As milhagens não entram na cota de passagens aéreas disponibilizadas para os parlamentares da Câmara dos Deputados, segundo a ONG Contas Abertas, e podem ser usadas como eles bem entenderem. "As milhagens são um problema dos três Poderes, já que o sistema vale para todo mundo. É um assunto que nunca foi tocado e no final de contas todo mundo se beneficia.O pacote de moralidades pode discutir isso também", defendeu ao estadao.com.br o economista Gil Castelo Branco do Contas Abertas.
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Para o economista do Contas Abertas, com as milhagens de fora das cotas, os políticos ainda poderão viajar para fora do País. " Isso (as milhas) inclusive estimula o servidor a viajar. Imagine quantas milhas acumula um deputado que vai quatro vezes por mês para Roraima, por exemplo. E ele usa como quiser. Vamos continuar vendo parlamentares no exterior".
Os programas de milhagens são pontos acumulados em nome do passageiro que funcionam como desconto para a fidelização de clientes nas companhias aéreas. O benefício pode ser repassado a familiares ou pessoas próximas que não tenham vínculo com o mandato dos parlamentares.
O chamado "pacote de moralidade" foi discutido nesta quarta-feira pelo presidente da Câmara, Michel Temer, que confirmou a limitação no uso da cota de passagens aéreas dos parlamentares. De acordo com nova determinação, a passagem só poderá ser usada pelo próprio parlamentar, dentro do território nacional.
Segundo Gil, o gasto da União com as passagens chega quase a R$ 800 milhões e a substituição de milhagens por descontos nas passagens poderia implicar em uma redução de despesas. "Esta milhagem deveria ser para quem compra, não para quem usa. Uma solução seria a União conversar com as companhias aéreas e pedir a redução das próximas passagens e não um acúmulo de passagens para ele usufruir alguma coisa que quem pagou foi o Estado", disse.
A decisão de Temer é um recuo da posição anterior, anunciada na semana passada, quando a Mesa legalizou o uso disseminado de passagens também por parentes de deputados e terceiros. O próprio presidente da Casa admitiu, no início desta semana, ter usado a cota para viagem da família. Segundo ele, a nova posição da Casa é uma "uma reconciliação com a opinião pública".