BRASÍLIA – A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, da ativa do Exército, está sob risco e pode ser anulada pela Polícia Federal. A PF intimou o oficial para um novo depoimento para explicar falhas e omissões no que ele contou sobre a articulação de um golpe de Estado durante o governo Jair Bolsonaro.
Esse novo depoimento, que poderá ser decisivo para manter ou não os benefícios da delação premiada — principalmente a redução da pena em caso de condenação —, foi marcado para a próxima terça-feira, a partir das 14h.
Se a PF decidir pela anulação, Cid perde os benefícios negociados, mas o conteúdo da delação continua valendo como parte do inquérito, que será concluído e enviado para o relator do Supremo Tribunal Federal, ministro Alexandre de Moraes, na próxima semana,
Como antecipou o Estadão, as novas informações sobre a tentativa de golpe foram descobertas pela PF graças a um equipamento de última geração, chamado de Celebritti e comprado de Israel, capaz de recuperar mensagens apagadas em celulares e em HDs de computadores de Mauro Cid, apreendidos durante as investigações policiais.
O Celebritti israelense está sendo usado também para rastrear o celular do chaveiro Francisco Wanderley Luiz, morto por uma bomba caseira feita por ele mesmo para atacar a estátua da Justiça na entrada principal do STF, em Brasília.
Por meio desse equipamento, a PF teve acesso a novas conversas e provas sobre o golpe planejado contra o resultado das eleições e a posse do petista Luiz Inácio Lula da Silva, caso vencesse - como venceu - o pleito de 2022.
Com base nessas novas informações, que, inclusive atrasaram a conclusão do inquérito, a PF deu um recado claro a Mauro Cid e a seu advogado, César Bittencourt, que ele “ele precisa falar tudo o que sabe, não apenas confirmar o que nós (da PF) já sabemos”, segundo um delegado que acompanha diretamente o caso.
Mauro Cid, que continua na ativa, mas com chances praticamente nulas de promoção e de chegar ao generalato, era ajudante de ordens e “faz tudo” de Bolsonaro e se tornou peça-chave de todas as investigações contra o ex-presidente, inclusive sobre a articulação de golpe, a venda no exterior de joias e diamantes dados ao Brasil pela Arábia Saudita e produção de atestados falsos de vacinas de COVID para a família do próprio Cid e a filha caçula de Bolsonaro, Laura.
Se a PF anular a delação premiada, Cid, cujo pai é general de quatro estrelas da reserva do Exército, estará sujeito a uma pesada condenação pelo STF, além dos inquéritos internos no próprio Exército.