Por voto ‘LuNes’, prefeito paulistano, apoiado por Bolsonaro, evita embate com Lula


‘Polarização’ do prefeito na campanha eleitoral voltará sua mira para o apadrinhado do presidente, Guilherme Boulos, sem fustigar o chefe do Executivo

Por Bianca Gomes
Atualização:

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem adotado a estratégia de evitar confrontos diretos com o presidente Lula (PT). O petista é considerado o principal cabo eleitoral de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo que está tecnicamente empatado com Nunes na última pesquisa Datafolha.

Segundo integrantes da campanha de Nunes ouvidos pelo Estadão, a estratégia de poupar o presidente tem como objetivo não afastar os eleitores que podem votar no prefeito. Mesmo com Lula declarando apoio a Boulos na capital paulista, Nunes possui 21% de intenção de voto entre os eleitores paulistanos que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Os dados são do último Datafolha, publicado em julho.

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Assim como Lula, Nunes encontra maior apoio entre os eleitores de baixa renda. No último levantamento do Datafolha, o prefeito registrou 24% de intenção de voto na amostra total de 1.092 eleitores e 26% entre os eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos.

O segmento do eleitorado menos favorecido é também onde Boulos buscará crescer durante a campanha eleitoral, usando o apoio de Lula e da sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy, como seus principais ativos. Atualmente, o líder sem-teto tem 23% de intenção de voto no eleitorado geral, mas esse número cai para 15% entre os menos afortunados.

Prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição, Nunes quer polarização 'só' com Boulos Foto: Werther Santana/Estadão
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A campanha de Nunes acredita que o voto “LuNes” deve ser uma realidade na disputa paulistana, e por isso o prefeito deve mirar sua artilharia somente para Boulos, evitando ao máximo o confronto com o presidente e o governo federal — a não ser quando provocado. A polarização, diz um aliado de Nunes, será contra Boulos, e não contra Lula. Na convenção do PL que oficializou a indicação do coronel Ricardo de Mello Araújo como seu vice, a tática ficou clara: o prefeito subiu o tom contra Boulos e chamou o candidato do PSOL de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”.

A tática de Nunes de evitar ataques a Lula também impede que sua campanha embarque na narrativa de Boulos de que a eleição em São Paulo será um “terceiro turno” entre Lula e Jair Bolsonaro (PL). Embora tenha o apoio do ex-presidente, Nunes rejeita o rótulo de bolsonarista por receio de aumentar sua rejeição. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 65% dos paulistanos afirmam que não votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro.

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Prova de que o prefeito está poupando o presidente da República foi a sua publicação no “X” (antigo Twitter) criticando Boulos por ter defendido, em sabatina para o UOL/Folha, o seu próprio parecer que livrou André Janones (Avante-MG) de uma denúncia de rachadinha no Conselho de Ética da Câmara. O prefeito não criticou o fato de Boulos ter defendido, também na sabatina, o pedido de voto de Lula no evento de 1º de janeiro.

Nunes tem adotado a estratégia de falar sobre o presidente apenas quando provocado — e mesmo assim, evita ataques pessoais ou referências ao passado do petista. Também não repete bordões usados pelos bolsonaristas, como “ladrão” ou “ex-presidiário”. Em uma das raras declarações sobre Lula, logo após o pedido de voto em 1º de maio, o prefeito afirmou que era “triste” ver um presidente se submeter ao papel de usar um evento bancado com recursos públicos para fazer “palco eleitoral”.

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Em dezembro do ano passado, o prefeito respondeu a uma provocação de Lula sobre a ausência dele e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em um evento do Minha Casa Minha Vida na Zona Leste da capital. Lula afirmou que ambos foram convidados, mas não compareceram, e que seriam tratados com “maior respeito” se tivessem ido, pois “educação a gente aprende em casa”. Nunes, por sua vez, respondeu que eventos relacionados a “invasão” não terão sua presença e apoio.

