Uma declaração do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PT), viralizou nas redes sociais neste sábado, 15, e chegou aos termos mais comentados do Twitter. Durante entrevista ao podcast Feat, questionado se o Brasil poderia se tornar comunista caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhasse as eleições, o presidente relembrou ter encontrado meninas venezuelanas quando andava de moto na região administrativa do Distrito Federal.
“Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, de moto. Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, no sábado, numa comunidade, e vi que eram parecidas. Pintou um clima, voltei, ‘posso entrar na sua casa?’, entrei. Tinha umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. Aí eu te pergunto, menina bonitinha se arrumando sábado de manhã para quê? Para ganhar a vida. É isso que você quer para a sua filha?”, afirmou.
A declaração foi feita na sexta-feira, 14, em entrevista aos apresentadores Dieguinho Futbolaço, Fernando Instaverde e Paparazzo RubroNegro,
As afirmações serviram de munição para rivais, que associaram a fala à pedofilia. O deputado federal André Janones (Avante), apoiador de Lula, mobilizou o compartilhamento do termo, e vários outros políticos, como o senador Randolfe Rodrigues (REDE), mencionaram o assunto.
A mulher do candidato petista, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, também se manifestou, dizendo que a declaração de Bolsonaro causa “revolta e indignação”.
O termo “Bolsonaro Pedófilo” chegou ao topo dos assuntos mais comentados na plataforma. Nas redes, opositores ainda questionaram por que o presidente não acionou o Ministério Público Federal, a Polícia Federal ou o Conselho Tutelar ao ver adolescentes em situação suspeita de prostituição infantil.
Apoiadores do presidente reagiram. Seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL), afirmou que a acusação de pedofilia é “abominável”, alegando que Bolsonaro “sempre foi um ferrenho combatente da pedofilia”.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que a oposição estaria “espalhando uma montagem criminosa”. Ambos compartilharam um vídeo que disseram mostrar a visita do presidente à casa das adolescentes venezuelanas. A gravação, realizada durante a pandemia de covid-19, apresenta Bolsonaro conversando com mulheres refugiadas sobre a política de isolamento social e sobre dificuldades financeiras, tanto no Brasil quanto na Venezuela.
Como mostrou o Estadão neste sábado, postagens com conteúdos apelativos, pautas de costume e desinformação superam discussões sobre fome, desemprego e inflação nas redes sociais. Levantamento feito pela reportagem mostra o protagonismo de publicações de apoiadores de Lula e Bolsonaro em temas como satanismo, maçonaria e supostas associações com o crime organizado na esteira do “jogo sujo” deflagrado na campanha.
'Jogo sujo' nas redes
Covid-19
Na mesma entrevista, Bolsonaro questionou se “alguém viu alguma criança morrer de covid”. Segundo ele, as mortes de crianças pela doença foram raras no Brasil. “O que acontecia nesse caso é que chegava uma criança no hospital com traumatismo craniano que caiu da bicicleta e alguns hospitais, maldosamente, botavam na UTI covid”, afirmou. O trecho também foi compartilhado nas redes sociais por opositores do presidente.
Segundo o Observa Infância, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ao menos 1.700 crianças menores de 5 anos morreram de covid no Brasil desde o início da pandemia. Os dados foram coletados no Sistema de Informação sobre Mortalidade e passaram por revisão do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de Saúde.
Foram 599 crianças nessa faixa etária vítimas de covid em 2020, mais 840 no ano seguinte, quando a letalidade da doença aumentou em toda a população. Entre janeiro e 13 de junho de 2022, o Brasil registrou mais 291 mortes por covid-19 entre crianças menores de 5 anos.
Até junho de 2022, dados coletados pelo Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em 91 países mostravam que a covid-19 foi a causa básica de óbito de 5.376 crianças menores de 5 anos no mundo. O Brasil respondeu por cerca de 1 em cada 5 dessas mortes.