BRASÍLIA - Políticos de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticaram fortemente a afirmação dele nesta quinta-feira, 6, sobre a possibilidade de o povo baixar preço de alimentos se não comprar produtos caros. A declaração de Lula foi um revés para a nova gestão da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), chefiada por Sidônio Palmeira, escalado para melhorar a imagem do petista diante do baixo índice de aprovação indicado pelas últimas pesquisas.
“Uma das coisas mais importantes para a gente poder controlar o preço é o próprio povo. Se você vai ao supermercado e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tiver a consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter de baixar para vender, porque, senão, vai estragar”, afirmou Lula em entrevista às rádios Metrópole e Sociedade, da Bahia.
Segundo Lula, é preciso “educar” as pessoas para trocarem produtos caros por baratos e não serem “extorquidas”. “Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro. É necessário que a gente faça isso. O povo não pode ser extorquido. A pessoa sabe que a massa salarial cresceu, que o salário aumentou, aí aumenta o preço. Não, é preciso ter responsabilidade.”
Leia também
O novo ministro da Secom, que assumiu o cargo deixado por Paulo Pimenta no último dia 14, entrou na Esplanada visando corrigir os erros de comunicação cometidos pelo governo, muitos deles ocasionados por declarações de improviso do chefe do Executivo. A nova afirmação sobre os preços dos alimentos, além de municiar a oposição, foi um dos assuntos mais comentados do X (antigo Twitter) nesta quinta, com a hashtag #LulaEnganouOPobre alcançando mais de 30 mil menções.
‘Se presidente está ruim, só tirar’, diz Nikolas Ferreira
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), em uma publicação do X, ironizou Lula e sugeriu que o povo também teria poder para derrubar o presidente da República.
“Se a água está cara, é só não tomar banho. Se você está com fome, é só não comer. Se a conta de luz está cara, é só não ligar. Se a gasolina está cara, é só não andar de carro. Se a passagem está cara, é só ficar em casa. Se o presidente está ruim, é só tirar”, disse Nikolas no vídeo.
O deputado mineiro foi um dos principais críticos do governo no que se tornou a “crise do Pix”. No primeiro mês de 2025, gravou um vídeo que continha informações falsas sobre a fiscalização do Pix proposta pelo Ministério da Fazenda.
Eduardo Bolsonaro chama declaração de ‘narrativa’
Também pelo X, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reproduziu a declaração de Lula. No final do vídeo, colocou um ponto de interrogação. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, também se posicionou e afirmou que a orientação do presidente seria mais uma “narrativa”. “As narrativas de Lula: não tem inflação, culpa da inflação é do BC nomeado por Bolsonaro, culpa é do empresário que quer lucrar, culpa é sua, consumidor, que compra coisa cara”, disse.
Outros deputados do PL também fizeram críticas à declaração do presidente sobre a alta dos alimentos. O deputado Filipe Barros (PL-PR) disse que a orientação de Lula era uma “façanha”.
Carla Zambelli diz que presidente ‘zomba na cara dura’
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que o presidente “zomba da população na cara dura”. O também deputado José Medeiros (PL-MT), por sua vez, sugeriu que o chefe do Executivo deveria ganhar o Prêmio Nobel de Economia.
As críticas a Lula não ficaram concentradas nos políticos do PL. João Amoêdo, ex-presidente do Novo e candidato à Presidência em 2018, disse que o presidente “deveria trabalhar para reduzir suas despesas, em vez de perder tempo com falas inúteis e sem sentido como essa”. “Quem realmente extorque o povo brasileiro é o governo, com altos impostos e inflação elevada”, disse.
O deputado federal Alceu Moreira (RS), do MDB, partido que compõe a base de Lula na Câmara, disse que a declaração “parece deboche”. “Essa realmente foi a solução apresentada por um presidente da República para reduzir o preço dos alimentos”, afirmou.