Operação que cita Braga Netto é outro revés a militares que apoiaram Bolsonaro; veja casos


Mauro Cid, Mauro Lourena Cid e Augusto Heleno estão no centro de investigações que miram o ex-presidente

Por Isabella Alonso Panho
Atualização:

A operação da Polícia Federal (PF) da manhã desta terça-feira, 12, que tem como pano de fundo uma investigação que envolve o general Walter Braga Netto, um dos aliados de Jair Bolsonaro (PL), é mais um dos reveses que os militares têm sofrido diante do cerco que se fecha em torno do ex-presidente.

Nesta manhã, a PF vasculhou 16 endereços nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e também no Distrito Federal. A investigação apura supostos desvios de dinheiro público na compra de coletes balísticos na época da intervenção federal na capital carioca, sob o governo de Michel Temer (MDB).

Braga Netto foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022 Foto: WILTON JUNIOR
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Braga Netto foi o comandante da intervenção. Ele não foi alvo da operação desta terça. Pré-candidato à Prefeitura do Rio em 2024, o general foi vice na chapa de Bolsonaro nas eleições passadas, mas foi absolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no julgamento que deixou o ex-presidente inelegível.

O caso dos coletes balísticos ainda está em fase de investigação, ou seja, não há réus nem acusados. Ao final das investigações, a Polícia Federal vai dizer ao Ministério Público se acha que houve ou não crime e a entidade decide se cabe propor um processo criminal. O general publicou uma nota nas redes sociais negando todas as acusações.

Nesse plano, a situação de Braga Netto é a mesma de outros militares que estiveram ao lado de Jair Bolsonaro nos últimos anos. No caso do general, a investigação está relacionada a um momento do governo de Temer, mas outros militares estão no alvo de investigações que envolvem o ex-presidente.

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Na avaliação do cientista político e professor da FGV Eduardo Grin, essas investigações levam os militares à pior avaliação diante da opinião pública desde o fim da ditadura, em 1985. “As Forças Armadas acharam que, com Bolsonaro, poderiam voltar a ocupar um espaço relevante na política e ter um protagonismo perdido há três décadas e meia. Mas o que aconteceu é que Bolsonaro que politizou as Forças Armadas, buscando transformá-las, como ele dizia, no ‘meu Exército’”, avaliou.

Mauro Cesar Barbosa Cid

O tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ficou preso do dia 3 de maio até 9 de setembro. Ele foi parar atrás das grades durante a Operação Venire, que apura se houve falsificação dos cartões de vacinação do ex-presidente e sua filha mais nova.

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Mauro Cid foi solto no último dia 9. Ele permaneceu em silêncio quando convocado por comissões parlamentares de inquérito e sua delação está sob sigilo Foto: WILTON JUNIOR

Além disso, Cid é peça central no caso das joias sauditas. Em março, o Estadão mostrou que o governo Bolsonaro tentou entrar no País com um conjunto de diamantes que ganhou de presente da Arábia Saudita. Desdobramentos da investigação mostraram que haveria um esquema internacional de venda de outras joias e artigos de luxo que a Presidência recebeu durante agendas oficiais.

A liberdade do tenente-coronel foi concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no último sábado, 9, ao aceitar um acordo de delação premiada feito com a PF. Os termos da colaboração estão sob segredo de Justiça, mas especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que é possível que Cid tenha responsabilizado pessoas acima dele na hierarquia da suposta organização criminosa.

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Pela legislação, o acordo de delação premiada exige que o delator compartilhe informações que levem a uma “prova eficiente”, ou seja, que de fato ajude as investigações. Cid está proibido de deixar o País e ter redes sociais, perdeu o porte de arma e não pode se comunicar com outros investigados dos casos de que ele é alvo.

Mauro Cesar Lourena Cid

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O pai de Mauro Cid também foi parar na mira da Polícia Federal. O general Mauro Cesar Lourena Cid é amigo de Bolsonaro desde a época em que o ex-presidente frequentava a Academia de Agulhas Negras. A proximidade entre os dois foi nutrida ao longo de todo governo passado.

As autoridades chegaram a Lourena Cid por causa de mensagens que ele trocou com o filho. As conversas sugerem que eles estariam avaliando e negociando presentes que Bolsonaro ganhou durante agendas oficiais.

Reflexo de general Lourena Cid, pai de Mauro Cid, caixa de esculturas e joias Foto: Reprodução/Polícia Federal
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Em uma dessas mensagens, Mauro Cid pede ao pai que fotografe uma caixa em que há um coqueiro de ouro, idêntico ao que Bolsonaro ganhou do governo saudita no dia 16 de novembro de 2022. A foto enviada tem o reflexo de Lourena Cid na caixa do objeto.

