(Atualizado às 6h18) BRASÍLIA - Na véspera de tomar posse para seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff não conseguiu ainda fechar seu ministério. Ontem, depois de mais um dia de expectativa, o Palácio do Planalto confirmou apenas mais um nome, o de Juca Ferreira para o Ministério da Cultura. Ainda faltam 14 ministros. Entre eles, o que estaria causando a maior parte das dificuldades: decidir o futuro do Ministério das Relações Exteriores.
Dilma ainda não conseguiu decidir se mantém o atual ministro, Luiz Alberto Figueiredo, hoje bastante criticado, mas com quem tem um bom relacionamento, ou se faz a troca desejada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por empresários e mesmo por boa parte dos diplomatas. No último final de semana, havia-se chegado em uma conformação considerada ideal por vários setores: a volta de Celso Amorim para o cargo de ministro, a vinda do atual embaixador nos Estados Unidos, Mauro Vieira, para a Secretaria Geral e a ida de Figueiredo para Washington. Na tarde de ontem, a informação já era que o atual ministro poderia ficar devido a recusa de Amorim em aceitar o posto. Consultado pelo Estado, Amorim afirma que desconhece qualquer especulação sobre seu nome e garante que nunca foi sondado para voltar ao Itamaraty.
Fontes próximas ao ministro garantem que ele poderia considerar sim retornar ao Itamaraty, apesar das dificuldades enfrentadas hoje pelo ministério. A presidente, no entanto, oscila entre manter o atual ministro, chamar Amorim ou nomear um outro diplomata.
Ainda estão cotados Mauro Vieira, Éverton Vieira Vargas, embaixador na Argentina, e Antônio Simões, atual subsecretário-geral para América do Sul. Dilma tem um bom relacionamento e gosta de Vieira, que também é muito próximo de e de Vargas. Também tem apreço por Simões, figura-chave na atabalhoada entrada da Venezuela no Mercosul, durante a suspensão do Paraguai. O embaixador, no entanto, foi responsabilizado pela presidente na crise da fuga e refúgio no Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina.
O problema no Itamaraty é causada pela impressão do governo de que o Brasil andou para trás nas relações comerciais. Em meio a crise econômica mundial, o País reduziu suas vendas no exterior e perdeu espaço em áreas onde um bom relacionamento havia sido construído, como África, Ásia e Oriente Médio. Sem nenhuma experiência em comércio exterior, Figueiredo tem sido responsabilizado por parte do fracasso exterior brasileiro. Dilma teria sido convencida de que precisa de um chanceler que tenha vocação para fazer o que ela não tem vontade ou paciência: aumentar a influência do Brasil no exterior e colher frutos comerciais. Ainda assim, não conseguiu ainda definir o que fazer com a pasta.
O nó nas nomeações impediu a presidente de cumprir a promessa feita no último dia 23, em café da manhã com jornalistas, de que teria todo seu ministério até o dia 29, para que pudessem tomar posse com ela. Além do MRE, falta a confirmação de ministros que dificilmente serão trocados, como Aloizio Mercadante, na Casa Civil, Tereza Campello, no Desenvolvimento Social, e José Eduardo Cardozo, na Justiça. Outros, como Trabalho, ainda estão sob disputa política de partidos da base. Mas há também as áreas em que não há disputa política, como Assuntos Estratégicos e o Gabinete de Segurança Institucional, que devem permanecer apenas nos primeiros meses.
O novo ministro da Cultura era um nome cotado desde o início, mas em que também houve disputa. Juca Ferreira foi o coordenador da área de Cultura da campanha de Dilma à presidência e já havia sido ministro entre julho de 2008 a dezembro de 2010. Na sua primeira passagem pelo ministério, defendeu a proposta de revisão dos direitos autorais que criminaliza o "jabá", dispensa a autorização dos titulares para a restauração de filmes e exibições em cineclubes e prevê supervisão do governo em associações de gestão coletiva de direitos autorais, como o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).