Presidente do MDB vê viabilidade de alternativa de centro ao Planalto em 2026, mas posterga decisão


Baleia Rossi (MDB-SP) comemora desempenho do partido nas eleições municipais, diz que é possível apresentar uma alternativa a Lula e Bolsonaro, mas que decisão sobre o futuro da legenda será tomada junto às instâncias partidárias

Por Bianca Gomes
Foto: Luiz Cervi/Divulgação MDB
Entrevista comBaleia Rossipresidente do MDB

O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, tem um recado claro para o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): os vitoriosos da corrida municipal de 2024 não foram os dois mandatários, mas sim os partidos de centro, com o próprio MDB. “O recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas”, afirmou Baleia em entrevista exclusiva ao Estadão na última terça-feira, 28. Diante desse cenário, Baleia não tem pressa — nem terá — em cravar de que lado o partido poderá estar na corrida pelo Planalto e joga com o regulamento debaixo do braço: essa decisão só será tomada no próximo ano, junto às instâncias partidárias.

Como mostrou o Estadão, o MDB de Baleia Rossi tornou-se peça-chave na eleição presidencial de 2026. O partido, que atualmente tem representantes em três ministérios do governo Lula (Cidades, Transportes e Planejamento), comandará a maior metrópole da América Latina, São Paulo, e conseguiu encerrar a corrida eleitoral sendo a legenda que mais brasileiros vai governar. O bom momento do partido se soma a outras conquistas recentes, como a aprovação da reforma tributária, de autoria de Baleia, e a confirmação da COP30, que acontecerá no Pará no próximo ano — o mesmo em que a legenda completa 60 anos de existência. O estado é governado por Helder Barbalho, um dos nomes cotados na bolsa de apostas para a vice de Lula.

continua após a publicidade

Sem antecipar o rumo do partido em 2026, Baleia sugere que a vitória de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo pode indicar uma busca por novos caminhos. “Temos o presidente Bolsonaro no campo da direita e o presidente Lula no campo da esquerda. Agora, nós mostramos aqui em São Paulo que é absolutamente possível construir e apresentar para a população, como uma possível alternativa, um projeto que busque resultados”, afirmou o dirigente. Deixando claro que preside um partido “sem dono”, característica que faz o MDB se distanciar do PSD de Gilberto Kassab, Baleia reforçou que vai acatar o que for definido pelas lideranças partidárias.

Para Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, vitória de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo pode indicar busca por novos caminhos em 2026 Foto: Luiz Cervi/Divulgação MDB

Na entrevista, Baleia afirmou que a vitória do centro nas eleições municipais indica que o eleitor está buscando mais do que a briga de “extremos”. Ele também elogiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem se referiu como um líder político “absolutamente aberto ao diálogo” e “construtor de boas conversas” e projetos. Sobre a atuação de Bolsonaro na campanha de Nunes, disse que foi decisão dele não participar.

continua após a publicidade

Veja os principais pontos da conversa:

Como o senhor avalia o resultado das eleições municipais deste ano e por que o centro teve o melhor resultado?

Foi um recado que o eleitor deu através do voto. No caso do MDB, a busca por equilíbrio, consensos e diálogo. Na grande vitória que tivemos em São Paulo, esse recado traz muito desses atributos. Ricardo (Nunes) é um cara equilibrado, de diálogo e um bom gestor. O eleitor buscou, nesta eleição, bons projetos e políticas públicas que realmente entregam uma qualidade de vida melhor. Quem ganhou a eleição foi quem teve a capacidade de conversar com o eleitor e mostrar que não é através da briga e dos extremos que se constrói uma vida melhor na cidade.

continua após a publicidade

O resultado eleitoral deste ano indica um desgaste da polarização Lula e Bolsonaro?

Eu acho que o eleitor está buscando mais resultado do que essa polarização. As pessoas estão começando a perceber que a polarização acaba atrapalhando a vida delas, pois não oferece nenhuma resposta aos problemas reais da população.

Como o resultado das urnas deste ano influencia a eleição presidencial de 2026?

continua após a publicidade

É difícil fazer essa avaliação. Em 2020, havia um sentimento de que o resultado das eleições municipais faria com que 2022 não fosse tão polarizado, o que não se confirmou. Nesta eleição, o centro saiu mais fortalecido e robusto do que em 2020. O MDB teve um desempenho muito forte: ficou em primeiro lugar em população administrada, em votos dos eleitos, no número de vice-prefeitos e de vereadores eleitos. Só ficamos em segundo lugar em quantidade de prefeitos. Tivemos um resultado muito comemorado no partido. Isso nos dá mais força e responsabilidade para pensar em como podemos ajudar e contribuir com o País.

O MDB se aproximou bastante de Tarcísio nesta eleição, e o prefeito tem citado o nome do governador para 2026. No entanto, hoje o MDB está no governo Lula, com três ministérios. De qual lado o partido estará em 2026?

O MDB tem uma característica: é um partido que não tem dono. Não é um partido em que o presidente decide e leva o partido todo junto. Temos Estados que saíram muito fortes da eleição: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas, Alagoas, Pará e Rio Grande do Norte. A composição do nosso diretório reflete o resultado dos Estados nas urnas. E os diretórios, as instâncias partidárias, serão ouvidas para definir o caminho do MDB em 2026. Aqui em São Paulo, somos muito gratos ao governador Tarcísio; o que ele fez foi digno de um grande líder político. Quando Ricardo Nunes enfrentou dificuldades, e as pesquisas mostravam que poderia ter alguma dificuldade no caminho, Tarcísio abraçou a campanha e foi um grande parceiro do MDB. Falar de 2026 ainda é cedo, até porque o próprio governador não tem sinalizado algo para 2026.

continua após a publicidade

No MDB, não há imposição, nem de um lado, nem de outro. A decisão será construída no diretório, na executiva nacional, com muita conversa, diálogo e respeito ao que a maioria decidir.

Antes da eleição na capital, havia a impressão de que o MDB, até por ter três ministérios importantes no governo Lula, naturalmente seguiria com o projeto de reeleição do presidente. Mas, então, não existe nenhuma garantia de que o partido estará no projeto de Lula?