O general foi alvo de busca e apreensão na Operação Lucas 12:2 no dia 11 de agosto. Ele é um dos investigados no caso das joias sauditas, suspeito de ser um dos operadores do esquema de venda internacional de presentes que Bolsonaro ganhou ao longo do mandato.

Pai de Mauro Cid foi colega de turma do ex-presidente Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras  Foto: Roberto Oliveira/Alesp

Bento Albuquerque

O ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro, Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, conhecido como Bento Albuquerque, é almirante da Marinha. Foi ele quem trouxe, dentro da mochila de um assessor, o conjunto de joias de diamante que Bolsonaro tentou, pelo menos oito vezes, incorporar ao próprio patrimônio.

O episódio veio a público em março deste ano por meio de uma reportagem do Estadão, mas ocorreu em outubro de 2021. Ao perceber que as joias ficaram retidas pela Receita Federal na área da alfândega do aeroporto de Guarulhos, o ex-ministro voltou até o local e tentou convencer os agentes do Fisco a liberarem o pacote.

'Isso tudo vai entrar lá pra primeira-dama', disse Bento Albuquerque. Foto: Reprodução/TV Globo

Em março, Bento Albuquerque confirmou que trouxe as joias, que seria um presente do governo saudita para Bolsonaro e Michelle. Depois, quando foi intimado a depor perante a Polícia Federal, ele mudou de versão e disse que o pacote era um bem do Estado brasileiro.

Com o fim do governo Bolsonaro, o almirante da Marinha foi para o conselho da Itaipu, onde recebia um salário de R$ 34 mil. Ele foi demitido depois que o caso das joias foi revelado e segue investigado pela PF. O caso saiu da Justiça Federal de Guarulhos e foi para o Supremo em 15 de agosto.

Augusto Heleno

O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Jair Bolsonaro, general Augusto Heleno, é outro militar colocado em meio a investigações. Ele não é investigado em nenhum dos inquéritos que envolve o ex-presidente, mas foi convocado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal a depor sobre os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília.

Mantendo a fidelidade a Bolsonaro, Augusto Heleno disse que os acampamentos bolsonaristas na frente dos quartéis do Exército eram “locais sadios” e alegou desconhecer vieses golpistas nas manifestações da época.

Um dos motivos que vincula o general ao 8 de Janeiro é o fato de dois membros da sua gestão no GSI – os generais de divisão Carlos José Russo Assumpção Penteado e Carlos Feitosa Rodrigues – estarem trabalhando no órgão no dia dos ataques. Os dois foram exonerados no dia 23 daquele mês.

Imagem das Forças Armadas

Eduardo Grin avalia esse panorama como o resultado final do envolvimento das Forças Armadas “com um projeto político contrário à democracia”. Devido a esse cenário de investigações, ele afirma que “os militares estão necessitando recuperar a confiança que eles receberam do Brasil nas últimas décadas” e que agora, segundo ele, está em declínio.

“Esse envolvimento (com o governo Bolsonaro) foi extremamente prejudicial para a imagem das Forças Armadas, e a conta está começando a chegar”, disse o cientista político.

A operação da Polícia Federal (PF) da manhã desta terça-feira, 12, que tem como pano de fundo uma investigação que envolve o general Walter Braga Netto, um dos aliados de Jair Bolsonaro (PL), é mais um dos reveses que os militares têm sofrido diante do cerco que se fecha em torno do ex-presidente.

Nesta manhã, a PF vasculhou 16 endereços nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e também no Distrito Federal. A investigação apura supostos desvios de dinheiro público na compra de coletes balísticos na época da intervenção federal na capital carioca, sob o governo de Michel Temer (MDB).

Braga Netto foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022 Foto: WILTON JUNIOR

Braga Netto foi o comandante da intervenção. Ele não foi alvo da operação desta terça. Pré-candidato à Prefeitura do Rio em 2024, o general foi vice na chapa de Bolsonaro nas eleições passadas, mas foi absolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no julgamento que deixou o ex-presidente inelegível.

O caso dos coletes balísticos ainda está em fase de investigação, ou seja, não há réus nem acusados. Ao final das investigações, a Polícia Federal vai dizer ao Ministério Público se acha que houve ou não crime e a entidade decide se cabe propor um processo criminal. O general publicou uma nota nas redes sociais negando todas as acusações.

