BELO HORIZONTE - Menos de 24 horas após um repórter fotográfico ser agredido no local, um acampamento de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro foi desmontado nesta sexta-feira, 6, na zona sul de Belo Horizonte. A Polícia Civil de Minas Gerais investiga a agressão ao fotógrafo do jornal Hoje em Dia, ocorrida na quinta-feira, 5.
Equipes da Guarda Municipal, da Procuradoria-Geral do Município e da Subsecretaria Municipal de Fiscalização retiraram as barracas, banheiros químicos e grades instaladas em meia a pista da Avenida Raja Gabaglia, em frente ao Comando da 4ª Região Militar do Exército. Em lágrimas e rezando, os bolsonaristas que ainda permaneciam no local - esvaziado após a posse de Lula - não resistiram ao desmonte da estrutura.
O nome do repórter fotográfico, de 60 anos, não foi divulgado. Ele foi agredido nesta quinta e teve o seu equipamento avariado e roubado por integrantes do acampamento montado há dois meses. O grupo pedia a intervenção de militares e contestava a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A Polícia Civil divulgou nota afirmando estar “empenhada para apurar a materialidade e a autoria de possíveis suspeitos” no caso. Ninguém havia sido preso até a publicação deste texto.
Na manhã desta sexta, 6, porém, houve novas agressões a jornalistas que acompanhavam o desmonte do acampamento. Desta vez, os bolsonaristas atacaram equipes do jornal O Tempo, da rádio 98 FM e da TV Band. Além do confronto corporal, os bolsonaristas também tentaram quebrar e danificar os equipamentos utilizados pela imprensa. A reação dos manifestantes foi gravada por colegas da imprensa. Houve confusão, resistência, mas o acampamento acabou sendo mesmo desmontado.
O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), condenou o episódio. “É inaceitável que profissionais de imprensa sejam intimidados e agredidos durante o exercício de sua profissão. As forças de segurança irão apurar os fatos para identificar e buscar responsabilização legal dos autores.”
Por meio de nota, o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), afirmou que a operação foi realizada para desobstruir a via onde “um jornalista foi brutalmente agredido enquanto exercia sua profissão”. “Não podemos tolerar essa escalada de violência.”
Após as agressões às equipes de imprensa, o secretário municipal de Segurança e Prevenção de Belo Horizonte, Genilson Zeferino, disse que algumas pessoas que estavam no acampamento golpista “profissionais” e pagas para permanecer no local.
“A gente aproveitou a oportunidade para fazer a operação hoje (sexta-feira, 6) porque tinha menor número de manifestantes. As pessoas que permaneceram nesta noite, a partir das 3h, eram todas profissionais. A gente percebia que nesse ambiente não eram só os patriotas, eram pessoas que recebiam, inclusive, para estar lá. Às 3h chegou uma carga de alimentação para eles”, disse o secretário. Questionado sobre quem estaria financiando os atos, o secretário disse que “esta é a pergunta que vale milhões”.
Agressão
O fotógrafo estava no local para produção de uma reportagem. Mantendo distância do acampamento, ele fazia fotos da manifestação quando foi visto e perseguido pelo grupo de bolsonaristas. Ele correu e tentou se proteger, escondendo-se atrás de um veículo estacionado na via. Localizado pelos agressores, foi arrastado pelos braços, recebendo socos, chutes e pauladas.
A câmera fotográfica usada por ele foi roubada e as lentes do equipamento ficaram destruídas. O fotógrafo sofreu um corte na cabeça e foi levado para o Pronto Atendimento do Hospital João 23, na área central de Belo Horizonte. A Polícia Militar foi acionada e registrou um boletim de ocorrência.
O Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais condenou a agressão e pediu punição para os autores. Por meio de nota, o diretor-executivo do Hoje em Dia, Rodrigo Cheiricatti de Carvalho, classificou a agressão ao fotógrafo como covarde. “Não há justificativa nenhuma para essa covardia ou qualquer ato de violência. É por isso que reafirmamos nosso compromisso de diariamente mostrar injustiças, defender liberdades e a democracia”, disse.