O partido vai discutir isso internamente.

continua após a publicidade

Hoje há uma inclinação maior para qual lado?

Essas discussões provavelmente começarão no ano que vem. O MDB conta com a participação de três ministros que honram o partido na administração federal e que contribuem muito com o País. O partido sempre teve uma postura colaborativa e propositiva, inclusive nas questões do Congresso. A reforma tributária é de minha autoria e foi abraçada como uma das bandeiras do MDB. Vamos continuar ajudando o País naquilo que consideramos importante. Não misturamos as coisas. 2026 é uma discussão que faremos no futuro,

O prefeito Ricardo Nunes disse, em entrevista ao Estadão, que vai lutar para que o MDB não embarque no projeto do Lula em 2026 e apoie Tarcísio ou Bolsonaro. Ele citou que não é o único no partido que defende esse posicionamento. Como o senhor vai lidar com essa pressão vinda do prefeito da maior cidade do País?

Essa é uma discussão que nós vamos fazer no segundo semestre de 2025. Todas as lideranças vão ser escutadas para a tomada de decisão. Aqui, nós exercemos a democracia plena na condução do partido.

Como o senhor avalia, de forma geral, o terceiro governo Lula?

A grande preocupação dos brasileiros é a questão econômica. Precisamos de juros menores, mas a inflação está controlada. Temos uma boa perspectiva de saúde econômica para o futuro. Agora, precisamos de geração de emprego e renda. O que percebemos nesta eleição municipal é que as pessoas estão buscando alternativas para prosperar, para ter mais oportunidade. Acredito que falta uma ação mais concreta para que as pessoas se sintam representadas nas políticas públicas oferecidas pelo governo federal, pelos governos estaduais. Mas na área econômica temos bons índices, e o que esperamos é que esses bons índices e essa estabilidade cheguem na população.

O centro mostrou força nas prefeituras, mas carece de lideranças, como a direita e a esquerda têm. Por que existe essa dificuldade?

Em São Paulo, participei ativamente das conversas com todos os presidentes nacionais para formar essa frente ampla em torno do Ricardo. Foi a primeira vez na história que alcançamos uma aliança tão grande, porque é natural que todos os partidos queiram lançar candidatos próprios, especialmente em uma cidade como São Paulo. Fizemos isso com diálogo e mostrando que nós tínhamos não apenas um candidato, mas um projeto para a cidade. Acho que precisamos manter as conversas com todos (os partidos) e buscar caminhos.

Claro, temos o presidente Bolsonaro no campo da direita e o presidente Lula no campo da esquerda. Agora, nós mostramos aqui em São Paulo que é absolutamente possível construir e apresentar para a população, como uma possível alternativa, um projeto que busque resultados, caso essa seja, por exemplo, a decisão da base do MDB. Vou trabalhar dentro daquilo que nossas lideranças, nossa executiva, nosso diretório definirem. Mas o recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas.

Esse projeto para São Paulo mostra, então, que o centro pode ter um projeto para 2026?

Mostra que, se essa for a decisão, é absolutamente viável.

O senhor considera o governador Tarcísio parte desse projeto de centro, que o senhor acredita apontar uma possibilidade para 2026?

Tarcísio mostrou ser absolutamente aberto ao diálogo e é um construtor de boas conversas e discussões em torno de bons projetos. Ele foi muito importante, não só na eleição, mas também na parceria de gestão entre o governo do Estado e o governo Municipal, além de contribuir na construção da aliança. Agora, o governador Tarcísio tem repetidamente me dito que seu projeto é a reeleição em São Paulo. Ainda na semana passada, conversei com ele, e ele reafirmou que seu foco é a reeleição ao governo de São Paulo.

O MDB pode pleitear a vice do Tarcísio em um próximo governo?

Ainda não estamos fazendo essa discussão; é muito cedo. Claro que o MDB vai almejar uma das posições na majoritária, mas ainda não discutimos isso.

E o que podemos esperar deste próximo governo de Ricardo Nunes? Qual marca ele vai buscar deixar nessa nova gestão?

Acho que ele vai reforçar as marcas deste primeiro governo, com obras na periferia e investimentos, por exemplo, na educação. Tenho convicção de que a gestão dele em São Paulo vai ser uma grande vitrine do MDB.

No primeiro mandato, o Nunes fez um governo de centro com o Bruno. Agora, ele foi reeleito com o apoio de uma ampla coligação, incluindo o PL, que ficou com a vice. Podemos esperar um governo mais alinhado à direita?

Não. Conseguimos construir essa aliança sem que o prefeito assumisse qualquer compromisso com secretaria A, B ou C. Isso é um mérito, e quase inédito quando se fala da Prefeitura de São Paulo. O prefeito terá total liberdade para escolher bons técnicos, bons gestores, pessoas competentes para ajudá-lo na administração. Claro que todos que estiveram na campanha e apoiaram poderão contribuir.

O senhor não vê uma guinada à direita na gestão?

Não, com certeza não. Ele vai continuar com as características que são próprias dele. Ninguém muda da noite para o dia. O prefeito tem essa essência de equilíbrio, moderação, diálogo — é isso que ele é.

Por que o senhor acha que o ex-presidente Bolsonaro acabou adotando uma postura dúbia no primeiro turno com relação ao prefeito?

No primeiro turno, a questão de agenda foi muito relevante, e também tivemos um fenômeno nas redes sociais, que foi o Pablo Marçal. Não podemos deixar de reconhecer isso; foi um fenômeno. E acho que, como o ex-presidente Bolsonaro também tem uma força muito grande nas redes, ele acabou tendo dificuldades para compreender o que estava acontecendo em São Paulo. Isso talvez tenha feito com que ele não estivesse tão presente aqui. Mas, veja, ele esteve na convenção com o Ricardo, ficou lá por três horas, e depois participou remotamente de algumas ações. Agora, foi mais uma decisão dele, e eu não saberia explicar o porquê.

Essa postura atrapalhou?

Não, eu acho que todo apoio é importante. Não sou daqueles que acham que a eleição deve ser algo sem soma de esforços. Acho que todos contribuíram.

O senhor vê futuro político para o Ricardo Nunes depois da prefeitura?