Nesse plano, a situação de Braga Netto é a mesma de outros militares que estiveram ao lado de Jair Bolsonaro nos últimos anos. No caso do general, a investigação está relacionada a um momento do governo de Temer, mas outros militares estão no alvo de investigações que envolvem o ex-presidente.

Na avaliação do cientista político e professor da FGV Eduardo Grin, essas investigações levam os militares à pior avaliação diante da opinião pública desde o fim da ditadura, em 1985. “As Forças Armadas acharam que, com Bolsonaro, poderiam voltar a ocupar um espaço relevante na política e ter um protagonismo perdido há três décadas e meia. Mas o que aconteceu é que Bolsonaro que politizou as Forças Armadas, buscando transformá-las, como ele dizia, no ‘meu Exército’”, avaliou.

Mauro Cesar Barbosa Cid

O tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ficou preso do dia 3 de maio até 9 de setembro. Ele foi parar atrás das grades durante a Operação Venire, que apura se houve falsificação dos cartões de vacinação do ex-presidente e sua filha mais nova.

Mauro Cid foi solto no último dia 9. Ele permaneceu em silêncio quando convocado por comissões parlamentares de inquérito e sua delação está sob sigilo Foto: WILTON JUNIOR

Além disso, Cid é peça central no caso das joias sauditas. Em março, o Estadão mostrou que o governo Bolsonaro tentou entrar no País com um conjunto de diamantes que ganhou de presente da Arábia Saudita. Desdobramentos da investigação mostraram que haveria um esquema internacional de venda de outras joias e artigos de luxo que a Presidência recebeu durante agendas oficiais.

A liberdade do tenente-coronel foi concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no último sábado, 9, ao aceitar um acordo de delação premiada feito com a PF. Os termos da colaboração estão sob segredo de Justiça, mas especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que é possível que Cid tenha responsabilizado pessoas acima dele na hierarquia da suposta organização criminosa.

Pela legislação, o acordo de delação premiada exige que o delator compartilhe informações que levem a uma “prova eficiente”, ou seja, que de fato ajude as investigações. Cid está proibido de deixar o País e ter redes sociais, perdeu o porte de arma e não pode se comunicar com outros investigados dos casos de que ele é alvo.

Mauro Cesar Lourena Cid

O pai de Mauro Cid também foi parar na mira da Polícia Federal. O general Mauro Cesar Lourena Cid é amigo de Bolsonaro desde a época em que o ex-presidente frequentava a Academia de Agulhas Negras. A proximidade entre os dois foi nutrida ao longo de todo governo passado.

As autoridades chegaram a Lourena Cid por causa de mensagens que ele trocou com o filho. As conversas sugerem que eles estariam avaliando e negociando presentes que Bolsonaro ganhou durante agendas oficiais.

Reflexo de general Lourena Cid, pai de Mauro Cid, caixa de esculturas e joias Foto: Reprodução/Polícia Federal

Em uma dessas mensagens, Mauro Cid pede ao pai que fotografe uma caixa em que há um coqueiro de ouro, idêntico ao que Bolsonaro ganhou do governo saudita no dia 16 de novembro de 2022. A foto enviada tem o reflexo de Lourena Cid na caixa do objeto.

O general foi alvo de busca e apreensão na Operação Lucas 12:2 no dia 11 de agosto. Ele é um dos investigados no caso das joias sauditas, suspeito de ser um dos operadores do esquema de venda internacional de presentes que Bolsonaro ganhou ao longo do mandato.

Pai de Mauro Cid foi colega de turma do ex-presidente Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras  Foto: Roberto Oliveira/Alesp

Bento Albuquerque

O ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro, Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, conhecido como Bento Albuquerque, é almirante da Marinha. Foi ele quem trouxe, dentro da mochila de um assessor, o conjunto de joias de diamante que Bolsonaro tentou, pelo menos oito vezes, incorporar ao próprio patrimônio.

O episódio veio a público em março deste ano por meio de uma reportagem do Estadão, mas ocorreu em outubro de 2021. Ao perceber que as joias ficaram retidas pela Receita Federal na área da alfândega do aeroporto de Guarulhos, o ex-ministro voltou até o local e tentou convencer os agentes do Fisco a liberarem o pacote.

'Isso tudo vai entrar lá pra primeira-dama', disse Bento Albuquerque. Foto: Reprodução/TV Globo

Em março, Bento Albuquerque confirmou que trouxe as joias, que seria um presente do governo saudita para Bolsonaro e Michelle. Depois, quando foi intimado a depor perante a Polícia Federal, ele mudou de versão e disse que o pacote era um bem do Estado brasileiro.

