O deputado Paulinho da Força (PDT-SP), que a Operação Santa Tereza acusa de envolvimento em organização criminosa para desvio de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), iria receber R$ 256. 547,13 referentes a apenas um empréstimo que a instituição concedeu à Prefeitura de Praia Grande (SP). A informação consta de dossiê que a Polícia Federal enviou à Procuradoria-Geral da República e ao Conselho de Ética da Câmara, onde estão em curso investigações de âmbito criminal e político contra Paulinho. A PF sustenta que identificou a parte que caberia a Paulinho analisando discos rígidos copiados de computador da Progus Investimentos Consultoria Assessoria, dirigida pelo empresário Marcos Vieira Mantovani, suposto mentor da trama BNDES. A abertura dos HDs levou à descoberta de planilha eletrônica em formato Excel, intitulada "Calculo PG" - documento até então criptografado que foi descodificado pelos peritos federais. Segundo a PF, a planilha resume a divisão correspondente ao financiamento de R$ 123,9 milhões que o banco de fomento liberou para a administração Alberto Mourão (PSDB), de Praia Grande. O arquivo informa que "o que foi combinado" de propina alcançaria 3% do total do empréstimo - nesse caso, a organização embolsaria R$ 3.100.565,58, dos quais Paulinho ficaria com R$ 387.570,70. E-mails trocados entre os suspeitos indicam que, após o acerto inicial, houve um desentendimento na organização e a comissão caiu para 2%, equivalentes a R$ 2.052.377,05, que seriam divididos em seis parcelas relativas a cada um dos seis repasses que o banco faria, até início de 2009. O registro da Progus aponta sete nomes que seriam beneficiários da divisão. Os nomes são identificados por iniciais. PA, uma delas, é Paulinho da Força, crava o dossiê da PF. "As provas contra o deputado se tornaram mais evidentes na véspera da deflagração (da Santa Tereza), com os cumprimentos dos mandados de busca e de prisão, e também com farto material apreendido em poder de Mantovani e de João Pedro de Moura (lobista aliado de Paulinho), planilhas com divisão da propina recebida pela organização criminosa." São 89 páginas dedicadas exclusivamente ao parlamentar. É um documento conclusivo, o mais contundente relatório já produzido pela PF contra Paulinho. Em textos anteriormente redigidos e entregues à Justiça Federal, a PF adotou cautela ao citar o parlamentar, por causa do foro privilegiado de qual ele usufrui perante o Supremo Tribunal Federal (STF). A primeira vez que a PF apontou terminantemente para Paulinho foi no Relatório de Inteligência Policial 11, há duas semanas, no qual incluiu o deputado na estrutura da organização criminosa. O dossiê fala taxativamente em provas contra Paulinho e contesta a versão do deputado, que tem dito que PA pode ser "qualquer um". "Não temos mais dúvidas com relação à identificação da pessoa de Paulinho", assinala o dossiê, página 20. "Está confirmado." Uma parte do dinheiro, segundo a PF, Paulinho teria efetivamente recebido - na sede da Progus, a Santa Tereza apreendeu canhotos de cheques que comprovam pagamentos realizados a partir da primeira parcela liberada pelo BNDES, de R$ 20 milhões. Um cheque, no valor de R$ 18. 397, 50, teria sido depositado para Paulinho. Nos HDs da Progus, os federais encontraram mensagens enviadas por Mantovani, nas quais ele se refere a Paulinho como seu "amigo do peito". ?INDECENTE? Leônidas Scholz, criminalista que defende Paulinho, disse que não conhece o teor do dossiê da PF e reagiu: "A Polícia Federal, hoje, não se limita a investigar, mas se tornou uma grande indústria de factóides, operando a conta-gotas para surpreender. No caso do Paulinho, especificamente, tudo o que ela tem feito é rigorosamente espúrio porque não tem atribuição legal, muito menos constitucional, para investigar o deputado. A PF sustenta que não está investigando Paulinho, mas não pára de divulgar relatórios contra ele." Scholz asseverou que a PF "exerce uma atividade espúria, ilegítima e imoral". "O que a PF faz é indecente, pode colocar que eu assumo, indecente para o Estado Democrático de Direito. É indecoroso." Os criminalistas Antonio Ruiz Filho e Carlos Kauffmann não admitem suspeitas sobre o dono da Progus. "Mantovani não recebeu dinheiro do BNDES."