Olha, o prefeito de São Paulo, reeleito e com uma boa gestão, pode pleitear o que ele projetar para a vida dele. Sem dúvida, o Ricardo Nunes é uma das lideranças mais importantes e relevantes do MDB nacional. O Ricardo tem todas as possibilidades e terá o respaldo do partido porque, como eu disse, a Prefeitura de São Paulo é uma grande vitrine para o MDB nacional.

O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, tem um recado claro para o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): os vitoriosos da corrida municipal de 2024 não foram os dois mandatários, mas sim os partidos de centro, com o próprio MDB. “O recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas”, afirmou Baleia em entrevista exclusiva ao Estadão na última terça-feira, 28. Diante desse cenário, Baleia não tem pressa — nem terá — em cravar de que lado o partido poderá estar na corrida pelo Planalto e joga com o regulamento debaixo do braço: essa decisão só será tomada no próximo ano, junto às instâncias partidárias.

Como mostrou o Estadão, o MDB de Baleia Rossi tornou-se peça-chave na eleição presidencial de 2026. O partido, que atualmente tem representantes em três ministérios do governo Lula (Cidades, Transportes e Planejamento), comandará a maior metrópole da América Latina, São Paulo, e conseguiu encerrar a corrida eleitoral sendo a legenda que mais brasileiros vai governar. O bom momento do partido se soma a outras conquistas recentes, como a aprovação da reforma tributária, de autoria de Baleia, e a confirmação da COP30, que acontecerá no Pará no próximo ano — o mesmo em que a legenda completa 60 anos de existência. O estado é governado por Helder Barbalho, um dos nomes cotados na bolsa de apostas para a vice de Lula.

Sem antecipar o rumo do partido em 2026, Baleia sugere que a vitória de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo pode indicar uma busca por novos caminhos. “Temos o presidente Bolsonaro no campo da direita e o presidente Lula no campo da esquerda. Agora, nós mostramos aqui em São Paulo que é absolutamente possível construir e apresentar para a população, como uma possível alternativa, um projeto que busque resultados”, afirmou o dirigente. Deixando claro que preside um partido “sem dono”, característica que faz o MDB se distanciar do PSD de Gilberto Kassab, Baleia reforçou que vai acatar o que for definido pelas lideranças partidárias.

Para Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, vitória de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo pode indicar busca por novos caminhos em 2026 Foto: Luiz Cervi/Divulgação MDB

Na entrevista, Baleia afirmou que a vitória do centro nas eleições municipais indica que o eleitor está buscando mais do que a briga de “extremos”. Ele também elogiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem se referiu como um líder político “absolutamente aberto ao diálogo” e “construtor de boas conversas” e projetos. Sobre a atuação de Bolsonaro na campanha de Nunes, disse que foi decisão dele não participar.

Veja os principais pontos da conversa:

Como o senhor avalia o resultado das eleições municipais deste ano e por que o centro teve o melhor resultado?

Foi um recado que o eleitor deu através do voto. No caso do MDB, a busca por equilíbrio, consensos e diálogo. Na grande vitória que tivemos em São Paulo, esse recado traz muito desses atributos. Ricardo (Nunes) é um cara equilibrado, de diálogo e um bom gestor. O eleitor buscou, nesta eleição, bons projetos e políticas públicas que realmente entregam uma qualidade de vida melhor. Quem ganhou a eleição foi quem teve a capacidade de conversar com o eleitor e mostrar que não é através da briga e dos extremos que se constrói uma vida melhor na cidade.

O resultado eleitoral deste ano indica um desgaste da polarização Lula e Bolsonaro?

Eu acho que o eleitor está buscando mais resultado do que essa polarização. As pessoas estão começando a perceber que a polarização acaba atrapalhando a vida delas, pois não oferece nenhuma resposta aos problemas reais da população.

Como o resultado das urnas deste ano influencia a eleição presidencial de 2026?

É difícil fazer essa avaliação. Em 2020, havia um sentimento de que o resultado das eleições municipais faria com que 2022 não fosse tão polarizado, o que não se confirmou. Nesta eleição, o centro saiu mais fortalecido e robusto do que em 2020. O MDB teve um desempenho muito forte: ficou em primeiro lugar em população administrada, em votos dos eleitos, no número de vice-prefeitos e de vereadores eleitos. Só ficamos em segundo lugar em quantidade de prefeitos. Tivemos um resultado muito comemorado no partido. Isso nos dá mais força e responsabilidade para pensar em como podemos ajudar e contribuir com o País.

O MDB se aproximou bastante de Tarcísio nesta eleição, e o prefeito tem citado o nome do governador para 2026. No entanto, hoje o MDB está no governo Lula, com três ministérios. De qual lado o partido estará em 2026?

O MDB tem uma característica: é um partido que não tem dono. Não é um partido em que o presidente decide e leva o partido todo junto. Temos Estados que saíram muito fortes da eleição: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas, Alagoas, Pará e Rio Grande do Norte. A composição do nosso diretório reflete o resultado dos Estados nas urnas. E os diretórios, as instâncias partidárias, serão ouvidas para definir o caminho do MDB em 2026. Aqui em São Paulo, somos muito gratos ao governador Tarcísio; o que ele fez foi digno de um grande líder político. Quando Ricardo Nunes enfrentou dificuldades, e as pesquisas mostravam que poderia ter alguma dificuldade no caminho, Tarcísio abraçou a campanha e foi um grande parceiro do MDB. Falar de 2026 ainda é cedo, até porque o próprio governador não tem sinalizado algo para 2026.

No MDB, não há imposição, nem de um lado, nem de outro. A decisão será construída no diretório, na executiva nacional, com muita conversa, diálogo e respeito ao que a maioria decidir.

Antes da eleição na capital, havia a impressão de que o MDB, até por ter três ministérios importantes no governo Lula, naturalmente seguiria com o projeto de reeleição do presidente. Mas, então, não existe nenhuma garantia de que o partido estará no projeto de Lula?

O partido vai discutir isso internamente.

Hoje há uma inclinação maior para qual lado?

