Pablo Marçal mantém em funcionamento rede digital de apoiadores que lucram com cortes de vídeos


Levantamento do Estadão, agência Bites e Instituto Democracia em Xeque identificou dinâmica de contas anônimas de apoio ao coach no Instagram, TikTok e YouTube; campanha de candidato do PRTB não se manifestou

Por Guilherme Caetano
Atualização:

BRASÍLIA - Apesar de a Justiça Eleitoral ter mandado derrubar perfis de Pablo Marçal em redes sociais usados para monetização, um grupo de contas anônimas continua turbinando a imagem do candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo e minando seus rivais com milhões de visualizações. Ao mesmo tempo, seus apoiadores lucram com o compartilhamento de cortes de vídeos do ex-coach.

Em 24 de agosto, uma decisão liminar do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo mandou tirar do ar perfis de Marçal usados para monetização, atendendo a um pedido da campanha da candidata e deputada federal Tabata Amaral (PSB). A decisão foi motivada por indícios de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação na remuneração de usuários para produzir “cortes” e divulgá-los nas redes.

O Estadão, o Instituto Democracia em Xeque (DX) e a agência Bites identificaram contas de apoio a Marçal no YouTube, Instagram e TikTok que impulsionam a ofensiva do candidato na campanha e oferecem cursos de como outros usuários podem tirar proveito desse conteúdo. A análise de 50 perfis em cada uma dessas redes sociais mostra como esse ambiente de idolatria ao coach funciona. Procurada para comentar o assunto, a campanha do PRTB não respondeu.

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O candidato Pablo Marçal (PRTB) em debate Rede TV/ UOL entre candidatos à Prefeitura de São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O mercado de rendimentos por meio da imagem de Marçal se baseia em um tripé formado por campeonatos de cortes de vídeos no Discord (suspensos desde o começo da campanha eleitoral), monetização das plataformas digitais e vendas de cursos e produtos do ex-coach. Incentivados pelo próprio Marçal desde o ano passado com a promessa de ficarem ricos, usuários criam contas anônimas para publicar trechos de entrevistas, palestras e discursos do candidato.

Entre 29 de agosto e 7 de setembro, o monitoramento do DX encontrou 1.186 vídeos publicados em cinco dezenas de perfis pró-Marçal no TikTok, tendo como alvo preferencial o candidato Guilherme Boulos (PSOL) — com Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) em menor evidência.

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“Comparando com as contas oficiais de campanha, esse número é três vezes maior que os vídeos publicados no TikTok pelas seis maiores contas oficiais de campanha das (outras candidaturas). O levantamento indica que a produção de cortes relacionados a Pablo Marçal continua e tem como foco o conteúdo político-eleitoral”, diz a pesquisadora Tatiana Dourado, doutora em comunicação e diretora no DX.

Mas a produção desse conteúdo, que gerou 14,1 milhões de exibições e com uma média de 287 mil visualizações por publicação, se concentrou em poucos perfis. Três deles correspondiam a 44% dos posts, e seis deles a 74,5%, segundo o relatório.

“O que me chama a atenção é que parece não ser tanta gente assim ganhando dinheiro com o Marçal. Tem muitos perfis enganados com a promessa dele de que daria para ganhar dinheiro, mas na prática esses perfis acabam ajudando Marçal eleitoralmente”, diz André Eler, diretor da Bites.

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O Estadão mostrou que a comunidade Cortes do Marçal promoveu três campeonatos com R$ 125 mil em premiação desde que o ex-coach foi anunciado pré-candidato do PRTB, em abril. Mas agora, sem esses eventos, milhares de pessoas continuam se engajando em outros meios de tentar obter renda com o mesmo tipo de conteúdo.

Um dos principais sites de dicas de como ganhar dinheiro com Marçal, o Cortes Lucrativos, vende por R$ 97 acesso a um grupo de Telegram onde os administradores identificados como Jocelei Alcântara (dono do perfil @identidadedesucesso, com 574 mil seguidores no Instagram), André Marques e Wanderson Richard passam o dia dando conselhos aos clientes de como monetizar seus canais de cortes. Até 20 de setembro havia 5,3 mil pessoas no grupo, indicando uma renda de ao menos R$ 500 mil com o serviço.

Os participantes debatem diariamente como monetizar nas plataformas com a imagem de Marçal, mas muitos reclamam da lentidão para começar a lucrar. A dinâmica cotidiana do grupo sugere que poucas contas consigam de fato faturar com a promessa feita pelos diversos sites de vendas de cursos, treinamentos, mentoria e “métodos lucrativos”.

