Pastores com 50 milhões de seguidores dão palanque virtual a Bolsonaro nas redes sociais


Líderes religiosos ecoam mensagens de uma ‘guerra’ e convocam fiéis para atos de 7 de setembro

Por Davi Medeiros, Gustavo Queiroz e Levy Teles
Atualização:

Pastores com 50 milhões de seguidores no Instagram, Facebook e Twitter dão palanque virtual a Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição na corrida pelo Palácio do Planalto. Juntos, os dez maiores líderes religiosos apoiadores do presidente ecoam mensagens da luta do “bem” contra o “mal” e de uma “guerra”, em sintonia com o discurso do presidente.

Dos líderes religiosos identificados pelo Estadão, três deles, com 23,3 milhões de seguidores, fazem em vídeo convocação explícita para os atos de 7 de Setembro. Na gravação, um locutor repete os bordões bolsonaristas “Deus, pátria, família e liberdade” e “nossa bandeira jamais será vermelha”.

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Segundo colocado nas pesquisas, o presidente pretende mostrar força no Bicentenário da Independência, após pôr em xeque, sem provas, a lisura das urnas eletrônicas. A Polícia Federal nunca encontrou indícios de fraudes nos equipamentos, diferentemente dos tempos do voto em papel.

Em período eleitoral, o apoio de pastores é valioso. A missão, segundo eles, é “salvar” o País. “Eu te convido, com as suas mãos erguidas, a orar. Nós temos nesta tela a Bandeira do Brasil, 2022 é um ano de guerra. Nós estamos em guerra. É uma batalha ideológica, de filosofias, é uma batalha cultural”, disse o pastor André Valadão, da Igreja Batista Lagoinha, em janeiro, em um prenúncio do que seria 2022.

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“Nós estamos em guerra. É uma batalha ideológica, de filosofias, é uma batalha cultural”

Pastor André Valadão, da Igreja Batista Lagoinha

A pregação foi publicada no Instagram, rede na qual o líder tem 5,3 milhões de seguidores. Foi em um culto com Valadão que a primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que o Planalto era “consagrado a demônios”. Com a estratégia de levar mensagens do altar para as redes, pastores reverberam, assim, o bolsonarismo.

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Um deles é Cláudio Duarte, com mais de 13,9 milhões de seguidores. Da Igreja Projeto Recomeçar, o líder se apresenta como “um pastor seriamente engraçado”. Entre sermões e esquetes de humor, usa as redes para publicar fotos com o presidente. “Eu sou eleitor de Bolsonaro, sou cabo eleitoral dele e sou intercessor dele”, afirmou, em vídeo. Procurados pela reportagem, Valadão e Duarte não se manifestaram.

Para o cientista político e diretor do Observatório Evangélico Vinicius do Valle, a atuação nas redes é um ativo eleitoral complementar aos cultos. “Sempre que um líder religioso está se posicionando, apoiando um candidato, ele sabe que seu prestígio que vem de uma esfera (religiosa) se transfere para outra (a política)”, afirmou.

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“Sempre que um líder religioso está se posicionando, apoiando um candidato, ele sabe que seu prestígio que vem de uma esfera (religiosa) se transfere para outra (a política)”

Vinicius do Valle, cientista político e diretor do Observatório Evangélico

O segmento evangélico, ressaltou Valle, não é homogêneo – ou seja, a mensagem de um líder nem sempre é seguida pelos fiéis. Porém, para ele, o uso das plataformas digitais é eficaz na comunicação política por alcançar um público de seguidores mais amplo, além daquele presente aos cultos.

Na corrida eleitoral, o apelo à fé tem surtido efeito. Bolsonaro cresceu no segmento evangélico, que corresponde a 25% da amostra da última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira. Ele subiu de 43% para 49%, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oscilou de 33% para 32%.

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No sábado, 20, em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, Lula tratou de religião e política. “Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, defendo o Estado Laico. O Estado não tem de ter religião, todas as religiões têm de ser defendidas pelo Estado. Mas também quero dizer: as igrejas não têm de ter partido”, afirmou. Segundo ele, “tem gente” que “está fazendo da igreja um palanque político”.

