BRASÍLIA – O núcleo político do governo Lula criou uma força-tarefa no Palácio Planalto, batizada em tom jocoso de “operação dedo-duro”. Montada para melhorar a articulação política do governo com o Congresso, a estratégia consiste em apontar a deputados e senadores os nomes dos ministros que vão viajar, os compromissos que eles terão nos Estados e as datas dos deslocamentos.
O modelo da “deduragem” funciona dentro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou de ministros que levem parlamentares a tiracolo em suas comitivas para visitas e inaugurações de obras, a SRI começou a vasculhar os pedidos de viagem feitos à Força Aérea Brasileira (FAB).
De posse das informações da FAB sobre os roteiros de trabalho, um servidor telefona para coordenadores e líderes de bancadas, na Câmara e no Senado, e indica quais ministros vão visitar determinadas regiões, além do período do itinerário. Governadores e prefeitos também são avisados para que os respectivos gabinetes entrem em contato com os ministérios.
A participação de parlamentares e mesmo de governadores e prefeitos em viagens com Lula e seus auxiliares é vista como sinal de prestígio no reduto eleitoral do político.
“É uma maneira de consolidar a base e criar uma relação de confiança”, afirmou o deputado Fausto Pinato (PP-SP), que acompanhou Lula na viagem à China, em abril. “O presidente deveria até cobrar que os ministros das principais pastas viajassem mais. No interior de São Paulo, por exemplo, está tendo muita inauguração de hospitais e escolas com recursos federais, mas o governo federal mesmo não aparece.”
Rumo às eleições
O movimento do Planalto ganha maior importância neste ano que antecede as eleições municipais para a escolha de prefeitos e vereadores. Muitas vezes, porém, um ministro representa um partido que, embora aliado do governo Lula, é adversário do deputado nas disputas locais. Aí começa o problema, que se soma às queixas pelo atraso na liberação de cargos e emendas parlamentares.
Líder do Centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reclamou com Lula de não ter sido convidado para integrar, em 29 de maio, a comitiva do ministro da Justiça, Flávio Dino, a Alagoas. Na ocasião, Dino esteve em Maceió para anunciar investimentos de R$ 20 milhões, destinados à segurança pública do Estado, ao lado do governador Paulo Dantas, que é aliado do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e rival de Lira.
Cansado de pedir a ministros que enviassem aos aliados suas agendas de compromissos oficiais fora de Brasília, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, decidiu partir para a “operação dedo-duro”. O apelido foi dado por assessores do próprio ministro.
Em outra frente, a SRI também montou um sistema para destravar mais de 400 nomeações em estatais, bancos e autarquias. “Cada porta que se fecha para um parlamentar é uma porta trancada para o governo no Congresso”, disse Padilha.
Como mostrou o Estadão, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, só recebeu o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), há cerca de dois meses, depois que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Rui Falcão (PT-SP), intermediou um acordo.
Chá de cadeira
Forte queria convocar Costa para explicar a decisão do governo de extinguir a Funasa. Em um dos telefonemas de Rui para Rui, o presidente da CCJ perguntou ao ministro: “O que você prefere? Receber o deputado por meia hora ou ficar cinco horas depondo aqui?”.
O chefe da Casa Civil marcou a reunião com Forte, mas só o recebeu na segunda vez em que ele esteve no Planalto. Mesmo assim, Forte levou um chá de cadeira. Cobiçada pelo Centrão pelos cargos regionais, a Funasa voltará a existir.
Na contabilidade da Secretaria de Relações Institucionais, os ministros que mais seguiam a recomendação de enviar seus roteiros de viagem, antes mesmo da “operação dedo-duro”, eram Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) e André de Paula (Pesca e Aquicultura). Agora, ao que tudo indica, todos terão de se enquadrar.