A Polícia Civil de São Paulo investiga as relações do deputado estadual José Américo (PT) com o empresário Paulo Cesar de Souza Brittes, que trabalhou como assessor parlamentar do petista. Brittes é dono de empresa citada no inquérito sobre fraudes de Organizações Sociais de Saúde do médico Cleudson Garcia Montali. Além de Américo, a polícia apura as ligações dos deputado estadual Rodrigo Gambale (PSL) e do deputado federal licenciado Sival Malheiros (Podemos-SP) com Cleudson.
O médico foi condenado em dois processos a penas que, somadas, chegam a 200 anos de prisão. Ele foi o principal alvo da Operação Raio X, que investigou fraudes em hospitais de 27 cidades em quatro Estados. No caso de José Américo, chamou a atenção dos policiais o fato de o petista ter integrado a CPI das Organizações Sociais da Assembleia, assim como o deputado Carlão Pignatari (PSDB) – flagrado em conversas com Cleudson sugerindo ao médico que assumisse a administração de hospitais em Santa Fé do Sul e de Ferraz de Vasconcelos.
A foto de José Américo – ex-presidente do diretório municipal do PT e ex-presidente da Câmara Municipal – foi incluída no Evento 242, seção do inquérito que apura as empresas que, contratadas pelo grupo, devolviam parte dos recursos recebidos para os integrantes da organização. Lá também está a informação de que a CPI ouviu o depoimento de Cleudson em 1.º de agosto de 2018, quando o médico negou as suspeitas de irregularidades
“Ele (Brittes) foi meu assessor na zona norte de São Paulo, até 2017. Ele saiu do gabinete para trabalhar como executivo de uma OS de Barueri, antes da CPI. Depois nunca mais tive notícias dele”, afirmou o deputado. O caminho feito pela polícia até o nome de José Américo começou pelos fornecedores do chamado projeto Birigui.
Foi ali que verificaram que a empresa de Brittes recebia R$ 167 mil por mês e devolvia, segundo anotações apreendidas pelos investigadores, de R$ 6 mil a R$ 120 mil à organização criminosa. Tudo registrado em anotações feitas por Márcio Takashi Alexandre, apontado como responsável pelos pagamentos da quadrilha.
Os policiais escreveram: “Sabendo do modus operandi da Orcrim que se vale de supostos fornecedores de serviços para obterem retorno do dinheiro público, procuramos na lista de prestadores de serviço da filial da Orcrim em Barueri algum nome semelhante ao que consta da anotação e achamos a empresa Brittes Odonto Medics Prestação de Serviços Médicos e Odontológicos Ltda”.
O empresa informa como atividade o atendimento em pronto-socorro e hospitais de urgência. Sua sede seria no bairro de Santa Teresinha, na zona norte de São Paulo. Os investigadores verificaram que o endereço era o mesmo da residência do empresário, que é dentista. O imóvel, segundo a polícia, é “uma casa simples, sem qualquer indicação de que ali funcione uma empresa”.
Brittes viajou em agosto de 2019 para o Pará, onde Cleudson administrava hospitais. O médico pretendia ampliar a participação do empresário no grupo. Brittes esteve em reuniões na Secretaria da Saúde do Pará para a assinatura de contratos, que foram alvo da Operação SOS, da Polícia Federal.
Gambale
No caso do deputado do PSL, os investigadores suspeitam de sua ligação com tratativas para que o grupo de Cleudson assumisse o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos. Além disso, a polícia interceptou conversas de Ricardo Bracale, assessor de Malheiros. Segundo a polícia, tanto Bracale quanto Malheiros mantinham relação próxima com Cleudson e, conforme mostram diálogos telefônicos, “Bracale participa de vários encontros com membros da Orcrim”. Bracale teria passado a Márcio a conta do filho para receber depósitos da organização.
Ele enviou ainda a Márcio a notícia da liberação de recursos de emendas parlamentares para Birigui e Pacaembu. Imediatamente, Márcio repassou a informação para Jackson Carlos dos Santos, assessor de Gambale. O material foi incluído no inquérito na seção que apura o repasse de emendas parlamentares à organização criminosa. O Estadão procurou Gambele e Malheiros e seus assessores, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição. O presidente da Alesp, Carlão Pignatari (PSDB), alega que não cometeu irregularidade e que não é investigado no caso.