BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou empenho dos ministros, nesta quinta-feira, 15, para resolver a crise com o Centrão. Pressionado a entregar cargos e emendas parlamentares para obter apoio no Congresso, Lula afirmou aos auxiliares, na terceira reunião ministerial do ano, que a determinação do núcleo de governo para atendimento dos pedidos políticos tem de ser cumprida com rapidez.
“Se vocês não resolverem, eu vou ter de resolver”, disse Lula. O encontrou durou nove horas, no Palácio do Planalto, e serviu para por um freio de arrumação no governo no momento em que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ameaça não votar projetos de interesse do Palácio do Planalto, caso não haja mudanças na articulação política do Executivo com o Congresso.
Pouco antes da reunião, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, tomou café da manhã com Lira, na residência oficial da Câmara, e tentou selar um acordo, sob o argumento de que tudo o que foi prometido pelo governo será cumprido. Lira disse que não age para chantagear o Planalto, mas não pode administrar uma insatisfação generalizada, sem que o governo organize sua base de sustentação no Congresso.
Horas depois, Lula agiu para fortalecer o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, alvo de críticas do Centrão, e pediu que todos o ajudem na tarefa de ampliar a aliança de apoio ao governo. Na mesma linha, Padilha também cobrou dos colegas o atendimento das reivindicações políticas de deputados e senadores, sob o argumento de que, se não o fizerem, a crise pode se agravar.
O ministro chamou Lula de “Pelé” e o vice Geraldo Alckmin de “Tostão”, mas afirmou que, embora o governo conte com muitos “craques” na política, tem a imagem de ser avesso ao Congresso.
“Cada porta que se fecha para um parlamentar é uma porta trancada para o governo no Congresso”, comparou Padilha. A declaração do ministro soou como um pito nos colegas pouco depois de Lula dizer, na abertura do encontro, que, de agora em diante, todos têm de mostrar resultados e fazer entregas.
“Daqui para a frente a gente vai ser proibido de ter novas ideias. A gente vai ter que cumprir o que a gente já teve capacidade de propor até agora”, insistiu o presidente.
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Padilha pediu que todos levem parlamentares a tiracolo nas viagens para inaugurações de obras, porque, se não agirem assim, o Executivo sofrerá retaliações e eles podem até mesmo ser convocados para depor em Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).
No fim de maio, por exemplo, o ministro da Justiça, Flávio Dino, esteve em Alagoas e não chamou Lira, que ficou irritado. Logo depois, a Polícia Federal fez ação de busca e apreensão em endereços de um ex-assessor de Lira em Maceió, que, de acordo com as investigações, desviou recursos de kits de robótica.
Na conversa com os colegas, Padilha também disse que enviou “mais de 400″ nomes indicados por parlamentares para ocupar cargos nos Estados, mas nada saiu do papel.
O Centrão cobra postos em estatais e bancos públicos e alega que a equipe de Lula só atende o PT. Pelo relato de Padilha, porém, os ministérios não encaminharam as indicações para o Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc), abrigado na Casa Civil. A plataforma reúne os nomes de pessoas que podem ser nomeadas para cargos no governo.
Nos bastidores, ministros põem a culpa pelo atraso justamente na Casa Civil, que, segundo o Centrão, demora a fazer um “pente fino” nos currículos de aliados não petistas. Na reunião desta quinta-feira, no entanto, Padilha disse que, se os ministérios não encaixam as indicações no Sinc, a Casa Civil não tem como analisar os nomes.
A demora no preenchimento de cargos como os da Codevasf, Dnit, Suframa e Caixa e também a falta de liberação das emendas são as principais queixas contra o governo.
Lira chegou a sugerir a Lula, recentemente, que trocasse os seus interlocutores com o Congresso. Ele propôs que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assumisse a articulação política do governo. No desenho idealizado por Lira, o atual secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo – indicado para uma diretoria do Banco Central – poderia ir para a Fazenda. Lula não aceitou.
‘Faça o seu melhor, na condição que você tem’
Prestes a deixar o cargo, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, usou na reunião uma frase motivacional do escritor Mário Sérgio Cortella para definir sua situação. “Faça o seu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores para fazer melhor ainda”, disse ela.
Daniela pediu a desfiliação do União Brasil e o partido pressionou Lula por sua substituição na equipe. O mais cotado para o lugar da ministra é o deputado Celso Sabino (União Brasil- PA), ligado a Lira.
Em sua exposição, Daniela mostrou um vídeo produzido pelo Turismo com uma campanha publicitária de divulgação das belezas do Brasil. Lula disse, então, que faltavam ali as imagens de Santarém, no Pará, onde o rio Tapajós se encontra com o Amazonas.
Não foram poucos os que notaram que Pará é o Estado de Sabino, o próvável sucessor da ministra. Daniela deve ingressar no partido Republicanos, a exemplo de seu marido Wagner Carneiro, o Waguinho, prefeito de Belfort Roxo (RJ). Ligado à Igreja Universal, o Republicanos não integra a base do governo, mas uma ala da legenda apoia Lula e negocia cargos nos Estados.