O que Bolsonaro fez antes e depois da reunião do plano de golpe que motivou operação da PF


Ex-presidente Jair Bolsonaro intensificou agenda com viés religioso às vésperas da campanha presidencial de 2022

Por Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – Enquanto arquitetava um enredo golpista com a participação de militares, ministros de Estado e aliados políticos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificou a agenda com lideranças religiosas e recorreu ao discurso de apelo ideológico para manter a base de apoio coesa no período pré-eleitoral de 2022. O ex-chefe do Executivo dedicou 40% da agenda oficial para encontros e compromissos com o eleitorado evangélico em julho daquele ano – mês da reunião ministerial em que Bolsonaro incita ministros a compartilharem ataques contra o então adversário petista Luiz Inácio Lula da Silva e versões fraudulentas sobre as eleições e a Justiça Eleitoral.

No decorrer de julho, Bolsonaro participou de dez encontros e eventos com apelo religioso. Em uma série de viagens por cinco Estados, o então presidente compareceu à Marcha para Jesus e a reuniões com pastores em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará e Rio Grande do Norte.

Bolsonaro e seus ministros na reunião de junho de 2022 Foto: STF/Reprodução
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O discurso religioso que permeava o dia a dia de Bolsonaro nas agendas pelo País foi levado à reunião do dia 5 de julho. O então chefe do Executivo usou parte do encontro para compartilhar ataques publicados nas redes sociais contra Lula. A mensagem principal era: cristão não pode ser de esquerda, tem que ser conservador.

“Passe esse vídeo rapidamente, que eu tenho outro assunto…”, disse o presidente ao pedir a exibição de um conteúdo na reunião. Bolsonaro, então, interrompeu o discurso e os telões da Sala Suprema do Palácio do Planalto passaram a mostrar um vídeo de 1 minuto e 37 segundos, feito pela deputada estadual cearense Doutora Silvana, do PL.

O vídeo intercala falas de Silvana com declarações do então presidenciável petista sobre aborto e drogas. A execução do vídeo com o recado religioso começa aos 16 minutos e 35 segundos na gravação da reunião presidencial divulgada pela Polícia Federal (PF).

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“Cristão que é cristão não pode ser de esquerda”, diz o entrevistador, no vídeo exibido por Bolsonaro aos ministros. “Não é cristão”, diz Doutora Silvana. “Quais são as bandeiras da esquerda? O aborto…”, diz a deputada estadual do PL. Em seguida, há um trecho de uma fala de Lula sobre o tema no dia 6 de abril de 2022. “Aqui no Brasil ela (mulher) não faz porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha. Eu não quero ter um filho, vou cuidar de não ter meu filho”, diz Lula, então candidato do PT à Presidência da República, na gravação.

Nos bastidores, o então presidente criava as condições para a subversão do Estado Democrático de Direito, segundo mostram as investigações. O chefe do Executivo reforçou, na reunião de 5 de julho, a necessidade de propagar desinformações contra a Justiça Eleitoral, em uma tentativa de descredibilizar uma possível vitória do candidato opositor, Lula, “com a finalidade de manutenção e permanência de seu grupo no poder”, conforme afirmou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que autorizou a operação da PF na semana passada.

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Publicamente, a narrativa adotada por Bolsonaro e aliados foi do “bem contra o mal”. Quatro dias após a reunião ministerial, o então presidente disse durante uma aparição na Marcha para Jesus, em São Paulo, que o País enfrenta uma “luta do bem contra o mal” e voltou a reforçar pautas de costume.

“Somos contra o aborto, somos contra a ideologia de gênero, somos contra a liberação das drogas, somos defensores da família brasileira. Nós somos a maioria do País, a maioria do bem, e, nessa guerra do bem contra o mal, o bem vencerá”, disse Bolsonaro a apoiadores.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da Marcha para Jesus em Uberlândia (MG) Foto: Vinícius Lemos
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O presidente disse ainda pedir a Deus que os brasileiros não experimentem o que chamou de “as dores do socialismo”. “Vejam como vivem os nossos irmãos na Venezuela. Como estamos indo a outros países, como Argentina, Chile e Colômbia. Nós não queremos isso para o nosso Brasil. O Brasil é uma potência em todos os aspectos, em especial no ser humano, que habita aqui”, disse.

Em um segundo momento, Bolsonaro pontuou divergências com adversários políticos em relação ao combate à pandemia de covid-19. “Vocês viram quem fechou igrejas, quem obrigou vocês a ficarem em casa. Somos do bem, queremos a paz e sabemos quem são os que querem roubar nossa liberdade.” No mesmo dia, 9 de julho, ele participou da Marcha para Jesus em Uberlândia (MG).

Presidente Jair Bolsonaro foi celebrado e recebeu presentes em missa na capital do Rio Grande do Norte Foto: Ícaro Carvalho/Estadão
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No dia 16 daquele mês, Bolsonaro participou de outras duas marchas para Jesus, uma em Fortaleza (CE) e outra em Natal (RN). Ele compareceu ainda a uma missa na Basílica dos Mártires na capital potiguar e a um culto na igreja evangélica Assembleia de Deus Rio Grande do Norte, onde se reuniu com pastores.