Com o fim do governo Bolsonaro, o almirante da Marinha foi para o conselho da Itaipu, onde recebia um salário de R$ 34 mil. Ele foi demitido depois que o caso das joias foi revelado e segue investigado pela PF. O caso saiu da Justiça Federal de Guarulhos e foi para o Supremo em 15 de agosto.

Augusto Heleno

O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Jair Bolsonaro, general Augusto Heleno, é outro militar colocado em meio a investigações. Ele não é investigado em nenhum dos inquéritos que envolve o ex-presidente, mas foi convocado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal a depor sobre os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília.

Mantendo a fidelidade a Bolsonaro, Augusto Heleno disse que os acampamentos bolsonaristas na frente dos quartéis do Exército eram “locais sadios” e alegou desconhecer vieses golpistas nas manifestações da época.

Um dos motivos que vincula o general ao 8 de Janeiro é o fato de dois membros da sua gestão no GSI – os generais de divisão Carlos José Russo Assumpção Penteado e Carlos Feitosa Rodrigues – estarem trabalhando no órgão no dia dos ataques. Os dois foram exonerados no dia 23 daquele mês.

Imagem das Forças Armadas

Eduardo Grin avalia esse panorama como o resultado final do envolvimento das Forças Armadas “com um projeto político contrário à democracia”. Devido a esse cenário de investigações, ele afirma que “os militares estão necessitando recuperar a confiança que eles receberam do Brasil nas últimas décadas” e que agora, segundo ele, está em declínio.

“Esse envolvimento (com o governo Bolsonaro) foi extremamente prejudicial para a imagem das Forças Armadas, e a conta está começando a chegar”, disse o cientista político.

A operação da Polícia Federal (PF) da manhã desta terça-feira, 12, que tem como pano de fundo uma investigação que envolve o general Walter Braga Netto, um dos aliados de Jair Bolsonaro (PL), é mais um dos reveses que os militares têm sofrido diante do cerco que se fecha em torno do ex-presidente.

Nesta manhã, a PF vasculhou 16 endereços nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e também no Distrito Federal. A investigação apura supostos desvios de dinheiro público na compra de coletes balísticos na época da intervenção federal na capital carioca, sob o governo de Michel Temer (MDB).

Braga Netto foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022 Foto: WILTON JUNIOR

Braga Netto foi o comandante da intervenção. Ele não foi alvo da operação desta terça. Pré-candidato à Prefeitura do Rio em 2024, o general foi vice na chapa de Bolsonaro nas eleições passadas, mas foi absolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no julgamento que deixou o ex-presidente inelegível.

O caso dos coletes balísticos ainda está em fase de investigação, ou seja, não há réus nem acusados. Ao final das investigações, a Polícia Federal vai dizer ao Ministério Público se acha que houve ou não crime e a entidade decide se cabe propor um processo criminal. O general publicou uma nota nas redes sociais negando todas as acusações.

Nesse plano, a situação de Braga Netto é a mesma de outros militares que estiveram ao lado de Jair Bolsonaro nos últimos anos. No caso do general, a investigação está relacionada a um momento do governo de Temer, mas outros militares estão no alvo de investigações que envolvem o ex-presidente.

Na avaliação do cientista político e professor da FGV Eduardo Grin, essas investigações levam os militares à pior avaliação diante da opinião pública desde o fim da ditadura, em 1985. “As Forças Armadas acharam que, com Bolsonaro, poderiam voltar a ocupar um espaço relevante na política e ter um protagonismo perdido há três décadas e meia. Mas o que aconteceu é que Bolsonaro que politizou as Forças Armadas, buscando transformá-las, como ele dizia, no ‘meu Exército’”, avaliou.

Mauro Cesar Barbosa Cid

O tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ficou preso do dia 3 de maio até 9 de setembro. Ele foi parar atrás das grades durante a Operação Venire, que apura se houve falsificação dos cartões de vacinação do ex-presidente e sua filha mais nova.

Mauro Cid foi solto no último dia 9. Ele permaneceu em silêncio quando convocado por comissões parlamentares de inquérito e sua delação está sob sigilo Foto: WILTON JUNIOR

Além disso, Cid é peça central no caso das joias sauditas. Em março, o Estadão mostrou que o governo Bolsonaro tentou entrar no País com um conjunto de diamantes que ganhou de presente da Arábia Saudita. Desdobramentos da investigação mostraram que haveria um esquema internacional de venda de outras joias e artigos de luxo que a Presidência recebeu durante agendas oficiais.