Mesmo quando provocado, o prefeito muitas vezes prefere se manter em silêncio. Nunes, por exemplo, não respondeu à declaração do ministro Alexandre Padilha (Secretaria das Relações Institucionais) lamentando que ele tenha “abraçado o bolsonarismo”. O prefeito também não quis comentar quando Lula chamou seu pré-candidato a vice, Mello Araújo, de “ditador do Ceagesp” durante a convenção que confirmou a candidatura de Boulos à Prefeitura. Neste último caso, coube ao próprio Mello Araújo, este sim usando vocabulário bolsonarista, se defender. “Se o desocupado quer criticar o fato de eu ter acabado com a prostituição e a roubalheira no Ceagesp é porque ele não valoriza a ordem e o respeito. Ele invade prédio público, eu prendo quem faz isso”, escreveu o ex-comandante da Rota no “X”.

Aliança no plano nacional

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A estratégia de não atacar Lula também tem um componente partidário: o prefeito é filiado ao MDB, partido que integra a base do governo e ocupa três ministérios na atual gestão: Planejamento, Cidades e Transportes.

No ano passado, antes mesmo de o PT confirmar o apoio a Boulos, Nunes chegou a cogitar junto a aliados a possibilidade de Lula não intervir na eleição paulistana em nome da aliança com o MDB. A ideia, porém, não prosperou. O MBD é comandado por Baleia Rossi que inclusive atua dentro da campanha de Nunes.

Eleger Boulos prefeito de São Paulo é uma das prioridades de Lula nas eleições municipais deste ano. Os petistas temem que uma eventual vitória de Nunes possa ser interpretada como um triunfo do bolsonarismo na maior cidade do país e um prenúncio do retorno da direita ao poder em 2026.

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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem adotado a estratégia de evitar confrontos diretos com o presidente Lula (PT). O petista é considerado o principal cabo eleitoral de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo que está tecnicamente empatado com Nunes na última pesquisa Datafolha.

Segundo integrantes da campanha de Nunes ouvidos pelo Estadão, a estratégia de poupar o presidente tem como objetivo não afastar os eleitores que podem votar no prefeito. Mesmo com Lula declarando apoio a Boulos na capital paulista, Nunes possui 21% de intenção de voto entre os eleitores paulistanos que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Os dados são do último Datafolha, publicado em julho.

Assim como Lula, Nunes encontra maior apoio entre os eleitores de baixa renda. No último levantamento do Datafolha, o prefeito registrou 24% de intenção de voto na amostra total de 1.092 eleitores e 26% entre os eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos.

O segmento do eleitorado menos favorecido é também onde Boulos buscará crescer durante a campanha eleitoral, usando o apoio de Lula e da sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy, como seus principais ativos. Atualmente, o líder sem-teto tem 23% de intenção de voto no eleitorado geral, mas esse número cai para 15% entre os menos afortunados.

Prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição, Nunes quer polarização 'só' com Boulos Foto: Werther Santana/Estadão

A campanha de Nunes acredita que o voto “LuNes” deve ser uma realidade na disputa paulistana, e por isso o prefeito deve mirar sua artilharia somente para Boulos, evitando ao máximo o confronto com o presidente e o governo federal — a não ser quando provocado. A polarização, diz um aliado de Nunes, será contra Boulos, e não contra Lula. Na convenção do PL que oficializou a indicação do coronel Ricardo de Mello Araújo como seu vice, a tática ficou clara: o prefeito subiu o tom contra Boulos e chamou o candidato do PSOL de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”.

A tática de Nunes de evitar ataques a Lula também impede que sua campanha embarque na narrativa de Boulos de que a eleição em São Paulo será um “terceiro turno” entre Lula e Jair Bolsonaro (PL). Embora tenha o apoio do ex-presidente, Nunes rejeita o rótulo de bolsonarista por receio de aumentar sua rejeição. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 65% dos paulistanos afirmam que não votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro.

Prova de que o prefeito está poupando o presidente da República foi a sua publicação no “X” (antigo Twitter) criticando Boulos por ter defendido, em sabatina para o UOL/Folha, o seu próprio parecer que livrou André Janones (Avante-MG) de uma denúncia de rachadinha no Conselho de Ética da Câmara. O prefeito não criticou o fato de Boulos ter defendido, também na sabatina, o pedido de voto de Lula no evento de 1º de janeiro.

Nunes tem adotado a estratégia de falar sobre o presidente apenas quando provocado — e mesmo assim, evita ataques pessoais ou referências ao passado do petista. Também não repete bordões usados pelos bolsonaristas, como “ladrão” ou “ex-presidiário”. Em uma das raras declarações sobre Lula, logo após o pedido de voto em 1º de maio, o prefeito afirmou que era “triste” ver um presidente se submeter ao papel de usar um evento bancado com recursos públicos para fazer “palco eleitoral”.