RIO – Enquanto arquitetava um enredo golpista com a participação de militares, ministros de Estado e aliados políticos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificou a agenda com lideranças religiosas e recorreu ao discurso de apelo ideológico para manter a base de apoio coesa no período pré-eleitoral de 2022. O ex-chefe do Executivo dedicou 40% da agenda oficial para encontros e compromissos com o eleitorado evangélico em julho daquele ano – mês da reunião ministerial em que Bolsonaro incita ministros a compartilharem ataques contra o então adversário petista Luiz Inácio Lula da Silva e versões fraudulentas sobre as eleições e a Justiça Eleitoral.

No decorrer de julho, Bolsonaro participou de dez encontros e eventos com apelo religioso. Em uma série de viagens por cinco Estados, o então presidente compareceu à Marcha para Jesus e a reuniões com pastores em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará e Rio Grande do Norte.

Bolsonaro e seus ministros na reunião de junho de 2022 Foto: STF/Reprodução

O discurso religioso que permeava o dia a dia de Bolsonaro nas agendas pelo País foi levado à reunião do dia 5 de julho. O então chefe do Executivo usou parte do encontro para compartilhar ataques publicados nas redes sociais contra Lula. A mensagem principal era: cristão não pode ser de esquerda, tem que ser conservador.

“Passe esse vídeo rapidamente, que eu tenho outro assunto…”, disse o presidente ao pedir a exibição de um conteúdo na reunião. Bolsonaro, então, interrompeu o discurso e os telões da Sala Suprema do Palácio do Planalto passaram a mostrar um vídeo de 1 minuto e 37 segundos, feito pela deputada estadual cearense Doutora Silvana, do PL.

O vídeo intercala falas de Silvana com declarações do então presidenciável petista sobre aborto e drogas. A execução do vídeo com o recado religioso começa aos 16 minutos e 35 segundos na gravação da reunião presidencial divulgada pela Polícia Federal (PF).

“Cristão que é cristão não pode ser de esquerda”, diz o entrevistador, no vídeo exibido por Bolsonaro aos ministros. “Não é cristão”, diz Doutora Silvana. “Quais são as bandeiras da esquerda? O aborto…”, diz a deputada estadual do PL. Em seguida, há um trecho de uma fala de Lula sobre o tema no dia 6 de abril de 2022. “Aqui no Brasil ela (mulher) não faz porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha. Eu não quero ter um filho, vou cuidar de não ter meu filho”, diz Lula, então candidato do PT à Presidência da República, na gravação.

Nos bastidores, o então presidente criava as condições para a subversão do Estado Democrático de Direito, segundo mostram as investigações. O chefe do Executivo reforçou, na reunião de 5 de julho, a necessidade de propagar desinformações contra a Justiça Eleitoral, em uma tentativa de descredibilizar uma possível vitória do candidato opositor, Lula, “com a finalidade de manutenção e permanência de seu grupo no poder”, conforme afirmou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que autorizou a operação da PF na semana passada.

Publicamente, a narrativa adotada por Bolsonaro e aliados foi do “bem contra o mal”. Quatro dias após a reunião ministerial, o então presidente disse durante uma aparição na Marcha para Jesus, em São Paulo, que o País enfrenta uma “luta do bem contra o mal” e voltou a reforçar pautas de costume.

“Somos contra o aborto, somos contra a ideologia de gênero, somos contra a liberação das drogas, somos defensores da família brasileira. Nós somos a maioria do País, a maioria do bem, e, nessa guerra do bem contra o mal, o bem vencerá”, disse Bolsonaro a apoiadores.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da Marcha para Jesus em Uberlândia (MG) Foto: Vinícius Lemos

O presidente disse ainda pedir a Deus que os brasileiros não experimentem o que chamou de “as dores do socialismo”. “Vejam como vivem os nossos irmãos na Venezuela. Como estamos indo a outros países, como Argentina, Chile e Colômbia. Nós não queremos isso para o nosso Brasil. O Brasil é uma potência em todos os aspectos, em especial no ser humano, que habita aqui”, disse.

Em um segundo momento, Bolsonaro pontuou divergências com adversários políticos em relação ao combate à pandemia de covid-19. “Vocês viram quem fechou igrejas, quem obrigou vocês a ficarem em casa. Somos do bem, queremos a paz e sabemos quem são os que querem roubar nossa liberdade.” No mesmo dia, 9 de julho, ele participou da Marcha para Jesus em Uberlândia (MG).

Presidente Jair Bolsonaro foi celebrado e recebeu presentes em missa na capital do Rio Grande do Norte Foto: Ícaro Carvalho/Estadão

No dia 16 daquele mês, Bolsonaro participou de outras duas marchas para Jesus, uma em Fortaleza (CE) e outra em Natal (RN). Ele compareceu ainda a uma missa na Basílica dos Mártires na capital potiguar e a um culto na igreja evangélica Assembleia de Deus Rio Grande do Norte, onde se reuniu com pastores.

