga com uma tradição de autonomia da instituição militar”, explica.

O que se comemora no 7 de setembro?

Para o professor Ricardo Moreno, secretário especial de Articulação Interinstitucional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o 7 de Setembro representa “a ruptura formal” entre Brasil e Portugal. “Em 1815, o Brasil deixa essa condição de colônia quando o Estado português rompe e o Brasil vira reino. Esse marco de liberdade comercial que a burguesia em construção no Brasil experimentou fez com que ela não quisesse mais retornar ao pacto colonial, que estabelecia uma exclusividade da metrópole”, explica Moreno.

Por isso, 1822 foi uma “manutenção da independência comercial que já vinha sido obtida”, além de registrar uma mudança geopolítica. “O Brasil deixa de ser um pedaço de Portugal do outro lado do Atlântico e se constitui uma nação independente. Então, temos muito a comemorar”, afirma o professor da Uneb.

Ele também adiciona que a independência foi um processo que não começou e não acabou naquele ano, porque havia resistência portuguesa no País, principalmente, no Nordeste. “Não teve episódio de guerra no Rio de Janeiro ou São Paulo. Teve na Bahia, Maranhão e Pernambuco, em províncias no litoral, onde estava a economia e a grande produção açucareira que era o grande carro-chefe da política de exportação. Os portugueses não queriam abrir mão”, diz Moreno.

Manifestação na Avenida Paulista pró-Bolsonaro no dia 7 de setembro de 2021 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por que há manifestações no 7 de setembro?

As manifestações oficiais de datas comemorativas começaram a surgir ainda no Império, para tornar as celebrações eventos públicos, segundo Walmyra Albuquerque. O objetivo era que “as pessoas na rua pudessem demonstrar pertencimento nacional”.

Desde a ditadura militar, os desfiles têm sido mais focados em “enfatizar as Forças Armadas”. Essa comemoração, no entanto, é diferente em outros Estados. “Na Bahia, no 2 de julho, ocorre uma festa popular com vários grupos diferentes e a participação militar não é central”, afirma a historiadora.

Para ela, a data deve ser marcada pelo festejo da liberdade, igualdade e reflexão em relação aos próximos anos de República. “Essas datas comemorativas servem para a gente fazer um diagnóstico e analisar o que construímos, em que ponto estamos, o que queremos. Tem pautas nacionais que precisam ser discutidas, como a mudança climática, saúde, educação, racismo, que precisam ser enfrentadas a médio e longo prazo. Que tipo de sociedade a gente quer daqui a 200 anos?”, questiona.

O Brasil comemora neste 7 de setembro o bicentenário da Independência em meio a uma das eleições presidenciais mais polarizadas de sua história. Para analistas ouvidos pelo Estadão, a data histórica parece ter ficado em segundo plano diante da disputa pelo Planalto e do uso político das Forças Armadas.

“Esse ano, está acontecendo um sequestro da pauta nacionalista e patriótica em torno de uma campanha e projeto político. Isso é muito perigoso, porque tira desse momento a discussão de pensarmos nos nossos projetos nacionais a um único governo que quer se manter”, afirma a historiadora Wlamyra Albuquerque, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

No domingo, o Estadão mostrou que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) utilizará ações militares para reforçar ato eleitoral na praia de Copacabana, no Rio.

Manifestante com boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lua da Silva (PT) em protesto contra o governo durante desfile de 7 de setembro, em 2018 Foto: Fernando Bezerra JR/EFE

Afinal, o que esperar desse 7 de setembro?

No Distrito Federal, são esperadas 500 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, somando o ato político e o público presente no desfile cívico-militar. O desfile, que volta a ocorrer após dois anos cancelado devido à pandemia da covid-19, está marcado para 8h.

Depois do evento, no mesmo local, haverá atos em defesa do presidente Bolsonaro previstos para começar por volta das 13h, com carros de som distribuídos pela via. Ele convidou chefes de Estado para comparecerem, como os presidentes de Moçambique e Guiné-Bissau. Em outras capitais, também são esperadas manifestações, como em São Paulo, na Avenida Paulista, que terá trios elétricos.

Um fato inédito neste ano será a presença do coração do primeiro imperador do Brasil, dom Pedro I, transportado ao Brasil em agosto e exposto no Palácio do Itamaraty até esta quinta-feira, 8, quando volta para Portugal. Para Wlamyra, isso remete ao modo como a Independência aconteceu. “Essa sacralidade que o 7 de setembro tem fala mais sobre o modo como a República reinventou o passado monárquico do que o processo de independência”, constata.