Essas discussões provavelmente começarão no ano que vem. O MDB conta com a participação de três ministros que honram o partido na administração federal e que contribuem muito com o País. O partido sempre teve uma postura colaborativa e propositiva, inclusive nas questões do Congresso. A reforma tributária é de minha autoria e foi abraçada como uma das bandeiras do MDB. Vamos continuar ajudando o País naquilo que consideramos importante. Não misturamos as coisas. 2026 é uma discussão que faremos no futuro,

O prefeito Ricardo Nunes disse, em entrevista ao Estadão, que vai lutar para que o MDB não embarque no projeto do Lula em 2026 e apoie Tarcísio ou Bolsonaro. Ele citou que não é o único no partido que defende esse posicionamento. Como o senhor vai lidar com essa pressão vinda do prefeito da maior cidade do País?

Essa é uma discussão que nós vamos fazer no segundo semestre de 2025. Todas as lideranças vão ser escutadas para a tomada de decisão. Aqui, nós exercemos a democracia plena na condução do partido.

Como o senhor avalia, de forma geral, o terceiro governo Lula?

A grande preocupação dos brasileiros é a questão econômica. Precisamos de juros menores, mas a inflação está controlada. Temos uma boa perspectiva de saúde econômica para o futuro. Agora, precisamos de geração de emprego e renda. O que percebemos nesta eleição municipal é que as pessoas estão buscando alternativas para prosperar, para ter mais oportunidade. Acredito que falta uma ação mais concreta para que as pessoas se sintam representadas nas políticas públicas oferecidas pelo governo federal, pelos governos estaduais. Mas na área econômica temos bons índices, e o que esperamos é que esses bons índices e essa estabilidade cheguem na população.

O centro mostrou força nas prefeituras, mas carece de lideranças, como a direita e a esquerda têm. Por que existe essa dificuldade?

Em São Paulo, participei ativamente das conversas com todos os presidentes nacionais para formar essa frente ampla em torno do Ricardo. Foi a primeira vez na história que alcançamos uma aliança tão grande, porque é natural que todos os partidos queiram lançar candidatos próprios, especialmente em uma cidade como São Paulo. Fizemos isso com diálogo e mostrando que nós tínhamos não apenas um candidato, mas um projeto para a cidade. Acho que precisamos manter as conversas com todos (os partidos) e buscar caminhos.

Claro, temos o presidente Bolsonaro no campo da direita e o presidente Lula no campo da esquerda. Agora, nós mostramos aqui em São Paulo que é absolutamente possível construir e apresentar para a população, como uma possível alternativa, um projeto que busque resultados, caso essa seja, por exemplo, a decisão da base do MDB. Vou trabalhar dentro daquilo que nossas lideranças, nossa executiva, nosso diretório definirem. Mas o recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas.

Esse projeto para São Paulo mostra, então, que o centro pode ter um projeto para 2026?

Mostra que, se essa for a decisão, é absolutamente viável.

O senhor considera o governador Tarcísio parte desse projeto de centro, que o senhor acredita apontar uma possibilidade para 2026?

Tarcísio mostrou ser absolutamente aberto ao diálogo e é um construtor de boas conversas e discussões em torno de bons projetos. Ele foi muito importante, não só na eleição, mas também na parceria de gestão entre o governo do Estado e o governo Municipal, além de contribuir na construção da aliança. Agora, o governador Tarcísio tem repetidamente me dito que seu projeto é a reeleição em São Paulo. Ainda na semana passada, conversei com ele, e ele reafirmou que seu foco é a reeleição ao governo de São Paulo.

O MDB pode pleitear a vice do Tarcísio em um próximo governo?

Ainda não estamos fazendo essa discussão; é muito cedo. Claro que o MDB vai almejar uma das posições na majoritária, mas ainda não discutimos isso.

E o que podemos esperar deste próximo governo de Ricardo Nunes? Qual marca ele vai buscar deixar nessa nova gestão?

Acho que ele vai reforçar as marcas deste primeiro governo, com obras na periferia e investimentos, por exemplo, na educação. Tenho convicção de que a gestão dele em São Paulo vai ser uma grande vitrine do MDB.

No primeiro mandato, o Nunes fez um governo de centro com o Bruno. Agora, ele foi reeleito com o apoio de uma ampla coligação, incluindo o PL, que ficou com a vice. Podemos esperar um governo mais alinhado à direita?

Não. Conseguimos construir essa aliança sem que o prefeito assumisse qualquer compromisso com secretaria A, B ou C. Isso é um mérito, e quase inédito quando se fala da Prefeitura de São Paulo. O prefeito terá total liberdade para escolher bons técnicos, bons gestores, pessoas competentes para ajudá-lo na administração. Claro que todos que estiveram na campanha e apoiaram poderão contribuir.

O senhor não vê uma guinada à direita na gestão?

Não, com certeza não. Ele vai continuar com as características que são próprias dele. Ninguém muda da noite para o dia. O prefeito tem essa essência de equilíbrio, moderação, diálogo — é isso que ele é.

Por que o senhor acha que o ex-presidente Bolsonaro acabou adotando uma postura dúbia no primeiro turno com relação ao prefeito?

No primeiro turno, a questão de agenda foi muito relevante, e também tivemos um fenômeno nas redes sociais, que foi o Pablo Marçal. Não podemos deixar de reconhecer isso; foi um fenômeno. E acho que, como o ex-presidente Bolsonaro também tem uma força muito grande nas redes, ele acabou tendo dificuldades para compreender o que estava acontecendo em São Paulo. Isso talvez tenha feito com que ele não estivesse tão presente aqui. Mas, veja, ele esteve na convenção com o Ricardo, ficou lá por três horas, e depois participou remotamente de algumas ações. Agora, foi mais uma decisão dele, e eu não saberia explicar o porquê.

Essa postura atrapalhou?

Não, eu acho que todo apoio é importante. Não sou daqueles que acham que a eleição deve ser algo sem soma de esforços. Acho que todos contribuíram.

O senhor vê futuro político para o Ricardo Nunes depois da prefeitura?

Olha, o prefeito de São Paulo, reeleito e com uma boa gestão, pode pleitear o que ele projetar para a vida dele. Sem dúvida, o Ricardo Nunes é uma das lideranças mais importantes e relevantes do MDB nacional. O Ricardo tem todas as possibilidades e terá o respaldo do partido porque, como eu disse, a Prefeitura de São Paulo é uma grande vitrine para o MDB nacional.