Distanciamento

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Lula, no entanto, já esteve próximo de pastores e os puxava para sua órbita de poder. Idealizador da Marcha para Jesus, o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo, hoje, é um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro – na foto de perfil, já aparece ao lado do presidente. Ele, por exemplo, esteve na ocasião da sanção da lei que instituiu um dia para a realização da marcha, em 2009, durante o governo do petista. Procurado, o apóstolo não respondeu.

O prestígio dado a líderes religiosos no passado não se mostra suficiente para atraí-los novamente. Conselheiro de Lula na comunicação com evangélicos, o pastor Paulo Marcelo Schallenberger fala apenas com 260 mil seguidores nas redes. Já o pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), fundador da Igreja Batista do Caminho e candidato a deputado federal, acumula 913 mil seguidores.

Vale ressaltar que o cálculo de seguidores, seja entre os pastores alinhados a Lula, seja entre os defensores de Bolsonaro, é feito com base nas contas que seguem os religiosos nas redes sociais. Uma conta não representa necessariamente uma pessoa ou um eleitor e uma mesma conta pode seguir mais de um dos religiosos citados.

De acordo com Flávio Conrado, doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador da área, a adesão ao bolsonarismo se explica pela ocupação da máquina pública. “Ainda que figuras como Marcelo Crivella tenham assumido um ministério no governo do PT, nunca se tinha visto igrejas assumindo espaços como o Ministério dos Direitos Humanos, da Justiça ou o Ministério da Educação.”

Ex-aliado de Lula e fundador da Catedral do Avivamento, o deputado Pastor Marco Feliciano (PL-SP) mudou de lado. “Sou a favor de Bolsonaro porque ele defende os valores cristãos e da família tradicional. Sou contra Lula porque ele defende a subversão desses valores. É uma questão de sobrevivência”, afirmou Feliciano ao Estadão.

Desinformação

Os pastores também repercutem peças de desinformação sobre a campanha de Lula. Publicações viraram alvo da Justiça Eleitoral e chegaram a ser excluídas das plataformas por divulgar notícias falsas. A ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves, também pastora, e o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, tiveram conteúdo removido ou por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou por violação de diretrizes de plataformas digitais.

Em janeiro, Malafaia afirmou, em defesa do presidente, que a vacinação de crianças contra a covid-19 era um “infanticídio”. Agora, em período eleitoral, usa o Twitter para promover candidatos do partido de Bolsonaro “pelo bem do Brasil”. Nas três plataformas, o pastor soma 8,3 milhões de seguidores.

Malafaia fez pelo menos 138 menções diretas a Lula no Twitter, com inúmeras críticas, ao longo de 2022. Nas publicações, ele associa o petista ao comunismo, questiona a legitimidade de pesquisas eleitorais e acusa o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de perseguir Bolsonaro. Procurado, o pastor não respondeu à reportagem.

Já Damares, candidata do Republicanos ao Senado pelo Distrito Federal, teve publicações derrubadas em quatro diferentes redes pelo TSE por dizer que o governo Lula ensinava jovens como usar crack. “A referida cartilha apresentada no vídeo possuía orientações direcionadas às pessoas dependentes de substâncias entorpecentes cujo objetivo era informativo no sentido de redução de danos, e não o incentivo motivacional ao uso de drogas ilícitas”, escreveu o ministro Raul Araújo, em decisão de quarta-feira com ordem para remover o conteúdo.

O engajamento – soma de curtidas, compartilhamentos e comentários – das publicações nas quatro redes soma 31,9 mil. A reportagem ainda detectou a circulação de conteúdo similar em pelo menos dois grupos bolsonaristas no Telegram, com referências, por exemplo, a “bolsa-crack” do PT.

Em pregações recentes, Damares diz que está “em guerra” e fala do ex-chefe na igreja. Em um testemunho, na Igreja Batista Atitude, em Brasília, chama Bolsonaro de “presidente mais maravilhoso da história”. Procurada, a assessoria de Damares somente respondeu sobre a decisão do TSE. “A assessoria jurídica do partido Republicanos informa que, no momento, vai se manifestar apenas nos autos do processo e que provará a veracidade do conteúdo questionado na justiça eleitoral”, disse.

Jair Bolsonaro e a primeira-dama Michelle acompanhados do pastor André Valadão em culto evangélico na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte Foto: Douglas Magno/AFP

Em maior ou menor intensidade, Valdemiro Santiago, José Wellington Bezerra da Costa, Josué Valandro Jr. e o bispo Robson Rodovalho também dão suporte ao presidente nas redes. Procurados pela reportagem, não responderam.

