Em arrimo à campanha de Lula para a Presidência, ocorreu, nesta sexta feira, 5, em São Paulo, a conferência de saúde "Livre, Democrática e Popular".
Reunindo expectativas antigas e recentes, de promover mudanças na saúde pública, a plenária festiva teve a intenção de construir uma barricada, para o caso de vitória em outubro.
Sanitaristas, entidades de saúde e movimentos sociais fizeram a defesa do SUS e deixaram implícita a mensagem de que é dali que sairão nomes para ocupar os principais cargos na saúde federal.
Um dos presentes, o senador Humberto Costa (PT-PE), chegou a avançar a linha, antecipou-se à plateia como candidato a ministro da Saúde, posição que ocupou no primeiro governo de Lula.
Com o termo "popular", mas sem espaço para participação e debate de propostas e programa, predominou o lema 'é meu, ninguém tasca eu vi primeiro'.
Sem Alckmin presente, Lula incensou o SUS, disse que "tudo que é universalizado cai de qualidade se o dinheiro não for também universalizado".
O ex-presidente prometeu a ampliação do sistema público (100% de cobertura de atenção primária), pregou o fim do teto de gastos e lamentou a extinção da antiga CPMF, o imposto do cheque criado para financiar o SUS, mas sempre desviado para outras finalidades.
Três dias antes, na sede do SindHosp, também em São Paulo, Alckmin, sem Lula por perto, disse a empresários da saúde que "se a economia cresce, cresce o setor privado da saúde, cresce a medicina suplementar e isso irá aliviar o SUS."
Ficou a certeza de que, em matéria de saúde, a coalizão, hoje favorita a vencer a eleição em outubro, não possui fóruns para o diálogo compartilhado.
São dois mundos: o público, dos 45% dos recursos, e o privado, que consome 55% dos gastos do país com saúde.
A conferência popular com Lula, que aconteceu no bairro da Liberdade, afirmou-se como a nação dos políticos de bancadas minoritárias, dos sindicatos de trabalhadores da saúde, movimentos negro, feminista, indígena e contra os manicômios.
Na seleta reunião com Alckmin, em auditório na rica Avenida Faria Lima, também em São Paulo, estavam executivos de empresas que preferem circular onde os recursos para a saúde são abundantes.
Aproximações para encontrar uma arena comum para exposição e decantação de divergências estão fora de cogitação.
Objetos de disputa em campanhas eleitorais são reais, não nascem em repolhos nem em rosas. Quanto mais se aproxima a eleição, cresce o nível de ansiedade de quem vislumbra cargos e posições de poder, que é o que importa no final.
A saúde entrou na pauta eleitoral, mas por enquanto está confinada em universos paralelos.