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“Galera, alguém viralizou com os vídeos do debate e não tá tendo vendas também? Esse assunto atraiu muitas pessoas, mas zero vendas”, queixou-se um deles, na semana passada. Nesta sexta-feira, Richard recomendou que os clientes aumentassem seu número de seguidores “para depois pensar na venda, até mesmo porque o TikTok só permite o link a partir de 1.000 seguidores”.

Procurado, Alcântara diz que seu curso tem 13 mil alunos e faturou R$ 1,3 milhão até o momento, e que seu foco é fornecer ferramentas para que os alunos possam monetizar em pouco tempo. “Isso significa que o processo de lucrar pode variar, dependendo do esforço e da dedicação de cada aluno. Alguns podem ver resultados mais rápidos, enquanto outros precisam de mais tempo para construir sua audiência”, diz ele.

“Uma coisa que muitos não perceberam e não entendem é por que os cortes virais continuam acontecendo, especialmente agora, com a candidatura do Pablo Marçal, mesmo sem os campeonatos de cortes desde o início da pré-campanha. As pessoas estão focando apenas no quanto ele pagava para os vencedores da premiação durante os campeonatos, e esquecem que esse era apenas um estímulo”, afirma ele. “Claro que, na época, foi um incentivo importante, mas o que as pessoas não enxergam é que existem várias outras fontes de receita associadas a essa atividade de publicar cortes virais”.

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Ele declara que, entre as fontes de receita com a imagem de Marçal, estão publicidade direta e indireta, como vender public posts para especialistas e outros players interessados em promover seus conteúdos. “Mas a maior fonte de receita para a maioria é o link na bio, que promove cursos, treinamentos, produtos e serviços através de funis de marketing bem estruturados, atraindo e engajando a audiência. Muitos atuam como afiliados desses produtos, infoprodutos e cursos, e isso gera uma receita consistente”, diz Alcântara.

O link a que o administrador se refere é o primeiro passo para conseguir renda por meio da venda. Poucos sites, no entanto, dominam esse mercado. Além do Cortes Lucrativos, pertencente à Agency Digtal, empresa de Alcântara e Franciel Sousa (dono do perfil @codigosmillion, com 1,1 milhão de seguidores no Instagram), outras páginas oferecem treinamento, a preço variado, prometendo lucro por meio dos vídeos.

Algumas delas são a Cortes Play (R$ 127 pelo curso), Cortes Virais 10k (R$ 47), Cortes Prontos (R$ 147) — ligados à Kiwify Pagamentos, Tecnologia e Servicos Ltda —, Faturando com Cortes (R$ 197), Fique rico com cortes (R$ 12) e Como fazer pelo menos 10 mil reais por mês pelo Instagram (R$ 12) — ligados à Pagarme Pagamentos SA. Já o site CursodeCortePabloMarcal.Com cobra R$ 99, e o Cortes Prontos de Pablo Marçal, R$ 49,97. Todas as páginas são ligadas à imagem do coach.

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Os cinco perfis com mais visualizações no TikTok geraram 572 vídeos e 33 milhões de exibições desde o começo da campanha eleitoral. Sites especializados estimam que a rede social pague US$ 0,15 a cada mil visualizações para contas com pelo menos 10 mil seguidores, se ela tiver gerado um volume de 100 mil exibições nos últimos 30 dias, mas o TikTok informou ao Estadão que nenhuma das contas citadas na reportagem monetizou com os cortes. Já o YouTube, que também remunera os usuários de acordo com o volume de acessos, não divulga as informações sobre monetização, mas empresas de análise de redes sociais estimam entre US$ 0,25 e US$ 4 para cada mil visualizações.

Das 50 maiores contas anônimas pró-Marçal levantadas pelo DX, 52% tinham links externos para venda de cursos e produtos como bonés e material de campanha do coach. O ecossistema de Marçal no Instagram segue o mesmo padrão, metade das contas levantadas direcionava os usuários para esse tipo de site.

“Mais de 7.000 Alunos faturando com Cortes Virais Apenas com o celular / Sem aparecer. Te ensino aqui”, diz o perfil @codigosmillion, de Sousa. “Ganhe de 5 a 10mil por mês fazendo Cortes como esses do Pablo Marçal. Você só precisa de um celular! Conheça o Método”, promete o @opoderdamenteptbr, com 392 mil seguidores. “Cortes que juntos já passaram mais de 20 MILHÕES de views. Aprenda a viralizar e faturar com cortes”, anuncia o @evolutionmilionaria, com 384 mil seguidores. O @identidadedesucesso de Alcântara, de 574 mil seguidores, diz ter 9,5 mil alunos faturando com cortes.

