RIO - Um rombo de R$ 10 bilhões no orçamento de 2021 e uma administração em crise esperam o novo prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM) neste ano-novo. Ele assume o cargo nesta sexta, 1º, em condições muito diferentes da sua primeira posse, em 2009, e da segunda, em 2013. Não há mais a benéfica conjunção de crescimento econômico e aliança politica com os governos estadual e federal, ocorrida durante o segundo governo Luiz Inácio Lula da Silva e no início da primeira gestão Dilma Rousseff e ao longo do governo de Sérgio Cabral Filho (PMDB). Essa combinação viabilizou investimentos sobretudo federais em obras públicas visando à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016 e um boom de mudanças e empregos.
Agora no Democratas, o ex-peemedebista Paes tomará posse no cargo com uma economia em destroços por causa da pandemia, que atingiu atividades que já tinham tido um crescimento de apenas 1,1% em 2019. O desemprego é alto e não há obras importantes em andamento. O prefeito lidará com um governo estadual enfraquecido, tocado pelo governador interino, Claudio Castro (PSC), substituto do afastado Wilson Witzel (PSC), e uma Presidência imprevisível, sob Jair Bolsonaro. E, diferentemente de suas gestões anteriores, que tinha um norte gerador de investimentos (a perspectiva de grandes eventos, como Copa e Olimpíada), Paes agora terá se dedicar a “consertar” o passado.
Além de problemas orçamentários – o secretário de Fazenda de Paes, Pedro Paulo,já avisou que fará forte contingenciamento de despesas -, Paes tentará reconstruir um pouco da memória do seu governo. Ela foi abalada pela gestão de Marcelo Crivella (Republicanos), em prisão domiciliar, acusado de corrupção. Na lista de itens a “recuperar”, estão o programa das Clinicas da Família, semidesmontado nos últimos anos, e o sistema de transportes BRT, com estações fechadas e ônibus insuficientes e superlotados.
Em relação ao futuro, a perspectiva para investimentos é modesta. A conclusão do BRT Transbrasil, o último e maior dos quatro planejados, é, no momento, a única obra à vista para a nova administração. Será um desafio para Paes, que construiu sua imagem como comandante de realizações que mudaram a cara da cidade, como o Porto Maravilha, o Parque de Madureira e o sistema de bondes VLT, que percorre a Avenida Rio Branco e ruas próximas.
Os problemas agora são outros e mais modestos. Não há grandes planos estratégicos. É preciso, por exemplo, recuperar o comércio do Centro, marcado pelo fechamento de lojas e bares tradicionais, e dar assistência social à população de rua, que se multiplicou pela região. Há ainda a necessidade de recapear ruas, melhorar a limpeza das ruas, melhorar os serviços públicos.
Paes é conhecido por sua falta de nitidez ideológica e sua boa conversa como político, que lhe garante interlocutores à direita e à esquerda. No primeiro governo Lula, foi um feroz opositor do presidente. Depois de virar prefeito, com o apoio de Cabral – que cumpre penas de quase 300 anos de cadeia por corrupção e outros crimes -, pediu desculpas a Lula, no segundo governo. Assim construiu a aliança que levou dinheiro à cidade. Agora, faz questão de se distanciar de candidaturas a presidente e falar que seu partido é o Rio.
“O que tenho tido são sinais de total relacionamento institucional, com representante do Ministério da Saúde conversando aqui, superintendente da Caixa também”, disse Paes ao Estadão, ao analisar o governo Bolsonaro. “Tenho visto muita institucionalidade do Estado brasileiro, do governo Bolsonaro buscando parcerias com a prefeitura"
Os elogios ao governo Bolsonaro se dão ao mesmo tempo em que conserva e alardeia a proximidade do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um amigo de muitos anos. É com essa flexibilidade que o novo prefeito do Rio conta para viabilizar sua nova gestão, que conquistou no segundo turno, com vitória esmagadora, em todas as zonas eleitorais. Foi um sinal de que os cariocas querem de volta o Paes de 2009-2016. A questão é que isso talvez não seja possível