Bolsonaro tenta dar uma demonstração de sua força política no 7 de Setembro e de que conta com o apoio de grande parte da sociedade. “É uma forma de manter o eleitorado dele engajado pela reeleição. Isso foi feito com frequência ao longo do governo, mesmo durante os períodos mais críticos da pandemia de covid-19″, explica o cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Caio Marcondes Barbosa.

Para Rodrigo Lentz, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Bolsonaro se utiliza de uma data militar para realizar um movimento de campanha. “É uma mobilização da própria base de apoio dele, onde ele faz uso do Estado e de uma tradição de 7 de setembro ser um ato militar e não um ato civil. Ele joga com uma tradição de autonomia da instituição militar”, explica.

O que se comemora no 7 de setembro?

Para o professor Ricardo Moreno, secretário especial de Articulação Interinstitucional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o 7 de Setembro representa “a ruptura formal” entre Brasil e Portugal. “Em 1815, o Brasil deixa essa condição de colônia quando o Estado português rompe e o Brasil vira reino. Esse marco de liberdade comercial que a burguesia em construção no Brasil experimentou fez com que ela não quisesse mais retornar ao pacto colonial, que estabelecia uma exclusividade da metrópole”, explica Moreno.

Por isso, 1822 foi uma “manutenção da independência comercial que já vinha sido obtida”, além de registrar uma mudança geopolítica. “O Brasil deixa de ser um pedaço de Portugal do outro lado do Atlântico e se constitui uma nação independente. Então, temos muito a comemorar”, afirma o professor da Uneb.

Ele também adiciona que a independência foi um processo que não começou e não acabou naquele ano, porque havia resistência portuguesa no País, principalmente, no Nordeste. “Não teve episódio de guerra no Rio de Janeiro ou São Paulo. Teve na Bahia, Maranhão e Pernambuco, em províncias no litoral, onde estava a economia e a grande produção açucareira que era o grande carro-chefe da política de exportação. Os portugueses não queriam abrir mão”, diz Moreno.

Manifestação na Avenida Paulista pró-Bolsonaro no dia 7 de setembro de 2021 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por que há manifestações no 7 de setembro?

As manifestações oficiais de datas comemorativas começaram a surgir ainda no Império, para tornar as celebrações eventos públicos, segundo Walmyra Albuquerque. O objetivo era que “as pessoas na rua pudessem demonstrar pertencimento nacional”.

Desde a ditadura militar, os desfiles têm sido mais focados em “enfatizar as Forças Armadas”. Essa comemoração, no entanto, é diferente em outros Estados. “Na Bahia, no 2 de julho, ocorre uma festa popular com vários grupos diferentes e a participação militar não é central”, afirma a historiadora.

Para ela, a data deve ser marcada pelo festejo da liberdade, igualdade e reflexão em relação aos próximos anos de República. “Essas datas comemorativas servem para a gente fazer um diagnóstico e analisar o que construímos, em que ponto estamos, o que queremos. Tem pautas nacionais que precisam ser discutidas, como a mudança climática, saúde, educação, racismo, que precisam ser enfrentadas a médio e longo prazo. Que tipo de sociedade a gente quer daqui a 200 anos?”, questiona.

O Brasil comemora neste 7 de setembro o bicentenário da Independência em meio a uma das eleições presidenciais mais polarizadas de sua história. Para analistas ouvidos pelo Estadão, a data histórica parece ter ficado em segundo plano diante da disputa pelo Planalto e do uso político das Forças Armadas.

“Esse ano, está acontecendo um sequestro da pauta nacionalista e patriótica em torno de uma campanha e projeto político. Isso é muito perigoso, porque tira desse momento a discussão de pensarmos nos nossos projetos nacionais a um único governo que quer se manter”, afirma a historiadora Wlamyra Albuquerque, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

No domingo, o Estadão mostrou que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) utilizará ações militares para reforçar ato eleitoral na praia de Copacabana, no Rio.

Manifestante com boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lua da Silva (PT) em protesto contra o governo durante desfile de 7 de setembro, em 2018 Foto: Fernando Bezerra JR/EFE

Afinal, o que esperar desse 7 de setembro?

No Distrito Federal, são esperadas 500 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, somando o ato político e o público presente no desfile cívico-militar. O desfile, que volta a ocorrer após dois anos cancelado devido à pandemia da covid-19, está marcado para 8h.