BRASÍLIA - Apesar de a Justiça Eleitoral ter mandado derrubar perfis de Pablo Marçal em redes sociais usados para monetização, um grupo de contas anônimas continua turbinando a imagem do candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo e minando seus rivais com milhões de visualizações. Ao mesmo tempo, seus apoiadores lucram com o compartilhamento de cortes de vídeos do ex-coach.

Em 24 de agosto, uma decisão liminar do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo mandou tirar do ar perfis de Marçal usados para monetização, atendendo a um pedido da campanha da candidata e deputada federal Tabata Amaral (PSB). A decisão foi motivada por indícios de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação na remuneração de usuários para produzir “cortes” e divulgá-los nas redes.

O Estadão, o Instituto Democracia em Xeque (DX) e a agência Bites identificaram contas de apoio a Marçal no YouTube, Instagram e TikTok que impulsionam a ofensiva do candidato na campanha e oferecem cursos de como outros usuários podem tirar proveito desse conteúdo. A análise de 50 perfis em cada uma dessas redes sociais mostra como esse ambiente de idolatria ao coach funciona. Procurada para comentar o assunto, a campanha do PRTB não respondeu.

O candidato Pablo Marçal (PRTB) em debate Rede TV/ UOL entre candidatos à Prefeitura de São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O mercado de rendimentos por meio da imagem de Marçal se baseia em um tripé formado por campeonatos de cortes de vídeos no Discord (suspensos desde o começo da campanha eleitoral), monetização das plataformas digitais e vendas de cursos e produtos do ex-coach. Incentivados pelo próprio Marçal desde o ano passado com a promessa de ficarem ricos, usuários criam contas anônimas para publicar trechos de entrevistas, palestras e discursos do candidato.

Entre 29 de agosto e 7 de setembro, o monitoramento do DX encontrou 1.186 vídeos publicados em cinco dezenas de perfis pró-Marçal no TikTok, tendo como alvo preferencial o candidato Guilherme Boulos (PSOL) — com Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) em menor evidência.

“Comparando com as contas oficiais de campanha, esse número é três vezes maior que os vídeos publicados no TikTok pelas seis maiores contas oficiais de campanha das (outras candidaturas). O levantamento indica que a produção de cortes relacionados a Pablo Marçal continua e tem como foco o conteúdo político-eleitoral”, diz a pesquisadora Tatiana Dourado, doutora em comunicação e diretora no DX.

Mas a produção desse conteúdo, que gerou 14,1 milhões de exibições e com uma média de 287 mil visualizações por publicação, se concentrou em poucos perfis. Três deles correspondiam a 44% dos posts, e seis deles a 74,5%, segundo o relatório.

“O que me chama a atenção é que parece não ser tanta gente assim ganhando dinheiro com o Marçal. Tem muitos perfis enganados com a promessa dele de que daria para ganhar dinheiro, mas na prática esses perfis acabam ajudando Marçal eleitoralmente”, diz André Eler, diretor da Bites.

O Estadão mostrou que a comunidade Cortes do Marçal promoveu três campeonatos com R$ 125 mil em premiação desde que o ex-coach foi anunciado pré-candidato do PRTB, em abril. Mas agora, sem esses eventos, milhares de pessoas continuam se engajando em outros meios de tentar obter renda com o mesmo tipo de conteúdo.

Um dos principais sites de dicas de como ganhar dinheiro com Marçal, o Cortes Lucrativos, vende por R$ 97 acesso a um grupo de Telegram onde os administradores identificados como Jocelei Alcântara (dono do perfil @identidadedesucesso, com 574 mil seguidores no Instagram), André Marques e Wanderson Richard passam o dia dando conselhos aos clientes de como monetizar seus canais de cortes. Até 20 de setembro havia 5,3 mil pessoas no grupo, indicando uma renda de ao menos R$ 500 mil com o serviço.

Os participantes debatem diariamente como monetizar nas plataformas com a imagem de Marçal, mas muitos reclamam da lentidão para começar a lucrar. A dinâmica cotidiana do grupo sugere que poucas contas consigam de fato faturar com a promessa feita pelos diversos sites de vendas de cursos, treinamentos, mentoria e “métodos lucrativos”.