O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, tem um recado claro para o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): os vitoriosos da corrida municipal de 2024 não foram os dois mandatários, mas sim os partidos de centro, com o próprio MDB. “O recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas”, afirmou Baleia em entrevista exclusiva ao Estadão na última terça-feira, 28. Diante desse cenário, Baleia não tem pressa — nem terá — em cravar de que lado o partido poderá estar na corrida pelo Planalto e joga com o regulamento debaixo do braço: essa decisão só será tomada no próximo ano, junto às instâncias partidárias.

Como mostrou o Estadão, o MDB de Baleia Rossi tornou-se peça-chave na eleição presidencial de 2026. O partido, que atualmente tem representantes em três ministérios do governo Lula (Cidades, Transportes e Planejamento), comandará a maior metrópole da América Latina, São Paulo, e conseguiu encerrar a corrida eleitoral sendo a legenda que mais brasileiros vai governar. O bom momento do partido se soma a outras conquistas recentes, como a aprovação da reforma tributária, de autoria de Baleia, e a confirmação da COP30, que acontecerá no Pará no próximo ano — o mesmo em que a legenda completa 60 anos de existência. O estado é governado por Helder Barbalho, um dos nomes cotados na bolsa de apostas para a vice de Lula.

Sem antecipar o rumo do partido em 2026, Baleia sugere que a vitória de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo pode indicar uma busca por novos caminhos. “Temos o presidente Bolsonaro no campo da direita e o presidente Lula no campo da esquerda. Agora, nós mostramos aqui em São Paulo que é absolutamente possível construir e apresentar para a população, como uma possível alternativa, um projeto que busque resultados”, afirmou o dirigente. Deixando claro que preside um partido “sem dono”, característica que faz o MDB se distanciar do PSD de Gilberto Kassab, Baleia reforçou que vai acatar o que for definido pelas lideranças partidárias.

Para Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, vitória de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo pode indicar busca por novos caminhos em 2026 Foto: Luiz Cervi/Divulgação MDB

Na entrevista, Baleia afirmou que a vitória do centro nas eleições municipais indica que o eleitor está buscando mais do que a briga de “extremos”. Ele também elogiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem se referiu como um líder político “absolutamente aberto ao diálogo” e “construtor de boas conversas” e projetos. Sobre a atuação de Bolsonaro na campanha de Nunes, disse que foi decisão dele não participar.

Veja os principais pontos da conversa:

Como o senhor avalia o resultado das eleições municipais deste ano e por que o centro teve o melhor resultado?

Foi um recado que o eleitor deu através do voto. No caso do MDB, a busca por equilíbrio, consensos e diálogo. Na grande vitória que tivemos em São Paulo, esse recado traz muito desses atributos. Ricardo (Nunes) é um cara equilibrado, de diálogo e um bom gestor. O eleitor buscou, nesta eleição, bons projetos e políticas públicas que realmente entregam uma qualidade de vida melhor. Quem ganhou a eleição foi quem teve a capacidade de conversar com o eleitor e mostrar que não é através da briga e dos extremos que se constrói uma vida melhor na cidade.

O resultado eleitoral deste ano indica um desgaste da polarização Lula e Bolsonaro?

Eu acho que o eleitor está buscando mais resultado do que essa polarização. As pessoas estão começando a perceber que a polarização acaba atrapalhando a vida delas, pois não oferece nenhuma resposta aos problemas reais da população.

Como o resultado das urnas deste ano influencia a eleição presidencial de 2026?

É difícil fazer essa avaliação. Em 2020, havia um sentimento de que o resultado das eleições municipais faria com que 2022 não fosse tão polarizado, o que não se confirmou. Nesta eleição, o centro saiu mais fortalecido e robusto do que em 2020. O MDB teve um desempenho muito forte: ficou em primeiro lugar em população administrada, em votos dos eleitos, no número de vice-prefeitos e de vereadores eleitos. Só ficamos em segundo lugar em quantidade de prefeitos. Tivemos um resultado muito comemorado no partido. Isso nos dá mais força e responsabilidade para pensar em como podemos ajudar e contribuir com o País.

O MDB se aproximou bastante de Tarcísio nesta eleição, e o prefeito tem citado o nome do governador para 2026. No entanto, hoje o MDB está no governo Lula, com três ministérios. De qual lado o partido estará em 2026?

O MDB tem uma característica: é um partido que não tem dono. Não é um partido em que o presidente decide e leva o partido todo junto. Temos Estados que saíram muito fortes da eleição: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas, Alagoas, Pará e Rio Grande do Norte. A composição do nosso diretório reflete o resultado dos Estados nas urnas. E os diretórios, as instâncias partidárias, serão ouvidas para definir o caminho do MDB em 2026. Aqui em São Paulo, somos muito gratos ao governador Tarcísio; o que ele fez foi digno de um grande líder político. Quando Ricardo Nunes enfrentou dificuldades, e as pesquisas mostravam que poderia ter alguma dificuldade no caminho, Tarcísio abraçou a campanha e foi um grande parceiro do MDB. Falar de 2026 ainda é cedo, até porque o próprio governador não tem sinalizado algo para 2026.

No MDB, não há imposição, nem de um lado, nem de outro. A decisão será construída no diretório, na executiva nacional, com muita conversa, diálogo e respeito ao que a maioria decidir.

Antes da eleição na capital, havia a impressão de que o MDB, até por ter três ministérios importantes no governo Lula, naturalmente seguiria com o projeto de reeleição do presidente. Mas, então, não existe nenhuma garantia de que o partido estará no projeto de Lula?

O partido vai discutir isso internamente.

Hoje há uma inclinação maior para qual lado?