Em dezembro do ano passado, o prefeito respondeu a uma provocação de Lula sobre a ausência dele e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em um evento do Minha Casa Minha Vida na Zona Leste da capital. Lula afirmou que ambos foram convidados, mas não compareceram, e que seriam tratados com “maior respeito” se tivessem ido, pois “educação a gente aprende em casa”. Nunes, por sua vez, respondeu que eventos relacionados a “invasão” não terão sua presença e apoio.

Mesmo quando provocado, o prefeito muitas vezes prefere se manter em silêncio. Nunes, por exemplo, não respondeu à declaração do ministro Alexandre Padilha (Secretaria das Relações Institucionais) lamentando que ele tenha “abraçado o bolsonarismo”. O prefeito também não quis comentar quando Lula chamou seu pré-candidato a vice, Mello Araújo, de “ditador do Ceagesp” durante a convenção que confirmou a candidatura de Boulos à Prefeitura. Neste último caso, coube ao próprio Mello Araújo, este sim usando vocabulário bolsonarista, se defender. “Se o desocupado quer criticar o fato de eu ter acabado com a prostituição e a roubalheira no Ceagesp é porque ele não valoriza a ordem e o respeito. Ele invade prédio público, eu prendo quem faz isso”, escreveu o ex-comandante da Rota no “X”.

Aliança no plano nacional

A estratégia de não atacar Lula também tem um componente partidário: o prefeito é filiado ao MDB, partido que integra a base do governo e ocupa três ministérios na atual gestão: Planejamento, Cidades e Transportes.

No ano passado, antes mesmo de o PT confirmar o apoio a Boulos, Nunes chegou a cogitar junto a aliados a possibilidade de Lula não intervir na eleição paulistana em nome da aliança com o MDB. A ideia, porém, não prosperou. O MBD é comandado por Baleia Rossi que inclusive atua dentro da campanha de Nunes.

Eleger Boulos prefeito de São Paulo é uma das prioridades de Lula nas eleições municipais deste ano. Os petistas temem que uma eventual vitória de Nunes possa ser interpretada como um triunfo do bolsonarismo na maior cidade do país e um prenúncio do retorno da direita ao poder em 2026.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem adotado a estratégia de evitar confrontos diretos com o presidente Lula (PT). O petista é considerado o principal cabo eleitoral de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo que está tecnicamente empatado com Nunes na última pesquisa Datafolha.

Segundo integrantes da campanha de Nunes ouvidos pelo Estadão, a estratégia de poupar o presidente tem como objetivo não afastar os eleitores que podem votar no prefeito. Mesmo com Lula declarando apoio a Boulos na capital paulista, Nunes possui 21% de intenção de voto entre os eleitores paulistanos que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Os dados são do último Datafolha, publicado em julho.

Assim como Lula, Nunes encontra maior apoio entre os eleitores de baixa renda. No último levantamento do Datafolha, o prefeito registrou 24% de intenção de voto na amostra total de 1.092 eleitores e 26% entre os eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos.

O segmento do eleitorado menos favorecido é também onde Boulos buscará crescer durante a campanha eleitoral, usando o apoio de Lula e da sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy, como seus principais ativos. Atualmente, o líder sem-teto tem 23% de intenção de voto no eleitorado geral, mas esse número cai para 15% entre os menos afortunados.

Prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição, Nunes quer polarização 'só' com Boulos Foto: Werther Santana/Estadão

A campanha de Nunes acredita que o voto “LuNes” deve ser uma realidade na disputa paulistana, e por isso o prefeito deve mirar sua artilharia somente para Boulos, evitando ao máximo o confronto com o presidente e o governo federal — a não ser quando provocado. A polarização, diz um aliado de Nunes, será contra Boulos, e não contra Lula. Na convenção do PL que oficializou a indicação do coronel Ricardo de Mello Araújo como seu vice, a tática ficou clara: o prefeito subiu o tom contra Boulos e chamou o candidato do PSOL de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”.

A tática de Nunes de evitar ataques a Lula também impede que sua campanha embarque na narrativa de Boulos de que a eleição em São Paulo será um “terceiro turno” entre Lula e Jair Bolsonaro (PL). Embora tenha o apoio do ex-presidente, Nunes rejeita o rótulo de bolsonarista por receio de aumentar sua rejeição. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 65% dos paulistanos afirmam que não votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro.