Depois do evento, no mesmo local, haverá atos em defesa do presidente Bolsonaro previstos para começar por volta das 13h, com carros de som distribuídos pela via. Ele convidou chefes de Estado para comparecerem, como os presidentes de Moçambique e Guiné-Bissau. Em outras capitais, também são esperadas manifestações, como em São Paulo, na Avenida Paulista, que terá trios elétricos.

Um fato inédito neste ano será a presença do coração do primeiro imperador do Brasil, dom Pedro I, transportado ao Brasil em agosto e exposto no Palácio do Itamaraty até esta quinta-feira, 8, quando volta para Portugal. Para Wlamyra, isso remete ao modo como a Independência aconteceu. “Essa sacralidade que o 7 de setembro tem fala mais sobre o modo como a República reinventou o passado monárquico do que o processo de independência”, constata.

Bolsonaro tenta dar uma demonstração de sua força política no 7 de Setembro e de que conta com o apoio de grande parte da sociedade. “É uma forma de manter o eleitorado dele engajado pela reeleição. Isso foi feito com frequência ao longo do governo, mesmo durante os períodos mais críticos da pandemia de covid-19″, explica o cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Caio Marcondes Barbosa.

Para Rodrigo Lentz, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Bolsonaro se utiliza de uma data militar para realizar um movimento de campanha. “É uma mobilização da própria base de apoio dele, onde ele faz uso do Estado e de uma tradição de 7 de setembro ser um ato militar e não um ato civil. Ele joga com uma tradição de autonomia da instituição militar”, explica.

O que se comemora no 7 de setembro?

Para o professor Ricardo Moreno, secretário especial de Articulação Interinstitucional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o 7 de Setembro representa “a ruptura formal” entre Brasil e Portugal. “Em 1815, o Brasil deixa essa condição de colônia quando o Estado português rompe e o Brasil vira reino. Esse marco de liberdade comercial que a burguesia em construção no Brasil experimentou fez com que ela não quisesse mais retornar ao pacto colonial, que estabelecia uma exclusividade da metrópole”, explica Moreno.

Por isso, 1822 foi uma “manutenção da independência comercial que já vinha sido obtida”, além de registrar uma mudança geopolítica. “O Brasil deixa de ser um pedaço de Portugal do outro lado do Atlântico e se constitui uma nação independente. Então, temos muito a comemorar”, afirma o professor da Uneb.

Ele também adiciona que a independência foi um processo que não começou e não acabou naquele ano, porque havia resistência portuguesa no País, principalmente, no Nordeste. “Não teve episódio de guerra no Rio de Janeiro ou São Paulo. Teve na Bahia, Maranhão e Pernambuco, em províncias no litoral, onde estava a economia e a grande produção açucareira que era o grande carro-chefe da política de exportação. Os portugueses não queriam abrir mão”, diz Moreno.

Manifestação na Avenida Paulista pró-Bolsonaro no dia 7 de setembro de 2021 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por que há manifestações no 7 de setembro?

As manifestações oficiais de datas comemorativas começaram a surgir ainda no Império, para tornar as celebrações eventos públicos, segundo Walmyra Albuquerque. O objetivo era que “as pessoas na rua pudessem demonstrar pertencimento nacional”.

Desde a ditadura militar, os desfiles têm sido mais focados em “enfatizar as Forças Armadas”. Essa comemoração, no entanto, é diferente em outros Estados. “Na Bahia, no 2 de julho, ocorre uma festa popular com vários grupos diferentes e a participação militar não é central”, afirma a historiadora.

Para ela, a data deve ser marcada pelo festejo da liberdade, igualdade e reflexão em relação aos próximos anos de República. “Essas datas comemorativas servem para a gente fazer um diagnóstico e analisar o que construímos, em que ponto estamos, o que queremos. Tem pautas nacionais que precisam ser discutidas, como a mudança climática, saúde, educação, racismo, que precisam ser enfrentadas a médio e longo prazo. Que tipo de sociedade a gente quer daqui a 200 anos?”, questiona.

O Brasil comemora neste 7 de setembro o bicentenário da Independência em meio a uma das eleições presidenciais mais polarizadas de sua história. Para analistas ouvidos pelo Estadão, a data histórica parece ter ficado em segundo plano diante da disputa pelo Planalto e do uso político das Forças Armadas.

“Esse ano, está acontecendo um sequestro da pauta nacionalista e patriótica em torno de uma campanha e projeto político. Isso é muito perigoso, porque tira desse momento a discussão de pensarmos nos nossos projetos nacionais a um único governo que quer se manter”, afirma a historiadora Wlamyra Albuquerque, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

No domingo, o Estadão mostrou que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) utilizará ações militares para reforçar ato eleitoral na praia de Copacabana, no Rio.