Essas discussões provavelmente começarão no ano que vem. O MDB conta com a participação de três ministros que honram o partido na administração federal e que contribuem muito com o País. O partido sempre teve uma postura colaborativa e propositiva, inclusive nas questões do Congresso. A reforma tributária é de minha autoria e foi abraçada como uma das bandeiras do MDB. Vamos continuar ajudando o País naquilo que consideramos importante. Não misturamos as coisas. 2026 é uma discussão que faremos no futuro,

O prefeito Ricardo Nunes disse, em entrevista ao Estadão, que vai lutar para que o MDB não embarque no projeto do Lula em 2026 e apoie Tarcísio ou Bolsonaro. Ele citou que não é o único no partido que defende esse posicionamento. Como o senhor vai lidar com essa pressão vinda do prefeito da maior cidade do País?

Essa é uma discussão que nós vamos fazer no segundo semestre de 2025. Todas as lideranças vão ser escutadas para a tomada de decisão. Aqui, nós exercemos a democracia plena na condução do partido.

Como o senhor avalia, de forma geral, o terceiro governo Lula?

A grande preocupação dos brasileiros é a questão econômica. Precisamos de juros menores, mas a inflação está controlada. Temos uma boa perspectiva de saúde econômica para o futuro. Agora, precisamos de geração de emprego e renda. O que percebemos nesta eleição municipal é que as pessoas estão buscando alternativas para prosperar, para ter mais oportunidade. Acredito que falta uma ação mais concreta para que as pessoas se sintam representadas nas políticas públicas oferecidas pelo governo federal, pelos governos estaduais. Mas na área econômica temos bons índices, e o que esperamos é que esses bons índices e essa estabilidade cheguem na população.

O centro mostrou força nas prefeituras, mas carece de lideranças, como a direita e a esquerda têm. Por que existe essa dificuldade?

Em São Paulo, participei ativamente das conversas com todos os presidentes nacionais para formar essa frente ampla em torno do Ricardo. Foi a primeira vez na história que alcançamos uma aliança tão grande, porque é natural que todos os partidos queiram lançar candidatos próprios, especialmente em uma cidade como São Paulo. Fizemos isso com diálogo e mostrando que nós tínhamos não apenas um candidato, mas um projeto para a cidade. Acho que precisamos manter as conversas com todos (os partidos) e buscar caminhos.

Claro, temos o presidente Bolsonaro no campo da direita e o presidente Lula no campo da esquerda. Agora, nós mostramos aqui em São Paulo que é absolutamente possível construir e apresentar para a população, como uma possível alternativa, um projeto que busque resultados, caso essa seja, por exemplo, a decisão da base do MDB. Vou trabalhar dentro daquilo que nossas lideranças, nossa executiva, nosso diretório definirem. Mas o recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas.

Esse projeto para São Paulo mostra, então, que o centro pode ter um projeto para 2026?

Mostra que, se essa for a decisão, é absolutamente viável.

O senhor considera o governador Tarcísio parte desse projeto de centro, que o senhor acredita apontar uma possibilidade para 2026?

Tarcísio mostrou ser absolutamente aberto ao diálogo e é um construtor de boas conversas e discussões em torno de bons projetos. Ele foi muito importante, não só na eleição, mas também na parceria de gestão entre o governo do Estado e o governo Municipal, além de contribuir na construção da aliança. Agora, o governador Tarcísio tem repetidamente me dito que seu projeto é a reeleição em São Paulo. Ainda na semana passada, conversei com ele, e ele reafirmou que seu foco é a reeleição ao governo de São Paulo.

O MDB pode pleitear a vice do Tarcísio em um próximo governo?

Ainda não estamos fazendo essa discussão; é muito cedo. Claro que o MDB vai almejar uma das posições na majoritária, mas ainda não discutimos isso.

E o que podemos esperar deste próximo governo de Ricardo Nunes? Qual marca ele vai buscar deixar nessa nova gestão?

Acho que ele vai reforçar as marcas deste primeiro governo, com obras na periferia e investimentos, por exemplo, na educação. Tenho convicção de que a gestão dele em São Paulo vai ser uma grande vitrine do MDB.

No primeiro mandato, o Nunes fez um governo de centro com o Bruno. Agora, ele foi reeleito com o apoio de uma ampla coligação, incluindo o PL, que ficou com a vice. Podemos esperar um governo mais alinhado à direita?

Não. Conseguimos construir essa aliança sem que o prefeito assumisse qualquer compromisso com secretaria A, B ou C. Isso é um mérito, e quase inédito quando se fala da Prefeitura de São Paulo. O prefeito terá total liberdade para escolher bons técnicos, bons gestores, pessoas competentes para ajudá-lo na administração. Claro que todos que estiveram na campanha e apoiaram poderão contribuir.

O senhor não vê uma guinada à direita na gestão?

Não, com certeza não. Ele vai continuar com as características que são próprias dele. Ninguém muda da noite para o dia. O prefeito tem essa essência de equilíbrio, moderação, diálogo — é isso que ele é.

Por que o senhor acha que o ex-presidente Bolsonaro acabou adotando uma postura dúbia no primeiro turno com relação ao prefeito?

No primeiro turno, a questão de agenda foi muito relevante, e também tivemos um fenômeno nas redes sociais, que foi o Pablo Marçal. Não podemos deixar de reconhecer isso; foi um fenômeno. E acho que, como o ex-presidente Bolsonaro também tem uma força muito grande nas redes, ele acabou tendo dificuldades para compreender o que estava acontecendo em São Paulo. Isso talvez tenha feito com que ele não estivesse tão presente aqui. Mas, veja, ele esteve na convenção com o Ricardo, ficou lá por três horas, e depois participou remotamente de algumas ações. Agora, foi mais uma decisão dele, e eu não saberia explicar o porquê.

Essa postura atrapalhou?

Não, eu acho que todo apoio é importante. Não sou daqueles que acham que a eleição deve ser algo sem soma de esforços. Acho que todos contribuíram.

O senhor vê futuro político para o Ricardo Nunes depois da prefeitura?

Olha, o prefeito de São Paulo, reeleito e com uma boa gestão, pode pleitear o que ele projetar para a vida dele. Sem dúvida, o Ricardo Nunes é uma das lideranças mais importantes e relevantes do MDB nacional. O Ricardo tem todas as possibilidades e terá o respaldo do partido porque, como eu disse, a Prefeitura de São Paulo é uma grande vitrine para o MDB nacional.