“Galera, alguém viralizou com os vídeos do debate e não tá tendo vendas também? Esse assunto atraiu muitas pessoas, mas zero vendas”, queixou-se um deles, na semana passada. Nesta sexta-feira, Richard recomendou que os clientes aumentassem seu número de seguidores “para depois pensar na venda, até mesmo porque o TikTok só permite o link a partir de 1.000 seguidores”.

Procurado, Alcântara diz que seu curso tem 13 mil alunos e faturou R$ 1,3 milhão até o momento, e que seu foco é fornecer ferramentas para que os alunos possam monetizar em pouco tempo. “Isso significa que o processo de lucrar pode variar, dependendo do esforço e da dedicação de cada aluno. Alguns podem ver resultados mais rápidos, enquanto outros precisam de mais tempo para construir sua audiência”, diz ele.

“Uma coisa que muitos não perceberam e não entendem é por que os cortes virais continuam acontecendo, especialmente agora, com a candidatura do Pablo Marçal, mesmo sem os campeonatos de cortes desde o início da pré-campanha. As pessoas estão focando apenas no quanto ele pagava para os vencedores da premiação durante os campeonatos, e esquecem que esse era apenas um estímulo”, afirma ele. “Claro que, na época, foi um incentivo importante, mas o que as pessoas não enxergam é que existem várias outras fontes de receita associadas a essa atividade de publicar cortes virais”.

Ele declara que, entre as fontes de receita com a imagem de Marçal, estão publicidade direta e indireta, como vender public posts para especialistas e outros players interessados em promover seus conteúdos. “Mas a maior fonte de receita para a maioria é o link na bio, que promove cursos, treinamentos, produtos e serviços através de funis de marketing bem estruturados, atraindo e engajando a audiência. Muitos atuam como afiliados desses produtos, infoprodutos e cursos, e isso gera uma receita consistente”, diz Alcântara.

O link a que o administrador se refere é o primeiro passo para conseguir renda por meio da venda. Poucos sites, no entanto, dominam esse mercado. Além do Cortes Lucrativos, pertencente à Agency Digtal, empresa de Alcântara e Franciel Sousa (dono do perfil @codigosmillion, com 1,1 milhão de seguidores no Instagram), outras páginas oferecem treinamento, a preço variado, prometendo lucro por meio dos vídeos.

Algumas delas são a Cortes Play (R$ 127 pelo curso), Cortes Virais 10k (R$ 47), Cortes Prontos (R$ 147) — ligados à Kiwify Pagamentos, Tecnologia e Servicos Ltda —, Faturando com Cortes (R$ 197), Fique rico com cortes (R$ 12) e Como fazer pelo menos 10 mil reais por mês pelo Instagram (R$ 12) — ligados à Pagarme Pagamentos SA. Já o site CursodeCortePabloMarcal.Com cobra R$ 99, e o Cortes Prontos de Pablo Marçal, R$ 49,97. Todas as páginas são ligadas à imagem do coach.

Os cinco perfis com mais visualizações no TikTok geraram 572 vídeos e 33 milhões de exibições desde o começo da campanha eleitoral. Sites especializados estimam que a rede social pague US$ 0,15 a cada mil visualizações para contas com pelo menos 10 mil seguidores, se ela tiver gerado um volume de 100 mil exibições nos últimos 30 dias, mas o TikTok informou ao Estadão que nenhuma das contas citadas na reportagem monetizou com os cortes. Já o YouTube, que também remunera os usuários de acordo com o volume de acessos, não divulga as informações sobre monetização, mas empresas de análise de redes sociais estimam entre US$ 0,25 e US$ 4 para cada mil visualizações.

Das 50 maiores contas anônimas pró-Marçal levantadas pelo DX, 52% tinham links externos para venda de cursos e produtos como bonés e material de campanha do coach. O ecossistema de Marçal no Instagram segue o mesmo padrão, metade das contas levantadas direcionava os usuários para esse tipo de site.

“Mais de 7.000 Alunos faturando com Cortes Virais Apenas com o celular / Sem aparecer. Te ensino aqui”, diz o perfil @codigosmillion, de Sousa. “Ganhe de 5 a 10mil por mês fazendo Cortes como esses do Pablo Marçal. Você só precisa de um celular! Conheça o Método”, promete o @opoderdamenteptbr, com 392 mil seguidores. “Cortes que juntos já passaram mais de 20 MILHÕES de views. Aprenda a viralizar e faturar com cortes”, anuncia o @evolutionmilionaria, com 384 mil seguidores. O @identidadedesucesso de Alcântara, de 574 mil seguidores, diz ter 9,5 mil alunos faturando com cortes.