Manifestante com boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lua da Silva (PT) em protesto contra o governo durante desfile de 7 de setembro, em 2018 Foto: Fernando Bezerra JR/EFE

Afinal, o que esperar desse 7 de setembro?

No Distrito Federal, são esperadas 500 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, somando o ato político e o público presente no desfile cívico-militar. O desfile, que volta a ocorrer após dois anos cancelado devido à pandemia da covid-19, está marcado para 8h.

Depois do evento, no mesmo local, haverá atos em defesa do presidente Bolsonaro previstos para começar por volta das 13h, com carros de som distribuídos pela via. Ele convidou chefes de Estado para comparecerem, como os presidentes de Moçambique e Guiné-Bissau. Em outras capitais, também são esperadas manifestações, como em São Paulo, na Avenida Paulista, que terá trios elétricos.

Um fato inédito neste ano será a presença do coração do primeiro imperador do Brasil, dom Pedro I, transportado ao Brasil em agosto e exposto no Palácio do Itamaraty até esta quinta-feira, 8, quando volta para Portugal. Para Wlamyra, isso remete ao modo como a Independência aconteceu. “Essa sacralidade que o 7 de setembro tem fala mais sobre o modo como a República reinventou o passado monárquico do que o processo de independência”, constata.

Bolsonaro tenta dar uma demonstração de sua força política no 7 de Setembro e de que conta com o apoio de grande parte da sociedade. “É uma forma de manter o eleitorado dele engajado pela reeleição. Isso foi feito com frequência ao longo do governo, mesmo durante os períodos mais críticos da pandemia de covid-19″, explica o cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Caio Marcondes Barbosa.

Para Rodrigo Lentz, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Bolsonaro se utiliza de uma data militar para realizar um movimento de campanha. “É uma mobilização da própria base de apoio dele, onde ele faz uso do Estado e de uma tradição de 7 de setembro ser um ato militar e não um ato civil. Ele joga com uma tradição de autonomia da instituição militar”, explica.

O que se comemora no 7 de setembro?

Para o professor Ricardo Moreno, secretário especial de Articulação Interinstitucional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o 7 de Setembro representa “a ruptura formal” entre Brasil e Portugal. “Em 1815, o Brasil deixa essa condição de colônia quando o Estado português rompe e o Brasil vira reino. Esse marco de liberdade comercial que a burguesia em construção no Brasil experimentou fez com que ela não quisesse mais retornar ao pacto colonial, que estabelecia uma exclusividade da metrópole”, explica Moreno.

Por isso, 1822 foi uma “manutenção da independência comercial que já vinha sido obtida”, além de registrar uma mudança geopolítica. “O Brasil deixa de ser um pedaço de Portugal do outro lado do Atlântico e se constitui uma nação independente. Então, temos muito a comemorar”, afirma o professor da Uneb.

Ele também adiciona que a independência foi um processo que não começou e não acabou naquele ano, porque havia resistência portuguesa no País, principalmente, no Nordeste. “Não teve episódio de guerra no Rio de Janeiro ou São Paulo. Teve na Bahia, Maranhão e Pernambuco, em províncias no litoral, onde estava a economia e a grande produção açucareira que era o grande carro-chefe da política de exportação. Os portugueses não queriam abrir mão”, diz Moreno.

Manifestação na Avenida Paulista pró-Bolsonaro no dia 7 de setembro de 2021 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por que há manifestações no 7 de setembro?

As manifestações oficiais de datas comemorativas começaram a surgir ainda no Império, para tornar as celebrações eventos públicos, segundo Walmyra Albuquerque. O objetivo era que “as pessoas na rua pudessem demonstrar pertencimento nacional”.

Desde a ditadura militar, os desfiles têm sido mais focados em “enfatizar as Forças Armadas”. Essa comemoração, no entanto, é diferente em outros Estados. “Na Bahia, no 2 de julho, ocorre uma festa popular com vários grupos diferentes e a participação militar não é central”, afirma a historiadora.

Para ela, a data deve ser marcada pelo festejo da liberdade, igualdade e reflexão em relação aos próximos anos de República. “Essas datas comemorativas servem para a gente fazer um diagnóstico e analisar o que construímos, em que ponto estamos, o que queremos. Tem pautas nacionais que precisam ser discutidas, como a mudança climática, saúde, educação, racismo, que precisam ser enfrentadas a médio e longo prazo. Que tipo de sociedade a gente quer daqui a 200 anos?”, questiona.

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