BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, é uma espécie de farol para ele, que o guia e chama a sua atenção quando há “coisa errada”. Em entrevista nesta terça-feira, 23, Lula disse ainda que os posicionamentos da primeira-dama “obviamente” o ajudam no trabalho na Presidência.
“Eu tenho uma mulher especial. A Janja é uma espécie de meu farol. Sabe aquele farol que guia assim? Ou seja, quando tem coisa errada, ela me chama atenção, quando tem alguma coisa no jornal errada, ela me chama atenção, quando tem alguma coisa na rede, ela me chama atenção. Às vezes, ela fala coisa para mim que a minha assessoria não fala, e ela fala. E isso me ajuda, obviamente que me ajuda”, afirmou o presidente, em entrevista ao programa “Bom Dia com Mário Kertész”, da Rádio Metrópole de Salvador (BA).
A influência de Janja sobre Lula tem motivado ataques de opositores e preocupação no governo desde o início deste mandato do petista. Uma das críticas recorrentes é de que ela extrapola os limites da atuação de uma primeira-dama, uma vez que não foi eleita, e tenta influenciar em decisões que caberiam a políticos eleitos.
Em novembro, em entrevista ao jornal O Globo, Janja afirmou que deseja ter um gabinete próprio no Palácio do Planalto, onde seu marido despacha com auxiliares. “A primeira-dama dos Estados Unidos tem um”, argumentou. Por ora, o presidente vetou a instalação de um gabinete para ela no local.
Ainda na entrevista desta terça, Lula contou sobre os cuidados pessoais da primeira-dama com ele, mas ressaltou que Janja é “preocupada com a política”. “Ela vive a política também 24 horas por dia.”
“A gente discute todo e qualquer assunto sem nenhuma frescura, não é porque ela é minha mulher que ela tem que ficar quieta. Por ser minha mulher que ela tem que falar. Mas muito mais porque ela é militante política. Ela gosta de política, ela faz política. Então, ela tem que colocar o posicionamento dela.”
Lula ainda afirmou que quando não há um consenso entre os dois sobre determinado tema, o assunto é encerrado. “Quando a gente não está de acordo, a gente para de discutir, porque a gente também não quer brigar. Porque tudo sempre termina em muita paz, muito carinho e muito amor”, disse.
Cobrança por mulheres no governo
Segundo o presidente, a socióloga é interessada nas questões sociais, ambientais e relacionadas às mulheres. “Me cobra, você não tem noção. Quando o Stuckinha (fotógrafo Ricardo Stuckert) tira uma foto minha e só tem homem. Quando ela vê a foto, fica horrorizada. ‘Você não tinha mulher para colocar na foto? Por que só homem, só homem, só homem? E, às vezes, a maioria é homem mesmo, fazer o quê?”, disse o petista.
Em outubro, Lula recebeu críticas por derrubar a terceira mulher de seu governo e entregar o cargo a um homem. Rita Serrano perdeu a presidência da Caixa Econômica Federal porque o presidente aceitou ceder ao apetite do Centrão, entregando o posto a um homem. Pelo mesmo motivo, o petista também tirou Daniela Carneiro, do Turismo, e Ana Moser, do Esporte.
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Quando foi eleito, Lula prometeu dar mais equilíbrio de gênero na composição de governo. O presidente anunciou o primeiro escalão com 11 mulheres – nem a metade da Esplanada, composta por 37 ministérios no início do governo. Agora, a gestão tem 38 pastas, com a criação do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, para abrigar Márcio França.
O presidente também foi cobrado a indicar uma mulher para duas vagas que abriram no Supremo Tribunal Federal (STF), mas não cedeu aos apelos, indicando dois homens: Cristiano Zanin e Flávio Dino.