O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, tem um recado claro para o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): os vitoriosos da corrida municipal de 2024 não foram os dois mandatários, mas sim os partidos de centro, com o próprio MDB. “O recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas”, afirmou Baleia em entrevista exclusiva ao Estadão na última terça-feira, 28. Diante desse cenário, Baleia não tem pressa — nem terá — em cravar de que lado o partido poderá estar na corrida pelo Planalto e joga com o regulamento debaixo do braço: essa decisão só será tomada no próximo ano, junto às instâncias partidárias.

Como mostrou o Estadão, o MDB de Baleia Rossi tornou-se peça-chave na eleição presidencial de 2026. O partido, que atualmente tem representantes em três ministérios do governo Lula (Cidades, Transportes e Planejamento), comandará a maior metrópole da América Latina, São Paulo, e conseguiu encerrar a corrida eleitoral sendo a legenda que mais brasileiros vai governar. O bom momento do partido se soma a outras conquistas recentes, como a aprovação da reforma tributária, de autoria de Baleia, e a confirmação da COP30, que acontecerá no Pará no próximo ano — o mesmo em que a legenda completa 60 anos de existência. O estado é governado por Helder Barbalho, um dos nomes cotados na bolsa de apostas para a vice de Lula.

Sem antecipar o rumo do partido em 2026, Baleia sugere que a vitória de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo pode indicar uma busca por novos caminhos. “Temos o presidente Bolsonaro no campo da direita e o presidente Lula no campo da esquerda. Agora, nós mostramos aqui em São Paulo que é absolutamente possível construir e apresentar para a população, como uma possível alternativa, um projeto que busque resultados”, afirmou o dirigente. Deixando claro que preside um partido “sem dono”, característica que faz o MDB se distanciar do PSD de Gilberto Kassab, Baleia reforçou que vai acatar o que for definido pelas lideranças partidárias.

Para Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, vitória de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo pode indicar busca por novos caminhos em 2026 Foto: Luiz Cervi/Divulgação MDB

Na entrevista, Baleia afirmou que a vitória do centro nas eleições municipais indica que o eleitor está buscando mais do que a briga de “extremos”. Ele também elogiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem se referiu como um líder político “absolutamente aberto ao diálogo” e “construtor de boas conversas” e projetos. Sobre a atuação de Bolsonaro na campanha de Nunes, disse que foi decisão dele não participar.

Veja os principais pontos da conversa:

Como o senhor avalia o resultado das eleições municipais deste ano e por que o centro teve o melhor resultado?

Foi um recado que o eleitor deu através do voto. No caso do MDB, a busca por equilíbrio, consensos e diálogo. Na grande vitória que tivemos em São Paulo, esse recado traz muito desses atributos. Ricardo (Nunes) é um cara equilibrado, de diálogo e um bom gestor. O eleitor buscou, nesta eleição, bons projetos e políticas públicas que realmente entregam uma qualidade de vida melhor. Quem ganhou a eleição foi quem teve a capacidade de conversar com o eleitor e mostrar que não é através da briga e dos extremos que se constrói uma vida melhor na cidade.

O resultado eleitoral deste ano indica um desgaste da polarização Lula e Bolsonaro?

Eu acho que o eleitor está buscando mais resultado do que essa polarização. As pessoas estão começando a perceber que a polarização acaba atrapalhando a vida delas, pois não oferece nenhuma resposta aos problemas reais da população.

Como o resultado das urnas deste ano influencia a eleição presidencial de 2026?

É difícil fazer essa avaliação. Em 2020, havia um sentimento de que o resultado das eleições municipais faria com que 2022 não fosse tão polarizado, o que não se confirmou. Nesta eleição, o centro saiu mais fortalecido e robusto do que em 2020. O MDB teve um desempenho muito forte: ficou em primeiro lugar em população administrada, em votos dos eleitos, no número de vice-prefeitos e de vereadores eleitos. Só ficamos em segundo lugar em quantidade de prefeitos. Tivemos um resultado muito comemorado no partido. Isso nos dá mais força e responsabilidade para pensar em como podemos ajudar e contribuir com o País.

O MDB se aproximou bastante de Tarcísio nesta eleição, e o prefeito tem citado o nome do governador para 2026. No entanto, hoje o MDB está no governo Lula, com três ministérios. De qual lado o partido estará em 2026?

O MDB tem uma característica: é um partido que não tem dono. Não é um partido em que o presidente decide e leva o partido todo junto. Temos Estados que saíram muito fortes da eleição: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas, Alagoas, Pará e Rio Grande do Norte. A composição do nosso diretório reflete o resultado dos Estados nas urnas. E os diretórios, as instâncias partidárias, serão ouvidas para definir o caminho do MDB em 2026. Aqui em São Paulo, somos muito gratos ao governador Tarcísio; o que ele fez foi digno de um grande líder político. Quando Ricardo Nunes enfrentou dificuldades, e as pesquisas mostravam que poderia ter alguma dificuldade no caminho, Tarcísio abraçou a campanha e foi um grande parceiro do MDB. Falar de 2026 ainda é cedo, até porque o próprio governador não tem sinalizado algo para 2026.

No MDB, não há imposição, nem de um lado, nem de outro. A decisão será construída no diretório, na executiva nacional, com muita conversa, diálogo e respeito ao que a maioria decidir.

Antes da eleição na capital, havia a impressão de que o MDB, até por ter três ministérios importantes no governo Lula, naturalmente seguiria com o projeto de reeleição do presidente. Mas, então, não existe nenhuma garantia de que o partido estará no projeto de Lula?

O partido vai discutir isso internamente.

Hoje há uma inclinação maior para qual lado?

Essas discussões provavelmente começarão no ano que vem. O MDB conta com a participação de três ministros que honram o partido na administração federal e que contribuem muito com o País. O partido sempre teve uma postura colaborativa e propositiva, inclusive nas questões do Congresso. A reforma tributária é de minha autoria e foi abraçada como uma das bandeiras do MDB. Vamos continuar ajudando o País naquilo que consideramos importante. Não misturamos as coisas. 2026 é uma discussão que faremos no futuro,

O prefeito Ricardo Nunes disse, em entrevista ao Estadão, que vai lutar para que o MDB não embarque no projeto do Lula em 2026 e apoie Tarcísio ou Bolsonaro. Ele citou que não é o único no partido que defende esse posicionamento. Como o senhor vai lidar com essa pressão vinda do prefeito da maior cidade do País?