A liberdade do tenente-coronel foi concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no último sábado, 9, ao aceitar um acordo de delação premiada feito com a PF. Os termos da colaboração estão sob segredo de Justiça, mas especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que é possível que Cid tenha responsabilizado pessoas acima dele na hierarquia da suposta organização criminosa.

Pela legislação, o acordo de delação premiada exige que o delator compartilhe informações que levem a uma “prova eficiente”, ou seja, que de fato ajude as investigações. Cid está proibido de deixar o País e ter redes sociais, perdeu o porte de arma e não pode se comunicar com outros investigados dos casos de que ele é alvo.

Mauro Cesar Lourena Cid

O pai de Mauro Cid também foi parar na mira da Polícia Federal. O general Mauro Cesar Lourena Cid é amigo de Bolsonaro desde a época em que o ex-presidente frequentava a Academia de Agulhas Negras. A proximidade entre os dois foi nutrida ao longo de todo governo passado.

As autoridades chegaram a Lourena Cid por causa de mensagens que ele trocou com o filho. As conversas sugerem que eles estariam avaliando e negociando presentes que Bolsonaro ganhou durante agendas oficiais.

Reflexo de general Lourena Cid, pai de Mauro Cid, caixa de esculturas e joias Foto: Reprodução/Polícia Federal

Em uma dessas mensagens, Mauro Cid pede ao pai que fotografe uma caixa em que há um coqueiro de ouro, idêntico ao que Bolsonaro ganhou do governo saudita no dia 16 de novembro de 2022. A foto enviada tem o reflexo de Lourena Cid na caixa do objeto.

O general foi alvo de busca e apreensão na Operação Lucas 12:2 no dia 11 de agosto. Ele é um dos investigados no caso das joias sauditas, suspeito de ser um dos operadores do esquema de venda internacional de presentes que Bolsonaro ganhou ao longo do mandato.

Pai de Mauro Cid foi colega de turma do ex-presidente Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras  Foto: Roberto Oliveira/Alesp

Bento Albuquerque

O ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro, Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, conhecido como Bento Albuquerque, é almirante da Marinha. Foi ele quem trouxe, dentro da mochila de um assessor, o conjunto de joias de diamante que Bolsonaro tentou, pelo menos oito vezes, incorporar ao próprio patrimônio.

O episódio veio a público em março deste ano por meio de uma reportagem do Estadão, mas ocorreu em outubro de 2021. Ao perceber que as joias ficaram retidas pela Receita Federal na área da alfândega do aeroporto de Guarulhos, o ex-ministro voltou até o local e tentou convencer os agentes do Fisco a liberarem o pacote.

'Isso tudo vai entrar lá pra primeira-dama', disse Bento Albuquerque. Foto: Reprodução/TV Globo

Em março, Bento Albuquerque confirmou que trouxe as joias, que seria um presente do governo saudita para Bolsonaro e Michelle. Depois, quando foi intimado a depor perante a Polícia Federal, ele mudou de versão e disse que o pacote era um bem do Estado brasileiro.

Com o fim do governo Bolsonaro, o almirante da Marinha foi para o conselho da Itaipu, onde recebia um salário de R$ 34 mil. Ele foi demitido depois que o caso das joias foi revelado e segue investigado pela PF. O caso saiu da Justiça Federal de Guarulhos e foi para o Supremo em 15 de agosto.

Augusto Heleno

O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Jair Bolsonaro, general Augusto Heleno, é outro militar colocado em meio a investigações. Ele não é investigado em nenhum dos inquéritos que envolve o ex-presidente, mas foi convocado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal a depor sobre os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília.

Mantendo a fidelidade a Bolsonaro, Augusto Heleno disse que os acampamentos bolsonaristas na frente dos quartéis do Exército eram “locais sadios” e alegou desconhecer vieses golpistas nas manifestações da época.

Um dos motivos que vincula o general ao 8 de Janeiro é o fato de dois membros da sua gestão no GSI – os generais de divisão Carlos José Russo Assumpção Penteado e Carlos Feitosa Rodrigues – estarem trabalhando no órgão no dia dos ataques. Os dois foram exonerados no dia 23 daquele mês.

Imagem das Forças Armadas

Eduardo Grin avalia esse panorama como o resultado final do envolvimento das Forças Armadas “com um projeto político contrário à democracia”. Devido a esse cenário de investigações, ele afirma que “os militares estão necessitando recuperar a confiança que eles receberam do Brasil nas últimas décadas” e que agora, segundo ele, está em declínio.

“Esse envolvimento (com o governo Bolsonaro) foi extremamente prejudicial para a imagem das Forças Armadas, e a conta está começando a chegar”, disse o cientista político.

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