BRASÍLIA – O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), reclamou no X (antigo Twitter) nesta quarta-feira, 17, que a empresa que fornece serviço de energia elétrica para a cidade não atendia às ligações dele por telefone. Na terça-feira, 16, o Rio Grande do Sul foi atingido por um temporal, que deixou imóveis sem energia em todo o Estado. Também pela rede social, o prefeito pediu motosserras emprestadas aos moradores para auxiliar na reparação dos danos na capital gaúcha.
A empresa de energia elétrica que atende Porto Alegre é a Equatorial Energia, que venceu um leilão de concessão em março de 2021. A privatização da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE), responsável pela distribuição no Rio Grande do Sul, foi aprovada em julho de 2019 pela Assembleia Legislativa do Estado. Melo, que era deputado estadual na época, votou a favor da desestatização.
Segundo a Equatorial, que atende 72 cidades gaúchas, 270 mil imóveis continuam sem energia elétrica até o início da tarde desta quarta. A região metropolitana de Porto Alegre é a mais afetada.
No X, Melo afirmou que cinco das seis estações de tratamento de água que atendem a cidade ficaram sem energia do fim da noite da terça-feira. Segundo o prefeito, ele estava tentando obter contato com a empresa desde então, mas não foi atendido.
“Já que a direção da @CEEE_Equatorial não atende o telefone nas últimas horas, fazemos um apelo para que alguém da empresa compareça ao Ceic e nos auxilie na governança conjunta para retomar a normalidade. Não há abastecimento de água sem energia!”, afirmou o prefeito de Porto Alegre na rede social.
Segundo a prefeitura porto-alegrense, Sebastião Melo conseguiu contato por telefone com representantes do Grupo Equatorial somente após a publicação nas redes sociais. O Executivo municipal também informou que três das seis estações de tratamento estão sendo normalizadas. Nas outras unidades que ainda estão sem energia, a empresa privada está realizando reparos.
Em nota enviada ao Estadão, o Grupo Equatorial afirmou que foi traçado um plano de ação para normalizar o serviço de energia elétrica prestado em Porto Alegre. Os moradores da capital gaúcha podem conferir as atualizações sobre os reparos nas redes sociais da concessionária, informou a empresa.
“Desde que foram acionados, os representantes da CEEE Equatorial estão no Centro Integrado de Comando de Porto Alegre (Ceic), colaborando com a prefeitura, o governo do Estado, a Defesa Civil, os Bombeiros e a Brigada Militar, trabalhando em um plano de ação conjunto para a normalização dos serviços na região”, afirmou.
A empresa disse também que restabeleceu o fornecimento de energia para 56% dos clientes que tiveram o serviço afetado e que, nas próximas horas, profissionais de outras distribuidoras do Grupo Equatorial desembarcarão em Porto Alegre para reforçar as equipes que trabalham nos reparos das redes atingidas pelo temporal.
Prefeito defendeu privatização de serviço de energia
Em entrevista para um canal de televisão local em 2017, quando o governo gaúcho era comandado por José Ivo Sartori (MDB), Melo defendeu a privatização da companhia de energia elétrica. O atual prefeito disse que a estatal era “deficitária” e que não era da “essência” da administração pública a gerência dos serviços.
“O cidadão está preocupado se a companhia que produz energia é pública ou privada, ou ele quer saber se ele tem o preço justo e um serviço bom? Me parece que não é da essência do poder público. Se fosse tão bom, ela não era uma companhia tão deficitária como ela é, com dívidas trabalhistas impagáveis”, disse Melo em entrevista ao programa Ulbra TV.
Leite diz que empresa pode perder a concessão
A aprovação da privatização e o leilão vencido pelo Grupo Equatorial ocorreram durante o primeiro mandato do governador Eduardo Leite (PSDB). No dia em que a empresa privada ganhou a concessão, em 31 de março de 2021, Leite afirmou que a data era “histórica” para o Estado.
“Estamos vivendo uma data histórica para o Rio Grande do Sul. Estamos garantindo investimentos para a população em energia elétrica e também transferindo pelo menos R$ 4,4 bilhões em passivo acumulado pela companhia só em ICMS, que serão assumidos pela Equatorial”, afirmou o mandatário à época.
Em uma coletiva no Palácio Piratini nesta quarta, Leite criticou o serviço de atendimento aos clientes e às autoridades públicas adotado pela Equatorial. O governador gaúcho também declarou que caso a empresa não “mude a sua postura”, ela poderá sofrer um processo de retirada da sua concessão.
“O Grupo CEEE Equatorial precisa melhorar sua relação com as autoridades e com a sociedade, então estamos demandando uma uma série de ações deles nessa direção. Nós temos a expectativa de que a empresa mude a sua postura e, se não fizer isso ao longo do tempo, ela pode enfrentar um processo de retirada da sua concessão”, disse Leite.
Prefeito pediu motosserras para moradores
Também pelo X, o prefeito de Porto Alegre pediu doações ou empréstimos de motosserras para a população da cidade. O mandatário explicou que os equipamentos são necessários para cortar árvores que foram afetadas pelas chuvas na região. Melo também pediu telhas para ajudar na reparação de casas atingidas pelo temporal.
“Fazemos um apelo à sociedade para o empréstimo ou doação de motosserras para ajudar a prefeitura na recuperação da cidade. São centenas de árvores de pequeno e grande porte que precisam ser retiradas e limpas. A vida só tem sentido se ela for comunitária!”, afirmou.
A prefeitura afirmou que recebeu 11 motosserras após a postagem. Segundo a assessoria de Melo, outros seis equipamentos devem ser entregues na quinta-feira, 18.
Sebastião Melo está no MDB desde 1981 e foi vereador de Porto Alegre por quatro mandatos e vice-prefeito da cidade entre 2012 e 2016. Entre 2019 e 2020, ocupou o cargo de deputado estadual. Nas últimas eleições municipais, foi eleito para a prefeitura da capital gaúcha após vencer a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) por 54,6% a 45,4% dos votos válidos. Ele tentará a reeleição em outubro.