BRASÍLIA – Lideranças políticas reagiram ao indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais de 36 pessoas nas Operações Tempus Veritatis e Contragolpe. Governistas dizem que Bolsonaro e os demais merecem “o rigor da lei” e a “prisão”, enquanto oposicionistas ainda dizem crer na inocência do ex-chefe do Executivo. Principais nomes do Centrão, do outro lado, ainda optam pelo silêncio.
Petistas e ex-ministros bolsonaristas foram os primeiros a aparecerem na rede para comentar a notícia. “Há coisas a respeito das quais tenho certeza e uma delas é sobre a inocência de Jair Bolsonaro”, escreveu o ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro Ciro Nogueira (PP-PI), que também é presidente do PP.
A Executiva Nacional do PT publicou um comunicado pedindo para que Bolsonaro pague os crimes na Justiça. “O indiciamento de Jair Bolsonaro e sua organização criminosa abre caminho para que todos venham a pagar na Justiça pelos crimes que cometeram contra o Brasil e a democracia”, afirmou o partido. “Bolsonaro está no centro de uma trama corrupta, que apodrece todo seu entorno, não apenas os que foram indiciados, mas também parlamentares e até governadores que se associaram a ele.”
Presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann foi às redes pedir a prisão de Bolsonaro. “O indiciamento de Jair Bolsonaro e sua quadrilha, instalada no Planalto, abre o caminho para que todos venham a pagar na Justiça pelos crimes que cometeram contra o Brasil e a democracia: tentar fraudar eleições, assassinar autoridades e instalar uma ditadura. Prisão é o que merecem! Sem anistia”, escreveu.
O ministro da Previdência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, disse esperar que a justiça aja com “o rigor da lei”. “Os golpistas foram comprovadamente indiciados com várias provas pela polícia federal. Vamos aguardar que a justiça aja com o rigor da lei”, afirmou.
Também fez o mesmo pedido o prefeito de Recife, João Campos (PSB). “As informações são muito graves e é preciso que as investigações avancem para que, caso sejam comprovadas, as participações de todos os envolvidos, independente de quem seja, possam ser punidas com o todo o rigor da lei”, disse.
Do outro lado, a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos de Bolsonaro, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) reforçou a defesa do seu ex-chefe. “Se alguém em volta do Bolsonaro falou ou pensou diferente dele, que responda por seus atos. Mas não tentem imputar isso a um democrata como nosso eterno presidente. Temos que lembrar que indiciamento não é sentença”, afirmou.
Líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), acredita que o indiciamento faz parte de uma construção de narrativa. “Para configurar tentativa é necessário que o plano estivesse em execução e tenha sido frustrado. Não me parece que Bolsonaro ou Valdemar (da Costa Neto, presidente do partido) tenham concordado com qualquer ideia absurda do tipo.
Em nota, o senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado e secretário-geral do PL, disse que o indiciamento de Bolsonaro e do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, era esperado. “O indiciamento (...) não só era esperado, como representa sequência ao processo de incessante perseguição política ao espectro político que representam”, afirmou. Marinho foi ministro do Desenvolvimento Regional no governo Bolsonaro.
O ex-presidente reagiu ao seu indiciamento e disse que não pode “esperar nada de uma equipe que usa criatividade” para denunciá-lo e atacou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar”, disse.
A PF atribui a Bolsonaro, militares de alta patente e aliados os crimes de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa. Somados, os três crimes atribuídos pela corporação ao ex-presidente podem resultar em 28 anos de prisão.
É o terceiro indiciamento de Bolsonaro. O primeiro caso foi março, quando ele foi indiciado pelos crimes de associação criminosa e de inserção de dados falsos em sistema de informação.
Depois, em julho, ele foi indiciado pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro pelo caso envolvendo a incorporação ilegal de joias da Presidência, um esquema revelado a partir de reportagens feitas pelo Estadão.