Assim como não se sabe o que veio antes, o ovo ou a galinha, também não está claro se a birra do presidente Lula é contra o Banco Central (BC) ou contra o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, que mergulhou no governo anterior mais fundo do que se previa, até ir votar fantasiado de bolsonarista. As duas coisas andam juntas, mas, em se conhecendo um pouquinho Lula, dá para imaginar o tamanho da implicância com Campos Neto.
Independência não combina com o presidente do BC votando com a camiseta amarela da seleção no primeiro e no segundo turno de 2022. Não foi por amor ao futebol. Foi, sim, um mau passo. Roberto Campos Neto vinha passando praticamente ileso do desastre que foi o governo Jair Bolsonaro e a aprovação da independência do BC foi considerada um dos raros acertos em meio aos escombros.
Logo, Roberto Campos Neto errou e o erro se torna ainda mais grave porque seu mandato na instituição vai até o fim de 2024, o que significa que ele sabia, como sabe, que vai ter de conviver dois anos com o presidente legitimamente eleito pelas urnas eletrônicas. Seu voto bolsonarista foi uma provocação barata, beirando o juvenil.
Tudo isso colocado, vem a pergunta: o que o Brasil, a economia e o governo Lula ganham com esses recados praticamente diários do presidente da República contra o presidente do BC, chamado de “esse cidadão”? É uma picuinha, é falar para a claque petista, é desopilar o fígado sem resolver o principal: e a economia?
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O último round foi a decisão do BC, do alto de sua independência, aprovada pelo Congresso, de manter os juros em 13,5% ao ano, contrariando Lula, que detesta ser contrariado. À RedeTV!, ele acenou pela primeira vez com a possibilidade de rever a independência do BC, disse que iria “cobrar” o banco e atacou a taxa de juros e a meta de inflação.
Criou um fuzuê que lembra dois momentos diferentes, de dois governos, de certa forma, também diferentes. No primeiro, um pragmático Lula desprezando o clamor de seu vice, José Alencar, pela queda dos juros. No segundo, uma voluntariosa Dilma Rousseff jogando os juros artificialmente para baixo e a inflação para além não só do centro da meta, mas da própria meta. Deu no que deu.
Lula 3 quer repetir os acertos de Lula 1 ou os erros de Dilma? Essa angústia piora porque faltam rumos claros quanto à responsabilidade fiscal e sobram dúvidas sobre a interferência política na Petrobras e no BNDES. Só para lembrar, o governo não é exclusivo do PT, é uma frente ampla que só atingirá seu principal alvo, democracia com sustentabilidade social, com uma sólida sustentabilidade econômica.