Veja mais manifestações dos pastores nas redes sociais:

Pastores com 50 milhões de seguidores no Instagram, Facebook e Twitter dão palanque virtual a Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição na corrida pelo Palácio do Planalto. Juntos, os dez maiores líderes religiosos apoiadores do presidente ecoam mensagens da luta do “bem” contra o “mal” e de uma “guerra”, em sintonia com o discurso do presidente.

Dos líderes religiosos identificados pelo Estadão, três deles, com 23,3 milhões de seguidores, fazem em vídeo convocação explícita para os atos de 7 de Setembro. Na gravação, um locutor repete os bordões bolsonaristas “Deus, pátria, família e liberdade” e “nossa bandeira jamais será vermelha”.

Segundo colocado nas pesquisas, o presidente pretende mostrar força no Bicentenário da Independência, após pôr em xeque, sem provas, a lisura das urnas eletrônicas. A Polícia Federal nunca encontrou indícios de fraudes nos equipamentos, diferentemente dos tempos do voto em papel.

Em período eleitoral, o apoio de pastores é valioso. A missão, segundo eles, é “salvar” o País. “Eu te convido, com as suas mãos erguidas, a orar. Nós temos nesta tela a Bandeira do Brasil, 2022 é um ano de guerra. Nós estamos em guerra. É uma batalha ideológica, de filosofias, é uma batalha cultural”, disse o pastor André Valadão, da Igreja Batista Lagoinha, em janeiro, em um prenúncio do que seria 2022.

“Nós estamos em guerra. É uma batalha ideológica, de filosofias, é uma batalha cultural”

Pastor André Valadão, da Igreja Batista Lagoinha

A pregação foi publicada no Instagram, rede na qual o líder tem 5,3 milhões de seguidores. Foi em um culto com Valadão que a primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que o Planalto era “consagrado a demônios”. Com a estratégia de levar mensagens do altar para as redes, pastores reverberam, assim, o bolsonarismo.

Um deles é Cláudio Duarte, com mais de 13,9 milhões de seguidores. Da Igreja Projeto Recomeçar, o líder se apresenta como “um pastor seriamente engraçado”. Entre sermões e esquetes de humor, usa as redes para publicar fotos com o presidente. “Eu sou eleitor de Bolsonaro, sou cabo eleitoral dele e sou intercessor dele”, afirmou, em vídeo. Procurados pela reportagem, Valadão e Duarte não se manifestaram.

Para o cientista político e diretor do Observatório Evangélico Vinicius do Valle, a atuação nas redes é um ativo eleitoral complementar aos cultos. “Sempre que um líder religioso está se posicionando, apoiando um candidato, ele sabe que seu prestígio que vem de uma esfera (religiosa) se transfere para outra (a política)”, afirmou.

“Sempre que um líder religioso está se posicionando, apoiando um candidato, ele sabe que seu prestígio que vem de uma esfera (religiosa) se transfere para outra (a política)”

Vinicius do Valle, cientista político e diretor do Observatório Evangélico

O segmento evangélico, ressaltou Valle, não é homogêneo – ou seja, a mensagem de um líder nem sempre é seguida pelos fiéis. Porém, para ele, o uso das plataformas digitais é eficaz na comunicação política por alcançar um público de seguidores mais amplo, além daquele presente aos cultos.

Na corrida eleitoral, o apelo à fé tem surtido efeito. Bolsonaro cresceu no segmento evangélico, que corresponde a 25% da amostra da última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira. Ele subiu de 43% para 49%, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oscilou de 33% para 32%.

No sábado, 20, em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, Lula tratou de religião e política. “Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, defendo o Estado Laico. O Estado não tem de ter religião, todas as religiões têm de ser defendidas pelo Estado. Mas também quero dizer: as igrejas não têm de ter partido”, afirmou. Segundo ele, “tem gente” que “está fazendo da igreja um palanque político”.

Distanciamento

Lula, no entanto, já esteve próximo de pastores e os puxava para sua órbita de poder. Idealizador da Marcha para Jesus, o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo, hoje, é um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro – na foto de perfil, já aparece ao lado do presidente. Ele, por exemplo, esteve na ocasião da sanção da lei que instituiu um dia para a realização da marcha, em 2009, durante o governo do petista. Procurado, o apóstolo não respondeu.