BRASÍLIA - Apesar de a Justiça Eleitoral ter mandado derrubar perfis de Pablo Marçal em redes sociais usados para monetização, um grupo de contas anônimas continua turbinando a imagem do candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo e minando seus rivais com milhões de visualizações. Ao mesmo tempo, seus apoiadores lucram com o compartilhamento de cortes de vídeos do ex-coach.

Em 24 de agosto, uma decisão liminar do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo mandou tirar do ar perfis de Marçal usados para monetização, atendendo a um pedido da campanha da candidata e deputada federal Tabata Amaral (PSB). A decisão foi motivada por indícios de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação na remuneração de usuários para produzir “cortes” e divulgá-los nas redes.

O Estadão, o Instituto Democracia em Xeque (DX) e a agência Bites identificaram contas de apoio a Marçal no YouTube, Instagram e TikTok que impulsionam a ofensiva do candidato na campanha e oferecem cursos de como outros usuários podem tirar proveito desse conteúdo. A análise de 50 perfis em cada uma dessas redes sociais mostra como esse ambiente de idolatria ao coach funciona. Procurada para comentar o assunto, a campanha do PRTB não respondeu.

O candidato Pablo Marçal (PRTB) em debate Rede TV/ UOL entre candidatos à Prefeitura de São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O mercado de rendimentos por meio da imagem de Marçal se baseia em um tripé formado por campeonatos de cortes de vídeos no Discord (suspensos desde o começo da campanha eleitoral), monetização das plataformas digitais e vendas de cursos e produtos do ex-coach. Incentivados pelo próprio Marçal desde o ano passado com a promessa de ficarem ricos, usuários criam contas anônimas para publicar trechos de entrevistas, palestras e discursos do candidato.

Entre 29 de agosto e 7 de setembro, o monitoramento do DX encontrou 1.186 vídeos publicados em cinco dezenas de perfis pró-Marçal no TikTok, tendo como alvo preferencial o candidato Guilherme Boulos (PSOL) — com Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) em menor evidência.

“Comparando com as contas oficiais de campanha, esse número é três vezes maior que os vídeos publicados no TikTok pelas seis maiores contas oficiais de campanha das (outras candidaturas). O levantamento indica que a produção de cortes relacionados a Pablo Marçal continua e tem como foco o conteúdo político-eleitoral”, diz a pesquisadora Tatiana Dourado, doutora em comunicação e diretora no DX.

Mas a produção desse conteúdo, que gerou 14,1 milhões de exibições e com uma média de 287 mil visualizações por publicação, se concentrou em poucos perfis. Três deles correspondiam a 44% dos posts, e seis deles a 74,5%, segundo o relatório.

“O que me chama a atenção é que parece não ser tanta gente assim ganhando dinheiro com o Marçal. Tem muitos perfis enganados com a promessa dele de que daria para ganhar dinheiro, mas na prática esses perfis acabam ajudando Marçal eleitoralmente”, diz André Eler, diretor da Bites.

O Estadão mostrou que a comunidade Cortes do Marçal promoveu três campeonatos com R$ 125 mil em premiação desde que o ex-coach foi anunciado pré-candidato do PRTB, em abril. Mas agora, sem esses eventos, milhares de pessoas continuam se engajando em outros meios de tentar obter renda com o mesmo tipo de conteúdo.

Um dos principais sites de dicas de como ganhar dinheiro com Marçal, o Cortes Lucrativos, vende por R$ 97 acesso a um grupo de Telegram onde os administradores identificados como Jocelei Alcântara (dono do perfil @identidadedesucesso, com 574 mil seguidores no Instagram), André Marques e Wanderson Richard passam o dia dando conselhos aos clientes de como monetizar seus canais de cortes. Até 20 de setembro havia 5,3 mil pessoas no grupo, indicando uma renda de ao menos R$ 500 mil com o serviço.

Os participantes debatem diariamente como monetizar nas plataformas com a imagem de Marçal, mas muitos reclamam da lentidão para começar a lucrar. A dinâmica cotidiana do grupo sugere que poucas contas consigam de fato faturar com a promessa feita pelos diversos sites de vendas de cursos, treinamentos, mentoria e “métodos lucrativos”.