Prova de que o prefeito está poupando o presidente da República foi a sua publicação no “X” (antigo Twitter) criticando Boulos por ter defendido, em sabatina para o UOL/Folha, o seu próprio parecer que livrou André Janones (Avante-MG) de uma denúncia de rachadinha no Conselho de Ética da Câmara. O prefeito não criticou o fato de Boulos ter defendido, também na sabatina, o pedido de voto de Lula no evento de 1º de janeiro.

Nunes tem adotado a estratégia de falar sobre o presidente apenas quando provocado — e mesmo assim, evita ataques pessoais ou referências ao passado do petista. Também não repete bordões usados pelos bolsonaristas, como “ladrão” ou “ex-presidiário”. Em uma das raras declarações sobre Lula, logo após o pedido de voto em 1º de maio, o prefeito afirmou que era “triste” ver um presidente se submeter ao papel de usar um evento bancado com recursos públicos para fazer “palco eleitoral”.

Em dezembro do ano passado, o prefeito respondeu a uma provocação de Lula sobre a ausência dele e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em um evento do Minha Casa Minha Vida na Zona Leste da capital. Lula afirmou que ambos foram convidados, mas não compareceram, e que seriam tratados com “maior respeito” se tivessem ido, pois “educação a gente aprende em casa”. Nunes, por sua vez, respondeu que eventos relacionados a “invasão” não terão sua presença e apoio.

Mesmo quando provocado, o prefeito muitas vezes prefere se manter em silêncio. Nunes, por exemplo, não respondeu à declaração do ministro Alexandre Padilha (Secretaria das Relações Institucionais) lamentando que ele tenha “abraçado o bolsonarismo”. O prefeito também não quis comentar quando Lula chamou seu pré-candidato a vice, Mello Araújo, de “ditador do Ceagesp” durante a convenção que confirmou a candidatura de Boulos à Prefeitura. Neste último caso, coube ao próprio Mello Araújo, este sim usando vocabulário bolsonarista, se defender. “Se o desocupado quer criticar o fato de eu ter acabado com a prostituição e a roubalheira no Ceagesp é porque ele não valoriza a ordem e o respeito. Ele invade prédio público, eu prendo quem faz isso”, escreveu o ex-comandante da Rota no “X”.

Aliança no plano nacional

A estratégia de não atacar Lula também tem um componente partidário: o prefeito é filiado ao MDB, partido que integra a base do governo e ocupa três ministérios na atual gestão: Planejamento, Cidades e Transportes.

No ano passado, antes mesmo de o PT confirmar o apoio a Boulos, Nunes chegou a cogitar junto a aliados a possibilidade de Lula não intervir na eleição paulistana em nome da aliança com o MDB. A ideia, porém, não prosperou. O MBD é comandado por Baleia Rossi que inclusive atua dentro da campanha de Nunes.

Eleger Boulos prefeito de São Paulo é uma das prioridades de Lula nas eleições municipais deste ano. Os petistas temem que uma eventual vitória de Nunes possa ser interpretada como um triunfo do bolsonarismo na maior cidade do país e um prenúncio do retorno da direita ao poder em 2026.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem adotado a estratégia de evitar confrontos diretos com o presidente Lula (PT). O petista é considerado o principal cabo eleitoral de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo que está tecnicamente empatado com Nunes na última pesquisa Datafolha.

Segundo integrantes da campanha de Nunes ouvidos pelo Estadão, a estratégia de poupar o presidente tem como objetivo não afastar os eleitores que podem votar no prefeito. Mesmo com Lula declarando apoio a Boulos na capital paulista, Nunes possui 21% de intenção de voto entre os eleitores paulistanos que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Os dados são do último Datafolha, publicado em julho.

Assim como Lula, Nunes encontra maior apoio entre os eleitores de baixa renda. No último levantamento do Datafolha, o prefeito registrou 24% de intenção de voto na amostra total de 1.092 eleitores e 26% entre os eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos.

O segmento do eleitorado menos favorecido é também onde Boulos buscará crescer durante a campanha eleitoral, usando o apoio de Lula e da sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy, como seus principais ativos. Atualmente, o líder sem-teto tem 23% de intenção de voto no eleitorado geral, mas esse número cai para 15% entre os menos afortunados.

Prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição, Nunes quer polarização 'só' com Boulos Foto: Werther Santana/Estadão

A campanha de Nunes acredita que o voto “LuNes” deve ser uma realidade na disputa paulistana, e por isso o prefeito deve mirar sua artilharia somente para Boulos, evitando ao máximo o confronto com o presidente e o governo federal — a não ser quando provocado. A polarização, diz um aliado de Nunes, será contra Boulos, e não contra Lula. Na convenção do PL que oficializou a indicação do coronel Ricardo de Mello Araújo como seu vice, a tática ficou clara: o prefeito subiu o tom contra Boulos e chamou o candidato do PSOL de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”.

A tática de Nunes de evitar ataques a Lula também impede que sua campanha embarque na narrativa de Boulos de que a eleição em São Paulo será um “terceiro turno” entre Lula e Jair Bolsonaro (PL). Embora tenha o apoio do ex-presidente, Nunes rejeita o rótulo de bolsonarista por receio de aumentar sua rejeição. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 65% dos paulistanos afirmam que não votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro.

Prova de que o prefeito está poupando o presidente da República foi a sua publicação no “X” (antigo Twitter) criticando Boulos por ter defendido, em sabatina para o UOL/Folha, o seu próprio parecer que livrou André Janones (Avante-MG) de uma denúncia de rachadinha no Conselho de Ética da Câmara. O prefeito não criticou o fato de Boulos ter defendido, também na sabatina, o pedido de voto de Lula no evento de 1º de janeiro.

Nunes tem adotado a estratégia de falar sobre o presidente apenas quando provocado — e mesmo assim, evita ataques pessoais ou referências ao passado do petista. Também não repete bordões usados pelos bolsonaristas, como “ladrão” ou “ex-presidiário”. Em uma das raras declarações sobre Lula, logo após o pedido de voto em 1º de maio, o prefeito afirmou que era “triste” ver um presidente se submeter ao papel de usar um evento bancado com recursos públicos para fazer “palco eleitoral”.

Em dezembro do ano passado, o prefeito respondeu a uma provocação de Lula sobre a ausência dele e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em um evento do Minha Casa Minha Vida na Zona Leste da capital. Lula afirmou que ambos foram convidados, mas não compareceram, e que seriam tratados com “maior respeito” se tivessem ido, pois “educação a gente aprende em casa”. Nunes, por sua vez, respondeu que eventos relacionados a “invasão” não terão sua presença e apoio.

Mesmo quando provocado, o prefeito muitas vezes prefere se manter em silêncio. Nunes, por exemplo, não respondeu à declaração do ministro Alexandre Padilha (Secretaria das Relações Institucionais) lamentando que ele tenha “abraçado o bolsonarismo”. O prefeito também não quis comentar quando Lula chamou seu pré-candidato a vice, Mello Araújo, de “ditador do Ceagesp” durante a convenção que confirmou a candidatura de Boulos à Prefeitura. Neste último caso, coube ao próprio Mello Araújo, este sim usando vocabulário bolsonarista, se defender. “Se o desocupado quer criticar o fato de eu ter acabado com a prostituição e a roubalheira no Ceagesp é porque ele não valoriza a ordem e o respeito. Ele invade prédio público, eu prendo quem faz isso”, escreveu o ex-comandante da Rota no “X”.

Aliança no plano nacional

A estratégia de não atacar Lula também tem um componente partidário: o prefeito é filiado ao MDB, partido que integra a base do governo e ocupa três ministérios na atual gestão: Planejamento, Cidades e Transportes.

No ano passado, antes mesmo de o PT confirmar o apoio a Boulos, Nunes chegou a cogitar junto a aliados a possibilidade de Lula não intervir na eleição paulistana em nome da aliança com o MDB. A ideia, porém, não prosperou. O MBD é comandado por Baleia Rossi que inclusive atua dentro da campanha de Nunes.

Eleger Boulos prefeito de São Paulo é uma das prioridades de Lula nas eleições municipais deste ano. Os petistas temem que uma eventual vitória de Nunes possa ser interpretada como um triunfo do bolsonarismo na maior cidade do país e um prenúncio do retorno da direita ao poder em 2026.

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