O prestígio dado a líderes religiosos no passado não se mostra suficiente para atraí-los novamente. Conselheiro de Lula na comunicação com evangélicos, o pastor Paulo Marcelo Schallenberger fala apenas com 260 mil seguidores nas redes. Já o pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), fundador da Igreja Batista do Caminho e candidato a deputado federal, acumula 913 mil seguidores.

Vale ressaltar que o cálculo de seguidores, seja entre os pastores alinhados a Lula, seja entre os defensores de Bolsonaro, é feito com base nas contas que seguem os religiosos nas redes sociais. Uma conta não representa necessariamente uma pessoa ou um eleitor e uma mesma conta pode seguir mais de um dos religiosos citados.

De acordo com Flávio Conrado, doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador da área, a adesão ao bolsonarismo se explica pela ocupação da máquina pública. “Ainda que figuras como Marcelo Crivella tenham assumido um ministério no governo do PT, nunca se tinha visto igrejas assumindo espaços como o Ministério dos Direitos Humanos, da Justiça ou o Ministério da Educação.”

Ex-aliado de Lula e fundador da Catedral do Avivamento, o deputado Pastor Marco Feliciano (PL-SP) mudou de lado. “Sou a favor de Bolsonaro porque ele defende os valores cristãos e da família tradicional. Sou contra Lula porque ele defende a subversão desses valores. É uma questão de sobrevivência”, afirmou Feliciano ao Estadão.

Desinformação

Os pastores também repercutem peças de desinformação sobre a campanha de Lula. Publicações viraram alvo da Justiça Eleitoral e chegaram a ser excluídas das plataformas por divulgar notícias falsas. A ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves, também pastora, e o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, tiveram conteúdo removido ou por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou por violação de diretrizes de plataformas digitais.

Em janeiro, Malafaia afirmou, em defesa do presidente, que a vacinação de crianças contra a covid-19 era um “infanticídio”. Agora, em período eleitoral, usa o Twitter para promover candidatos do partido de Bolsonaro “pelo bem do Brasil”. Nas três plataformas, o pastor soma 8,3 milhões de seguidores.

Malafaia fez pelo menos 138 menções diretas a Lula no Twitter, com inúmeras críticas, ao longo de 2022. Nas publicações, ele associa o petista ao comunismo, questiona a legitimidade de pesquisas eleitorais e acusa o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de perseguir Bolsonaro. Procurado, o pastor não respondeu à reportagem.

Já Damares, candidata do Republicanos ao Senado pelo Distrito Federal, teve publicações derrubadas em quatro diferentes redes pelo TSE por dizer que o governo Lula ensinava jovens como usar crack. “A referida cartilha apresentada no vídeo possuía orientações direcionadas às pessoas dependentes de substâncias entorpecentes cujo objetivo era informativo no sentido de redução de danos, e não o incentivo motivacional ao uso de drogas ilícitas”, escreveu o ministro Raul Araújo, em decisão de quarta-feira com ordem para remover o conteúdo.

O engajamento – soma de curtidas, compartilhamentos e comentários – das publicações nas quatro redes soma 31,9 mil. A reportagem ainda detectou a circulação de conteúdo similar em pelo menos dois grupos bolsonaristas no Telegram, com referências, por exemplo, a “bolsa-crack” do PT.

Em pregações recentes, Damares diz que está “em guerra” e fala do ex-chefe na igreja. Em um testemunho, na Igreja Batista Atitude, em Brasília, chama Bolsonaro de “presidente mais maravilhoso da história”. Procurada, a assessoria de Damares somente respondeu sobre a decisão do TSE. “A assessoria jurídica do partido Republicanos informa que, no momento, vai se manifestar apenas nos autos do processo e que provará a veracidade do conteúdo questionado na justiça eleitoral”, disse.

Jair Bolsonaro e a primeira-dama Michelle acompanhados do pastor André Valadão em culto evangélico na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte Foto: Douglas Magno/AFP

Em maior ou menor intensidade, Valdemiro Santiago, José Wellington Bezerra da Costa, Josué Valandro Jr. e o bispo Robson Rodovalho também dão suporte ao presidente nas redes. Procurados pela reportagem, não responderam.

