O debate começou em alta temperatura, tenso, nervoso. Não seria diferente. Era o último debate antes do primeiro turno das eleições. Mas o que era tensão se transformou em agressões verbais pesadas com uma fagulha: respondendo a pergunta feita pelo candidato Kelmon, com quem fez mais uma vez parceria, como havia ocorrido no debate do Estadão, Jair Bolsonaro riscou o fósforo. Partiu para o ataque contra Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de chefe de quadrilha. Lula atacou de volta.
Tudo desandou a partir daí.
Só no primeiro bloco, foram oito pedidos de resposta na discussão inicial entre o presidente e o ex-presidente. Entre um presidente e um ex-presidente! Quatro pedidos feitos por Lula foram concedidos. Quatro pedidos foram feitos por Bolsonaro, dois concedidos e dois negados. O debate terminou com 19 pedidos de respostas. Dezenove!
Propostas? Muito pouco. O debate era só polarização mergulhada em gasolina.
De acusadores a alvos
Protagonistas de um intenso duelo no primeiro bloco, Lula e Bolsonaro se tornaram alvos de questionamentos duros de Luiz Felipe d’Avila e Simone Tebet, respectivamente. O candidato do Novo questionou Lula sobre corrupção, tema que perseguiu o petista em todo o encontro. Tebet, por sua vez, confrontou Bolsonaro com dados - negativos - sobre sua gestão ambiental.
Ciro Gomes, usando um tom abaixo do que vinha apresentando publicamente, conseguiu mostrar propostas quando questionado sobre educação e geração de empregos, por exemplo. Isso apesar de precisar ‘dialogar’ com Kelmon, que disse serem as universidades as formadoras de estudantes esquerdistas.
D’Avila, em conversa com Bolsonaro, também indicou como poderia evitar relações pouco republicanas com o Congresso Nacional. Falou da reforma trabalhista e indicou como diminuir o risco das empresas com passivos trabalhistas. Tebet, por sua vez, falou com propriedade sobre como lidar com a questão do meio-ambiente envolvendo o agronegócio e a agricultura familiar.
Mas as propostas ficaram por aí: Soraya Thronicke preferiu bater-boca com Kelmon, a quem chegou a chamar de ‘Kelson’, ‘Kevin’ e, finalmente, de ‘candidato padre’ e ‘padre de festa junina’.
O que era tensão, se tornou uma comédia da pior qualidade.
No terceiro bloco, depois da tensão e da comédia, o silêncio. Ou a tentativa de silêncio. O jornalista William Bonner pediu à produção para cortar o microfone do ex-presidente Lula e de Kelmon. Ambos batiam-boca após o candidato do PTB acusar o atual líder da corrida eleitoral, segundo o agregador de pesquisas do Estadão Dados, de corrupção. Kelmon interrompia as respostas de Lula sistematicamente, como havia feito no segundo bloco com Soraya Thronicke.
A iniciativa (tática?) fez Kelmon ser advertido por Bonner de maneira veemente. Talvez algo inédito na história dos debates presidenciais realizados desde 1989. Bonner, em silêncio, tentava administrar o caos com visível incredulidade. Sua aparente indignação deveria ser a da população, que em vez de possivelmente vibrar nas redes sociais com as brigas, poderia exigir dos candidatos nas ruas mais propostas, mais projetos.
Diante de tanto e de tão pouco, resta uma certeza aterradora: a democracia perdeu mais uma vez.