“Galera, alguém viralizou com os vídeos do debate e não tá tendo vendas também? Esse assunto atraiu muitas pessoas, mas zero vendas”, queixou-se um deles, na semana passada. Nesta sexta-feira, Richard recomendou que os clientes aumentassem seu número de seguidores “para depois pensar na venda, até mesmo porque o TikTok só permite o link a partir de 1.000 seguidores”.

Procurado, Alcântara diz que seu curso tem 13 mil alunos e faturou R$ 1,3 milhão até o momento, e que seu foco é fornecer ferramentas para que os alunos possam monetizar em pouco tempo. “Isso significa que o processo de lucrar pode variar, dependendo do esforço e da dedicação de cada aluno. Alguns podem ver resultados mais rápidos, enquanto outros precisam de mais tempo para construir sua audiência”, diz ele.

“Uma coisa que muitos não perceberam e não entendem é por que os cortes virais continuam acontecendo, especialmente agora, com a candidatura do Pablo Marçal, mesmo sem os campeonatos de cortes desde o início da pré-campanha. As pessoas estão focando apenas no quanto ele pagava para os vencedores da premiação durante os campeonatos, e esquecem que esse era apenas um estímulo”, afirma ele. “Claro que, na época, foi um incentivo importante, mas o que as pessoas não enxergam é que existem várias outras fontes de receita associadas a essa atividade de publicar cortes virais”.

Ele declara que, entre as fontes de receita com a imagem de Marçal, estão publicidade direta e indireta, como vender public posts para especialistas e outros players interessados em promover seus conteúdos. “Mas a maior fonte de receita para a maioria é o link na bio, que promove cursos, treinamentos, produtos e serviços através de funis de marketing bem estruturados, atraindo e engajando a audiência. Muitos atuam como afiliados desses produtos, infoprodutos e cursos, e isso gera uma receita consistente”, diz Alcântara.

O link a que o administrador se refere é o primeiro passo para conseguir renda por meio da venda. Poucos sites, no entanto, dominam esse mercado. Além do Cortes Lucrativos, pertencente à Agency Digtal, empresa de Alcântara e Franciel Sousa (dono do perfil @codigosmillion, com 1,1 milhão de seguidores no Instagram), outras páginas oferecem treinamento, a preço variado, prometendo lucro por meio dos vídeos.

Algumas delas são a Cortes Play (R$ 127 pelo curso), Cortes Virais 10k (R$ 47), Cortes Prontos (R$ 147) — ligados à Kiwify Pagamentos, Tecnologia e Servicos Ltda —, Faturando com Cortes (R$ 197), Fique rico com cortes (R$ 12) e Como fazer pelo menos 10 mil reais por mês pelo Instagram (R$ 12) — ligados à Pagarme Pagamentos SA. Já o site CursodeCortePabloMarcal.Com cobra R$ 99, e o Cortes Prontos de Pablo Marçal, R$ 49,97. Todas as páginas são ligadas à imagem do coach.

Os cinco perfis com mais visualizações no TikTok geraram 572 vídeos e 33 milhões de exibições desde o começo da campanha eleitoral. Sites especializados estimam que a rede social pague US$ 0,15 a cada mil visualizações para contas com pelo menos 10 mil seguidores, se ela tiver gerado um volume de 100 mil exibições nos últimos 30 dias, mas o TikTok informou ao Estadão que nenhuma das contas citadas na reportagem monetizou com os cortes. Já o YouTube, que também remunera os usuários de acordo com o volume de acessos, não divulga as informações sobre monetização, mas empresas de análise de redes sociais estimam entre US$ 0,25 e US$ 4 para cada mil visualizações.

Das 50 maiores contas anônimas pró-Marçal levantadas pelo DX, 52% tinham links externos para venda de cursos e produtos como bonés e material de campanha do coach. O ecossistema de Marçal no Instagram segue o mesmo padrão, metade das contas levantadas direcionava os usuários para esse tipo de site.

“Mais de 7.000 Alunos faturando com Cortes Virais Apenas com o celular / Sem aparecer. Te ensino aqui”, diz o perfil @codigosmillion, de Sousa. “Ganhe de 5 a 10mil por mês fazendo Cortes como esses do Pablo Marçal. Você só precisa de um celular! Conheça o Método”, promete o @opoderdamenteptbr, com 392 mil seguidores. “Cortes que juntos já passaram mais de 20 MILHÕES de views. Aprenda a viralizar e faturar com cortes”, anuncia o @evolutionmilionaria, com 384 mil seguidores. O @identidadedesucesso de Alcântara, de 574 mil seguidores, diz ter 9,5 mil alunos faturando com cortes.

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