Veja mais manifestações dos pastores nas redes sociais:

Pastores com 50 milhões de seguidores no Instagram, Facebook e Twitter dão palanque virtual a Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição na corrida pelo Palácio do Planalto. Juntos, os dez maiores líderes religiosos apoiadores do presidente ecoam mensagens da luta do “bem” contra o “mal” e de uma “guerra”, em sintonia com o discurso do presidente.

Dos líderes religiosos identificados pelo Estadão, três deles, com 23,3 milhões de seguidores, fazem em vídeo convocação explícita para os atos de 7 de Setembro. Na gravação, um locutor repete os bordões bolsonaristas “Deus, pátria, família e liberdade” e “nossa bandeira jamais será vermelha”.

Segundo colocado nas pesquisas, o presidente pretende mostrar força no Bicentenário da Independência, após pôr em xeque, sem provas, a lisura das urnas eletrônicas. A Polícia Federal nunca encontrou indícios de fraudes nos equipamentos, diferentemente dos tempos do voto em papel.

Em período eleitoral, o apoio de pastores é valioso. A missão, segundo eles, é “salvar” o País. “Eu te convido, com as suas mãos erguidas, a orar. Nós temos nesta tela a Bandeira do Brasil, 2022 é um ano de guerra. Nós estamos em guerra. É uma batalha ideológica, de filosofias, é uma batalha cultural”, disse o pastor André Valadão, da Igreja Batista Lagoinha, em janeiro, em um prenúncio do que seria 2022.

“Nós estamos em guerra. É uma batalha ideológica, de filosofias, é uma batalha cultural”

Pastor André Valadão, da Igreja Batista Lagoinha

A pregação foi publicada no Instagram, rede na qual o líder tem 5,3 milhões de seguidores. Foi em um culto com Valadão que a primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que o Planalto era “consagrado a demônios”. Com a estratégia de levar mensagens do altar para as redes, pastores reverberam, assim, o bolsonarismo.

Um deles é Cláudio Duarte, com mais de 13,9 milhões de seguidores. Da Igreja Projeto Recomeçar, o líder se apresenta como “um pastor seriamente engraçado”. Entre sermões e esquetes de humor, usa as redes para publicar fotos com o presidente. “Eu sou eleitor de Bolsonaro, sou cabo eleitoral dele e sou intercessor dele”, afirmou, em vídeo. Procurados pela reportagem, Valadão e Duarte não se manifestaram.

Para o cientista político e diretor do Observatório Evangélico Vinicius do Valle, a atuação nas redes é um ativo eleitoral complementar aos cultos. “Sempre que um líder religioso está se posicionando, apoiando um candidato, ele sabe que seu prestígio que vem de uma esfera (religiosa) se transfere para outra (a política)”, afirmou.

“Sempre que um líder religioso está se posicionando, apoiando um candidato, ele sabe que seu prestígio que vem de uma esfera (religiosa) se transfere para outra (a política)”

Vinicius do Valle, cientista político e diretor do Observatório Evangélico

O segmento evangélico, ressaltou Valle, não é homogêneo – ou seja, a mensagem de um líder nem sempre é seguida pelos fiéis. Porém, para ele, o uso das plataformas digitais é eficaz na comunicação política por alcançar um público de seguidores mais amplo, além daquele presente aos cultos.

Na corrida eleitoral, o apelo à fé tem surtido efeito. Bolsonaro cresceu no segmento evangélico, que corresponde a 25% da amostra da última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira. Ele subiu de 43% para 49%, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oscilou de 33% para 32%.

No sábado, 20, em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, Lula tratou de religião e política. “Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, defendo o Estado Laico. O Estado não tem de ter religião, todas as religiões têm de ser defendidas pelo Estado. Mas também quero dizer: as igrejas não têm de ter partido”, afirmou. Segundo ele, “tem gente” que “está fazendo da igreja um palanque político”.

Distanciamento

Lula, no entanto, já esteve próximo de pastores e os puxava para sua órbita de poder. Idealizador da Marcha para Jesus, o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo, hoje, é um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro – na foto de perfil, já aparece ao lado do presidente. Ele, por exemplo, esteve na ocasião da sanção da lei que instituiu um dia para a realização da marcha, em 2009, durante o governo do petista. Procurado, o apóstolo não respondeu.