RIO – Enquanto arquitetava um enredo golpista com a participação de militares, ministros de Estado e aliados políticos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificou a agenda com lideranças religiosas e recorreu ao discurso de apelo ideológico para manter a base de apoio coesa no período pré-eleitoral de 2022. O ex-chefe do Executivo dedicou 40% da agenda oficial para encontros e compromissos com o eleitorado evangélico em julho daquele ano – mês da reunião ministerial em que Bolsonaro incita ministros a compartilharem ataques contra o então adversário petista Luiz Inácio Lula da Silva e versões fraudulentas sobre as eleições e a Justiça Eleitoral.

No decorrer de julho, Bolsonaro participou de dez encontros e eventos com apelo religioso. Em uma série de viagens por cinco Estados, o então presidente compareceu à Marcha para Jesus e a reuniões com pastores em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará e Rio Grande do Norte.

Bolsonaro e seus ministros na reunião de junho de 2022 Foto: STF/Reprodução

O discurso religioso que permeava o dia a dia de Bolsonaro nas agendas pelo País foi levado à reunião do dia 5 de julho. O então chefe do Executivo usou parte do encontro para compartilhar ataques publicados nas redes sociais contra Lula. A mensagem principal era: cristão não pode ser de esquerda, tem que ser conservador.

“Passe esse vídeo rapidamente, que eu tenho outro assunto…”, disse o presidente ao pedir a exibição de um conteúdo na reunião. Bolsonaro, então, interrompeu o discurso e os telões da Sala Suprema do Palácio do Planalto passaram a mostrar um vídeo de 1 minuto e 37 segundos, feito pela deputada estadual cearense Doutora Silvana, do PL.

O vídeo intercala falas de Silvana com declarações do então presidenciável petista sobre aborto e drogas. A execução do vídeo com o recado religioso começa aos 16 minutos e 35 segundos na gravação da reunião presidencial divulgada pela Polícia Federal (PF).

“Cristão que é cristão não pode ser de esquerda”, diz o entrevistador, no vídeo exibido por Bolsonaro aos ministros. “Não é cristão”, diz Doutora Silvana. “Quais são as bandeiras da esquerda? O aborto…”, diz a deputada estadual do PL. Em seguida, há um trecho de uma fala de Lula sobre o tema no dia 6 de abril de 2022. “Aqui no Brasil ela (mulher) não faz porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha. Eu não quero ter um filho, vou cuidar de não ter meu filho”, diz Lula, então candidato do PT à Presidência da República, na gravação.

Nos bastidores, o então presidente criava as condições para a subversão do Estado Democrático de Direito, segundo mostram as investigações. O chefe do Executivo reforçou, na reunião de 5 de julho, a necessidade de propagar desinformações contra a Justiça Eleitoral, em uma tentativa de descredibilizar uma possível vitória do candidato opositor, Lula, “com a finalidade de manutenção e permanência de seu grupo no poder”, conforme afirmou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que autorizou a operação da PF na semana passada.

Publicamente, a narrativa adotada por Bolsonaro e aliados foi do “bem contra o mal”. Quatro dias após a reunião ministerial, o então presidente disse durante uma aparição na Marcha para Jesus, em São Paulo, que o País enfrenta uma “luta do bem contra o mal” e voltou a reforçar pautas de costume.

“Somos contra o aborto, somos contra a ideologia de gênero, somos contra a liberação das drogas, somos defensores da família brasileira. Nós somos a maioria do País, a maioria do bem, e, nessa guerra do bem contra o mal, o bem vencerá”, disse Bolsonaro a apoiadores.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da Marcha para Jesus em Uberlândia (MG) Foto: Vinícius Lemos

O presidente disse ainda pedir a Deus que os brasileiros não experimentem o que chamou de “as dores do socialismo”. “Vejam como vivem os nossos irmãos na Venezuela. Como estamos indo a outros países, como Argentina, Chile e Colômbia. Nós não queremos isso para o nosso Brasil. O Brasil é uma potência em todos os aspectos, em especial no ser humano, que habita aqui”, disse.

Em um segundo momento, Bolsonaro pontuou divergências com adversários políticos em relação ao combate à pandemia de covid-19. “Vocês viram quem fechou igrejas, quem obrigou vocês a ficarem em casa. Somos do bem, queremos a paz e sabemos quem são os que querem roubar nossa liberdade.” No mesmo dia, 9 de julho, ele participou da Marcha para Jesus em Uberlândia (MG).

Presidente Jair Bolsonaro foi celebrado e recebeu presentes em missa na capital do Rio Grande do Norte Foto: Ícaro Carvalho/Estadão

No dia 16 daquele mês, Bolsonaro participou de outras duas marchas para Jesus, uma em Fortaleza (CE) e outra em Natal (RN). Ele compareceu ainda a uma missa na Basílica dos Mártires na capital potiguar e a um culto na igreja evangélica Assembleia de Deus Rio Grande do Norte, onde se reuniu com pastores.

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