BRASÍLIA - O reverendo Luis Alberto Sabanay, pastor presbiteriano e assessor de políticas da Secretaria Nacional de Movimentos Populares do PT, avalia que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa promover ajustes na estratégia de comunicação para atuar de forma mais direta com os evangélicos. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Sabanay reconhece a dificuldade da gestão Lula 3 em atrair parte desse segmento e diz acreditar que o Poder Executivo deve promover mais o diálogo com líderes religiosos.
Sababay afirma que é “fundamental” enxergar esse público em contextos além do religioso e do eleitoral, como cidadão. Ele cita como exemplo dessa prática o perdão das dívidas por meio do Desenrola Brasil. “É marcante para o povo e para os cristãos, um testemunho prático citado na oração do Pai Nosso”, diz.
Pastor há 33 anos, Sabanay é quem faz a ponte do partido com os setores religiosos. Na campanha, ele integrou a coordenação nacional do núcleo de evangélicos da legenda e foi um dos que encabeçaram a aproximação da sigla com esse público. Foi, por exemplo, um dos intermediadores da elaboração da carta aos evangélicos que Lula fez.
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“O governo precisa ajustar a sua tática. Isso envolve uma abordagem sensível que respeite a diversidade desses grupos. O diálogo com lideranças religiosas, a participação em atividades específicas e o desenvolvimento de programas direcionados e contextualizados podem ser eficazes para construir confiança, aproximação e entendimento mútuo”, disse o pastor presbiteriano.
Pesquisa Datafolha divulgada no dia 21 mostrou que a reprovação ao governo Lula subiu de 30% em dezembro para 33%. Já a aprovação caiu de 38% para 35%. Entre os evangélicos, a reprovação à gestão federal subiu de 38% para 43%, enquanto a aprovação oscilou de 26% para 25%. Os que consideram o governo regular caíram de 34% para 30%.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
Como o senhor vê a relação entre religião e política, que se afunila no cenário nacional nos últimos anos?
A relação entre religião e política é um tema complexo e multifacetado. Nos últimos anos, temos observado um afunilamento dessa relação no cenário nacional. O presidente Lula reconhece a importância dessa conexão e cobra o estreitamento dela. No entanto, essa tarefa não é simples devido à diversidade religiosa e cultural do Brasil. Além disso, as religiões desempenham um papel significativo na formação de opinião e mobilização de parcela significativa da sociedade brasileira. Para garantir os interesses comuns, equilibrar as demandas da sociedade e respeitar a laicidade do Estado, é essencial promover um diálogo aberto, democrático e respeitoso entre os diversos setores religiosos e políticos. O desafio está em compreender as variáveis de cada segmento religioso e buscar formas eficientes de envolver sua participação e representatividade.
O governo reconhece que há dificuldade em atrair os segmentos religiosos, especialmente os evangélicos, para a base do presidente Lula?
Para diminuir a dificuldade do governo com o eleitorado religioso é (preciso), exatamente, não considerar apenas como uma questão eleitoral É fundamental enxergar o público religioso como pessoas com contextos além do religioso, como cidadãos com necessidades diversas que vivem e se organizam nas diversas camadas e classes da sociedade. Por exemplo, o perdão das dívidas a partir do Programa Desenrola Brasil, que é marcante para o povo e para os cristãos, um testemunho prático citado na oração do Pai Nosso.
O senhor avalia que o governo precisa mudar de estratégia e atrair o segmento religioso, especialmente os evangélicos?
O governo precisa ajustar a sua tática. Isso envolve uma abordagem sensível que respeite a diversidade desses grupos. O diálogo com lideranças religiosas, a participação em atividades específicas e o desenvolvimento de programas direcionados e contextualizados podem ser eficazes para construir confiança, aproximação e entendimento mútuo. O objetivo deve ser demonstrar que o governo é inclusivo e respeita todas as crenças, independentemente das denominações religiosas.
Quais estratégias o governo pretende adotar para aumentar a aprovação da gestão entre os evangélicos? Atores do governo, como ministros e o próprio PT, devem ter atuação mais forte?
Vale lembrar que a leitura polarizada das pesquisas - “ótimo e bom” versus “ruim e péssimo” - deixam de lado um fator importante: os que consideram regulares. Isso distorce a compreensão do conjunto da opinião pública. Considerar também por que as pessoas avaliam como regular o governo é fundamental para uma visão mais completa e ações mais precisas no diálogo com o público evangélico. Então, penso que fazer ajustes na comunicação para que seja clara e direta, que destaquem as intenções e realizações do governo, efetivação das políticas públicas e que, impactam diretamente na maioria da população, como segurança pública, emprego, renda, moradia, mobilidade urbana, combate à fome e a pobreza, educação, saúde. Um outro fator que considero fundamental são as políticas econômicas que diminuam o custo de vida e distribuam renda. Os agentes de governo, dirigentes partidários, lideranças da Câmara e Senado, Assembleias e Câmaras Estaduais e Municipais do PT e os partidos que compõem a aliança podem desempenhar um papel fundamental, engajando-se no diálogo aberto com as lideranças e as comunidades religiosas. Devem se envolver em debates e projetos que abordem as questões políticas de interesse comum.
O presidente Lula deve atuar de forma direta, promovendo encontros, por exemplo, para conquistar tal eleitorado? Durante a campanha eleitoral de 2022, Lula promoveu um encontro com evangélicos em São Gonçalo, no RJ. Tem algo em vista parecido com isso no curto prazo?
Sou de opinião que o governo deve buscar e encontrar formas de atuar diretamente com o povo evangélico. Encontros, debates e eventos específicos são oportunidades para estabelecer conexões pessoais e apresentar propostas. A experiência de 2022, quando a campanha do presidente Lula promoveu um encontro com evangélicos, tanto em São Gonçalo (RJ) e em São Paulo, pode servir como modelo para futuras ações no curto prazo. É certo que o presidente Lula sempre esteve aberto a promover encontros. Ele valoriza muito a proximidade com o povo e acredita que esses encontros são oportunidades para ouvir e esclarecer questões.
O senhor reconhece que a comunicação do governo é um tema que precisa ser revisto? Como o governo deve atuar de agora em diante no foco da comunicação?
A comunicação do governo é um tema crucial. É necessário aprimorar as estratégias, investir em canais eficazes e garantir que as mensagens sejam claras e acessíveis. A ênfase deve estar nas realizações políticas e no impacto positivo na vida das pessoas. A comunicação deve ser proativa, aberta ao diálogo e capaz de responder a desinformação, mentiras e críticas de forma construtiva com os segmentos religiosos, na minha opinião. O governo deve ajustar sua comunicação para destacar suas intenções e realizações. Mensagens claras e diretas são essenciais para alcançar a população, incluindo os evangélicos. Investir em canais eficazes, contextualizados para responder as desinformações e enfatizar as realizações políticas são passos importantes.