O prestígio dado a líderes religiosos no passado não se mostra suficiente para atraí-los novamente. Conselheiro de Lula na comunicação com evangélicos, o pastor Paulo Marcelo Schallenberger fala apenas com 260 mil seguidores nas redes. Já o pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), fundador da Igreja Batista do Caminho e candidato a deputado federal, acumula 913 mil seguidores.

Vale ressaltar que o cálculo de seguidores, seja entre os pastores alinhados a Lula, seja entre os defensores de Bolsonaro, é feito com base nas contas que seguem os religiosos nas redes sociais. Uma conta não representa necessariamente uma pessoa ou um eleitor e uma mesma conta pode seguir mais de um dos religiosos citados.

De acordo com Flávio Conrado, doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador da área, a adesão ao bolsonarismo se explica pela ocupação da máquina pública. “Ainda que figuras como Marcelo Crivella tenham assumido um ministério no governo do PT, nunca se tinha visto igrejas assumindo espaços como o Ministério dos Direitos Humanos, da Justiça ou o Ministério da Educação.”

Ex-aliado de Lula e fundador da Catedral do Avivamento, o deputado Pastor Marco Feliciano (PL-SP) mudou de lado. “Sou a favor de Bolsonaro porque ele defende os valores cristãos e da família tradicional. Sou contra Lula porque ele defende a subversão desses valores. É uma questão de sobrevivência”, afirmou Feliciano ao Estadão.

Desinformação

Os pastores também repercutem peças de desinformação sobre a campanha de Lula. Publicações viraram alvo da Justiça Eleitoral e chegaram a ser excluídas das plataformas por divulgar notícias falsas. A ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves, também pastora, e o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, tiveram conteúdo removido ou por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou por violação de diretrizes de plataformas digitais.

Em janeiro, Malafaia afirmou, em defesa do presidente, que a vacinação de crianças contra a covid-19 era um “infanticídio”. Agora, em período eleitoral, usa o Twitter para promover candidatos do partido de Bolsonaro “pelo bem do Brasil”. Nas três plataformas, o pastor soma 8,3 milhões de seguidores.

Malafaia fez pelo menos 138 menções diretas a Lula no Twitter, com inúmeras críticas, ao longo de 2022. Nas publicações, ele associa o petista ao comunismo, questiona a legitimidade de pesquisas eleitorais e acusa o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de perseguir Bolsonaro. Procurado, o pastor não respondeu à reportagem.

Já Damares, candidata do Republicanos ao Senado pelo Distrito Federal, teve publicações derrubadas em quatro diferentes redes pelo TSE por dizer que o governo Lula ensinava jovens como usar crack. “A referida cartilha apresentada no vídeo possuía orientações direcionadas às pessoas dependentes de substâncias entorpecentes cujo objetivo era informativo no sentido de redução de danos, e não o incentivo motivacional ao uso de drogas ilícitas”, escreveu o ministro Raul Araújo, em decisão de quarta-feira com ordem para remover o conteúdo.

O engajamento – soma de curtidas, compartilhamentos e comentários – das publicações nas quatro redes soma 31,9 mil. A reportagem ainda detectou a circulação de conteúdo similar em pelo menos dois grupos bolsonaristas no Telegram, com referências, por exemplo, a “bolsa-crack” do PT.

Em pregações recentes, Damares diz que está “em guerra” e fala do ex-chefe na igreja. Em um testemunho, na Igreja Batista Atitude, em Brasília, chama Bolsonaro de “presidente mais maravilhoso da história”. Procurada, a assessoria de Damares somente respondeu sobre a decisão do TSE. “A assessoria jurídica do partido Republicanos informa que, no momento, vai se manifestar apenas nos autos do processo e que provará a veracidade do conteúdo questionado na justiça eleitoral”, disse.

Jair Bolsonaro e a primeira-dama Michelle acompanhados do pastor André Valadão em culto evangélico na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte Foto: Douglas Magno/AFP

Em maior ou menor intensidade, Valdemiro Santiago, José Wellington Bezerra da Costa, Josué Valandro Jr. e o bispo Robson Rodovalho também dão suporte ao presidente nas redes. Procurados pela reportagem, não responderam.

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