O PDT oficializou, na tarde desta terça-feira, 9, seu apoio à pré-candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela prefeitura de São Paulo. O evento realizado no diretório do partido na capital paulista teve uma profusão de críticas à aproximação do prefeito Ricardo Nunes (MDB) com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e apelos para reeditar uma “frente ampla” em torno da candidatura do aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT.
O presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, que ocupa o cargo de ministro da Previdência no governo Lula, disse confiar que Boulos pode vencer a eleição em primeiro turno, e deu um recado ao apresentador José Luiz Datena, que deixou a sigla rumo ao PSB. Ele era apontado como um possível nome nas urnas, mas o projeto não decolou. “Às vezes temos projetos de uma catedral e não sai nem uma igrejinha. Ele não quis ficar, respeito a opção dele, mas em todas as conversas que teve comigo ele só fez elogios ao Boulos. Estamos do lado de quem vai vencer a eleição”, disse Lupi.
Boulos agradeceu o partido e, após elogios a Carlos Lupi e a Leonel Brizola, figura histórica do PDT, fez questão de nacionalizar a disputa ao defender uma frente “pela democracia” na cidade de São Paulo. Ele disse que o prefeito está “se humilhando” ao tentar o apoio de Bolsonaro e que ele “não está à altura” de governar a maior cidade da América Latina. “Os nossos adversários não têm autoridade moral para usar a palavra extremista contra nós. Ontem foi um dia simbólico nesse sentido. Quem invadiu a sede dos Três Poderes, depredou, tentou dar golpe de Estado e defendeu fechar o Congresso e o Supremo foram eles.”
Sem clima com o PSB e aposta por vereadores
Segundo lideranças do PDT, a aproximação com Boulos e o PT se deu de forma natural depois que o PSB escolheu a deputada federal Tabata Amaral como pré-candidata em São Paulo. Tabata virou persona non grata no partido depois de contrariar a direção e votar a favor da reforma da Previdência, em 2019. Dois anos depois, conseguiu aval na Justiça Eleitoral para deixar a legenda sem perder o mandato. Datena agora pode ser vice de Tabata.
O PDT, assim, não repete a aliança com o PSB da eleição passada, quando apoiou Márcio França, e volta a coligar com o PT, a exemplo de 2016, com o candidato Fernando Haddad. A última vez que teve candidato próprio em São Paulo foi em 2012, com Paulinho da Força. O partido também tem baixo desempenho hoje no Estado. Atualmente, conta com apenas um deputado estadual — Márcio Nakashima, que tenta se viabilizar como candidato a prefeito em Guarulhos — e nenhum vereador na cidade ou deputado federal por São Paulo. Boulos prometeu atuar de modo a eleger parlamentares do PDT.
Oficialmente, no entanto, o discurso é que a adesão representa a melhor aposta para vencer Ricardo Nunes, principalmente diante de um eventual endosso de Bolsonaro ao atual prefeito. “Temos que defender mais uma vez a democracia, e nós já sabemos o caminho. O nosso campo precisa aprender que o momento que estamos vivendo é muito difícil e que precisamos nos unir. Acho que São Paulo está dando um exemplo para o Brasil”, afirmou a deputada federal gaúcha Juliana Brizola. “Precisamos derrotar o atraso que está aí, comprometido com o que tem de pior”, acrescentou o presidente estadual do PDT, Antônio Neto.
Do lado dos partidos que já estavam com Boulos (PT, PCdoB, PV e Rede, além do PSOL), a expectativa é que a entrada do PDT seja um prenúncio de novos apoios e ajude a colocar “gente na rua” para pedir votos, apesar da falta de nomes com mandato na capital paulista. O PDT colocou diversos núcleos do partido à disposição da campanha, incluindo centrais sindicais, estudantes e representantes do movimento negro.
Segundo o deputado federal Rui Falcão (PT), a candidatura “aumenta de tamanho” com o apoio do partido de Ciro Gomes. “Estou muito otimista com a nossa possibilidade de vitória. Cresceu o meu entusiasmo com esse grande apoio que a gente recebe hoje do PDT”. Ele foi um dos responsáveis pela articulação que deve colocar Marta Suplicy, atual secretária de Relações Internacionais da gestão de Ricardo Nunes na prefeitura, como vice de Boulos.