BRASÍLIA - A Polícia Federal analisa pen-drives apreendidos na casa do ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres, em Brasília, preso por suspeita de omissão e conivência com a invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. Na casa dele também foi apreendida a chamada minuta do golpe, um documento que propunha intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além dos pen-drives apreendidos, os investigadores querem examinar os dados do celular e do computador pessoal do ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PL). Esses equipamentos ainda não foram entregues à PF. Segundo apurou o Estadão, a perícia poderá ser feita mesmo sem os equipamentos a partir de dados que podem estar armazenados em nuvem virtual, caso Torres tenha utilizado esse serviço de backup de arquivos digitais.
Torres estava em Miami, na Flórida, passando férias. Bolsonaro passa uma temporada em Orlando, cidade próxima a Miami, desde o fim do ano passado. O ex-secretário retornou ao Brasil apenas com uma mochila. Não tinha consigo bagagem, computador ou celular. Sem acesso aos aparelhos, a PF analisa formas de acessar as informações contidas nos equipamentos, como a quebra de sigilo de dados guardados na nuvem.
Anderson Torres ainda não foi ouvido no inquérito que apura as invasões e depredações aos prédios dos Três Poderes no domingo, 8. A previsão era de que o depoimento ocorresse nesta terça-feira, 17. A PF, no entanto, ainda não conseguiu notificar o advogado Rodrigo Roca, que defende o ex-secretário.
Rodrigo Roca já representou judicialmente defendeu o filho mais velho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro, no caso das rachadinhas. O advogado foi também Secretário Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça, durante a gestão de Torres.
Durante o depoimento, Torres será questionado pela PF sobre uma suposta omissão ou conivência com os atos antidemocráticos e também sobre a minuta de decreto encontrada em sua casa na semana passada. Os investigadores analisam o material apreendido na casa do ex-secretário para confrontá-lo durante os questionamentos. A PF e o Ministério Público podem propor a ele delação premiada a depender do que irá informar.
O ex-ministro de Bolsonaro foi preso no sábado, 14, no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília. Ele estava na Flórida, quando teve a prisão preventiva – por prazo indeterminado – decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O ex-secretário é suspeito de cinco crimes envolvendo a invasão e a depredação dos prédios dos Três Poderes em Brasília. O mandado de custódia preventiva expedido por ordem de Moraes aponta que Torres é investigado por atos terroristas, dano, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
Após ser preso, o ex-secretário foi levado ao Batalhão de Aviação Operacional (Bavop) da Polícia Militar do Distrito Federal no Guará, região administrativa 15 quilômetros da região central de Brasília. No local, passou por uma audiência de custódia, por videoconferência, com o desembargador Airton Vieira, magistrado instrutor do gabinete de Alexandre de Moraes.
O artigo 295, do Código de Processo Penal, garante que delegados de polícia, como Torres, poderão ser “recolhidos a quartéis ou a prisão especial”. O dispositivo vale em casos de prisão antes de condenação em definitivo, como é o caso de Torres, e abrange também ministros de Estado, governadores, magistrados e diplomados por faculdade superior, por exemplo.