O Estado de S. Paulo iniciou neste domingo, 3, a publicação da série Panama Papers. A apuração baseia-se num acervo de cerca de 11,5 milhões de arquivos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e compartilhado com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês).
Participaram da reportagem 376 jornalistas de 76 países. Esses profissionais atuam em 109 veículos de mídia diferentes. O material está sendo analisado há cerca de 1 ano para a preparação da série. No Brasil, participaram da apuração o UOL, o jornal O Estado de S. Paulo e a RedeTV!.
Os dados cobrem o período que vai de 1977 até dezembro de 2015. Foram identificadas 214.488 pessoas jurídicas nos dados, entre empresas, trustes e fundações. Um levantamento do ICIJ identificou cerca de 1,7 mil beneficiários de offshores com endereços no Brasil.
No Brasil, foram checados os nomes de diversas pessoas conhecidas no mercado financeiro como “PEPs”, isto é, pessoas politicamente expostas, na sigla em inglês.
A base de dados foi confrontada com os nomes de 551 pessoas que exerceram o cargo de deputado federal em algum momento desde fevereiro de 2015 e 248 senadores e suplentes da atual legislatura; 1.061 deputados estaduais eleitos em 2014, e 424 vereadores das 10 maiores cidades brasileiras.
Foi checado o nome da atual presidente da República e o de todos os seus antecessores vivos, além de seus familiares. Os ministros atuais e ex-ministros do STF e de todos os tribunais superiores também foram verificados. Todos os candidatos a governador e à Presidência da República em 2014 foram confrontados com os arquivos da Mossack Fonseca.
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Documentos do escritório panamenho de advocacia Mossack Fonseca mostram como políticos e personalidades do mundo todo ocultavam bens em paraíso fiscal.
Servidores públicos também foram escrutinados. A varredura passou por 8.970 funcionários da Câmara e do Senado; os 30 mil servidores mais bem remunerados do Executivo; os nomes de 1.404 juízes federais e de 354 desembargadores.
A pesquisa ainda abrangeu os réus das operações Lava Jato, da Zelotes e do escândalo do mensalão, os nomes de 156 pessoas no alto escalão da Polícia Federal, entre vários grupos. Muitos outros cruzamentos foram realizados. Foram considerados para publicação os resultados que apresentaram relevância jornalística e interesse público.
ICIJ. Nos outros países, os parceiros do ICIJ na série Panama Papers também fizeram checagens semelhantes ao processo adotado pelo time de jornalistas do Brasil.
Esse tipo de iniciativa tem se tornado cada vez mais comum sob a liderança do ICIJ. O consórcio é uma ONG criada há cerca de 20 anos. Sua sede é em Washington, capital dos Estados Unidos. A ideia principal é que no século 21 as grandes reportagens serão cada vez mais multinacionais.
Os cerca de 11,5 milhões de documentos da série Panama Papers jamais seriam analisados de forma extensiva se tivessem ficado circunscritos a apenas 1 veículo jornalístico em 1 determinado país. Por essa razão, o “Süddeutsche Zeitung”, um parceiro tradicional do ICIJ, procurou o consórcio ao obter o vasto acervo de dados. Uma força-tarefa jornalística mundial então foi criada.
O consórcio funciona como coordenador e facilitador das reportagens. Os jornalistas se comunicam apenas por meio de um sistema criptografado. O banco de dados dos documentos analisados passa por uma triagem e tabulação. Tudo é mantido em total reserva até a data e horário de publicação –acordada entre todos os parceiros da empreitada. Para os Panama Papers, a divulgação está sendo em todos os países neste domingo (3.abr.2016), às 15h (horário de Brasília).
Esse processo foi semelhante ao usado na apuração do caso HSBC-Swissleaks, que revelou milhares de contas secretas na Suíça. O UOL foi parceiro do ICIJ no SwissLeaks.
O ICIJ tem critérios próprios para escolher e convidar os seus jornalistas associados. Há no momento cerca de 190 repórteres em 65 países no consórcio. A participação dos profissionais é apenas por meio de convite. Não há remuneração. Trata-se apenas de compartilhar esforços em investigações internacionais.
Em geral, os associados do ICIJ quase sempre são convidados a participar de projetos de abrangência global. Veículos que não têm membros efetivos no consórcio também podem receber convites eventualmente. No caso do UOL, o jornalista Fernando Rodriguesé um dos 190 repórteres associados ao ICIJ desde o ano 2000.
*Participam da série Panama Papers, além da equipe do UOL,Diego Vega e Mauro Tagliaferri, da RedeTV!, e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim, de O Estado de S. Paulo