Essa é uma discussão que nós vamos fazer no segundo semestre de 2025. Todas as lideranças vão ser escutadas para a tomada de decisão. Aqui, nós exercemos a democracia plena na condução do partido.

Como o senhor avalia, de forma geral, o terceiro governo Lula?

A grande preocupação dos brasileiros é a questão econômica. Precisamos de juros menores, mas a inflação está controlada. Temos uma boa perspectiva de saúde econômica para o futuro. Agora, precisamos de geração de emprego e renda. O que percebemos nesta eleição municipal é que as pessoas estão buscando alternativas para prosperar, para ter mais oportunidade. Acredito que falta uma ação mais concreta para que as pessoas se sintam representadas nas políticas públicas oferecidas pelo governo federal, pelos governos estaduais. Mas na área econômica temos bons índices, e o que esperamos é que esses bons índices e essa estabilidade cheguem na população.

O centro mostrou força nas prefeituras, mas carece de lideranças, como a direita e a esquerda têm. Por que existe essa dificuldade?

Em São Paulo, participei ativamente das conversas com todos os presidentes nacionais para formar essa frente ampla em torno do Ricardo. Foi a primeira vez na história que alcançamos uma aliança tão grande, porque é natural que todos os partidos queiram lançar candidatos próprios, especialmente em uma cidade como São Paulo. Fizemos isso com diálogo e mostrando que nós tínhamos não apenas um candidato, mas um projeto para a cidade. Acho que precisamos manter as conversas com todos (os partidos) e buscar caminhos.

Claro, temos o presidente Bolsonaro no campo da direita e o presidente Lula no campo da esquerda. Agora, nós mostramos aqui em São Paulo que é absolutamente possível construir e apresentar para a população, como uma possível alternativa, um projeto que busque resultados, caso essa seja, por exemplo, a decisão da base do MDB. Vou trabalhar dentro daquilo que nossas lideranças, nossa executiva, nosso diretório definirem. Mas o recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas.

Esse projeto para São Paulo mostra, então, que o centro pode ter um projeto para 2026?

Mostra que, se essa for a decisão, é absolutamente viável.

O senhor considera o governador Tarcísio parte desse projeto de centro, que o senhor acredita apontar uma possibilidade para 2026?

Tarcísio mostrou ser absolutamente aberto ao diálogo e é um construtor de boas conversas e discussões em torno de bons projetos. Ele foi muito importante, não só na eleição, mas também na parceria de gestão entre o governo do Estado e o governo Municipal, além de contribuir na construção da aliança. Agora, o governador Tarcísio tem repetidamente me dito que seu projeto é a reeleição em São Paulo. Ainda na semana passada, conversei com ele, e ele reafirmou que seu foco é a reeleição ao governo de São Paulo.

O MDB pode pleitear a vice do Tarcísio em um próximo governo?

Ainda não estamos fazendo essa discussão; é muito cedo. Claro que o MDB vai almejar uma das posições na majoritária, mas ainda não discutimos isso.

E o que podemos esperar deste próximo governo de Ricardo Nunes? Qual marca ele vai buscar deixar nessa nova gestão?

Acho que ele vai reforçar as marcas deste primeiro governo, com obras na periferia e investimentos, por exemplo, na educação. Tenho convicção de que a gestão dele em São Paulo vai ser uma grande vitrine do MDB.

No primeiro mandato, o Nunes fez um governo de centro com o Bruno. Agora, ele foi reeleito com o apoio de uma ampla coligação, incluindo o PL, que ficou com a vice. Podemos esperar um governo mais alinhado à direita?

Não. Conseguimos construir essa aliança sem que o prefeito assumisse qualquer compromisso com secretaria A, B ou C. Isso é um mérito, e quase inédito quando se fala da Prefeitura de São Paulo. O prefeito terá total liberdade para escolher bons técnicos, bons gestores, pessoas competentes para ajudá-lo na administração. Claro que todos que estiveram na campanha e apoiaram poderão contribuir.

O senhor não vê uma guinada à direita na gestão?

Não, com certeza não. Ele vai continuar com as características que são próprias dele. Ninguém muda da noite para o dia. O prefeito tem essa essência de equilíbrio, moderação, diálogo — é isso que ele é.

Por que o senhor acha que o ex-presidente Bolsonaro acabou adotando uma postura dúbia no primeiro turno com relação ao prefeito?

No primeiro turno, a questão de agenda foi muito relevante, e também tivemos um fenômeno nas redes sociais, que foi o Pablo Marçal. Não podemos deixar de reconhecer isso; foi um fenômeno. E acho que, como o ex-presidente Bolsonaro também tem uma força muito grande nas redes, ele acabou tendo dificuldades para compreender o que estava acontecendo em São Paulo. Isso talvez tenha feito com que ele não estivesse tão presente aqui. Mas, veja, ele esteve na convenção com o Ricardo, ficou lá por três horas, e depois participou remotamente de algumas ações. Agora, foi mais uma decisão dele, e eu não saberia explicar o porquê.

Essa postura atrapalhou?

Não, eu acho que todo apoio é importante. Não sou daqueles que acham que a eleição deve ser algo sem soma de esforços. Acho que todos contribuíram.

O senhor vê futuro político para o Ricardo Nunes depois da prefeitura?

Olha, o prefeito de São Paulo, reeleito e com uma boa gestão, pode pleitear o que ele projetar para a vida dele. Sem dúvida, o Ricardo Nunes é uma das lideranças mais importantes e relevantes do MDB nacional. O Ricardo tem todas as possibilidades e terá o respaldo do partido porque, como eu disse, a Prefeitura de São Paulo é uma grande vitrine para o MDB nacional.

Entrevista por Bianca Gomes

Repórter de Política em São Paulo. Antes, foi estagiária e trainee do Estadão e trabalhou por três anos na sucursal do Jornal O Globo em São Paulo, escrevendo sobre política e cidades. Formada pela ESPM.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.